28.7.10

Decisions, decisions...


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"O grande problema de ter de escolher entre duas hipóteses é a inevitabilidade de assumir a responsabilidade pelas consequências dessa escolha. Quem nunca escolhe nada, nunca corre o risco de errar, mas também nunca decide, nunca dirige, limita-se a ser dirigido." – Jorge Maia (Jornalista de O Jogo).

Vi isto em blog alheio, e vi também, escrito de forma elegante e cheia de graça, algo que há tempos penso e venho a apregoar a quem me quer ouvir: a inevitabilidade de assumir a responsabilidade pelas consequências de uma escolha.
Isto é algo de tão elementar e básico para mim que nem tenho palavras para descrever o que sinto quando vejo gente a fugir e a fugir como se fosse possível enganar o sistema e escapar, ilesos, às tais consequências dos próprios actos.
Em conversas sobre o assunto, costumo dar dois exemplos meio parvos mas que transmitem bem o que penso (espero eu).
O primeiro tem a ver com o assunto traição (seja de que forma for e entre quem for).
Sempre disse, em especial a namorados, claro, para me traírem à vontade. Para tomarem essa decisão sempre que achassem que era necessário ou que não podiam fugir da mesma. Explicava que uma traição era, apenas e só, um grandioso leque de decisões e opções que se tomam de milissegundo em milissegundo. Uma traição é um conjunto de decisões que se tomam à medida que a nossa boca se aproxima de outra, terminando as mesmas no momento de contacto. Uma traição é um conjunto de decisões que se tomam a cada milissegundo à medida que escolhemos as palavras que ferirão ou destruirão algo em alguém. Até as mesmas serem proferidas, há sempre escolha, decisão, opção.
Sempre disse para me traírem à vontade mas para terem cuidado para eu não saber… Sempre disse para o fazerem mas para o fazerem de forma que me honre, que me faça justiça ou então que me suplante. Para, quando estivessem a decidir, decidissem por algo maior e melhor que eu, que decidissem por algo que até a mim me deixaria a bater palmas pela opção tomada porque, obviamente, se me traíssem, perdiam-me nesse instante. Por isso, ao menos que fosse a favor de algo melhor, em prol de algo grandioso e absolutamente incombatível.
Eu pura e simplesmente não traio. Se tomo a decisão de estar com alguém, estou. Não procuro mais nada, logo, não deixaria de estar com essa pessoa devido a outra ter aparecido em cena. Honro e assumo a minha opção por aquela pessoa, tomo a responsabilidade de me assumir como namorada, amiga, seja o que for. É claro que há decisões que depois se revertem, mas, para tal acontecer, seria sempre com base em novo leque de decisões, com base em novo conjunto de informação sobre a pessoa em si (ou sobre mim), fazendo não com que a decisão inicial fosse revertida, aliás, mas sim tomada uma nova decisão quanto ao assunto em questão. Nunca desonraria uma decisão e opção minha traindo alguém por um beijo dado a toque de repentinas vontades e circunstâncias mais, digamos, férteis, por exemplo. Nem a mim me traio (mas tive que aprender a não o fazer…).
O segundo exemplo que dou tem a ver com a minha casa e forma como faço a minha vida.
Perguntam-me muitas vezes se é a minha Mãe que me trata da roupa e afins. Respondo sempre que não (e não é). Que não aceito que ela o faça porque se eu assumi isto na minha vida, se eu optei e decidi por ter a minha casa e as minhas contas e a minha independência, seria parvo fazer isso para depois permitir que outros suavizassem as minhas responsabilidades, deixando-os levar-me ao colo de modo, quase, a negarem as opções e decisões por mim tomadas. Quase como se tudo isto fosse um capricho, uma vontadezeca de ter chave de um espaço que apenas contém coisas minhas e de mais ninguém. Assumo, perante quem tenho de assumir, o que decidi e sigo em frente fazendo tudo quanto isso obrigue. Comprar casa, por exemplo, é fácil quando a única coisa que se tem de fazer é pagar a prestação ao banco… Posso estar a simplificar a questão, mas vocês percebem. 
Eu penso assim e tal como não me tento escapar às consequências do que faço, também não permito que os outros o façam comigo ou que os outros o façam em relação a mim. Se tiver de dar os parabéns a alguém por algo bem feito, dou. Se tiver de dar na cabeça, dou. Não deixo que os actos dos outros não tenham efeito em mim. Se tiver de aceitar os parabéns de alguém por algo que tenha feito de bem, aceito. Se tiver de levar na cabeça, levo. Nesta questão, sou intolerante para com as tolerâncias dos outros – se faço merda, espero que mo digam e que não deixem a coisa passar só porque assim é mais fácil. Não quero gente ressentida comigo ao meu lado. Ou a coisa se resolve logo ou então… então nada. Consigo ser extremamente persistente com isto e chateio e chateio até me assumirem o que realmente pensam e acham de alguma coisa.

