31.1.12

IV Desafio... Regadega e Nonô

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IV Desafio. Texto em que usasse as palavras fada, entranhas e nefelibata.
(Priberam, gente. Priberam.)

- Pára quieta!
Ignorou-o e continuou nos seus voos picados, fazendo-lhe razias junto às enormes orelhas que Regadega ia tapando e coçando a cada passagem.
- Mas tu não vês?! Não sentes?!
- Não. Pára quieta. Come., respondeu-lhe apontando para a tigela.
- Não tenho fome! Não sinto fome! Apenas sinto… sinto que há mais do que isto! Há mais! Tem de haver! Eu sei que há!
Mais uma razia à orelha esquerda do elfo ancião. Enxotou-a como quem enxota uma mosca chata e demasiado persistente nas suas insistências.
- Às vezes tenho tanta certeza que tenho razão que quase dá para a saborear na boca, sentir na pele, nas entranhas, até! Eu sei que há!, exclamou enquanto voava até ao topo da árvore sob a qual almoçavam. Estavam a meio da longa viagem até à aldeia vizinha para compra de pós e pozinhos para as mezinhas do ancião.
Regadega enfiou um pedaço de pão na boca e mastigou-o sem vontade.
- Nefelibata ingénua., suspirou.
- O que disseste?! Chamaste-me aquele nome outra vez?!, exigiu saber ela enquanto se deixava cair lá de cima até pousar no ombro dele, agarrando-lhe a orelha com as mãos minúsculas.
- Come. Descansa. Vais-te cansar. O caminho ainda é longo., disse-lhe meigamente.
- Eu sou uma fada! Uma fada, ouviste?! Não sou elfo velho e cansado que nem tu, Regadega! Eu consigo voar entre as nuvens! Ao lado das andorinhas e libelinhas! E é quando estou lá em cima que vejo mais longe e sei que há mais além do que aqui. Tu só vês árvores, ervas daninhas e terra suja!, gritou-lhe ao ouvido enquanto levantava de novo voo para ir ver as vistas ou atormentar mais uma borboleta incauta. Distraída, deixou-se surpreender por sopro de vento que a atirou contra a árvore, fazendo-a aterrar no colo de Regadega coçando a cabeça e com lágrimas nos pequenos olhos.
- Vês, Nonô? Vês, minha pequena nefelibata?, sussurrou Regadega baixinho enquanto a levantava.
- Tu podes voar e ver mais além, mas nunca te esqueças que tens um limite. Do chão não passas. E eu nem sempre vou estar cá para te apanhar…
- Oh, Regadega. Mas há mais. Tem de haver. Sinto-o!, queixou-se ela, trepando até ao seu pescoço e aninhando-se por baixo do queixo dele.
- Claro que há, Nonô. Mas tens tempo. Vá... Descansa que a viagem é longa., sussurrou.
E descansaram. 

25.1.12

Coisas fofinhas, mas mesmo fofinhas-fofinhas-fofinhas!

Após súbito ataque de mau feitio por andar farta daquelas merdas sem jeito que a malta dedica uns aos outros no FB com imagens de gatinhos e flores e o raio que o parta com dizeres daqueles meio parvos, criei a minha própria colecção de imagens para auxiliar quem ainda não encontrou bem-bem-bem o que usar.
É a colecção "Amor é...".
Keep it real, people! Foda-se!








Para breve, colecção "Amizade é...".
E pronto!


24.1.12

III Desafio... C'um caraças. Porra, pá.

O III Desafio? Dar a notícia da minha própria morte. 
Após várias tentativas, deu nisto. E não se fala mais na coisa. Muito menos na minha!

