3.3.09

Olhos Abertos

imagem: google
Quando é que se deixa de amar alguém? Quando é que se começa a amar alguém? Quando é que nasce aquele sentimento que cada um, à sua maneira, saberá chamar de “amor”? Quando é que morre? Quando é que deixa de ser verdade usarmos essa palavra para descrever o que se sente? O que é que faz amar? O que é que faz deixar de amar? Porque é que se ama, ou não se ama? Não há o amo-te um bocadinho, mas há o amo-te muito. Sentir que se é o mundo de alguém e ter a sorte de esse alguém ser o nosso é algo que o universo não guarda para todos. Parece ter que haver uma conjugação de planetas e estrelas para que ambos, ao mesmo tempo, olhem, percebam, entendam e vivam o que é suposto viver… em conjunto. Quase que parece que o Amor é algo que existe por si, quase como se fosse uma entidade independente que anda por aí a colar-se às pessoas, a turvar-lhes a vista, a tocar-lhes os corações, a orientar-lhes os passos, indicando-lhes caminhos. O Amor, vejo-o como uma bolha que passeia no espaço que nos rodeia e que também pode, por distracção, por má vontade, por mau feitio, limpar o seu próprio efeito, deixando os olhos limpos e os corações parados. Retira-se mais ou menos eloquentemente das vidas dos seres anteriormente escolhidos e parte para outra. Adeus, até à próxima, até ao meu regresso que agora não me apetece. Fica a marca. Fica o espaço onde dantes estavam os bibelôs tão carinhosamente alinhados e coordenados para mostrar ao mundo que o Amor mora ali. Quase que parece que a sombra que dantes deixavam na parede ainda existe. Manchas que enganam os olhos. Manchas difíceis de limpar, de lavar, de apagar. Outras vezes, a bolha é enxotada tipo mosquito que zumbe nos ouvidos quando se está a tentar adormecer. Acendem-se as luzes, assume-se posição de atenção redobrada e persegue-se o bicho até se conseguir esborrachá-lo com a maior força possível contra a parede, deixando uma mancha que testemunha a vitória contra o intruso. Mais uma mancha difícil de limpar, de lavar. Quem dormia descansadamente que limpe. Quem não ouviu o mosquito que lave. Que faça desaparecer a evidência da luta, a prova do crime. O Amor, quase que parece ser uma entidade independente. Às vezes, reparte-se e vai-se atirando contra os incautos aos poucos, tipo jogo de paintball que no fim deixa os alvos completamente cobertos de tinta colorida. Impossível negar os ataques. As manchas, as marcas, estão lá. Mas essas não se lavam. Guardam-se. Olham-se e sorri-se. Recorda-se como de início tudo começou por uma pequena manchinha que depois foi ganhando tamanho até deixar de o ser, transformando-se em pintura. Ao longo do Tempo, pode precisar de retoques, mas o que está pintado, pintado está. O Tempo pode envelhecer, mas a vontade pode fazer renascer, fortalecer, amparar, cuidar. Tempo, o bem mais precioso que temos e o que pior tratamos. É limitado, tem fim. Não se produz. Não se cria. Amar é querer dar o nosso Tempo, de livre vontade, a alguém. É dizer que de entre todo o Tempo que é preciso reservar para se sobreviver neste mundo, tudo quanto sobrar vai ser dedicado única e exclusivamente à causa que é amar e ser amado por alguém. É saber que só nos restam quarenta anos de vida e querer vivê-los junto daquela pessoa. Mais nenhuma. É dizer que se estará presente, que se estará lá para ver e testemunhar a vida dessa pessoa, que nada do que acontecerá ficará por registar. Que haverá quem veja, quem partilhe, quem sinta, quem se lembre, quem se preocupe. Amar é querermos que aquela pessoa seja a nossa testemunha de vida. Que seja aquela pessoa, e mais nenhuma, a saber das histórias, a vivê-las, a recordar, vinte anos depois, aquela vez em que… Que seja aquela a primeira pessoa a saber das alegrias, das tristezas. Que seja aquela pessoa a quem se confidenciam os medos, os pecados, os segredos de alma. Amar é saber que por muito mau que se possa ter sido, aquela pessoa apenas nos vai fazer querer e ser o melhor que podemos e conseguimos ser. Amar é ver o melhor e o pior de alguém e mesmo assim querer continuar a olhar, a ver, a testemunhar. Mas o Amor, num qualquer dia, sem aviso, pode decidir que não haverá mais testemunhos entre essas duas pessoas. Que esse Tempo acabou. Que restarão apenas as memórias ou por apagar, ou para agarrar para se poder continuar a respirar minimamente bem. Decide o Amor que daí em diante terá de haver um Tempo não testemunhado em que a dor de se ter ficado apagado dos registos da vida é tão grande que viver em si torna-se um acto de soberba coragem, de luta, de batalha, de guerra interior contra tudo aquilo que diz que o Tempo tudo cura. Tempo. Arranca-nos os momentos partilhados e vividos para se sorrir e fazer sorrir para os substituir por longas agonias em que se tentam esquecer sorrisos, risos, lágrimas, tudo. O Tempo cura, mas tem de doer primeiro. A bolha que é o Amor que passeia no espaço que nos rodeia sabe disto. Afasta-se. Dá tempo ao Tempo. Resguarda-se e espera que chegue o momento certo para voltar a dar testemunho a uma vida. O Amor quase que parece um ser independente. Com vontade própria. Com quereres. Com poderes mágicos para encher as almas de uma beleza tão incalculável que faz perder a respiração, que faz suar as mãos, que faz fechar os olhos perante a noção de não se ser digno de tamanha dádiva. Com poderes mágicos para os reabrir e mostrar que aquilo que se via não era mais nada se não uma parede imaculadamente branca onde apenas dançavam as cores e formas que queríamos ver. Que precisávamos de ver. O Amor é o copo meio cheio e simultaneamente meio vazio que tanto pode matar a sede como agravá-la. O Amor é aquele espaço de cinco minutos entre o chegar a horas e o chegar atrasado. O Amor é aquela batalha lutada por princípio, é aquela luta travada por convicção. É aquela guerra para a qual se pode ser arrastado sem armas, sem poder de retaliação. O Amor funciona como uma bolha que nos abalroa ou que nos vai atingindo aos poucos, que pode aparecer tão rapidamente quanto desaparece, que vai deixando manchas teimosas onde dantes estavam pinturas lindas ou que cobre as sombras de luz, apagando-as de vez das paredes entre as quais decide morar. Quase que parece que o Amor é um ser independente que passeia entre nós, tocando-nos ou não de acordo com a sua disposição. Uma bolha que se molda e nos engole ou que nos empurra e afasta. O Amor, esse ser mal amado e só, passeia por entre nós deixando as suas marcas, esticando os braços e angariando testemunhas para a sua vida, reunindo provas em como de facto existe, em como sobrevive ao Tempo. Ele vive e morre, morre e vive. Nós estamos cá para ver. Olhos abertos, minha gente. Ninguém sabe quando se começa a amar, nem quando se pára. Olhos abertos.

