31.1.11

Há tardes assim...





Sendo eu mais que fiel às minhas origens, não podia deixar de partilhar isto convosco.
Futebol Taurino.
Modalidade desportiva ainda relativamente desconhecida mas que, suspeito, poderá vir a suplantar tanto as corridas de touros como as partidas de futebol num futuro muito próximo. Há cada vez mais adeptos e jogadores!
A tarde solarenga de hoje foi passada a gritar “Golo!”, “Oh, aí a vaca!!!”, “Foda-se que deve ter doído!” e muita, muita risota.
Ribatejo, olé!
Boa segunda-feira, minha gente. Boa segunda-feira. 

24.1.11

O Medo do Medo.


imagem: google

Eu gosto de gente que tem Medo. Gosto.
Gosto de gente que se acagaça com cenas com ou sem jeito; que se melindra perante o grande ou o pequeno; que se encolhe perante o tudo ou o nada.
Gosto das pessoas que mudam de cor, que desatam a tremer, que ficam de boca seca e de olhos esbugalhados.
Gosto de quem não dorme à noite por ter um qualquer Medo às voltas na cabeça; gosto de quem não fala por o tal Medo lhe ter passado para a garganta, impossibilitando a produção de sons coerentes que, por sua vez, formam palavras.
Gosto muito de quem passa a vida a ver a vida passar ao lado, às tantas com Medo de algo que nem sabe bem o quê, apenas sabendo que o tem.
Adoro gente com Medo. Adoro as suas fugas para a frente, para trás, para os lados, para cima, para baixo… Adoro. Ver gente crescida num frenesim de correria maluca, fugindo de pessoas, de lugares, de palavras, de sentimentos. De tudo.
Adoro pessoas que de tanto Medo, até paralisam, incapazes de nada a não ser transformar a vida numa bela e sentida homenagem ao Medo e seus amigos.
Gosto dos e das nervosinhas que tremem o pé e roem as unhas, que esfregam um qualquer amuleto ou repetem uma qualquer reza antes de meterem pé fora da cama.
Gosto dos que têm tiques nos olhos e tremeliques nas mãos, erupções cutâneas espontâneas e suores frios.
Gosto de quem enruga a cara perante uma qualquer possibilidade, dúvida ou hipótese.
Adoro os que acham que é necessário ser-se dono de toda a verdade universal para se poder escolher a merda da cor das meias para o dia.
Adoro quem treme de antecipação sempre que tem de antecipar algo; adoro quem quase desmaia quando lhe dizem “Vem!”.
Adoro os que têm tanto Medo de tudo e todos que se tornam nuns profissionais do narcisismo e egoísmo, incapazes de olhar para os outros sem os achar tão grosseiramente inferiores, incapazes, indignos e infiéis que nem sequer merecem qualquer tipo de reconhecimento de existência.
Adoro, adoro, adoro os que dizem sempre que não, seja ou que for e apenas pelo sim, pelo não. Os que rejeitam tudo e todos devido ao Medo, à Insegurança, à Fraqueza tão profundas que em vez de se aproximarem para beber da força dos outros, afastam-se de modo a que não haja lembretes desses seus próprios Medos e Inseguranças e Fraquezas. Quanto mais longe melhor! Quanto menos virem quem não partilha de tais coisas, melhor! O horror que isso seria.
Ciclo vicioso de auto-destruição engraçada muito difícil de quebrar.
Mas eu gosto de gente assim. Especialmente dos que não têm a mais pequena pinga de razão ou racionalidade (sim, porque os há racionais) quanto aos seus Medos e Inseguranças e Fraquezas; dos que escolhem, conscientemente, ir pelo caminho do fechar os olhos, mãos, braços e coração a tudo e todos porque, para eles, é muito mais fácil viver assim, sem confrontos, sem animosidades, sem picos ou quedas de tensão… no essencial, sem nada que os faça recordar do Medo que sentem.
Gosto de gente assim. Adoro gente assim. Adoro.
Fazem-me sempre lembrar que, se ignoram os outros, não é porque não gostem deles ou não os queiram por perto. Não. É por esses tais outros representarem tudo quanto eles não conseguem ser, por os fazerem lembrar de tudo quanto não conseguem, não podem e não querem fazer ou ter. Não é inveja, entenda-se. Não. Acredito que chegue a ser doloroso ver quem anda pela vida “brincando”, parecendo quase inconsciente com os riscos que corre todos os dias e em relação a tudo.
Eu gosto de gente assim porque eu sei algo que eles não sabem.
Eu sei que há, de entre os tais outros, quem trema dos mesmos Medos e Inseguranças e Fraquezas mas que pura e simplesmente recuse uma espécie de derrota perante a Vida.
Gosto de gente assim porque, no fundo, e de certa forma, até têm mais coragem que os outros.
E é preciso Coragem, gente. Muita.
Virar costas a tudo e todos e passar a viver numa espécie de duelo interno permanente sabendo que há hipóteses de evitar tudo isso?
É preciso Coragem.
Gosto dos que têm Medo. São os que também têm Coragem.
Pena é tudo isso não lhes valer de rigorosamente nada a não ser para criar memórias amargas, dúvidas irracionais e impossíveis de resolver e questões inócuas de cujas respostas fogem sempre.
Gosto desta gente porque, ao menos, não atrapalham os que de tanta falta de Coragem para o isolamento e afundamento de alma, cagam de alto nos Medos e vivem sabendo que se não se acertar hoje, amanhã há sempre nova oportunidade. Que devagar, devagarinho, se vai ao longe.
Ao menos não atrapalham. E isso, apesar dos apesares, já não é mau.
Eu, por mim, gosto.

