28.9.10

Sou Ribatejo.



Antes de ser Portuguesa, sou Ribatejana.
O Ribatejo, terra de gentes rudes e abrutalhadas, vive e respira de uma forma diferente do resto do país. Por aqui, as coisas são mais terra-a-terra, mais firmes de intenção e de convicção. Não é terra de hesitações ou de dúvidas – não há espaço para isso. Terra maioritariamente agrícola que sempre sobreviveu à mercê da natureza e de suas vontades, é também uma terra que produziu uma estirpe de gente que, e aqui à boa maneira portuguesa, consegue virar costas e mantê-las viradas a tudo quanto no seu entender não lhe seja benéfico, positivo ou promissor. Só na cara da verdadeira adversidade se faz peito e se enfrentam os perigos de caras. De resto? Se não nos vai matar, deixe-se estar que há mais coisas a atender, a ver, a fazer, a ser e a ter. Não há, por aqui, lugar a dúvidas existenciais – ou se bem que é, ou então que fosse porque, de momento, já foi. Forma simples de ver a vida e de a viver, tal como a natureza e os comandos que vai ditando para os ritmos e danças das vidas de todos quanto se intitulam de Ribatejano e Ribatejana e que vivem desta terra e de tudo quanto ela, com o devido esforço, vai proporcionando.
O Ribatejo, terra à mercê desta eterna Rainha-mãe, tem também os seus Reis e Príncipes que, com vontade e temperamento, vão ditando os compassos e a intensidade com que a vida por aqui se sente e se vai bailando. Terra de gentes rudes e abrutalhadas, os nossos Reis e Príncipes espelham a alma de quem, não enfrentando nada de ânimo leve, prefere o terror e cicatrizes de uma batalha bem aguerrida às palmadinhas nas costas e apertos de mão de uma briga atrapalhada. Gentes de poucas palavras, é na coragem de enfrentar cada novo dia de cabeça bem erguida que reside tudo quanto alguma vez possam dizer ao mundo: Estou aqui para o que der e vier, não fujo, enfrento o que tiver de enfrentar, mas não me pisem os calos nem me encostem à parede que o meu mundo é vasto e amplo, arejado, sem restrições e em nada estou habituado a que me enfiem num canto e me mandem calar.
O Ribatejo, terra tão difícil de identificar e de demarcar na mente de quem não é de cá, tem algo que o identifica e que, simultaneamente, identifica para todos o país que o circunda.
Não se faz, por cá, alarido disso. Não é bandeira ou mascote que se pavoneie aos ventos. É quase como que segredo bem guardado e apenas dado a ser vivido aos poucos que entendem, visceralmente, a diferença entre se estar no Ribatejo e o ser-se Ribatejo em forma de gente.
O Ribatejo, assim sendo, vive, cresce e é festejado dentro de cada um de nós. Por este prisma, poder-se-ia afirmar que o Ribatejo ultrapassa as suas geografias de rios e planícies, existindo um pouco dentro de todos quanto sentem que há algo que lhes faz brilhar o olhar e bater mais forte o coração de cada vez que Rainhas, Reis e Príncipes são homenageados e venerados através das mais variadas manifestações de respeito e adoração.
O Ribatejo, terra de gentes rudes e abrutalhadas, que, por sorte ou infortúnio, mostra o que lhes tormenta a alma e lhes tolda o pensamento de forma objectiva, clara e concisa. Quando não se gosta, detesta-se. Mas se se gosta… ama-se. Terra do oitenta que não reconhece o oito como sendo possível, é nos limites da emoção e da força e resistência dos corpos que a transportam que os dias vão sendo inspirados e expirados com aquele doce cheiro do que é ser-se livre num espaço onde os limites são ditados apenas por a quantidade e qualidade de dor e prazer que cada um suporta ou se atreve a suportar.
Antes de ser Portuguesa, sou Ribatejana. Sei que o meu Ribatejo nasce e vive todos os dias em mais corpos que, mesmo não respirando os seus ares todos os dias, são imunes a que haja quem se atreva a imaginar sequer poder subtrair-lhes o direito de se sentirem como fazendo parte de algo que transcende o local onde se vive, onde se mora ou onde se nasceu.
Sei que o meu, nosso Ribatejo se espalha por este Portugal fora, atingindo mentes e corações que se elevam e que se regozijam de puro deleite perante tudo quanto melhor possa celebrar aquilo que tão bem tem identificado e permitido viver esta porção de terra bem no coração de Portugal.
O nosso Ribatejo, possui o dever de assim continuar vivo nos olhares de todos que por cá passam e que possuem a grandeza de espírito de levar com eles aquele brilho inconfundível de quem, num só momento, testemunha a razão de ser de centenas de anos de vidas por cá vividas e perdidas.
O nosso Ribatejo, meu e teu, tem a obrigação de, também desta vez, não se resguardar ou virar a cara ao que sabe poder fazer-lhe sofrer para que, por mais umas boas centenas de anos, possa continuar com a vida que lhe foi arduamente criada e construída, conquistada e batalhada por todos quanto vieram antes e que farão para sempre parte do agora e do amanhã desta terra de gentes rudes e abrutalhadas que, por sorte ou infortúnio, possuem esta estranha forma de vida, de ser.
Antes de ser Portuguesa, sou Ribatejo. 