53 comentários:

Gata2000 disse...

Não será melhor fechar os olhos e esperar que a vida, o tempo e o amor nos deêm o que acham ser justo. Aproveitar é o que eu digo, mesmo que por pouco tempo!

Me disse...

E vamos lá nós confiar naquilo que é a noção de "justo" de outro? seja esse outro a vida, o tempo ou o amor? Não confio nesses três estarolas do universo. Sacanas.
Não concordo, Gata 2000. A justiça não é para aqui chamada... É como o merecer. O que é que se merece nestas questões? Se nos portarmos bem, fizermos tudo bem, comermos a sopa toda e fruta 3 vezes ao dia, isso vai fazer com que mereçamos mais ou menos de seja o que for? Garante-nos alguma coisa? Haverá justiça na suposta retribuição para o "portar bem"? Dá-nos permissão para meter a mão no fogo e jurar, pela alminha dos santinhos, que nada de mau nos acontecerá?
Não há justiça no amor. Seja para o bom ou para o mau. Não há. Não faz parte sequer da equação. Não existe aí (penso eu...).

Aproveitar, isso sim. Aproveitar e viver o que há para ser vivido. Fechar os olhos e aproveitar a viagem de monstanha russa que pode ser o amor. Aí, sim. Desde que haja consciência da viagem que se vai fazer, sim. Há que aproveitar quando a bolha nos roça o braço e nos leva para onde ela quer.
Somos peões... Love rules.
Beijos :)

Anónimo disse...

Minha querida,

Muito sinceramente, não sei o que é o amor. Das poucas vezes que amei, essa tal bolha fugiu e deixou-me com as feridas.
Fiquei farta e saturada de aturar coisas por amor, de fazer coisas por amor, de calar coisas por amor.

Deixamos de amar quando atingimos o ponto de saturação, em que dizemos "não aturo mais as tuas merdas", batemos com porta, não olhamos para trás e deixamos de olhar para o telemóvel com um olhar suplicante e expectante. Deixamos de amar quando somos completos sem o outro, ou sendo incompletos, o outro não nos completa. Até nos deixa ainda mais incompletos.
Deixamos de amar quando a ausência do outro faz o copo deixar de estar meio vazio...

Sim... deixar de amar é despir a pele do outro e deixar crescer a nossa própria pele.

Agora, amar... não sei mais o que é. Deve ser o contrário de deixar de amar.

Eu fico de olhos abertos para ver se encontro a minha tábua de salvação, porque por vezes sinto-me a afogar-me no meu próprio cinismo, no meu próprio pragmatismo...

Beijinho!

PKB disse...

(um pequeno aparte... continuo pedrada de sono...)

Me disse...

PKB,
É a tal coisa... todos sabemos quando não amamos... mas nem todos sabemos quando amamos (para não falar do que é amar e sber amar que isso só iria complicar a questão).

O teu pragmatismo resulta das cicatrizes que ainda aí tens... Deixa a bolha tocar-te um cadito. Talvez ela venha com um toque novo que te dê outro entendimento do que é "amar" e ser "amada".

E, já agora, acho que fazemos muito pouco "por amor". Fazemos porque somos egoistas e pensamos que fazendo A, receberemos B. Entra-se na tal questão da injustiça. Sentes-te injustiçada. Em nada isto quer dizer que não tenhas sabido amar. Possívelmente apenas diz que não te souberam amar a ti. Como precisavas.

Passaroca, não sou gaja de ficar traumatizada. Posso ir ficando mais cautelosa, mas não viro as costas. Posso preferir meter o dedo do pé na água antes de me atirar, mas... atiro-me. Porquê? Porque sei que sei nadar. Nada me afoga. Aprendi isso.
E tu também, só que ainda não o sabes.
Beijos linda. Vai à sesta que o sofá espera por ti.

PKB disse...

Querida Me,

Hoje estou realmente com muito sono e quando estou cansada dá-me para falar do meu negativismo...

Mas a verdade é que por vezes só me apetece dar um mergulhito rápido na piscina e depois ir embora... percebes a metáfora?... (mas pronto... não sou de dar mergulhitos na piscina... gosto de nadar e tal... silly me!)

PKB disse...

(só posso ir dormir mais logo, a horas decentes, senão lixo o sistema)

Anónimo disse...

Tenho para mim que, no amor, um ama e outro deixa-se amar!

Será assim a 100%? Talvez não, mas... deve andar lá perto!

Bons amores...

PKB disse...

Pois é isso que vou passar a fazer... a deixar-me amar!

Anónimo disse...

Os "Olhos Abertos" não são sinónimo de boa visão...

CybeRider disse...

Oh pá! Levei tanto tempo à cacetada com isto e mecês a perguntar por ele:

Não podemos é ter grandes expectativas. Amor é o que é. Aparece muitas vezes disfarçado de outras coisas, nem sempre boas.

Se se derem à pachorra, este é sem tchim tchim, mas acho que até merecia, digam lá...

http://outranaferradura.blogspot.com/2009/02/dia-dos-namorados.html

(Paixão é outra coisa, não dura é p/sempre...)

Anónimo disse...

Quando se descobre o que é AMAR, mesmo que seja tarde, dá-mos mais valor às coisas simples, reparamos que as maiores banalidades têm dimensões titanicas, é alcançar o impossivél, chegar bem alto, mesmo sendo pequenos neste mundo bolha. Descobrimos isso, crescemos com isso, aprendemos, ficamos mais fortes e quiça, também mais sábios à nossa pequena escala. O AMOR vai para lá de tudo e aceite-se ou não quem manda realmente é o nosso coração, esta fantástica criação da natureza que nos bombeia o sangue, que faz circular pelo nosso sistema nervoso o NOME, o CHEIRO, o RISO da pessoa que AMAMOS.
E AMAR para mim passa por isso... saber que essa pessoa está viva, existe, sorri quando tem motivos para isso... ocupa espaço neste universo imenso, no qual eu tb me encontro. Só isso já é muito gratificante.