15.1.11

E quando...


imagem: google

... não há nada a perder e tudo a ganhar, por muito mau que seja, rapidamente se passa do Fuck It para o Fix It. Ou do Fix It para o Fuck It. Depende do ponto de partida.
Às vezes, também é preciso o Fuck/Fix It para sabermos exactamente qual o ponto de partida.
Confuso? Claro. Só assim poderia ser.

Eu é mais bolos... quando não há mesmo nada a perder que meia-dúzia de lambidelas no próprio ego não solucionem, digo Fuck It.
Há, apesar dos apesares, um enorme conforto em sabermos, com toda a certeza, que não havia rigorosamente mais nada que pudéssemos fazer para o tal Fix It. E aí, Fuck It e siga para bingo que não estamos a ficar mais novos. Talvez seja a dúvida que mate... Talvez. E talvez seja ela que precise de morrer. De vez. 
Yeps. Fuck It.
Siga.

13.1.11

E a Medalha para o mais Medalhado vai paaaaaaraaa…


imagem: google

As gajas são medalhas que os homens ostentam (disse-me ele todo retorcido por se sentir estar a trair a espécie ao fornecer este tipo de informação ao inimigo).
Há diferentes tipos de medalhas, tal como há diferentes tipos de gaja e de gajo (Claro, concordei eu. Há-de haver a medalha para o melhor broche, a melhor queca de costas, a melhor queca em cima da máquina de lavar roupa, a melhor queca no banco de trás do carro… etc, etc, etc.)
Mas as gajas, uma vez “engatadas” com o objectivo de serem medalhas, são isso e mais nada, guardadas num baú secreto (ou não…) e revistas de tempos a tempos de modo a que egos se insuflem e mentes vazias descansem melhor (refutou ele, tentando apaziguar os ânimos através desta espécie de sentimentalismo meio desvairado).
As gajas são medalhas, mas sabem-no (respondi eu).
Depois admiram-se de haver por aí quem tenha virado o jogo ao contrário e tenha construído armário para verdadeiros troféus (disse eu, elevando o tom enquanto ele abanava a cabeça, desconfiado de a espécie feminina ser capaz de tal coisa tão … bleeerggg…. Masculina).
Sim, os homens também têm sentimentos (e basta dar-lhes um pouco do mesmo remédio para se descobrir isto…), mas, por enquanto e do modo que isto anda, reina uma espécie de vingança e frieza feminina que vos deixa a olhar para o telemóvel de cinco em cinco minutos e, pior, que vos deixa a pensar que são péssimos na cama (instiguei eu, olhando-o de lado e sabendo que ferro tinha acertado no sítio certo).
Temos pena.
Foram vocês, homens, que ensinaram isso às mulheres.
Agora, aguentem-se. 