23.9.10

As Mulheres querem...


imagem: google

A propósito de conversa sobre Homens e Mulheres, recebi um belo texto por mail. Reproduzo aqui pequena passagem, sem autorização absolutamente nenhuma do autor,  estando-me eu a cagar para esta questão porque o mail e o blog são meus e faço o que quiser.

Bem, e então, dizia ele (daqui em diante referenciado como sendo o Homem)…
“Não percebo as mulheres, sabes? Às vezes falam abertamente dos seus problemas e das coisas que as apoquentam. Por vezes fecham-se em copas e não admitem que ninguém atravesse aquela linha ténue entre o querer e o poder falar acerca de algo.
Anyway.... Ontem percebi finalmente as mulheres. Acho eu que sim. As mulheres querem uma figura protectora, mas carinhosa. Ou seja, tem de ser forte e suave. Tem de ser alguém sensível,  mas com personalidade vincada. Tem de ser amigo, mas um grande amante. Tem de ser seguro, mas que gosta de arriscar para chegar mais longe. Tem de ser compreensivo e bom ouvinte, mas não pode ser demasiado aberto e deve ter algo de misterioso. Deve ser alguém em quem confiam, mas gostam de o mostrar às amigas bem vestido e todo "grosso". Não para meter só inveja mas também para dizer que é vosso.
Enfim... vocês querem um homem totó mas que seja macho latino. Foda-se. Vão bardamerda.”

O primeiro parágrafo nem uma sobrancelha me fez levantar. Discurso normalíssimo e aplicável tanto a Homens como a Mulheres.
Os Homens têm a mania que têm de perceber as Mulheres quando, no fundo, o que mais se deviam esforçar por perceber é a Mulher que têm (ou vão tendo…). Mas vá. Penso que esta já é uma questão quase cultural. É quase obrigatório os Homens dizerem que não nos percebem. Parece que não, mas assim vão-se esquivando a uma data de coisas… “Ahhh… desculpa querida… não percebo as mulheres, e ainda que sejas um belo exemplar, lamento, mas também a ti não percebo… Queres que faça exactamente o quê com o tampo da sanita?”, e por aí fora.

O segundo parágrafo pôs-me em estado de alerta assim que acabei de ler “Ontem percebi finalmente as mulheres”. Para além de conseguir situar a coisa no tempo (Ontem),  qual epifania, Homem em questão considera que finalmente (ontem, sim, mas após longos anos de pesquisa e colocação de hipóteses e de experimentação e afins, desde pequenino, com certeza) percebeu (Priberam: Receber impressão por algum dos sentidos; Conhecer, entender, compreender;  Ver; Ouvir; Aperceber; Auferir, cobrar, embolsar-se de.) as (mais do que uma, portanto) Mulheres (na sua totalidade). Chiça!!! (Alert! Alert! The enemy has broken through security barriers! Alert! Alert!!, disparava o meu cérebro... Ou não...).
Lá esbocei sorrisinho sarcástico, inspirei e fiz o que me restava fazer: responder.
Respondi-lhe que se ele realmente nos percebia, então que nos explicasse tudo como deve ser porque nós, Mulheres, não fazíamos a mais pálida ideia. Que mesmo sabendo o que não queremos, estamos longe de sabermos o que queremos… tal como eles (haja igualdade).
Na melhor das hipóteses, quando confrontados com esta questão, lá vamos (todos) respondendo: Quando o/a conhecer, saberei (ora, pois…).