L. K. disse...

Mais que o ouro, petróleo, pedras preciosas ou qualquer tipo de riqueza o ser humano busca o Amor.

Talvez seja esta busca que impede áposteriori, ser envolvido pela bolha que tão eloquentemente descreves.

Talvez sejam as idealizações de amores eternos, românticos e de perfeita comunhão que impeça os mortais, não todos, mas a maioria de reconhecer quando a bolha o atingiu.

Talvez existam seres tão carentes que o que oferecem pareça Amor e quem recebe deixa-se abraçar por esse acomadar terno.

Talvez seja o medo da solidão, o medo de não ser amado e de não amar que impele inúmeros seres para relações desgantantes ou unidireccionais.

Talvez quando a bolha chega e envolve as pessoas estas estejam em relações desgastadas mas de algum modo seguras, estejam presas por algo que o medo impede de renovar, transformar ou finalizar.

Talvez a bolha seja demasiado discreta e não seja fácil de reconhecer quando nos atingiu.

Talvez as feridas e as marcas que ficam de pseudo bolhas passadas ou verdadeiras bolhas passadas, arrefeça os sentimentos e reforce o medo de ser atingido novamente...

talvez...talvez...são tantos os talvez que levaria uma eternidade a descreve-los todos...no entanto todos tem algo em comum: O AMOR, ser atingido, levado e abraçado por tão nobre sentimento. Criar espaços comuns de forma tão natural que ao olhar parecem-nos intrinsecos ao nosso ser, à nossa vida, à nossa pele.

Para poder encontrar, viver e disfrutar o Amor partilhado, é necessário que cada ser se Ame incondicionalmente, se respeite, se conheça e não dependa ou necessite do outro para saber quem é, de onde vem e para onde vai...isso já sabe, agora quer apenas partilhar-se, construir-se numa dimensão que é feita a dois.

Cada vez mais considero uma benção dois seres serem atingidos pela mesma bolha em simultâneo, é de preservar e fazer manutenção das partilhas, dos silêncios, das alegrias e das zangas...Um Todo...simplesmente Um Nós.

Anónimo disse...

PKB, é muito mais fácil...

Não duvides, nem por um momento!

Toze disse...

Parabéns por este texto Me.
Um texto para ser mastigado lentamente até que as primeiras impressões reflectivas começem a fazer-se sentir não só no palato, sim, é preciso preparar todos os sentidos para receber esta "bolha" e analisar frase a frase!

Vu ficar a refletir mais um pouco, e voltar a reler!

É que estas coisas do Amor para mim são um tema quase tabu. Pois desconheço o Amor em toda a sua plenitude, sinceramente até acho que não o conheço minimamente !!!

sei lá...

Me disse...

PKB,
Os mergulhitos refrescam… fazem bem… limpam as ideias… dão forças renovadas.
Não penses que um mergulhito te condenará à forca… Nada disso. E digo-te uma coisa, os mergulhos, mesmo que se prefira nadar os 1000 m vezes sem fim, fazem bem à alma (desde que se saiba lidar com eles e se entenda muito bem o porquê de nos permitirmos isso…).
Mergulha, Mulher. Por ti, sem pensar em mais ninguém (e isto pode parecer extremamente egoísta, mas nesta coisa dos mergulhitos, o que não é?). You’re not silly, just scared.
Beijos, linda.

CT,
E será que se ama mesmo quando o outro não se deixa amar? É como amar um calhau. Não há feedback… Pode nutrir-se sentimentos por alguém, mas sem correspondência… difícil manter isso, huh? Não sei. Acho que são quatro caminhos: cada um tem de amar e deixar-se amar. Dar e receber, dar e receber. Tudo equilibrado e na mesma balança… Penso eu de que…

PKB,
Deixa, sim. Acho que sim. Se não, não há amor que possam ter por ti resista… nem o teu.

Anónimo/a,
Pois não. Olhos bem abertos significa estar atento, não necessariamente ver bem. Toda a razão. Mas já é meio caminho andado. Há quem passe a vida de olhos fechados ou semi-cerrados, descobrindo demasiado tarde o que há para ver… Há quem se sacrifique em nome de medos, de receios, de temores. Vivem uma vida vazia, buscando pequenos nadas para ver se constroem algo. Zero com zero dá zero. Ao menos que andemos atentos. A nós e aos outros. Ao menos isso.
Obrigada pela visita e comentário.
:)

CybeRider,
Não podemos ter grandes expectativas?? What? O que é que isso quer dizer? Que podemos amar alguém sem ter expectativas em relação a nada? Para isso nunca ninguém sofreria de um coração partido. É claro que há expectativas, é claro que há a espera de um retorno. Ninguém se entrega a ninguém sem saber que ali o terreno é seguro. Ninguém está com ninguém sem expectativas… para quê estar então? Voltamos aos mergulhitos… Aí sim não há expectativas… Mas só aí. De resto, quando gostamos de alguém, queremos ver essa pessoa bem e precisamos dela na nossa vida para estarmos bem porque é isso, esse “estar” junto que nos faz sentir bem.
É mais do que óbvio que há expectativas. Até mesmo em relação a nós. Daí mudarmos certas coisas, adaptarmos ou melhorarmos outras… Sempre na expectativa de algo… Ou não?
Vou ver o teu post…
Obrigada pela visita :)

Me disse...

Anónimo/a,
É verdade. Quando se ama, há coisas pequenas e banais que têm toda a importância do mundo – sejam essas boas ou más. Uma palavra mal dita pode ofender e magoar até aos confins da alma; um sorriso pode alegrar durante dias… Tudo se eleva para outro plano, é outro carnaval, é outro campeonato. Recebemos e damos numa escala que não aplicamos a mais ninguém a não ser a quem se ama. Daí o amor poder fazer voar, ou fazer aterrar estatelado.
Sabermos que existe alguém no mundo que nos faz sentir essas coisas lindas que descreves é de facto muito bom. Nem toda a gente tem a “sorte” de encontrar alguém que faça sentir gratidão pela simples existência dessa pessoa… Há quem passe a vida ao lado da pessoa errada ou que nem isso consiga fazer. Ele há tanta coisa. Estas coisas da máquina que bombeia e treme e leva o nome, o cheiro, o riso, o toque, seja o que for, da pessoa que se ama pelo nosso corpo fora são sempre tão difíceis de descrever, de explicar. Existe e pronto. É quase religioso. Ou se tem fé, ou não se tem. Ou se ama, ou não se ama.
Já me estou a esticar na escrita… Desculpa o testamento.
Obrigada pela visita!

