29.3.11

Fazer ideia do que não se faz ideia.

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Certa vez, há muitos anos, um homem muito sábio e conhecedor do mundo que tenho o enorme prazer de conhecer e com o qual privo, disse uma coisa que, sinto, me ficou queimada a ferro e fogo no cérebro.
Ele, guru da gestão, em Portugal para uma conferência, fez um exercício de grupo com todos os presentes. O exercício era simples: pedir a todos que analisassem e avaliassem o posicionamento que consideravam que as suas empresas tinham nos mercados em que operavam. O questionário desenvolvido permitia também captar a margem de erro da coisa tendo por base informações reais desses mercados e de outros concorrentes sendo que, no final, era possível contrariar, de forma directa, as opiniões individuais dos respondentes.
Isto pode parecer ser tudo muito simples e básico mas, na realidade, não o é. Vejam o problema que pode ser as opiniões não serem coincidentes. Vejam o problema que pode ser uma empresa ter uma ideia de si própria enquanto que o mercado e respectivos “players” possuem outra completamente diferente. Reparem na distorção que isto pode provocar, nos erros que pode originar e, mais perigosamente, nas absolutas calamidades que podem nascer quando uns acham que a coisa é azul e outros a tratam como se fosse vermelha…
Passado o choque inicial quando os resultados do exercício foram revelados, o tal Senhor proferiu o seguinte de forma tão calma que até assustou: Não interessa se a forma como nos vemos é certa ou errada por comparação aos outros porque nós vamos sempre agir e fazer as coisas de acordo com a nossa percepção, a nossa realidade, mesmo que isso signifique dar tiros nos pés todos os dias. Os ajustes das percepções internas e externas têm de colmatar numa visão comum de uma mesma coisa, mas é, primeiro, percebendo a realidade em que pensamos nos mover que se tem de iniciar qualquer acção de melhoria. Perceber a forma como nos vimos e depois, se estivermos errados, ajustá-la. Se estivermos certos, há que ajustar a forma como nos vêem a nós. Não pode é haver vários nomes para uma mesma coisa. 
E não pode.
Cada um de nós tem a sua realidade (seja ela mais ou menos fantasiada ou alicerçada em fundamentos fidedignos e concretos ou não) e é de acordo com essa realidade que agimos, fazemos o que fazemos, dizemos o que dizemos e, no essencial, somos o que somos. É com base na nossa realidade que analisamos e avaliamos as realidades dos outros, mesmo sabendo que não possuímos todos os elementos necessários para o bem fazer – temos é de ter análise e avaliação prontas de modo a que a nossa própria realidade seja o mais suave e compreensível (para nós próprios) possível.
É justo dizer que ninguém se está para dar ao trabalho de perguntar “mas porquê?” de todas as vezes que a colocação dessa simples pergunta evitaria muita causticidade. É também justo dizer que, na maior parte das vezes, ninguém faz essa pergunta porque a explicação dada poderia requerer todo um novo leque de porquês, terminando os mesmos apenas e só quando se tivesse exactamente a mesma informação (realidade) que o outro de modo a que a tal análise e avaliação fosse o mais justa e fiel possível. Dá trabalho conhecer. Saber ocupa, de facto, lugar. Dá trabalho sermos confrontados com o que não sabemos e não entendemos. Dá trabalho fazermos ideia do que não fazemos ideia. Por isso, e tal como quem se mete num atalho, preferimos o caminho mais curto do “ir pela pinta” da coisa e siga para bingo que se faz tarde e a malta tem que se ir deitar.
Sempre gostei de entender as coisas. Sempre tive uma curiosidade quase mórbida em saber como as coisas funcionam, de as ver trabalhar, mexer. Adoro máquinas com protecções transparentes, por exemplo, podendo ficar horas a ver e a tentar perceber como é que um certo mecanismo funciona em conjunto com outros, como se inicia e termina o processo, como do nada se produz algo. E não é só com máquinas e afins que tenho esta curiosidade. Ainda que a um grau muito menos propenso ao menor erro possível, também possuo esta curiosidade para com as pessoas. Gosto de lhes saber os porquês. Gosto. E procuro sabê-los por todos os meios que me sejam possíveis (nem sempre um porquê calha bem no meio de uma conversa…).
Esta minha curiosidade também se aplica a mim. Gosto de me saber os porquês. Não me desculpo de nada. Não alego desconhecimento de causa de mim própria para o que faço ou sou. Sou-me e sei-me de acordo com todas as respostas a infindáveis porquês que me vou colocando ao longo do tempo.
De vez em quando, mesmo assim, levo com belas doses de actualização de realidade e percebo, como se fosse novidade ou como quem leva um murro bem aviado no estômago, que sou extremamente, totalmente, doentiamente, implacavelmente intolerante e inflexível para com as intolerâncias e inflexibilidades dos outros. Não admito que não me admitam seja o que for. Não admito. Não admito que não me coloquem um porquê e que passem logo para os porques. Não aceito e sou contra quem não aceita e é contra. E sei porquê. Mas não digo. Que me perguntem. Que façam comigo o mesmo esforço que faço com os outros, que tenham a mesma boa fé (ou pura ingenuidade de espírito) comigo que eu tenho com os outros.
E, no meio disto tudo, e ainda que possa ser doloroso saber os nossos porquês, muito mais doloroso é ir descobrindo os porquês dos outros de cada vez que falham em fazer essa tão pequena e simples pergunta a quem mais devem.
Mas lá está, e assim dizia o outro senhor que me forjou isto tudo no cérebro – cada um tem a sua realidade, agindo sempre de acordo com a mesma.
Eu, na minha intolerância para com a intolerância, manifesto-me intolerante para com os intolerantes, até para comigo, e lá vou perguntando cada vez mais porquês a quem de direito, eu incluída, nem que seja para um dia poder sentir que é impossível (ou lá perto) podermos ter dos outros uma realidade tão afastada da que pensam para eles próprios. E tudo isto seria muito mais fácil de deixar pousar no estômago não fosse a máxima do “tudo é possível” de vez em quando fazer-se ouvir tipo sirene de alerta de iminente catástrofe. Antes de a calar, vou só dar uma olhadela a como funciona. Gosto de saber como as coisas funcionam. 