7.1.11

Precisa-se.


imagem: google


Diz o Bagaço Amarelo que o Amor se quer sujo.
Eu concordo e apoio. Concordo e apoio mas explico a minha perspectiva, claro, que isto do “sujo” pode suscitar muito tipo de interpretação (especialmente por aqui…).
Amor. Sujo.
Amor daquele que nos faz dobrar em dois de antecipação, que nos faz salivar. Que nos faz sonhar sonhos daqueles gritados e suados e tremidos. Que nos faz dizer as palavras “amo-te” ao ritmo dos batimentos do coração (a – tun-tun – mo – tun-tun – te – tun-tun…).
É tudo muito bom e tudo muito bem, mas não é com falinhas mansas que o pessoal chega lá.
É preciso que haja um certo indecoro, uma certa má educação, uma certa falta de pudor.
É preciso mostrar o nosso lado mais básico e primitivo. É preciso deixar que o sentimento que nos consome as entranhas se mostre através delas, num caos desconexo, ardente, desorganizado, tumultuoso… doloroso, até.
É preciso querer ser comido e fodido por aquela pessoa, por “oposição” a fazer amor com ela (isso vem depois…). É preciso, no meio de uma sala cheia de gente, dizer “Fodia-te. Aqui e agora. Fodia-te”.
É preciso haver raiva contra aquela pessoa por ela nos fazer querer ser possuídos até ao tutano, raiva por ela nos fazer querer possuí-la até cegarmos. Raiva e rancor daqueles que fazem do chão de uma cozinha o mais perfeito e ideal dos locais para se comer…
É preciso haver palavras rudes e brutas, cruas e nuas que dizem logo no imediato o que se quer e deseja. É preciso resvalar o confrangimento e a contenção para o desaparecimento.
É preciso saber qual o som dos gemidos mais profundos da pessoa, o sabor da sua pele suada, a força das suas mãos quando nos agarram, a intensidade da sua respiração quando lhe beijamos o pescoço, mordemos a orelha.
É preciso saber ao que soa um “não pares” aflito e suplicante. É preciso saber qual o toque da sua língua em todo o nosso corpo.
É preciso roçar o limiar da dor, o limiar do incómodo, o quase deixar marca permanente.
É preciso saber ao que soam gritos e palavras rasgadas por bocas sedentas. É preciso saber com que cor luzem olhos inchados e semi-fechados de prazer.
É preciso saber qual a dor de uma mordida dada por tanto se querer. É preciso saber o que é sentir dedos a entrarem-nos pela boca a dentro, procurando a nossa língua, e calando-nos assim do grito que viria fazer companhia à dor anterior.
É preciso saber o que é ficar-se com o cheiro daquela pessoa pelo corpo, com o sabor dela entranhado na boca. É preciso saber-lhe o cheiro e o sabor de cor.
É preciso querer inspirar e lamber aquele corpo, mesmo sabendo-o não totalmente próprio para tal. É preciso abocanhar e lamber e sugar, sem medo de nada. É preciso saber o que é ter aquele corpo a deslizar pelo nosso, num frenético chinfrim de suor e saliva.
É preciso saber como a pessoa se vem, como geme quando se vem, como treme, como sustem ou não a respiração, de que forma se lhe abre a boca e fecham os olhos. É preciso saber de que maneiras diferentes se vem. É preciso saber e perceber as diferenças entre a força explosiva de certos orgasmos e a doçura dilacerante de outros.
E é preciso que a outra pessoa saiba o mesmo sobre nós.
O Amor, daquele que dói e faz doer, ou seja, o único que vale a pena, tem de ser visceral, para além da carne, para além da partilha. Tem de nos fazer ferver o sangue, perder os sentidos, ganhar nova vida. Tem de nos fazer sofrer com o desejo de querer sentir de novo aquelas mãos, de sentir de novo aquele sabor, aquela boca a respirar ofegante no nosso corpo.
O Amor quer se queira, quer não, quer-se sujo, desbocado, barulhento, rufia, mal-cheiroso, e, de vez em quando, armado em parvo com tudo e todos, fodido com tudo e todos.
E nada, mas nada, faz tão bem à vida do amor do que duas pessoas saberem estas coisas todas uma da outra e amarem-se por e para isso. De entre todas as outras razões que possam ter para se amarem, terem estas.
E aí sim, ama-se, diz-se Amo-te de boca e peito cheio e sabe-se exactamente o porquê de o dizermos e sentirmos.
Sujo. Definitivamente.