Lizard King,
Toda a razão. São as expectativas que nos fazem olhar para alguém, checklist em punho, e avaliar se corresponde ou não àquilo que precisamos… aquilo que achamos que queremos. Ficamos tão absortos em tentar ver aqueles pormenores que acabamos por perder a imagem do todo. Podemos ter a bolha a pairar-nos sob a cabeça, mas nem mesmo isso chega quando pura e simplesmente não se quer se engolido por ela…
O ser humano busca o amor… O pior é que vai adaptando essa noção de “amor” para melhor se enquadrar com o que tem. Casamentos infelizes, relações que não satisfazem… A máxima do mais vale só que mal acompanhado não se aplica. A solidão é bicho feio que mata. É difícil entender a diferença entre estar-se só e sentir-se só. Being alone isn’t the same as being lonely (fantástica a lingua inglesa para estes trocadilhos).
Perdemos tantas oportunidades porque somos egoístas, porque temos medo, porque tomamos decisões fora de tempo e fora de horas. O medo rege-nos nestas coisas. Um medo, um atrofio completo. Usamos os outros como muletas… egoísmo puro.
E sim, uma entrega completa a outra pessoa só pode ser feita quando não precisamos dessa pessoa para sabermos quem somos. Concordo. Só aí pode haver a tal coisa da partilha, do testemunho… Aliás, só aí há algo para partilhar sequer. Se não soubermos quem somos, o que há para dar ao outro? Nada. Espelhamos (expressão tua ainda que aqui a esteja a aplicar de outra forma…) o outro na esperança de correspondermos às tais expectativas. Ninguém quer espelhos de si. Isso seria o tal Eu+Eu… E não um Nós.
Ganhei um novo respeito por essa palavra, sabias? O Nós. Três letras que representam o tal mundo construído e partilhado a dois. Nós. É bom poder-se substituir o Eu e Tu por esta palavrinha.
Sou uma crente, o que é que queres? Apesar dos apesares, sou uma crente. Hajam “Santos” aos quais orar… ;)
(e desculpa testamento… )
Beijos para ti, Linda.

CT,
È muito mais fácil deixar que nos amem? OH! Quem disse?!!? Xedásse. Não é nada! Há quem resista tanto e faça tanta coisa para afastar quem nos ama que quase parece impossível. Olhe que não é, CT, não é… Dar e receber. É difícil receber… Desconfia-se da “dádiva”… Pergunta-se porquê… Exigem-se provas. É mais fácil dar … dar não implica decidir se se aceita… Ui onde esta conversa nos levava… Ui!
Finúrias,
Lá está o meu ego em alta… Obrigada!
Até eu tive que voltar a ler só para ter a certeza que estaríamos a falar do mesmo texto!
Desconheces o amor? Não desconheces nada. Podes nunca ter amado mesmo… ou teres sido realmente amado... Mas isso não implica desconhecimento. Há tantos tipos de amor… Tantas formas de amar…
Lê lá outra vez então. Depois volta.
:)

VF disse...

Minha cara sinusite, só de ler o primeiro parágrafo fiquei com urticária!
Acho que jamais em tempo algum na blogosfera se utilizou de forma tão repetitiva num só periodo de escrita a palavra amorrr e seus sucedaneos.
Todavia ao ler o resto do articulado, percebi que a gravidade da situação não se ficava pelo discurso escrito, mas sim pelo mar de sensações que transmites e que me levam a pensar uma de duas coisas. Ou andas para aí a executar o amorrr, ou está em via disso.
Ora se eu sou um acérrimo defensor que ficar virgem depois dos trinta é muito pior do que por na cabeça que somos pessoas sensatas, a teoria em ti encontra um senão grande pois tu acreditas no amorrr quando escreves "A bolha que é o amor que passeia no espaço que nos rodeia sabe disto".
Ora não faltarão epipetos para classificar esta tua consideração, mas nenhum deles te fará uma pessoa sensata ou pragmática.
Bem se calhar tu não o queres ser. Se calhar o Amor até é mesmo uma bolha.
Se calhar basta soprar na palhinha!

Anónimo disse...

Carissima, os seus textos são sempre benvindos, curtos ou compridos. AMAR, penso que nem toda a gente sabe o que isso é, eu também não sabia, até descobrir, como é óbvio. Ao contrário do que se pensa, e para mim, claro, AMAR significa, que por muito torto que esse caminho seja, por muitos buracos e obstáculos que essa estrada tenha e se mesmo assim chegarmos onde queremos, nesta passagem, que é a nossa vida, e tendo ao nosso lado, ou não a pessoa que nos faz feliz... Isso para mim é AMOR, é saber AMAR, é o vale a pena existir e ter descoberto o verdadeiro significado desse sentimento, através de quem nos fez, faz e fará sempre sentir bem. Acho mesmo que se fosse tudo fácil, não iria existir AMOR, era um deixa andar, um dado adquirido, não nos permitia ver, com os OLHOS ABERTOS. A paixão é muito boa, sim, mas o AMOR é mais que melhor, e quando chegamos a este patamar, podemos dizer que crescemos, que somos adultos, que os erros que cometemos são as nossas muletas, são os carris pelos quais seguimos. Apoiam-nos, servem de exemplo, aprendemos, e obrigam-nos a seguir em frente. Graças aos meus erros na infância, na escola primária, por exemplo, erros ortográficos... que dei, serviram e servem para que possa escrever sem erros hoje. (se por acaso aqui existir algum, foi por distração minha)

Me disse...