28.3.11

Fuck you, too!

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Há já uns anos que eu, de vez em quando, aceito a incumbência de ministrar umas aulas ou cursos de inglês. Há quem me peça e eu, simpática (tipo raposa que esfrega as mãos quando percebe que já enganou mais um coelhinho para ir lá a casa jantar…), aceito tais destinos e lá vou eu, armada em conhecedora da coisa, tentar transmitir alguns dos meus parcos conhecimentos dessa tão mal tratada língua.
Haja ou não programa para o curso ou para as aulas, há sempre uma que reservo para mim e para um dos temas que penso serem dos mais importantes em qualquer língua: as asneiras.
Pois, é. Com o devido pré-aviso, informo que haverá, algures no tempo, uma aula especialmente dedicada a tais temáticas e que, durante a mesma, ninguém deverá abster-se de participar ou de tirar dúvidas. Pânico.
E então, ganhada a confiança da malta, lá vem inevitavelmente o dia em que chego e digo “É hoje! A tal aula, é hoje!”. Há quem se largue logo a rir, há quem se ajeite na cadeira, há quem comece logo num rol das que conhece mas que não sabe bem o significado enquanto os que desconhecem mesmo repetem e perguntam o que é que aquilo quer dizer… Há de tudo.
Mas não pensem que a coisa é feita de forma leviana… Não. Conjugamos verbos (I fuck, you fuck, he/she/it fucks…) e colocamos as palavras em frases, traduzimos e damos exemplos de significados semelhantes (sim, porque as expressões motherfucker ou dickhead não têm tradução directa para português…).
Hoje houve uma dessas aulas. Hoje, em muita coisa, foi igual ou parecido às outras vezes em que tal aconteceu, tirando o facto de a aula de hoje ter sido dada a grupo de alunos da Universidade Sénior aqui da localidade. Eu posso voluntariar os meus conhecimentos a quem mais precisa, mas porra, também tenho direito a divertir-me um pouco, né?
E então, lá passamos uma hora a dizer caralho e foda-se para a frente e para trás, a conjugar o verbo “to fuck” e a analisarmos o real significado da palavra asshole e pussy. Uma horinha a arranjar sinónimos para os afamados “fode-te cabrão” e “fuck off, bitch!”, uma horinha a decifrar enigmas como o “wanker” e o tão mal aplicado “cocksucker” e a aprender-se que o “fuck me!” tem significados diferentes de acordo com o contexto. Uma horinha em que eu rezava para que não estivesse ninguém prestes a entrar na sala ou lá fora no corredor a ouvir… Sim, porque quando se tem um grupo em que metade é surdo e outra metade vê mal, é preciso falar mais alto do que o costume e é preciso escrever as coisas com um tamanho de letra maior do que o costume… Tudo coisas que apenas acrescentam emoção à coisa, pois claro.
No final da aula, invariavelmente e tal como mandam as regras, espaço para dúvidas e perguntas (e é logo tudo a rever os apontamentos que, nestas aulas, são mais que muitos…). E é aí, depois de se ter retirado a pressão e a vergonha ao tema, que as coisas fluem. 
De repente, tudo quer saber como se dizem coisas do tipo “vai para a puta que te pariu oh cabrão de merda!”, “vai à merda e não me chateies os cornos” e o sempre fácil de constatar “’Tás com uma cadela que pareces um macho”… De repente, tem-se uma sala cheia de gente a repetir, até acertarem na pronúncia, coisas bonitas como o “fuck you”, “fucking hell” e “son of a bitch” (…Cuidado com o “bitch” e o “beach” e a pronúncia! Vá! Mais uma vez mas desta vez diferente: Fuck you, bitch! O que é que isto quer dizer?...).
Hoje tive a prova de que este tipo de aula é do mais útil que se pode dar porque obriga a conhecer mesmo bem do que se fala (em termos de anatomia, então, ui!). Aconteceu eu dar um exemplo de um insulto que poderiam eventualmente ouvir e houve aluna, boa aluna, que, quando questionada sobre o que responder, atirou logo com um “Fuck you, too!” (aprendeu rápido que o “fuck you” é dos insultos mais fáceis de encaixar em qualquer resposta).
Senti-me tão orgulhosa daquela minha Senhora Menina que, foda-se, quase que a mandei logo para o caralho de tão contente que me deixou. Fuck, yeah! 