"Viveu a vida como quem aceita um desafio. Não daqueles em que o primeiro prémio obriga a feitos sobre-humanos para o alcançar, mas sim daqueles em que a maior glória se atinge participando, agindo, estando presente e nunca desistindo nos dias seguintes a grandes derrotas ou grandes sucessos.
Aos filhos deixa o legado da Capacidade: a de saber viver bem tudo quanto a vida lhes possa dar ou arrancar das mãos sem aviso; a de se saberem mais e melhores do que alguma vez possam temer não ser e a de saberem sentir, em pleno, a presença de todas as pessoas que os amam e querem bem, venham elas de onde vierem.
Aos amores que teve, em especial ao que coroou a sua vida dando-lhe a tranquilidade e paz tão desejadas, deixa a certeza de terem sido amados, mesmo que nem sempre tenha conseguido mostrar todo o amor que tinha da forma ou no momento certos.
À família, de sangue ou não, deixa um infindável agradecimento por ter podido dizer-se deles pertencer.
Na sua lápide inscreve-se o que pensou poderem ser as palavras que melhor aguentassem a fadiga do tempo.
“Através das memórias, a vida vive-se de novo. Em cada lembrança, amamos de novo. E de novo. E de novo.
Que a vida vos continue, a todos, na certeza de que vos inspirei como se fossem o meu ar, vos abracei como se fossem a minha salvação, que vos amei de coração cheio de vontade de vos ter sempre para e em mim.
Em vós vivi.
Em vós vivo.
Vivi.”
Haverá momento de despedida para família e amigos de hoje a dois dias no cemitério local.
Ela faleceu hoje.
Ela faleceu." 


18.1.12

Corridinho Dela - II Desafio Escrita Online

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E eis a resposta ao II Desafio do Escrita Online. 
Agradeço as vossas sugestões mas... Mas!
E pronto!

"O Corridinho que lhe saía do corpo deixava-me deliciada (e algo invejosa, admito). Quando a via a rodopiar que nem uma boneca de trapo, agarrada ao seu par que, agarrado a ela, também rodopiava mas sem o alarido da saia que esvoaçava e da perna alçada e entrelaçada numa das dele, ameaçando de queda a qualquer momento aquele par que se ia atirando palco fora como se aqueles movimentos fossem a coisa mais natural deste mundo, ficava deliciada. E invejosa.
Do meu grupo dos “pequenos” via os “grandes” a dançar e a mostrar o que nós um dia também poderíamos fazer se não nos aborrecêssemos com aquilo até lá.
Queria fazer aquilo que nem ela. Com aquela elegância, com aquela rapidez, com a segurança que era saber-me agarrada e bem agarrada para não levantar voo em direcção à assistência ali tão perto.
Eu era dançarina de rancho, de tamancos e braços no ar, de lenço na cabeça e avental ao colo. Eu perdia o calçado e o lenço. As meias caíam e os braços enfraqueciam. As pernas tropeçavam e havia sempre alguém fora de ritmo que atrapalhava os restantes esforçados artistas da dança tradicional portuguesa.
Por entre Viras e Chulas, havia o Corridinho. Era o que mais adorava ver e mais almejava ter a honra de aprender e dançar.
Lembro-me de ver aquilo tudo à minha volta, de estar no meio daquilo tudo e sentir uma espécie de pena por quem não sabia o que aquilo era. Não pela manutenção das tradições portuguesas em terras estrangeiras, mas pela sensação de estar inserida numa engrenagem tão bem afinada e polida que bastava um olhares para se saber qual a música que se seguia, quais os passos que se davam. Tudo.
Hoje em dia, vejo bailados, por exemplo, e fico estarrecida com o que o corpo humano pode fazer quando devidamente sintonizado. Beleza que transborda o peito e quase que cerra os olhos, não vá aquela sensação viciar-nos para todo o sempre.
Eu era dançarina de tamanco, de tombos por palcos de tábuas mal pregadas, de puxões e empurrões para guiar os mais pequenos na direcção certa, de camisas suadas e braços doridos, de lenços perdidos e meias rasgadas.
Sentia-me a maior do mundo ali naquele mundo barulhento, desafinado, em que o Corridinho acelerava pernas e cortava a respiração de todos quanto o viam sair Dela, e Dele.
A maior."

13.1.12

II Desafio... Estão a dar-me música...

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Diz o II Desafio Online de Escrita que devo escolher uma canção e que o título da mesma deve servir de base à minha história, sendo a primeira frase do texto.
Eu escolho, mas com base nas vossas sugestões. A mais estapafúrdia, idiota e totó, ganha.
Simples. 
Mas despachem-se que isto tem prazos!
Fico ansiosamente à espera das vossas sugestões (oh valha-me caredo…).
Siga!