Vítaro,
Na resposta que dei à Lizard disse isso mesmo: sou uma crente. E sou. Não penso que isso faça com que me falte pragmatismo, que isso faça de mim uma pessoa menos sensata… Talvez o pragmatismo que tenho me leve a acreditar, talvez a minha sensatez me leve a andar de olhos abertos para ver o que há para ser visto.
Se ando a executar o amorr, como dizes? E é preciso estar neste momento a executá-lo para “saber” o que é?
Eu já amei. Não chego aos trinta virgem (o amor tem destas coisas…). Amei de formas diferentes, com intensidades diferentes, com bases diferentes, com demonstrações diferentes. Quem eu era há 10 anos amou de forma diferente de quem sou hoje. Não sou batida, não sou experiente, falo apenas por mim. Mas conheço a sensação que a tal Bolha nos dá. Se eu a reconheço (ou identifico) como sendo um ser independente é porque vejo que por vezes não temos palavra no assunto. Tu não escolhes quem amas. Não escolhes quem não amas. Não é coisa que tenha interruptor… Podes não manifestar ou demonstrar, mas o sentimento está lá.
Os sentimentos que transmito ou que tentei transmitir (consciente ou inconscientemente porque, como já disse, estas coisas saem-me) referem-se ao que eu sei de amar, não amar, amar e ganhar, amar e perder, sofrer, doer… tudo. Cada um destes conhecimentos pode ter um rosto diferente associado aos mesmos, mas é o que compõe o meu cv nestes assuntos. Como em tudo na vida. Vamos vivendo e aprendendo…
Falta de sensatez, minha querida torneira que pinga, é renegar, é evitar, é fugir. Não há sensatez em ”desviver” porque se tem medo, porque se tem receio, porque se tem medo de se ser magoado.
Se eu fosse assim, não saberia nem metade do que sei hoje. Se isso vale de alguma coisa? Talvez não. Mas acredita, hoje, depois de tudo, olho-me e vejo-me de uma forma muito mais clara. Sei que não preciso de ninguém para sobreviver; de quem eu gosto, quem eu amo, amo pela pessoa que é, por aquilo que me faz sentir e nunca por aquilo que me poderia dar… Não sei se me expliquei bem.
Olho os outros e vejo-os mais como alguém independente e não como alguém de quem eu precise para ser completa (não volto a cair no erro de pensar que as pessoas se completam… se se completam é porque faltavam peças… não é por aí). As pessoas complementam-se… É diferente. Penso estar hoje, depois de tudo, em mais e melhores condições para saber amar e para saber deixar que me amem. Porquê? Porque sou uma gaja pragmática. Aprendo. E rápido.
Sei que vais desancar nesta resposta mal explicada, mas não me importo nada com isso. Temos visões diferentes (ou talvez não???) desta coisa. Percursos diferentes… Eu sou uma crente. Não sou uma romântica da coisa. Sabes disso. Mas creio. Creio hoje de forma diferente do que ontem, mas a fé está cá. Aliás, é a única que tenho. E digo-te mais, medo de estar sozinha? Nickles. Medo de não ter alguém? Nickles. Medo de ninguém me querer? Nada. Sou. Uma. Gaja. Pragmática. Até mesmo em relação a não haver amor…
Eu espero que arranjes meia dúzia de argumentos esquisitos para me mandares à fava. Vá. Também sou paciente.

Me disse...

Anónimo,
Só passando por elas, né?
Não há argumento melhor do que o “estive lá, vi e aconteci”. O conhecimento de causa é arma poderosa… é, aliás, a única coisa que nos permite aprender.
Já não me lembro quando, mas já manifestei aqui uma opinião parecida com a tua. Qualquer coisa do tipo mais vale ter amado e perdido do que nunca ter amado sequer.
Sabermos que somos capazes de amar, capazes de ser amados… é tão bom. Mesmo que não haja quem amar ou quem nos ame, sabermos, termos conhecimento de causa do que tudo isso é … vale muito. Pode não servir de grande consolo em certas alturas, mas vale tudo quando sentimos a tal bolha…
Sabes do que tenho uma certa pena? É que nem sempre se cuida da coisa. Há quem seja irresponsável com o amor que lhe é dado. Há quem seja irresponsável com o amor que dá.
É como passar pela escola, como disseste, e não aceitar as correcções dos erros… O amor obriga-nos a ser responsáveis. Afinal de contas, é o coração e o mundo de outra pessoa que temos nas mãos… Ter noção disso, que somos amados, é de muita responsabilidade. É ter um poder enorme sobre alguém. E isso não se faz do pé para a mão. Não é sem mais nem menos. Nem para entregar esse tal mundo, nem para o receber (e entramos novamente na coisa das expectativas…)… pescadinha de rabo na boca este assunto…

E não te preocupes que por aqui não há corrector ortográfico… :)
Obrigada novamente pelo comentário.

Anónimo disse...

Não posso estar mais de acordo, quando essa responsabilidade e esse entendimento de "Afinal de contas, é o coração e o mundo de outra pessoa que temos nas mãos… Ter noção disso, que somos amados, é de muita responsabilidade." como escreveste, diz tudo. Aí sim, sabemos o que tudo isto quer dizer, sabemos que galgamos a melhor das etapas da vida, sabemos que deixamos de ser os adolencentes """"tótós"""" e somos Homens e Mulheres com H(s) e M(s) muito maiusculos. Agora sim, começamos a viver, agora sim, podemos aproveitar os ultimos anos da nossa vida e de preferência ao lado da pessoa de "que não se precisa" mas que é necessária na nossa vida, nem que seja só e tão só para, ao deitar dizer-lhe AMO-TE e ao acordar dizer... HOJE AINDA TE AMO MAIS QUE ONTEM.

Me disse...

Anónimo,
"nem que seja só e tão só para, ao deitar dizer-lhe AMO-TE e ao acordar dizer... HOJE AINDA TE AMO MAIS QUE ONTEM." Achas isso pouco? Só e tão só? Bolas!
Isso é muito, vale muito. Tanto para quem diz como para quem ouve.
E sim, só a partir de uma certa idade ou a partir de termos passado por certas coisas é que podemos dizer que crescemos... que estamos em condições para.
Se não tivesse levado tanto na cara e se não tivesse sido tão feliz no passado, nunca saberia dar valor ao hoje...
:)

Anónimo disse...

Cara Me:

é complicada, difícil, a análise desse tipo de coisas.

Porque,

cada caso é um caso.

C'est tout!

Me disse...

(ainda que a parte de ter levado na cara pudesse ter sido, em alguns casos, mais soft... porra.. há conhecimentos de causa que preferia não ter. mas pronto. é a vida. estamos cá para isso).

Me disse...

CT,
Esse tipo de facilitismo...
Ehhh. É claro que cada caso é um caso! Ehhh. Não é o que está em questão (mesmo que aqui não esteja de facto nada em questão...)