Quem nunca escolhe nada, nunca corre o risco de errar, mas também nunca decide, nunca dirige, limita-se a ser dirigido”. E, como corolário: ‎"Tenhamos coragem de viver. Morrer qualquer um consegue fazer" - Robert Cody.

26.7.10

Sim, sou só eu.


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Até há uns tempos atrás, tinha uma espécie de medo terrível de fazer certas coisas sozinha. A única que gostava mesmo de fazer sozinha era ir às compras. Sempre preferi a liberdade de poder entrar e sair das lojas ou deambular por um supermercado e não ter que andar atrás de ninguém por oposição a ter que andar atrás de alguém ou, pior, ter alguém atrás de mim.
Ultimamente, no entanto, e por “culpa” de diversas circunstâncias, nomeadamente a minha firme vontade em não mais ter receio de certas coisas, passei a fazer uma data de coisas… sozinha.
Antes que comecem com merdas, há coisas que sempre faremos sozinhos ou sozinhas. Têm nome e não são para aqui chamadas… Devassos. Adiante.
Falo de coisas simples como ir jantar fora, ir para a praia… ir tomar café ou beber um copo. Ir visitar sei lá o quê ou sem lá quem… Fazer coisas. Sozinha. Sem mais ninguém. Sem conhecer ninguém. Sem se saber para onde se vai.
Comecei a fazer isto, de modo algo tímido, admito, e sempre com a impressão de que estaria tudo a olhar para mim. Depois de confirmar que, de facto, muita gente olhava para mim, comecei a olhar de volta. É giro esta coisa da interacção humana.
Nas caras e olhos das mulheres, vejo uma espécie de confusão, de pena até… de incompreensão. Medo? Talvez.
Nos homens, vejo algo menos forte que admiração mas que andará lá perto. Vejo sobrancelhas levantadas, curiosidade.
Andar sozinha faz com que se crie uma espécie de espaço à nossa volta, quase impenetrável, em que ninguém se mete. É curioso observar as diferentes reacções que obtenho quando me aventuro a ir, por exemplo, jantar sozinha a um restaurante. “Que fará ela sozinha?”, “Será que a deixaram pendurada?”, “Será que não é de cá e não conhece ninguém?”, “Será que tem algum problema, fazendo com que ninguém queira estar com ela?” e afins, são questões que quase que dá para ver formularem-se por cima das cabeças das pessoas, tipo nuvens prestes a explodir em chuva.
Sorrio sempre. Entro num sítio, peço lugar para uma, sorrio e faço a minha vidinha, na maior, como se nada fosse, tendo o cuidado de ir assegurando quem me olha, através de leves sorrisos ou inclinações de cabeça, de que está, efectivamente, tudo bem. As velhotas parecem gostar disto. Quase que respiram de alívio.
Há pouco tempo, confidenciaram-me que achavam que o facto de estar a jantar sozinha quereria dizer que tinha passado por algum desgosto de amor recente, que estaria numa de me fortalecer a toque de panachés e comidinha da boa. Achei a presunção tão redutora e rotuladora que a única reacção que tive foi a de me rir tão alto que parecia que os panachés tinham feito o devido efeito!
Não vou mentir dizendo que tudo quanto faço sozinha seja por opção. Não é. Mas a diferença, hoje, está em não deixar de fazer seja o que for, mesmo estando sozinha. Já passei pelas provas de fogo necessárias, já me aguentei a momentos esquisitos suficientes, já destruí tabus parvos em quantidade mais que suficiente para poder, sozinha, e sem a segurança de um livro ou de um telefonema para alguém, saber estar sozinha, num sítio qualquer, e transmitir a todos que estou bem com isso. Aprendi que, neste tema, quem mais precisa de ser reconfortado são os outros, os que se baralham perante tal visão, os que não sabem como reagir à coisa. Faço o que posso, sorrindo e falando alegremente com quem quer que meta conversa comigo.
Em inglês, diz-se que “being alone is not the same as being lonely”. E é verdade.
Não sei se alguns dos olhares que recebo são de inveja (por talvez não terem coragem de fazer o mesmo?), de respeito (por saberem que não seriam capazes de fazer o mesmo?) ou de solidariedade (por estarem sozinhos ou sozinhas, mesmo quando acompanhados – e isso vê-se tanto que até dói).
Tenho pensado muito no que os outros pensarão de mim quando me vêem sozinha. E inevitável. Mas sei que, seja para o bom ou para o mau, tudo quanto pensam nunca chegará aos pés do que eu penso em relação ao assunto: que, de todas as vezes que me senti mais só na minha vida, tinha alguém ao lado; que, de todas as vezes que me senti mais sozinha, estava sempre acompanhada.
Ao menos agora não ando com acessórios que dizem ao mundo aquilo que quer ouvir: que uma Mulher jovem não deve nem pode andar sozinha sob pena de assim ficar para sempre.
Temos pena, minha gente. Temos pena, mas tem sido exactamente por andar sozinha, sem ninguém e longe de tudo e de todos, longe de casa e da minha zona de conforto, que me tenho sentido mais, ironia, devidamente acompanhada por todas as pessoas fantásticas que tenho na minha vida e que, em vez de se meterem com merdas, interessam-se verdadeiramente por mim, pela minha pessoa, e não pelo que faço com outras pessoas e afins.
Quando apareço, sou só eu e mais nada nem ninguém. E por muito que tenha custado aprender a apresentar-me assim ao mundo, vejo agora que é possível que tenha custado um pouco mais ao mundo do que a mim.
A seu tempo lá nos entenderemos. 