Mas também lhe respondi que a descrição que ele fez dá perfeitamente para aplicar àquilo que os Homens querem, ou seja, àquilo que seria o suposto entendimento perfeito dos Homens por parte das Mulheres. Caso Mulher qualquer algum dia decidisse começar uma frase por “Ontem percebi finalmente os Homens” (o que nunca faria pois as Mulheres, no campo das hipóteses quanto aos Homens, preferem jogar pelo seguro e deixar que cada exemplar seja pequena e maravilhosa surpresa), é provável que o seguimento fosse exactamente aquele.
Ele, vénia, descreveu a pessoa ideal para qualquer pessoa, seja Homem ou Mulher. Em poucas palavras, conseguiu caracterizar aquilo que todos procuram, que todos anseiam, que todos querem, mesmo que não o saibam (mas não vamos por aí que isto do “não saber” dava novo post só por si).
Onde mais acertou, a meu ver, foi na realização de tal rol de características ser impossível de reunir num só Homem (notório através do marcante “Foda-se. Vão bardamerda.”). Na mouche. Em resposta, disse que tais coisas são impossíveis de encontrar no devido equilíbrio, claro, em qualquer pessoa, Homem ou Mulher (sou uma gaja justa e estava a sentir o sofrimento daquela alminha).
A frustração que ele sente com esta última epifania é a mesmo que cada pessoa sente quando conhece outra e começa a verificar a check-list mental que tem com todas as características que quer no outro/a e chega a um ponto em que a coisa descamba para os defeitos que retiram prospectivo parceiro/a da corrida. Uma espécie de “Ora, bolas… ‘tavas a ir tão bem” que nos enche de derrota (sim, sentimo-nos derrotados como se tudo aquilo fosse um grande “teaser” por parte do Universo!) e outros sentimentos afins. Mas há quem ignore os alarmes e siga em diante, na firme convicção de que, com um cadito de trabalho, Espécimen Incompleto poder-se-á transformar em Exemplar Perfeito. Ou seja, com pequenas, ligeiras e menores adequações (ha!) – seja na cor da camisa, na dieta adoptada ou na quantidade de palavras que se permite proferirem por dia – existe ali todo um potencial em acção, todo um diamante em bruto (a que por vezes falta a parte do diamante) ao qual bastará puxar o lustro e limar meia-dúzia de arestas para que a coisa funcione na íntegra (tempos depois, olha-se para trás e não se reconhece mais o Exemplar Perfeito mas sim, e de novo, o Espécimen Incompleto do qual se quer um divórcio e já).

Eu penso que é positivo Homem ter passado por tal processo e ter chegado a tais conclusões.
Mas, e não querendo agora, de forma alguma, reduzir Homem a qualquer tipo de insignificância intelectual tendo por base os seus achados, especialmente porque o que disse já nós Mulheres sabemos quase desde sempre, persiste uma, e apenas uma, questão que, infelizmente, ainda se vai aplicando de forma bastante igual entre todos nós: a questão do mandar o outro, Homem ou Mulher, Bardamerda quando não preenchemos por completo a tal check-list (seja a que as Mulheres têm para os Homens, seja o inverso).
E é aqui que reside o que eu penso ser aquilo que as Mulheres querem: Alguém a quem simplesmente não conseguem dizer “Foda-se. Vai bardamerda” (note-se a implicação e profundidade desta afirmação – de fútil pouco ou nada tem, meus caros e caras).
Simples.

(Mas obrigada na mesma pelo teu contributo, Homem. Obrigada.)