:P

CHEATER!!!

Anónimo disse...

O levar na cara, pode e é enriquecedor, experiência própria, faz parte da vida, faz parte do nosso crescimento. Ninguém gosta de apanhar na cara, levar na cabeça, apanhar uma palmada bem acente, mas a bem dizer da situação, é deveras importante, é um "presente" que se dá, sem valor, mas com um peso enorme. Obriganos a perceber, a entender esse "correctivo". E tanta se aplica a quem leva na cara como a quem dá, por razões completamente diferentes. Eu hoje sei, que o coração da outra pessoa, se estiver na nossa mão, é para ser mais bem tratado que o nosso, é para ser mais acarinhado que tudo, é para fazer tudo por tudo para o não magoar, é perceber que aquele coração enorme, nos foi posto á "disposição", por essa razão suprema que é o AMOR. Não se lhe pode fazer mal de maneira alguma. Mas para saber tudo isto e por incrivel, estupido e absurdo que possa parecer... antes... esse mesmo orgão foi mal tratado. Por burrice, por parvoice, por estupidez, por egocentrismo... por muito adjectivos nada bons, e nada adquados. Daí eu dizer que é sempre enriquecedor a má experiência de dar na cara e de receber... não sei se me fiz entender.

morcego persistente disse...

Amor?????? sim, ok, 'tá bem!!!

Um dia acredito!!!

Morcegadas

Me disse...

Há muito que te fizeste entender, Anónimo. Há muito. Percebo perfeitamente o que dizes.
Temos estado os dois a falar da mesma coisa, com o mesmo conhecimento de causa.
Eu também já fiz sofrer muito uma pessoa… há muitos anos atrás. Foi a partir daí que tomei uma decisão e nunca mais quebrei a “promessa” que fiz. Hoje já não é promessa, é garantia da qual nem me lembro porque tornou-se tão natural como respirar. Mas primeiro, sim, tive de fazer merda para perceber que há merdas que não se fazem. E nunca mais fiz. Nem hei-de fazer (sou teimosa assim…). Vale o que vale. Permanece o facto de ter magoado; permanece a dor que provoquei na memória da outra pessoa. Serei sempre associada a isso.
Quem usufruiu desta minha melhoria, por assim dizer, foi quem veio depois. É sempre assim. Quem vier a seguir, fica sempre com um cadito melhor de nós (pelo menos na maioria dos casos, penso eu).
Por aquilo que dizes, sei que serás (és) melhor pessoa e Homem hoje do que quando mal trataste o coração desse alguém. Mas quem vai usufruir disso não é quem levou o coração partido, é quem vier depois. É quem tiver acesso a essa versão renovada e aprendida de ti. Nunca é boa ideia ter por perto quem nos causou feridas e cicatrizes… Doem o dobro. Mais difíceis de esquecer. É preciso um esforço sei lá quantas vezes superior para voltar a confiar, a querer, a dar. Pode demorar-se anos a conquistar a confiança e amor de alguém, mas uma única palavra pode deitar tudo a perder. E eu sei disto também por conhecimento de causa. Para mim, bastou uma única palavra (foi apenas uma se bem me lembro…) para me “matar”.
Levar na cara faz-nos crescer, mesmo que seja com um sabor amargo na boca por essa aprendizagem não ter sido pedida por nós, por nos ter sido imposta. Acredito que esse amargo também fique na boca de quem dá. Penso, mesmo que seja mesquinho da minha parte, que é a forma que o universo arranjou de dar alguma “justiça” há coisa.
Entendo perfeitamente o que dizes. Não sei porque estou com estas deambulações todas… Mas entendo perfeitamente.
Deve ser do tempo.
*suspiro*

Me disse...

Morcegazinha Linda,
É justo.

Acreditar em algo é pessoal e intransmissível. É como ir à missa...

Justíssimo.
:)

Anónimo disse...

Então faço o quê?!

Me disse...

CT,
Manda a tua posta de pescada, olhá porra.
nada está em análise... estamos na converseta...

Cada caso é um caso é frase que mata a coisa. Mas pronto. De certa forma tens razão... não há muito a discutir numa coisa que é, basicamente, só nossa...

:P

Ehhh.

Anónimo disse...

Outra frase que fecha muito debate:
- cada um sabe de si, Deus sabe de todos! eheheh

(ou passamos para outro debate - fé e contrafé!)

Me disse...

PKB,
Butes... desde que não se fale da fé religiosa... por mim...

Escolhe tema!! formamos equipas a favor e contra!
BUTES!!!

Anónimo disse...

Quem vier a seguir? Sim também concordo contigo. Mas nesse caso, não iremos fazer sofrer, porque aprendemos, mas podemos sofrer nós, porque a outra pessoa ainda não passou pelo mesmo. A pescadinha de rabo na boca anda sempre por aqui... Mas também acredito que se duas pessoa que já passaram pelo mesmo, independentemente, se já estiveram juntas ou se se conhecerem de novo mas que já tragam com sigo essa experiência, pode concerteza fortalecer a relação e bastante. Como alguém um dia escreveu: A"MAR É FODIDO" e para lá de todo o sofrimento que se cause, para lá de todas as palavras mal ditas, de todos os mal entendidos, de todas as situações mal resolvidas, se ainda continuarmos no pensamento, no coração, na pele, no interior dessa pessoa, acredito que esse AMOR é intenso, é deve ser vivido, aproveitado, usado ao máximo, sempre sem nunca se esgotar. Porque mesmo depois de todas as vicissitudes pelas quais passamos se continuarmos a olhar para essa pessoa como se fosse única... não há ferida que não sare, não há sol que não brilhe mesmo em dias de chuva, não há nada nem ninguém que nos impeça de lutar pelo que queremos e merecemos. A vida é tão curta. Daqui a uns miseros anos somos capazes de dizer... valeu a pena? Valeu a pena não ter lutado por quem AMO? Valeu a pena depois de passar por tudo, ter aprendido e ao mesmo tempo ter desperdiçado, o que podia ter sido bom? Depois da tempestade, vem a bonança. Tenho receio disso... de perder tempo, porque um dia fiz sofrer, assim como diz ter feito sofrer alguém e de nunca ter demonstrado a quem sofreu por minha culpa que realmente aprendi e que tu ia ser melhor.

Acho que o tempo também tem um efeito assim qualquer em mim.