15.7.10

Psssht, Cala-te!


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Prova quase inequívoca de que os Portugueses são uns atados emocionais são os comentários obtidos com o post abaixo.
Somos um país de Cepos Emocionais em que tudo quanto seja relacionado com a parte mais emocional da vida se deve manter devidamente escondida e contida, não vá alguém julgar-nos fraquinhos da cabeça e despojados de bom senso caso nos mostremos apaixonados por alguém. Ainda nos cairia um braço! Ou uma perna! Ainda nos mandariam internar! Mas que merda é essa de gostarmos de alguém e o dizermos?! Então mas é preciso dizer?! É preciso mostrar?! Então mas não se percebe logo só pelo simples facto de se estar com a pessoa?!
Não!! Não, porra. Não!! Não!!! NÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!
Para além de Cepos Emocionais, somos cínicos e preferimos gozar com quem não tem tais crenças, denegrindo os actos e acções pura e simplesmente porque sabemos que não seriamos capaz de os reproduzir ou de os aceitar para nos: desconfiaríamos logo! Chama-se inveja. Chama-se medo. Chama-se mesquinhez e tacanhez de espírito. Não é nem esperteza, nem lucidez, nem calo. É parvo e pronto.
Somos um povo cheio de medos e de pudores e de traumas e merdas sem jeito nenhum que nos impedem de viver aquilo que há para ser vivido da melhor forma possível. Não mostramos quando andamos bem… não vá alguém criticar e ficar com inveja e ciúmes; não mostramos quando andamos mal… não vá alguém preocupar-se e tentar fazer algo ou pensarem que fracassamos e falhamos nalguma coisa; não mostramos quando andamos zangados com alguma coisa porque isso seria demasiado mau e ainda ofenderíamos alguém; não mostramos quando algo nos desagrada porque, enfim, o melhor é ignorar e esperar que a coisa passe. Amanhã já não é nada.
Mas que grande, enorme e gigantesca carga de caca de boi!
Somos uns cobardes atados emocionais e mentais. Não fazemos nem metade do que desejamos, mas conseguimos passar metade da vida a desejar tudo e mais alguma coisa. Passamos a outra metade da vida a culpar os outros das nossas circunstâncias, evitando sempre olhar ao espelho, não vá ele identificar o real culpado das coisas.
Queixamo-nos de sermos mal amados de tal forma que os outros até nos achariam peritos na arte do amar! Queixamo-nos de sermos mal amados ou de não sermos amados como gostaríamos, mas nem sequer olhamos para a forma como amamos os outros. Aliás, nem sequer dizemos a ninguém como gostaríamos de ser amados! Isso seria estúpido! Pfff!!! Dizer do que se gosta ou não! O outro que adivinhe, olhá porra! É a tal merda, passamos metade da vida a desejar tudo e mais alguma coisa, esperando que as coisas nos caiam no colo e fazendo um cagaçal do caneco quando tal não acontece.
Somos pobres e mal agradecidos e gostamos! Adoramos! Adoramos aquela coisa de nos refastelarmos na miséria e na tristeza e na dor de alma e em histórias de corações partidos. Histórias de gente feliz não têm piada. Para quê contar se tudo correu bem e souberam ir atrás do que quiserem? Inveja!
Facilmente criticamos um homem ou uma mulher por ter feito mal a alguém, mesmo sem saber patavina da história. Mas elogiar e dizer algo de positivo em relação a quem faz bem? ‘Tá quieto! Isso não! Caredo! Aí é que nos poderiam achar uns invejosos!!
Oh, foda-se. Enquanto país, temos a idade emocional de putos de quinze anos mais preocupados com o tamanho da pila e com a quantidade de borbulhas no cu do que a de adultos crescidos e bem crescidos que sabem e sentem que, no final de tudo, no final do dia, no final de toda a merda possível e imaginária, tudo o que interessa mesmo é estarmos bem com alguém que nos ama e a quem sabemos amar. Mais do que amar, queremo-nos sentir amados. E é aí que todos metemos os pés na argola. Temos que saber das duas coisas, ao mesmo tempo, em simultâneo e com a mesma intensidade.
Mas continuemos calmamente a sonhar com príncipes e princesas encantados.
O sonho comanda a vida, não é? Pois. Mas eu prefiro quem acorde do sonho e desate a fazer tudo para o concretizar em vez de quem apenas sabe contar belas histórias sobre o que, um dia, sonhou para si.
Deixemo-nos de merdas e admitamos de uma vez por todas que, em termos gerais, somos uns cobardes. Foda-se.