9.1.12

I Desafio Escrita Online - O Natal Perfeito.

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E então, lá respondi ao desafio. Agora é só mexer nisto para cumprir com as regras...
Até lá, fica aqui a versão original. Só para vocês.

Lambidela na cara. Queixume. Outra. Outro.
Um olho aberto. Uma mão estendida. Silêncio.
Acorda-se. Cérebro começa lentamente a funcionar.
Sorriso. Puxam-se as mantas. Aconchego. Sorriso. Memórias. Recentes e vivas. Memórias. 
Os preparativos nunca são fáceis mas, no fundo, são a alma da festa. São eles que adoçam a antecipação, sossegam o receio de algo falhar. As compras. A cozinha. Os telefonemas. Os cafés para combinar, planear tudo. O horror de haver falta ou de menos de algo. Os preparativos engordam a festa que, por sua vez, engorda quem nela participa. Um dar e receber muito doce e equilibrado.
Lambidela.
Queixume.
Rosnar suave.
Desistência.
Mais volume por baixo das mantas.
Sossego. 
O jantar começa depois de almoço quando tudo se arruma e carrega para sítio de encontro. Tudo.
Chega-se. Muitas mãos pelas quais distribuir fazeres. Faz-se. Ri-se. Aprende-se.
Concentração máxima. Não é jantar para estômagos. Não. É festim para almas. Almas do mesmo sangue ou não mas que nascem e vivem umas das outras. Que se alimentam à mesma mesa, cuidando que todas ficam saciadas e satisfeitas.
Os preparativos culminam num enorme monte de louça por lavar, chão para varrer, lareira para vigiar. Cafés para tirar. Histórias para partilhar. Notícias para actualizar. 
Sorriso. 
Aguarda-se a meia-noite.
Tudo arrumado. Tudo provado. Receitas explicadas. Segredos desvendados em viagens para levar o lixo ou arrumar aquelas panelas.
Calmaria antes da tempestade.
Olha-se a árvore. Bonita. Fazem-se olhinhos ao relógio.
Calma. Já vai. Já vem. Está quase.
E depois, é. Anuncia-se o momento tão esperado.
Olhos brilham. Pés correm. Vozes chamam.
Percorre-se a memória para se ter a certeza que está tudo em ordem. Nada esquecido. Tudo no lugar.
Informa-se que se quer ser o último a dar o que se trouxe para todos receberem.
Crescendo de emoções. Surpresas. Lamentos por “não se poder mais”. Abraços que calam tais palavras e agradecem simples presença. 
Sorriso. 
Chega o momento.
Distribuem-se pequenas caixas enlaçadas a cada uma das almas presentes.
Abram, pede-se.
Cada caixa é aberta. Olhos e dedos curiosos mexem e remexem o conteúdo.
Olha-se à volta.
Levantam-se peças de puzzle escritas.
Sorrisos começam a brotar, substituindo olhares confusos.
Juntem-nas, pede-se.
Começa-se a juntar as peças. Cada um olhando o que o outro recebeu.
O “Amor Incondicional” da Mãe ao lado do “Amor que Protege e Segura” do Pai. “Raiz” de cada Avó e Avô mesmo por cima do “Legado” dos mais novos. Pelo meio, a “Paz e Compreensão” dos Padrinhos ao lado da “Força” de irmãos e irmãs. A “Serenidade” de quem nos apaixona a alma ao lado da “Felicidade” e “Futuro” de quem nos nasceu do corpo.
No final, puzzle montado, tudo ligado, encaixado, no lugar.
Somos nós, explica-se.
Feliz Natal.
E é. 
Ficas na cama a manhã toda?
Remexem-se as mantas.
Sim…
Outra lambidela.
Temos de ir. Falta pouco para o almoço.
Eles já estão de pe?
Não. Vamos acordá-los juntos.
É justo. Vamos.
Devias ter feito peça a dizer “Baba” para esse mimado.
“Baba” salta da cama e sai do quarto depois de se lhe dizer para ir ter com os pequenos.
Sente-se corpo a ser abraçado por outro. Serenidade.
Beijam-se as bocas e apertam-se os braços. Respira-se fundo e melhor.
Mentalmente, percorrem-se os preparativos para o dia, as caras das almas a alimentar.
Vamos?
Vamos.
E vai-se. Todos os dias.
Se o natal pode ser quando se quiser, também só termina quando se desejar, não é?
É, pois.