Anónimo disse...

tu = tudo

erro ortográfico... la se vão os meus conhecimentos da primária.

Me disse...

Anónimo,
Alguém, um dia, também escreveu que nunca se deve voltar aos lugares onde se foi feliz. Nunca nada volta a ser o que era. Nada volta ao que foi. Nada se perde, mas tudo se transforma.
Eu entendo o teu ponto de vista. Quem faz mal quer perdão. Mas quem tem o perdão na mão, por assim dizer, tem o supremo argumento de ter levado com o mal em cima e de a ferida causada nunca mais deixar olhar para a pessoa da mesma forma. Nunca se volta a confiar da mesma forma. Nunca. É impossível e quem diz o contrário, mente. Simples.
No meu caso, e sempre fui apologista disto, admito que haja uma primeira vez para tudo. Para aquelas em que acho que essa primeira vez põe em causa o resto, por norma costumo avisar… Aviso que para isto e para aquilo, há só uma e única vez e que a consequência é esta assim e tal cozido e frito. A partir daí, deixo de ter a ver com a questão. Fica o assunto entregue nas mãos da outra pessoa. Ninguém se entrega a ninguém sem haver umas alíneas… Mas isto é uma forma honesta e transparente de lidar com as coisas. Nunca ninguém, de mim, poderá recorrer ao argumento totó do “mas eu não sabia que tu não gostavas/querias/fazias/whatever”…
É a tal coisa de que se falava há bocado, se entregamos o nosso mundo a uma pessoa e ela dá cabo dele, porque raio se haverá de entregar novamente? Mesmo que se entregue, não é o mesmo mundo… é meio mundo, um terço de mundo. É um mundo ferido. Castrado.
Penso que uma das coisas mais difíceis de fazer na vida é deixar que quem nos faz ou fez mal ajude a meter-nos bem. É ver uma faca numa mão e um penso rápido na outra. E como é que se confia que não se vai voltar a usar a faca? Porque a pessoa garante? Promete? Jura? Também já o tinha feito antes e mesmo assim magoou… Nem essa pessoa saberá remendar o que fez. Enquanto lida com a culpa e vê a dor que provocou, ainda tem de ajudar a sarar? Quem magoa também precisa de sarar, também precisa de não ter ali uma constante lembrança do que fez e do efeito que teve. É difícil para todos. Poucas são as pessoas que conseguem fazer estas coisas todas ao mesmo tempo. Admito que não faço parte desse grupo de gente. Mas também não as comendo. Desconfio sempre de quem diz ter perdoado e esquecido. É impossível. Impossível.
Há coisas que não se recuperam. Há coisas que não se remendam. Há coisas que depois de acontecerem, nada há a fazer.
Entendo o que dizes, acredita. Já tive nessa posição de querer mostrar que tinha aprendido, de garantir que se poderia voltar a confiar em mim que não mais voltaria a acontecer. Tive a sorte e o azar de me terem dado essa oportunidade. Tive que fazer trinta por uma linha, tive que dar e dar e dar e não reclamar quando nada recebia. Passei muito tempo sozinha. Mesmo ao lado de alguém. Mas penso que soube lidar com a situação. A convicção é lixada. Dá-nos forças onde nem sabíamos que as tínhamos. Sei hoje que não merecia essa segunda oportunidade, nem o que passei para a ter. Uma simples razão: eu não fui, nem sou, capaz de fazer o mesmo. Ainda que as circunstâncias tenham sido completamente diferentes, sei hoje, depois de me conhecer melhor, que não sou capaz. E acredita que tentei. Tentei ao ponto de ter sido eu a ajudar a outra pessoa que me fez mal a mim a sarar… Impressionante, huh?
Eu entendo o que dizes e percebo a tua dor. Já estive aí.
Mas também já estive do outro lado.
Não sei que mais te diga.

PS: Não te preocupes com os teus conhecimentos da primária e os erros ortográficos… nessa altura de certeza que não havia teclados…

Anónimo disse...

Não tens que dizer mais nada, acredita.

"Olhos BEM Abertos"

Me disse...

Sempre.
Eu olho sempre para a frente com os olhos bem abertos. Para trás é que às vezes os fecho um cadito para não ver certas coisas... Mas também não costumo olhar para trás muitas vezes... por isso...

Tudo de bom Anónimo. Tudo de bom.

Anónimo disse...

Fazes muito bem.
Tudo de melhor para ti, tudo do melhor.

Me disse...

:)

Anónimo disse...

Os exemplos passados podem ajudar mas em nada têm a ver com as situações mais recentes, até porque as pessoas não são as mesmas, mas isso sou eu a falar, ou melhor a escrever e que em nada, já vi, percebo deste assunto.
Eu antes fui tótó hoje sou mais espertinho, não tinha que ser obrigado, só porque fui parvinho a continuar a sê-lo. Mas continuo a dizer, não percebo nada deste assunto, de AMOR e FELICIDADE. Afinal continuo Tótó na mesma.

Me disse...

Oh-Oh...

Anónimo,
Passaste-te?

Tava isto a correr tão bem...

Tens alguma coisa a dizer, é? Aproveita, 'migo!
Mas diz mesmo porque eu agora não percebi patavina do que disseste.

Anónimo disse...

Me, ca...raças:

a maior parte das coisas que se diz sobre o amor são frases feitas... Cada pessoa sente esse tal AMOR à sua maneira, não é a mesma coisa para todas as pessoas, porra!

Nada de linhas rectas, nada de baias, o Amor não tem definição... Ou antes, tem a definição que cada um lhe quiser dar! Estou farto de ler definições de amor que vão desde lamechices bacocas, a arrebatamentos vulcânicos...

Sabes o que é amar, Me? Eu não sei, mas,

Amar talvez seja ficar mudo, sem saber que dizer...

Eça é que Eça...

PS E há também fazer O Amor!

Me disse...

CT,
talvez seja ficar mudo sem saber o que dizer... Gosto d'Eça
:)

CybeRider disse...

As expectativas que haja devem ser suplantadas pelas certezas (relativas, que nas absolutas não acredito).

O que digo em relação às expectativas é que não podemos tentar mudar a outra pessoa em relação à imagem que NÓS criámos dela. Porque temos que amar com as qualidades e defeitos.

O amor manifesta-se por vezes das formas mais improváveis inesperadas e desilusórias que possamos imaginar. Descrevi algumas no meu texto. Mas que são inultrapassáveis porque embora não correspondam à imagem que criámos são imutáveis em quem amamos.