14.7.10

Te quiero, mi culo!


imagem: Google (ahhh vão sa hoder, coño!)

Eu acho que Portugal devia atacar Espanha com bombas e coisas ruins assim. Acho que devíamos invadir aquela bosta de país e fazer reféns todos os homens, mulheres e crianças. Deviam ser obrigados a trabalhos forçados (tipo nós, quase), alimentados a pão e água uma vez por dia (como nós, quase) e deviam ser proibidos de falar naquela língua horrível e enrolada que até arrepia. Oh se arrepia! (*suspiro, suspiro, suspiro*)
Cambada de mouros mal disfarçados e mal-falantes que só servem para nos atormentar a vidinha com aqueles gritinhos histéricos enquanto batem pés e mãos e o raio que os bata mais ainda. Só servem para nos roubar o peixe do mar e Olivença do mapa. Só servem para comprar as nossas empresas e despedir as nossas pessoas com a desculpa ridícula de que eles é que percebem de gestão. Pffff! Se não fossemos nós, não haveriam empresas falidas para comparar, oh cabrones!!! E o pior, mas o pior mesmo, é que agora ganharam a mania de serem uns verdadeiros Hombres Latinos Sensíveis, armados aos cucos e roubando sorrisinhos derretidos a tudo quanto seja mulher Portuguesa. Não bastava fazerem-no com as Espanholas? Não? Não chegam? Há poucas, é? Deixem-nos em paz, coño!!!
Parem com essa merda de andarem a beijar as vossas namoradas como se não estivessem diante de milhões e milhões de pessoas, em directo! Devem pensar que por terem ganho a porra da daquela jarrinha que são uns heróis. Parem de declarar o vosso amor em directo num qualquer palco de Hollywood (pffff!) enquanto recebem uma estatuetazinha qualquer por melhor actor secundário. Cambada de exibicionistas! Parem de vir para cá de férias, armados em parvinhos-tolinhos, abraçados às vossas mujeres como se realmente estivessem a gostar de passar uns dias de praia com elas e enquanto lhes sussurram merdas sem jeito (de certo sobre uma qualquer merda que fizeram antes de sair de casa, tipo mijado no frigorífico) ao ouvido, fazendo-as sorrir como se se abassem de… ir! Aldrabones!!!! Nós, as Portuguesas, sabemos melhor que isso! Não acreditamos em vocês por nada neste mundo! Nós conseguimos ver logo quando um gajo se está a armar em bueno para ter o bueno!
Deixem-nos em paz!
Não vos queremos! Ala! Adiós!! Hasta!!!
Já temos os nossos próprios Machos Latinos! E estes já nos dão problemas que cheguem quanto mais agora ainda termos que aturar palavrinhas doces e beijos apaixonados e merdas sem jeito afins! Peguem nos vossos “te quiero mucho, mi amor”, nos vossos olhos melosos e nas vossas bocas desbocadas e pisguem-se mas é para a América do Sul onde há mais gente que vos entenda! Nós não vos entendemos! Nem queremos entender! No entendiemos, tchicos… pongan se a milas de nosotras que mujer portuguesa no guesta de mariquicis asi!
E levem a porra do jarro de flores convosco!!!
Foda-se!