23.3.11

Desmoralizador...


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O seguinte é relato de episódio real que, bem sei, apenas um certo nicho das visitas a este humilde estabelecimento saberão bem interpretar (no essencial, quem gostar destas coisas, claro).. Mas, como de costume, ‘tou-me pouco a cagar que o blog é meu e deixo aqui o que quiser e bem entender. Por isso, segue referido relato de referido episódio que não será, certamente, para todos mas que, seguramente, os que o entenderão acharão piada (espero eu…).

Na A1.
- Sabes o que é que gosto de fazer?
- Ahhh… não…
- De deixar que grandes máquinas me tentem ultrapassar e depois, quando estão mesmo ao meu lado, meter duas abaixo e desaparecer…
- ‘Tás a ver?! É por essas e por outras que as pessoas não gostam de carros como o teu ou das pessoas que têm carros como o teu!!
- Olha! Vem aqui um. Queres ver?! Queres ver?!?!
- Não, pá! Não faças isso!
(E aí a uns 140 km/h, lá reduziu duas  - sim, duas – mudanças, e… e desapareceu de vista do carro que nos ia tentar ultrapassar).
- É a melhor coisa deste carro. A resposta. É o que mais gosto nele.
(como eu o entendo… foda-se… como eu o entendo... é sempre o motor que conta).
- Não devias ter feito aquilo, pá. Já viste o que fizeste aquela pessoa?! Não se faz! Gozar assim com os outros!
- É verdade. Prefiro fazer isto a 200 km/h e com grandes maquinões que se acham melhores que este. É mais desmoralizador quando se faz isto a alguém a 200 km/h…
- (rindo-me) Pois… desmoralizador?! Hahahahahahahahahahahahahah!!!!!! É como quando se metem comigo e com o Brutus… Quando vêem que é uma mulher a conduzir o carro que lhes acabou de deixar para trás, também desmoralizam mais facilmente. Homens!
- Podes crer!! Homens!!!

18.3.11

Então e quando até as faces do rabo se ruborizam?