Há coisas na pessoa que amamos que por vezes nos arrefecem. Mas há que intrepertá-las e sobretudo pensar que, se essa pessoa também nos ama, tudo fará para não nos deixar cair.

(Como disse, paixão é outra coisa).

As "grandes expectativas" são aquelas em que acreditamos que não vamos sofrer nem desiludir-nos. Há muito que deixei de acreditar no paraíso como um dado adquirido. Temos que saber dar a volta por cima e compreender que a nossa imaginação põe sempre mais qualidades nas coisas que queremos verdadeiramente do que aquelas que lá podemos na realidade encontrar. É a tal "visão cor-de-rosa".

Somos nós próprios quem principalmente cria o nosso paraíso ou o nosso inferno. Claro que convém avançar só depois de termos as tais certezas (sempre relativas) sobre o fundamental.

yensung disse...

Chiça. Deste-me trabalho. Gosto disso.

Tens o comentário no meu blogue :) Vai lá escavacar, anda... E depois não te queixes que não posto!

Áurrebuáire e bisús!

Anónimo disse...

De alguém que eu conheço para alguém que também conheço:

"Coisas que Adoro em ti:
Adoro o dia em vieste ao mundo,
Adoro o dia que deste os primeiros passos,
Adoro o dia que disseste as primeiras palavras,
Adoro o dia que foste criança,
Adoro o dia que entraste para a escola,
Adoro o dia que aprendeste a escrever,
Adoro o dia que te tornaste adolescente,
Adoro o dia que te tornaste menina,
Adoro o dia que te tornaste Mulher,
Adoro o dia que te conheci,
Adoro o dia que te beijei,
Adoro o dia que fiz amor contigo pela primeira vez.
Adoro a nossa primeira noite juntos,
Adoro a primeira vez que acordei ao teu lado,
Adoro ver a tua carinha, ainda cheio de sono.
Adoro caminhar ao teu lado,
Adoro ter feito parte de ti,
Adoro ter-te dado o melhor de mim,
Adoro ter recebido o melhor de ti,
Adoro o teu sorriso,
Adoro ainda mais o teu riso descontrolado,
Adoro ter pertencido a ti,
Adoro ter sido teu,
Adoro teres sido minha,
Adoro o teu jeito de ser,
Adoro o teu jeito de andar,
Adoro o teu respirar,
Adoro o teu toque,
Adoro o teu cheiro,
Adoro cada poro da tua pele,
Adoro cada pedacinho teu,
Adoro cada fio de cabelo,
Adoro as tuas mãos,
Adoro os teus pés,
Adoro a tua presença,
Adoro o timbre da tua voz,
Adoro o teu olhar,
Adoro tudo o que foste,
Adoro tudo o que és,
Adoro tudo o que irás ser,
Adoro o que nos uniu,
Adoro o que não nos une mais,
Adoro saber quem és,
Adoro a cumplicidade que tivemos,
Adoro a tua inteligência,
Adoro tudo o que fazes,
Adoro saber que estás viva,
Adoro saber que no fundo ainda gostas de mim,
Adoro ter acordado às 4 da manhã para te escrever,
Adoro ADORAR-TE,
Adoro AMAR-TE,
Adoro este sentimento todo por ti,
Adoro-te como nunca adorei alguém."

Penso que se adequa ao tema, e sei de fonte segura, que é tudo verdade.

A segunda pessoa do singular "TU" é tão só porque foi assim que foi escrito.

Me disse...

CybeRider,
O paraíso como dado adquirido? Pois… As grandes expectativas são as que não nos podem desiludir porque fazem parte do fundamental a verificar antes de todo o mais… Compreendo. A visão cor de rosa… As coisas são o que fazemos delas… Amar qualidades e defeitos…
Aceitarmos a pessoa pelo que é para que as expectativas não sejam defraudadas… Tudo bem. Há uns tempos, houve uma pessoa que me disse que era muito difícil desiludir-se com os outros. Porquê? Porque colocava-se na situação da pessoa, tentava compreender os motivos e razões que levaram a determinada atitude ou acto e, depois de entender, avaliava se tinha tido alguma coisa com a situação ou não. Explicou que por vezes ficava triste com as atitudes e actos, mas desilusão nem por isso… Que era difícil porque pouco ou nada esperava. Que já tinha aprendido que esperar alguma coisa de alguém era mau. Acho isto o 80 do 8 que é ter demasiadas expectativas. Há que ser saudável nestas questões…
Entendo o que dizes e concordo. Mas o certo é que o pessoal continua a magoar-se, continua a fazer mal, continua a ficar abaixo das tais expectativas… Poucas vezes alguém as supera… Talvez isto seja mais fácil se não as houver…
Amar não é fácil. Ser amado também não. Cliché? Sim. Mas verdade.

Me disse...

Yensung,
Ai gostas? :) Ainda bem!
Já li, já agradeci, já respondi…
Fica link para o blog da Yensung para quem quiser visitar esta troca de ideias… e o resto também, claro.
http://maisduaspraestrada.blogspot.com/
Bísúses!!!!!!

Me disse...

Anónimo,
Lindo o que escreveste… Muito mesmo. Um adoro-te de início ao fim. Muito bonito.
Fico mais descansada que a espécie de fanico que te deu ontem te tenha passado, mesmo que tenha sido à hora que foi.
Que vivas esse amor de forma tranquila, mesmo que não tenhas do teu lado a pessoa que queres ter. A vida às vezes prega-nos com partidas daquelas mesmo cruéis, não é? Mas pelo que entendo, foste amado e amaste. Só isso, quando em falta do resto, tem de valer por alguma coisa. E vale.
O Tempo tudo cura, mas primeiro tem de doer. Que não te doa durante muito mais tempo.
Obrigada pelo comentário e partilha. Obrigada.

Anónimo disse...

Não vejo isto como partida, nem como dor, vejo como o terminar de algo que durou algum tempo a resolver. Quanto a fanicos... não os tenhos nem nunca os tive. Não são fanicos, são pontos de vista diferentes e cada um tem os seus. Correctos ou errados, não interessa. Valem pelo que valem.

Adeus.

Be.

Me disse...

Por "fanico" referia-me ao último comentário de ontém em que não fiquei a perceber o sentido da coisa.

Mas sim, Adeus. Sendo isso o que resta, Adeus.

Me.