12.7.10

Lembremo-nos.


imagem: google

Diz-se que não se pode escolher a família (nem é uma questão de poder… não conseguimos mesmo. Ponto final). Há quem acredite que são os filhos que escolhem os pais… Isto no sentido cósmico da coisa que diz que são as almas por nascer que escolhem de quem querem nascer e vir para o mundo. Tudo muito bem.
Mas, de qualquer das formas, não se pode, ou consegue, escolher a família.
A minha, pequena, maneirinha e cheia de personagens dignos de nota, está quase matematicamente dividida ao meio, estando metade cá e a outra metade, lá.
Durante muitos anos, não tive a companhia dos meus Avós Paternos… e depois a coisa trocou-se e deixei de ter a companhia dos Maternos. Apesar disso, tenho a sorte de ter os meus dois avôs e avós ainda vivos. Cheguei até a conhecer e a conviver com duas bisavós, uma de cada “lado” da família. Avó Velha. Assim eram e são ambas chamadas por nós, os bisnetos.
Ao que parece, a minha família é tão bem balançada que até nas maleitas conseguimos dividir o mal pelas aldeias para que, no final, tudo permaneça dentro de um, de certa forma, justo equilíbrio.
Por um lado, tenho uma Avó que sofre da Doença de Alzheimer; por outro, um Avô com um tumor no cérebro e que tem vindo a perder muitas das suas faculdades motoras devido a isso.
Na prática, significa que tenho um Avô a sofrer os horrores de quem não entende bem o poder destrutivo de uma doença como a doença de Alzheimer e que teima em lutar contra ela como se a força de vontade, pura e dura, conseguisse ultrapassar tudo para salvar a existência da sua companheira de vida de mais de 50 anos; por outro, tenho uma Avó que sofre os horrores de quem vê o companheiro de vida, também de mais de 50 anos, reduzido a uma vaga lembrança do que já foi e incapaz de fazer seja o que for sozinho.
Mais. Por um lado, existe uma espécie de tranquilidade forçada em que, às tantas, se tem de confiar no tal poder destrutivo da doença para se poder ir vivendo os dias, de forma mais ou menos normal, sabendo-se que (confiando-se que) daí a minutos ou a horas, o tal episódio de falta de memória terá sido devidamente esquecido de modo a não causar mais dor e incompreensão em quem não aceita ou entende que tal assim seja (a mais pura das ironias, esta). Por outro, vive-se numa espécie de aflição resignada em que cada movimento é testado e fortalecido como que se se tentasse fazer com que o corpo se lembre, sozinho, do que é capaz de fazer sem auxílio do cérebro.
Por um lado, vê-se a pessoa desaparecer aos poucos deste mundo, deixando para trás um corpo ainda saudável e ainda com saldo positivo em termos de anos de vida. Por outro, vê-se a pessoa a deixar de poder participar activamente neste mundo, confinando-se os seus dias a poucas paredes, um tecto e conversas tidas em torno do assunto da força, da recuperação, do voltar a ter o que teve e foi.
Por um lado, vê-se alguém a perder o seu próprio testemunho de vida agravado pelo facto de haver momentos em que sabe perfeitamente que tal lhe está a acontecer; por outro, vê-se alguém a agarrar-se a isso pois são as únicas coisas que restam: as memórias.
Em ambos, olhares vazios.
Por um lado, olhar que já não reconhece, que já não identifica, que já não processa; por outro, um que se fecha exactamente por ainda conseguir fazer isso.
Não sei, sinceramente, o que é preferível. Desaparecermos em vida, passarmos a ser só corpo; ou desaparecermos em vida, passarmos a ser só mente.
As quatro pessoas que deram vida às duas pessoas que me deram vida a mim estão vivas. Os meus Avôs e as minhas Avós estão todos, neste momento, a sofrer o que é, para todos nós, inevitável. Os meus Pais estão, neste momento, a confrontar-se com essa tal inevitabilidade e a terem que aprender a lidar com isso de forma minimamente digna.
Eu, que estou no final desta linha, vejo isto como uma espécie de pirâmide em que os Reis e Rainhas aos quais sempre prestámos homenagem e aos quais sempre devotamos o maior respeito e carinho possíveis, se estão agora a preparar para deixar que os Príncipes e Princesas assumam os respectivos tronos. Uma sucessão causada pela ordem natural das coisas mas que, agora, parece tudo menos natural.
O que sinto e tenho dentro de mim em relação aos meus Avôs é um misto de amor às pessoas que são, de admiração pela vida que levaram e levam e de profundo agradecimento por me terem dado os Pais que tenho. Foi pelos certos e errados deles que os meus Pais se criaram, que os meus Pais aprenderam a ser gente, que os meus Pais aprenderam a ser Pais.
Não escolhemos, de facto, a nossa família. Apenas podemos esperar que cada uma tenha sido anteriormente bem criada e amada para que também nós o sejamos.
Em honra daquelas quatro pessoas que tenho a sorte de ter na minha vida, espero um dia ser digna de semelhante sentimento por parte dos meus netos.