20.9.10

Pesquisinhas Deprimentes... Há sempre mais e mais e mais e mais.....


imagem: google

Tenho mesmo de parar de ir ver o que o Google traz aqui ao Tasco. Qualquer dia fico deprimida com a quantidade de buscas absolutamente nojentas que existem por esse mundo fora. Ou isso ou também eu me vicio em ver gordas com mais de 100 kgs e 60 anos a foderem galinhas, porcos, póneis e cavalos. Ou homens nus com a pila torta de fora. Oh! Ou viro médica! A quantidade de dúvidas existenciais relativas a borbulhas e borbotos e toda a espécie de erupção cutânea aqui e ali é verdadeiramente impressionante.
De qualquer das formas, para vosso reading pleasure, aqui fica uma selecção das pesquisinhas deprimentes mais aceitáveis… Quer dizer... 

Secção de Pedidos à lá Carte

1. Anedotas para cabrões Ribatejanos.
Com certeza!! É para já!
Então, era um cabrão do Porto, um cabrão de Lisboa, um cabrão do Alentejo, um cabrão do Algarve, um cabrão do Minho, um cabrão da Beira Baixa, um cabrão da Beira Alta, um cabrão de Trás-os-Montes, um cabrão de Aveiro e um cabrão da Margem Sul… Estavam todos num bar quando entra cabrão do Ribatejo.
Cabrão do Ribatejo pergunta se alguém quer palitos.
Ninguém responde.
“Ahhh… então estão todos servidos, está visto!”, disse o cabrão do Ribatejo.
The End.

2. Poema de uma boa foda
Foda-se… então mas esta merda agora é só pedirem-me coisas esquisitas???
OMQ – Serviço de Entretenimento Público??? Oh, pá…
Aqui vai.

A noite estava serena,
O luar cheio de luz.
Ela abriu as pernas,
E foi lá que me pus.

Vim-me minutos depois,
Um cigarro eu acendi.
E lá contei mais uma,
Das fêmeas que bem fodi.

Por: Me.

3. O que realmente acaba com rugas?
Tudo, ‘miga. Tudo acaba com rugas. Mais tarde ou mais cedo, todos acabamos por ficar com rugas. Lamento.

4. Quero uma frase pequena sobre igualdade
= = 0

5. Como ouvir os vizinhos a foder
Tu não ouves os vizinhos a foder?!?!??! Onde é que moras!??!!?!? Onde é que moras!?!?!? Diz-me!!!!!!

6. Quanto é pesas?
Ai a merda… Que peso me dás?? Hmmm?

7. Porque as mulheres são tão deprimentes
Porque Deus criou o Homem. E as rugas.

8. estoria,de,mulher,que,fode,com.cachorro
Eh, pá. E a história do cibernauta,cegueta,disléxico.totó? Não?


Secção das Afirmações Afirmativas

9. Faz mal não expirar
Chiça! Atão, não! Faz um mal dos Diabos! Isso e segurar gases (mesma coisa, no fundo). Pessoal! Toca a expirar por tudo quanto seja orifício! Google dixit!

10. As Suecas gostam de cunilingus
Aleluia, Irmãs! Ami! Amá! Amú!! Haja mulheres neste planeta que gostem! E vocês homens achavam que este tipo de mulher não existia! Afinal existem mulheres que gostam do mítico cunilingus! Estão é todas na Suécia!!  

11. Gosto de ver mulheres a ser fodidas por outros e eu a ver.
Ok. Vamos lá ver se percebi. Colocas uma câmara que filme a cena toda para depois veres o filme de tu a veres os outros a foderem as mulheres enquanto os vês? É isso???

12. Mamas grandes e cu redondos
Eu respondo a isso!
Pilas pequenas e bolas vazias (Incha!! Toma!!!).

13. Foder com homes Brutus.
‘Miga ou ‘migo, tanto quanto vejo, para Brutus já chegas tu…

14. Pesquisa – doces – não encontrou nenhum documento correspondente. Nenhuma página contendo “doces” foi encontrada. Sugestões: Certifique-se de que todas as palavras estejam escritas corretamente. Tente palavras-chave diferentes.
Experimenta “dosses”.