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O mundo é pequeno. Pequeno e dá muitas (mas mesmo muitas) voltas. Pequeno, dá muitas voltas e, descobri, demasiado pequeno e demasiado armado às piruetas para Me and my Big Mouth.
Há pouca coisa que gosto de deixar por mãos alheias. É como tudo: quando queremos algo feito como deve ser, temos de ser nós a fazer.
Ora, bem! Dentro do espírito da auto-suficiência e independência total, tenho a dizer que, por muito que outros possam tentar e até conseguir, ninguém, mas mesmo ninguém, tem a capacidade de me envergonhar como EU tenho capacidade de me envergonhar.
Sim. Eu, sob a máxima do “que se foda que não tenho nada a perder”, vou e digo e faço certas coisas na quase certeza de que assunto desenvolvido nunca mais será tocado porque, como bem (HA!!!) equaciono nos momentos precedentes, e lá está, eu até nem tenho nada a perder!
Ora, pois.
E não se tem nada a perder mesmo a não ser uma certa paz de espírito quando, do nada, certas palavras proferidas voltam do mundo do “nada a perder”, ou seja, do “mundo-supostamente-perdido-tipo-alice-no-país-das-maravilhas-versão-GI-Jane”, e vêm, qual abutres esfomeados, vingativos e à procura de refeição rápida, numa manada esfomeada de vingança e reposição da verdade sobre o mundo ser demasiado pequeno para certos devaneios, aterrar-nos bem no alto da pinha, fazendo-nos baixar a cabeça para esconder faces ruborizadas e desejar, com cada fibra do nosso ser, que buraco, daqueles muita grandes, se abrisse e nos engolisse logo ali, sem mais nem menos, para nos poupar a corrente de memórias que de repente invadem débil cérebro, fazendo com que até faces de rabiosque se ruborizem com todo o fervor permitido pelas leis da física. Isso e com que se tenha de passar umas horitas a combater vontade quase irresistível de gargalhar a bom gargalhar. Sim, porque nestas coisas do “envergonhanço”, há sempre mais alguma coisa que podemos fazer, inclusive, desatar numa histeria de risota pegada assim que o mundo se encolhe e finalmente pára de dar voltinhas ou então, como aqui a Je, passar essas mesmas horitas com ar de quem sofre de hemorróidas e não defeca há três semanas (ainda que, em certos momentos, sorrisos envergonhados possam ter dado impressão que tal maratona finalmente teria acabado…).
E, ok, tudo bem, até que nem foi nada de especial. Até que nem se disse nada de por aí além. Bem visto, bem visto e a coisa até podia ser vista como um elogio! Quer dizer, pensando bem, quase que merecia um agradecimento daqueles pelo proferido nos tempos em que o mundo era definitivamente maior e não continha tantos mapas ou aparelhos de GPS… Bem esgalhado e até que tinha direito a agradecimento, olhem a porra!
Mas, não.
Quem agradeceu fui eu. No dia seguinte, pequena mensagem de agradecimento por atitude de Senhor assinada por rapariguita devidamente prostrada em vénia e ruborizada até à raiz dos cabelos.
É como eu digo, há coisas que mais ninguém faz tão bem como nós.
Pensem nisso da próxima vez que se armarem aos cucos e pensarem que o mundo é muita grande, não dá voltas e não existem manadas de abutres esfomeados com memórias filha da puta de boas.
E se por acaso se esquecerem, rezem para que alvo de tais momentos de esquecimento do poder do Universo tenha a cortesia, bom senso e sensibilidade de fazer de conta que não se lembra de nada.
Fodaaaaaaa-se.
Com licença que vou só ali ver se consigo tirar a pata da poça antes que a poça me chegue ao queixo.
Bom fim-de-semana minha gente. Bom fim-de-semana.

16.3.11

Ladrões.


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Em conversa sobre impotência sexual masculina e sobre o receio que existe nos homens em não conseguirem satisfazer as parceiras...
“Não é assim que se mantém uma mulher. Não é pelo sexo que se consegue fazer com que uma mulher não nos largue”, disse ele, em tom baixo e sem querer continuar a conversa.
Pensei, pois claro que não é. Registando-se as devidas excepções, não é mesmo nada devido a uma pila que uma mulher se mantém firme (passe a piada) ao lado de um homem. Esperei que continuasse enquanto restante malta indagava resposta a tão intemporal questão. Eu, conhecendo-o, já mais ou menos sabia o que ia dizer…
Hesitante, como se estivesse a revelar segredo dos deuses, respondeu:
“Não é pelo sexo. Aliás, nesse campo, há que usar a imaginação quando existem elementos que não… ahhh… funcionam…”, continuou.
“Mas eu farto-me de trombar!!”, exclamou conviva claramente afectado por todas as idiossincrasias de quem se vê resvalado a outros meios para atingir os mesmos fins. Depois da risota geral, Guardador de Segredo dos Deuses lá se manifestou.
“Não, pá. Tens uma mulher, e ela a ti, quando lhe consegues roubar um bocadinho da alma pelos olhos. É isso que elas querem. É isso que todos queremos”.
Seguiu-se um silêncio geral tão doce que quase que dava para sentir os quereres e vontades de todos quanto estavam à mesa reunidos a voar pelo ar.
Que nos roubem um bocadinho da alma pelos olhos. Não são eles os que a espelham?
Acho que nunca ouvi a questão colocada de forma tão eloquentemente assombrosa e linda como esta.
Haja habilidade nos ladrões e olhos bem abertos em quem se quer deixar roubar. Haja. 
(Sim, porque para o resto, há comprimidos e o bem-dito trombar para resolver certas questões...).

11.3.11

Garantias.

