28.9.10

Sou Ribatejo.



Antes de ser Portuguesa, sou Ribatejana.
O Ribatejo, terra de gentes rudes e abrutalhadas, vive e respira de uma forma diferente do resto do país. Por aqui, as coisas são mais terra-a-terra, mais firmes de intenção e de convicção. Não é terra de hesitações ou de dúvidas – não há espaço para isso. Terra maioritariamente agrícola que sempre sobreviveu à mercê da natureza e de suas vontades, é também uma terra que produziu uma estirpe de gente que, e aqui à boa maneira portuguesa, consegue virar costas e mantê-las viradas a tudo quanto no seu entender não lhe seja benéfico, positivo ou promissor. Só na cara da verdadeira adversidade se faz peito e se enfrentam os perigos de caras. De resto? Se não nos vai matar, deixe-se estar que há mais coisas a atender, a ver, a fazer, a ser e a ter. Não há, por aqui, lugar a dúvidas existenciais – ou se bem que é, ou então que fosse porque, de momento, já foi. Forma simples de ver a vida e de a viver, tal como a natureza e os comandos que vai ditando para os ritmos e danças das vidas de todos quanto se intitulam de Ribatejano e Ribatejana e que vivem desta terra e de tudo quanto ela, com o devido esforço, vai proporcionando.
O Ribatejo, terra à mercê desta eterna Rainha-mãe, tem também os seus Reis e Príncipes que, com vontade e temperamento, vão ditando os compassos e a intensidade com que a vida por aqui se sente e se vai bailando. Terra de gentes rudes e abrutalhadas, os nossos Reis e Príncipes espelham a alma de quem, não enfrentando nada de ânimo leve, prefere o terror e cicatrizes de uma batalha bem aguerrida às palmadinhas nas costas e apertos de mão de uma briga atrapalhada. Gentes de poucas palavras, é na coragem de enfrentar cada novo dia de cabeça bem erguida que reside tudo quanto alguma vez possam dizer ao mundo: Estou aqui para o que der e vier, não fujo, enfrento o que tiver de enfrentar, mas não me pisem os calos nem me encostem à parede que o meu mundo é vasto e amplo, arejado, sem restrições e em nada estou habituado a que me enfiem num canto e me mandem calar.
O Ribatejo, terra tão difícil de identificar e de demarcar na mente de quem não é de cá, tem algo que o identifica e que, simultaneamente, identifica para todos o país que o circunda.
Não se faz, por cá, alarido disso. Não é bandeira ou mascote que se pavoneie aos ventos. É quase como que segredo bem guardado e apenas dado a ser vivido aos poucos que entendem, visceralmente, a diferença entre se estar no Ribatejo e o ser-se Ribatejo em forma de gente.
O Ribatejo, assim sendo, vive, cresce e é festejado dentro de cada um de nós. Por este prisma, poder-se-ia afirmar que o Ribatejo ultrapassa as suas geografias de rios e planícies, existindo um pouco dentro de todos quanto sentem que há algo que lhes faz brilhar o olhar e bater mais forte o coração de cada vez que Rainhas, Reis e Príncipes são homenageados e venerados através das mais variadas manifestações de respeito e adoração.
O Ribatejo, terra de gentes rudes e abrutalhadas, que, por sorte ou infortúnio, mostra o que lhes tormenta a alma e lhes tolda o pensamento de forma objectiva, clara e concisa. Quando não se gosta, detesta-se. Mas se se gosta… ama-se. Terra do oitenta que não reconhece o oito como sendo possível, é nos limites da emoção e da força e resistência dos corpos que a transportam que os dias vão sendo inspirados e expirados com aquele doce cheiro do que é ser-se livre num espaço onde os limites são ditados apenas por a quantidade e qualidade de dor e prazer que cada um suporta ou se atreve a suportar.
Antes de ser Portuguesa, sou Ribatejana. Sei que o meu Ribatejo nasce e vive todos os dias em mais corpos que, mesmo não respirando os seus ares todos os dias, são imunes a que haja quem se atreva a imaginar sequer poder subtrair-lhes o direito de se sentirem como fazendo parte de algo que transcende o local onde se vive, onde se mora ou onde se nasceu.
Sei que o meu, nosso Ribatejo se espalha por este Portugal fora, atingindo mentes e corações que se elevam e que se regozijam de puro deleite perante tudo quanto melhor possa celebrar aquilo que tão bem tem identificado e permitido viver esta porção de terra bem no coração de Portugal.
O nosso Ribatejo, possui o dever de assim continuar vivo nos olhares de todos que por cá passam e que possuem a grandeza de espírito de levar com eles aquele brilho inconfundível de quem, num só momento, testemunha a razão de ser de centenas de anos de vidas por cá vividas e perdidas.
O nosso Ribatejo, meu e teu, tem a obrigação de, também desta vez, não se resguardar ou virar a cara ao que sabe poder fazer-lhe sofrer para que, por mais umas boas centenas de anos, possa continuar com a vida que lhe foi arduamente criada e construída, conquistada e batalhada por todos quanto vieram antes e que farão para sempre parte do agora e do amanhã desta terra de gentes rudes e abrutalhadas que, por sorte ou infortúnio, possuem esta estranha forma de vida, de ser.
Antes de ser Portuguesa, sou Ribatejo. 