7.7.10

É Hoje.



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É hoje. 
E amanhã será outro hoje e assim sucessivamente... Tal como tem sido até hoje, tal como continuará a ser depois de amanhã.
Mas hoje, é Hoje!
:)



5.7.10

Filme


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Nunca vos aconteceu parecer que o cérebro vos pára e entra naquele estado tipo filme em que dezenas e dezenas (se não mais) de imagens da vossa vida passam diante dos vossos olhos, numa sucessão de alegóricas combinações e ligações que nunca imaginariam poder estar relacionadas mas que, naquele instante, parecem ter a ver com tudo e nada parece isolado? Como nos filmes, nas cenas em que um coração se parte ou em que uma vida se sopra... aquela sucessão de imagens, de memórias, de instantes que, de uma forma ou outra, levaram àquele momento em si?
Isso nunca vos aconteceu?
Nunca passaram por aqueles minutos em que tudo o que nos passa pela cabeça são imagens, reflectindo-se os sentimentos e emoções que as mesmas evocam directamente na vossa cara, no vosso corpo?
Lembrarem-se de uma qualquer dor e, instintivamente, abraçarem-se a vós próprios? Ou encolherem a cara, fechando os olhos como quem não quer ver o que acabou de ver na mente, de sentir no peito?
Nunca deram por sorrirem sem mais nem menos, bastando uma leve lembrança de um qualquer momento doce, ou engraçado... ou ambos?
Nunca estiveram numa qualquer situação que evoca outras e, de repente, ficarem assombrados por uma qualquer tristeza ou iluminados por uma qualquer alegria?
Nunca estiveram parados no tempo, apenas tendo por companhia vislumbres de olhos, de sítios... de paisagens, de dias quentes, dias frios, de beijos dados e por dar, de vezes em que dissemos, de outras em que calámos, de olhares que foram partilhados, desviados... de toques que ficaram por dar ou que se receberam e deram a mais? De sabores que se adoraram, detestaram, de medos vencidos ou por vencer? De caras sorridentes? Chorosas? De abraços que se deram e lutas que se travaram, de ganhos e perdas, de sucessos e falhanços? De rápidos e sucessivos vislumbres de coisas vividas a toque de mensagens mentais para não nos esquecermos nunca daquilo, num esforço para gravarmos bem, bem, bem na memória aquele dia, aquela hora, aquele segundo?
Nunca vos aconteceu um recordar assim sentido, misturado com desejos e sonhos e quereres e pequenas imagens do que poderia ser se?
Nunca sonharam assim, bem acordados, como se estivessem a ver um qualquer filme da vossa vida? Nunca vos aconteceu acordarem dessa espécie de sono com uma irreprimível vontade de tomarem acção contra todos os espaços vazios que ainda faltam completar nesse filme? Ou de remediarem os que parecem pouco nítidos ou desfocados?
Nunca vos aconteceu uma sucessão de imagens originar tantos sentimentos e tantas emoções diferentes entre si que até ficam sem ar diante dessa prova de vida vivida e ainda por viver? 
Nunca vos aconteceu o passado, o presente e o futuro tornarem-se num só, sem distinção de tempo e espaço, sendo apenas possível sentir tudo quanto se ganhou e perdeu e viveu e amou e odiou e lutou e ...
Nunca vos aconteceu?