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Ficámos ali deitados, olhámos o céu da noite e ela contou-me tudo sobre estrelas chamadas quadrados azuis e canudos vermelhos e eu disse-lhe que nunca tinha ouvido falar de tais coisas. Claro que não, disse ela, nunca nos dizem as coisas realmente importantes. Tens de as imaginar sozinho.” – Brian Andreas

Fosse tudo deixado apenas e só à imaginação e estaríamos todos bem tramados… Mas, sem ela, de certeza que haveria noites muito mais pesadas e dias muito mais longos. De certeza que, sem ela, a nossa natural curiosidade (que não é mais do que a nossa tentativa de ver se o que imaginamos é realmente verdade ou não…) nem sequer existiria.
Mas, neste campo da imaginação (e curiosidade), há coisas que se imaginam de uma forma mais acertada (que se adivinham?); outras que se imaginam pura e simplesmente porque podemos e conseguimos e outras ainda que imaginamos porque imaginar é a única coisa que se pode fazer.
“Hoje pensei que o amor (…) tem um selo de garantia”, disse ele noutro Tasco há uns tempos.
Disse também ele que as pessoas, sabendo da tal garantia, deveriam cuidar melhor do que lhes é garantido, não vá o selo quebrar-se e não dar para reparar o mal feito, não vá o selo quebrar-se e deixar de existir exactamente o que antes se achava mesmo garantido.
Li-o e, quase no imediato, lembrei-me de prazos de validade. As garantias são, de certa forma, prazos de validade. Tal como as garantias, têm inícios e fins e os entretantos, se não forem bem cuidados, apenas ajudam a que o fim se precipite e o início se esqueça.
Lembrei-me de como, por vezes, conseguimos olhar alguém e imaginar quase de imediato o prazo de validade que teria na nossa vida. Uma hora? Talvez duas. Uma semana? Talvez apenas o fim-de-semana. Uns meses? Se chegasse a tanto... Uns anos? Porque não uma vida?
Gostava que existisse um selo de garantia no ou para o amor. Que o amor fosse uma entidade real e quase física que descesse dos céus e, após libertar meio quilo confettis por cima de um feliz casal, lhes deixasse uma marca de garantia, de produto inspeccionado, de auditoria feita, de conformidade… sei lá. De qualquer coisa que garantisse, ao certo, que o que ali está é the real deal e que a não ser que se ande a tentar tudo por tudo para a quebrar, a tal garantia não tem fim, é ilimitada, não acaba nunca e viverá para sempre na maior das prosperidades e felicidades. Exigimos qualificações e habilitações aos médicos que nos tratam o coração, mas nada, a não ser uma promessa suspirada por entre laivos de paixão e palavras de enamoramento, a quem no-lo pode partir num ápice.
Não fossem os prazos de validade, os que inevitavelmente atribuímos e demasiado poucas vezes tentamos combater quando imaginamos (ou adivinhamos… ou sabemos) que poderão estar a chegar ao fim, e as garantias seriam algo de muito bonito a terem-se e a darem-se.
Seria muito bonito mesmo. Eu, pelo menos, imagino assim. 

2.3.11

Parabéns… A Dobrar!

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Faz hoje exactamente dois anos que sou proprietária do meu lindo e fantástico imóvel.
Um apartamento todo giro, T3, armado em modernaço e que é meu e só meu. Sim, gente. Faz hoje dois anos que me tornei dona de um organizado amontoado de tijolo e betão, cuja aquisição me endivida em mais ou menos metade do total da minha esperança de vida. Mas que se lixe. Sou Rainha do meu Palácio!!
Parabéns a Me!!!

E, como se este lindo dia não pudesse ser ainda mais completo, faz também hoje exactamente um ano que me inscrevi no centro de emprego para passar a receber o subsídio de desemprego (ironia assim, só mesmo em Portugal).
Sim, é verdade. Desempregada há um ano mas mais que batida em enviar CVs e em responder a anúncios (aos quais nunca obtenho resposta).
Sim, gente. Sou uma estatística. Pertenço àquele lindo e fantástico grupo de gente que tem habilitações, qualificações e experiência a mais, e que, por isso, são irradiados do mercado de trabalho por serem e terem demais. O que, em si, é engraçado. Passa-se uma vida a fazer o que é, supostamente, certo (estuda, filha… estudem, alunos… estuda, trabalhadora… trabalha, moura…) e depois, porque o Universo tem destas coisas, passam a dizer-nos “Se tivesse apenas o nono ano, talvez conseguíssemos colocá-la nas equipas de limpeza da Câmara… mas você, na sua situação, é quase impossível fazermos alguma coisa.” – Senhora do centro de emprego aquando de inscrição.
Mas, vá. Deixemo-nos de tristezas.
Hoje há dupla celebração a ser celebrada.
Parabéns a Me!!!!