4.1.12

Desafio 1. Recebido.

Lá me inscrevi aqui e lá recebi o primeiro desafio. Dissertar sobre O Natal Perfeito. 
Ora, pois. 
À procura de inspiração, revisitei o OMQ - Épocas Natalícias. 
Encontrei o texto abaixo. 
Pouco ou nada mudou na minha vida desde que o escrevi. Mas hoje consigo ver que tinha muito mais razão do que pensava quando o escrevi. 
Ai, se pudesse... Se pudesse!

"Os meus natais sempre foram um pouco diferentes do comum (vejam os posts…). Houve uma altura em que eram passados na companhia de amigos porque ninguém tinha família por perto. Lembro-me de árvores de natal tão atoladas de presentes que mal dava para ver a árvore em si. Gente por todo o lado. Camas feitas no chão… Lembro-me que cada ano se rumava para uma casa diferente onde todos se reuniam. Lembro-me que apesar de poderem estar aí uma 5 ou 6 famílias diferentes, havia sempre algo que as unia e que fazia com que o natal tomasse proporções inimagináveis. 
As refeições eram feitas a preceito. Nada era descurado. Nada. Era uma verdadeira festa em que o que realmente interessava era gente que se gostava estar junta e mais nada. Lembro-me de a minha Avó, uns anos mais tarde quando se juntou a nós, fazer tudo por tudo para que o nosso natal fosse o melhor possível em todos os aspectos. Ela conseguia transformar tudo num enorme festival de alegria. Lembro-me de ela fazer uma coisa em particular e que ainda hoje me dá uma saudade enorme. Nos presentes que oferecia incluía um pequeno embrulho onde colocava uma notinha… tínhamos de estar atentos para ver onde estava esta segunda surpresa. Uma espécie de caça ao tesouro que tornava tudo muito mais divertido. No final da noite, eu e a minha irmã tínhamos os nossos presentes e um pequeno monte de notas que prometia mais presentes… normalmente guloseimas ou berlindes ou gelados ou coisas importantes assim. 
A minha Avó dizia que aquilo nos ajudava a dar valor às coisas porque mesmo que houvesse algo de que não gostássemos muito, podia ser que lá pelo meio houvesse algo que, em jeito de surpresa, nos fizesse mudar de ideias. Uma lógica simples e directa que nos ajudou a perceber que, procurando, consegue-se sempre encontrar algo de bom no meio de algo menos bom, por assim dizer. Passei a dar valor a todos os presentes, nem que fosse por associar uma pequena nota àquele pijama que era feio que nem uma bota da tropa. Batota da minha Avó? Sim. Mas eficaz. 
Outra coisa que aprendi naquelas alturas foi agradecer antes de abrir os presentes. Recebíamos o dito, dávamos dois beijos e um abraço a quem o tinha oferecido e depois de aberto, repetíamos o processo. Dois agradecimentos por coisas diferentes: primeiro por se terem lembrado de nós, segundo por se terem dado ao trabalho de oferecer algo a pensar em nós. 
Ainda hoje é assim em minha casa. 
Se pudesse, oferecia pequenos embrulhos dentro de outros embrulhos a todos quanto quero bem e que fazem parte da minha vida. Oferecia presentes dentro de presentes. Oferecia surpresas dentro de surpresas. Oferecia viagens a boas recordações, idas directas a boas memórias, a bons momentos. Oferecia coisas que fizessem sorrir e rir, que fizessem brotar lágrimas de felicidade. Oferecia pequenos momentos de esquecimento de tudo quanto é mau. Oferecia pequenos abraços que assegurassem que tudo haverá de ser melhor. E para mim bastavam-me aqueles dois beijos antes e mais nada. Mais nada."

Mais nada mesmo. Bom resto de festas para todos.