1.7.10

Com Dedicatória.

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Como todos sabem, aqui a Je é de Samora Correia (está no perfil). 
Samora Correia é uma daquelas terriolas pequenas em que não se pode mandar um peido sem que opinem sobre conteúdo de refeição anterior.
Tudo muito bem. Nada de excepcional até agora.

Samora Correia é o local onde resido e convivo. Por entre os convívios, de vez em quando e apenas com aqueles que acho que merecem tal consideração, confidencio que tenho o Tasco, dou o endereço e convido gente amiga, de confiança, a visitarem-me e a divertirem-se com estas parvoeiras. Penso que dá para perceber que existe uma mão cheia de pessoas que aqui vêm e que me conhecem em pessoa.
Adoro tê-las por cá. Adoro.

O que eu não adoro, e aliás detesto e repudio, são aquelas pessoas que me conhecem, que vêm aqui, que lêem um qualquer texto e depois, devido a pouco ou nada terem para fazer na vidinha, se põem com suposições ou deambulações sobre o tema, procurando, por portas e travessas, saber mais que eu. 
O que odeio, repudio e acho de uma lamentável falta de carácter, falta de bom senso e falta do mais puro e mínimo nível de inteligência, é quem aqui vem e acha que, por me conhecer, consegue adivinhar de QUEM estou a falar quando falo sobre certos assuntos. Para além disto, não só pensa que consegue adivinhar como se acha no direito de ultrapassar todos os limites do razoável e dar instruções para que outras pessoas aqui venham e leiam para depois poderem chegar às suas próprias conclusões, ou não.

É verdade que o mundo é pequeno. Samora Correia é mais pequena ainda. Mas, e agora no espírito que declarei ter que assumir mais vezes para mim no que sou e no que faço, vou esclarecer uma certa questão, não porque a quero dignificar ao fazê-lo, mas sim, e apenas porque considero que poderão outras pessoas vir a ser prejudicadas caso não o faça. E isso, minha gente, é inaceitável. 
E já que não se teve o bom senso, a dignidade ou os tomates de se pegar na merda de um telefone para perguntar, tendo a questão ter-me chegado por gente que eu nunca imaginaria poder falar sobre o assunto, vou meter as coisas preto no branco e aguardar que a carapuça, devidamente identificada, caia na cabecinha certa:
Assim sendo, não, menina AC, não é nem foi de seu Pai que falei no texto "Intolerâncias (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)".
Seu Pai, da minha parte, ainda que pense poder falar em nome de praticamente todos quanto o conhecem, é um Homem que merece todo o respeito por parte de quem com ele convive, seja esse convívio em maior ou menor grau, não tendo eu, pessoalmente, absolutamente nenhuma razão de queixa em relação ao comportamento recto e digno que sempre teve comigo, muito menos motivos que me levassem a incluí-lo como um dos visados no texto que escrevi e publiquei.

Pena tenho, e é muita pena mesmo, que da própria Filha ele não mereça este mesmo tipo de respeito, preferindo a mesma lançar-se em boateria ridícula, mesquinha e indesculpável contra aquele que deveria ser o último homem que ela algum dia imaginaria a entrar na tipologia de homem que referi no texto. 

Estamos esclarecidos? 

Espero, sinceramente, nunca mais ter que publicar outro texto deste tipo. Da próxima vez que sentir ter que o fazer, é o fim definitivo do blog. 
Nunca mais abusarei do OMQ nem do que aqui se criou para calar quem pura e simplesmente não faz a mais pálida ideia do que fala.

Obrigada aos não visados neste texto pela pachorra.