15. Fobia de pilas
Deve ser por causa disto que as Suecas gostam de cunilingus…


Secção “Consultório do Amoooor – OMQ”

16. Texto para pedir desculpas a namorada
O que é que tu fizeste à miúda? Chiba-te.

17. 50 razoes de pedido de desculpas a uma namorada
Xiiiiiiiii!!! Não me parece que precises que alguém te diga o que fazer para te obrigar a pedires desculpa à tua namorada…

18. Desculpas para não ir ter com a namorada
Lá está. Essa razão serve perfeitamente! Já só faltam 49…

19. Desculpas pra namorada por ter feito uma merda
48… Vais no bom caminho!

20. Namorada nunca pede desculpas!
Errado! Essa não conta! E já pensaste porque é que ela nunca pede desculpas? Tu nem apareces, oh, cabrão! (do Norte, Centro ou Sul). E ainda por cima andas por aí a fazer merda! É bem feita!!!

21. O que fazer para pedir desculpas quando magoamos o namorado
Olha, olha, olha… Vieram cá parar os dois? O gajo mereceu! Tu não sabes da história a metade!!

22. Como pedir desculpas ao namorado por ter brigado sem motivos?
Sem motivos??! Atão, o gajo não aparece, anda por aí a fazer merda e tu ainda achas que brigaste sem motivos?!?! Oh, pelo Amor da Santa Pila Desaparecida!!

23. Texto de desculpa por ter sido grossa
E ela a dar-lhe!! E depois ainda se admiram de as mulheres serem deprimentes e ganharem rugas…
Esquece isso! O gajo estava com outra!!! Siga!!!


Secção Oportunidade Falhada

24.   Cabeça no cu da ovelha
Ai, Bonga. Imagina o sucesso que poderia ter sido aquela tua musiquinha “Olhos Molhados” se tivesses tido esta abordagem…
Novo Título: Cornos Cagados
Tenho a cabeça no cu da ovelha… tenho a cabeça no cu da ovelha… tenho a cabeça no cu da ovelha… tenho a cabeça no cu da ovelha…


E pronto. Assim vai o Mundinho.

13.9.10

Minis. (Mas não as que se bebem...)


imagem: google


Adoro almoçaradas. Adoro gente reunida e imbuída do espírito de pura e simplesmente se tentar passar um bom bocado. Gosto dos rituais de se acender o fogareiro, de carregar o frigorífico com o que precisa de frio, de se meter a mesa, de se distribuir tarefas… tudo. Adoro festa, pronto. Adoro salas cheias de gente barulhenta e a rir, com comida a ser passada de um lado para o outro, copos a serem despejados e logo de seguida, novamente enchidos. Até gosto daquele ritual de alguém ter que ir ao supermercado mais perto para ir buscar algo de que ninguém se lembrou mas que faz falta e da festa que se faz quando chega alguém para se juntar a quem já lá está. Gosto dos cheiros, das cores, do barulho, da vida que se sente pulsar entre tudo e todos nestes dias. Adoro.

Mas… Mas.

Não gosto de noites em que se passa mais tempo a avisar os rebentos dos convivas que não, os caracóis apanhados no jardim não servem para ir para o fogareiro, muito menos para a mesa dentro de copos de plástico.
Que não, as osgas bebés não são para apanhar e ir colocar na grelha para as ver perder o rabo.
Não gosto de passar a noite a ter que avisar os rebentos dos convivas de que as canas apanhadas do chão não devem ser utilizadas como objectos de arremesso ao estilo samurai.
Não gosto de ter que filosofar sobre as probabilidades de incêndio de uma propriedade inteira caso a criança não pare de enfiar folhas secas e papéis dentro do fogareiro.
Não gosto das birras para comer, para não comer, para comer assim-assim.
Não gosto de copos entornados e de bocados de salada a voar porque “Mas eu já disse que não quero iiiiiiiiiiisto!!”.
Não gosto de ver bocas abertas cheias de comida semi-mastigada enquanto se desencadeia birra descomunal porque alguém mexeu no garfo que não era suposto ser mexido.
Não gosto de ver adultos em pânico quando se lembram que já não vêem o respectivo rebento há mais de 30 minutos, estando o mesmo calmamente a reunir pequenas pedras para depois testar pontaria contra restantes crianças.
Não gosto de ver fraldas a serem mudadas em cima da mesa ao meu lado.
Chamem-me esquisita, mas não gosto.