9 comentários:

NG disse...

E viva o Ribatejo, foda-se, na digo caralho porque isso é a moda do Porto, lol!
Ninguém pode querer ou sequer tentar acabar com a festa brava, isso seria acabar com a cultura de um país, de um região, de um povo que se alarga pelo mundo fora! Acabar com a festa brava é a mesma coisa que querer acabar com o fado ou com o futebol, e isso ninguém pensa sequer fazer, quanto mais tentar fazer. Não se pode acabar com uma coisa que nos leva além fronteiras, que faz parte das raízes do país e de sua cultura! Porque não tentam apagar da nosso história o Eusébio ou Amália Rodrigues!? Porque simplesmente não podem e acho mt bem que não possam, não se apaga de qualquer maneira a história e cultura de um país, senão até D. Afonso Henriques poderia ser apagado...isto é tudo uma merda, uma cambada de cabrões que na têm nada que fazer e se põe pa aqui a querer defender os animais, quando deviam estar realmente preocupados com animais que que sofrem e não com estes que foram criados para serem lidados e fazerem espectáculo. Porque na se preocupa esta gentinha com os cãezinhos que são apanhados, mal tratados e até envenenados no Santuário de Fátima, só para que não haja cães a passear ali por aquela zona! Incomodam suas excelências, os padrecos? Até parece que os toiros são filhos de Deus e por isso temos de protege-los dos abusos do homem para espectaculo e cultura, os Cães já na são filhos de Deuses e pdoem ser mal tratados até a morte num sitio, que por excelência se diz sagrado. Deviam era começar por chaçinar os cabrões dos padres primeiro, que só têm é boa vida, mandam nesta merda toda e ainda vivem uma vida inteira de mentiras e abusos!Em vez de se preocuparem com uns animais que para além de servirem para comer, na servem pa mais nada senão para o lindo espectáculo que são as touradas! Revolta-me isto tudo, a sério que me revolta. Eu só iria apoiar um dia a abolição da festa brava se substituissem os toiros pelos cabrões dos padres e políticos que temos, tudo dentro de uma arena e vá de farpas na lombeira...Viva a Festa brava, abaixo os interesseiros de merda que querem acabar com ela, nunca o irão conseguir!
Desculpa Me o desabafo, mas isto tira-me do sério e eu não falo assim por ser do Ribatejo ou por gostar de touradas, mas acho uma aberração isto tudo!

Me disse...

Oh NG!!!
Por quem sois!!!

Tu desabafa à vontade que isto aqui no Tasco está aberto a tudo!

Gostei particularmente da tua disponibilidade para abrir uma excepção para a abolição da Festa Brava... com touros. Mesmo com a tua sugestão, a Festa Brava continuaria!!!

Olé, porra!!!

Anónimo disse...

ORGULHO

Me disse...

Orgulho?

PKB disse...

Os melhores amigos que fiz nos tempos de faculdade são ribatejanos e, coisa engraçada, casaram com lisboetas, mas foi tudo para o Ribatejo. Gosto do espírito empreendedor dos ribatejanos e gosto do espírito aberto. Boas amizades, sem dúvida! (até tu, mesmo "virtualmente").

Me disse...

O Ribatejo é um espectáculo :))))

(ainda que isso de andarmos a ser invadidos por lisboetas... hmmm...).
Por aqui, vê-se isso com regularidade. Gente que não é de cá que depois de cá vir, não se quer ir embora. Pergunta-me lá a mim se algum dia sairia daqui??
:)

Beijos oh Algarvia Knows Best

Anónimo disse...

Eh toiro!

Eh toiro!

Eh toiro lindo!

Fujam! Vem aí o toiro!

:p

chOURIÇO

Me disse...

ARAGAHAGRAGAHGARAGAH!!!!!!

He's BACK!!!!!!

Tiago disse...

O melhor texto que já li (e senti) acerca do meu e nosso Ribatejo!!! Sou nascido e criado no coração do Ribatejo e Ribatejano dos 4 costados, mas... a trabalhar por terras de Lisboa.
Sei bem o que é ser-se Ribatejo e transporta-lo no corpo e sangue para qualquer lado onde vá! É um estado de espírito, é algo que dificilmente se explica e este texto foi o único que ate agora conseguiu chegar mais perto do que é ser Ribatejo em forma de gente!