Tenho muitos casais amigos que, claro, têm filhos. Nestes dias, a probabilidade de uma boa parte deles se reunir é muito alta. Eu adoro aqueles homens e aquelas mulheres. Até mesmo das crianças em si eu gosto e muito. Mas, nestes dias, em que os pais confiam a gestão infantil aos próprios e a um portão que só abrirá com o comando, fico sempre com aquela sensação que há ali graves divisões em termos de vontade de lá se estar.
Quem não tem filhos é olhado com uma espécie de inveja-desprezo... (mas isso agora não interessa nada). Quem tem filhos recebe toda a solidariedade possível enquanto se trocam histórias sobre os horrores vividos no dia em que criança decidiu que o local mais apropriado para fazer as necessidades seria no sofá da sala e afins (enquanto os que não têm filhos correm atrás dos ditos, arrancando-lhes canas da mão e salvando tudo e todos de pequeno incendiário que acha piada a como as folhas desaparecem no meio do laranja das chamas…). Penso que sejam dias e noites “difíceis” para todos mas que, de certa forma, lá se consegue encontrar um equilíbrio entre os cem metros barreiras necessários para salvar uma qualquer galinha de ser degolada por pequeno terror e o prazer de se beber uma mini sem se ter um biberão na outra mão.
Sei que um dia também eu hei-de andar a trocar histórias e a gritar desalmadamente enquanto Mini-Me se engalfinha na cadela dos anfitriões como se fosse pequeno pónei. Sei que sim. E sei que hei-de partilhar o mesmo tipo de histórias e sei que hei-de olhar o pessoal sem filhos com um misto de “não tenham filhos/não sabem o que perdem”. Sei.
Mas, porra… E pode ser egoísmo meu, mas gostava de poder estar com as pessoas que gosto e que conheço desde antes de serem conhecidos por “Mamã” e “Papá” durante umas horitas, sem ninguém andar constantemente preocupado com tudo aquilo que preocupa quem tem filhos ou quem com eles convive.
Adoro a minha gente. E adoro os filhos e filhas destes. Gosto de os ver crescer, de os ver brincar… de os ver a transformarem-se em mini versões dos pais. E adoro almoçaradas. Não gosto é de, de vez em quando, ficar com aquela sensação de que as mesmas servem apenas para almoçar…

“Suspiro”. 

8.9.10

Tenho uma Teoria


imagem: google


Tenho uma Teoria.
Esta teoria é capaz de não ser do agrado de todos, e, de certa forma, contra mim falo, mas porra, está na altura de dizer chega!, basta!, não aguentamos mais!
Por isso, Chega! Basta! Não aguentamos mais!!! (falo no plural porque há-de haver quem concorde - estou-me a antecipar ao massivo apoio que sei que hei-de receber).

A Teoria que desenvolvi após longos anos de observação no terreno e in loco indica que tudo quanto seja Homem que lide com cavalos e gado e afins, é uma espécie de bestinha.
Não há aquela tese de um qualquer instituto inglês que diz que, no geral, os professores e professoras são adultos mais imaturos porque passam muito tempo com gente imatura, retirando-lhes a eles certos padrões de comportamento e certas atitudes? Há, pois (eu hoje quero mesmo é apanhar porrada aqui no blog…).
Bem, de qualquer das formas, eu penso que os homens que lidam, numa base diária ou quase diária, com cavalos e gado e afins retiram destes animais ruminantes certos padrões de comportamento e certas atitudes. Questões de higiene à parte, chego a esta conclusão porque, do que tenho visto, para além de existirem muitas semelhanças entre estes homens, existem também muitas semelhanças entre estes homens e os animais dos quais cuidam.
Sendo eu de terriola em que não se pode nunca dizer algo do tipo “Oh… gostava tanto que o meu Príncipe encantado aparecesse de cavalo branco/preto/whatever para me salvar deste mundo cruel” porque as hipóteses são de se ter cavalariça colorida montada à porta de casa daí a 5 minutos, digamos que lido de perto com tais espécimenes, logo, posso teorizar até mais não.
Não sei se será das hormonas dos cavalos ou das éguas, dos bois ou das vacas, se do seu pêlo, se do cheiro a merda dos estábulos, se das montadas menos confortáveis, se das selas mal feitas ou se do simples facto de apenas trabalharem com outros homens durante dias e dias a fio, mas estes homens parece que passam a ter uma parte do cérebro (a parte desenvolvida e que não se restringe apenas à amígdala) que fica algures a campo e não mais volta com as manadas de vacas e animais afins.
A presunção de alguns deles consegue ser tão devastadoramente presunçosa que tudo quanto nos resta fazer é bater palmas! Há mérito em certos estados de demência voluntária! Aquilo demora anos a sair de forma tão natural! Quais touros que pensam que vão levar a melhor sobre o toureiro, estes homens não se abandonam por um segundo que seja, mantendo peito alto e erguido, nariz devidamente virado para o céu e pernas abertas ao ângulo que permita uma boa aragem das partes fodengas. 
O ego daqueles homens, habituados a dominar animais selvagens e a acumularem tais ensinamentos para quando lidam com o gajedo, é de tal forma insuflado que por vezes temos de nos desviar uns bons dois metros de alguns deles de modo a poder continuar caminho. E não se pense que se consegue destruir um ego daqueles com chapadas na cara quando nos atiram um qualquer piropo do tipo "anda cá, magana, que hoje é o teu dia de sorte!", por exemplo. Não. Para além de verem isso como sinal de bravura, logo, bom, ainda são capazes de pedir mais!
Mas há mais! Habituados a ver os animais a praticarem as artes do amor a campo, acham que levar elementos mais colaborantes do gajedo para sítios repletos de natureza e lhes mandarem uma trancada, de pé e de costas (posição favorita destes especímenes, claro) contra um chaparro, é a coisa mais linda que o mundo tem para oferecer! Ahhhh, a natureza! Os colhões a baloiçar na suave brisa da noite! Os pés bem assentes em poias de cavalo para ajudar no equilíbrio! A oportunidade de pegar no jipe (do papá) e mostrar ao tal elemento mais colaborante do gajedo o verdadeiro sentido de tracção às 4 enquanto saltam por cima de troncos, vedações e pequenos caminhos de água… A natureza é a segunda Mãe destes homens e eles veneram-na! Mordidelas de bichos na ponta do piço e tudo!
Mas sejamos justos. São homens nobres e honrados, capazes de tudo pelos amigos (desde que não tenham namoradas engraçadas… aí é cada homem por si), e de uma força de espírito difícil de igualar (farão tudo para agradar à futura mãe dos seus filhos, escolhida por entre as demais após aplicação de rigorosos critérios de selecção que vão desde a espessura dos tornozelos, largura das ancas, tamanho do peito e capacidade de bem executar a arte do broche). Têm bons princípios (em princípio, vale tudo) e orientação moral tão rigorosa que nada os fará demover dos seus propósitos (se o propósito é apanhar uma bubadeira, então, que se apanhem três ao mesmo tempo que só assim se vê a diferença entre os meninos e os hommes!). São bons conversadores (capazes de falar das suas éguas durante horas a fio). São dedicados (a tudo quanto prove ser em seu proveito exclusivo) e, pasmemo-nos, alguns até deixam que as mulheres trabalhem (modernos!).

Em conclusão, penso que os sinais de aculturação são mais que evidentes. Anos de estudo e de convivência com tais especímenes permitem-me, com margem de dúvida bastante reduzida, na ordem dos 0%, afirmar que quem lida com bestas de quatro patas, numa besta de duas se transforma.

Que sirva de lição para todos quanto se aventurem para o Wild Wild West Português, qual Texas em pontas e emoldurada por tronqueiras.

Olé!