29.12.06

Ontem e Hoje

Estive agora mesmo a ver as fotos e os filmes do natal deste ano. Depois, fui dar uma espreitadela a outras fotos. As de aniversários, passagens de ano, férias. Impressionante. Quando me vejo assim em fotografias, especialmente se já foram tiradas há algum tempo, fico com uma espécie de sentimento quase “maternal” para com aquela figurinha tão sorridente. A maior parte das vezes, consigo lembrar-me do que estava a acontecer na altura em que a fotografia foi tirada. Às vezes, consigo até lembrar-me do que estava a pensar e a sentir na altura. É tão esquisito! Há aquela expressão: ai se fosse mais nova e soubesse o que sei hoje. Não concordo. Seria uma merda daquelas se eu, com menos uns aninhos, soubesse o que sei hoje. Uma grande merda, aliás. A ingenuidade, o desconhecimento do futuro, a esperança no futuro, o quase desespero pelo futuro. Como é que se pode abdicar de algo tão, mesmo assim, lindo, em prol de mais alguns conhecimentos que, de qualquer das maneiras, vamos acabar por adquirir mesmo? Estive a passar um cadito do meu passado em revista e ainda bem que não sabia então o que sei hoje. Ainda bem. Torna o hoje muito mais especial. Faz com que o hoje faça muito mais sentido. Faz com que o hoje seja hoje e não apenas o dia a seguir a ontem. Vocês percebem.

23.12.06

Ano velho a acabar, vida nova a começar.

Para os que não sabem, já comecei a trabalhar. Comecei na terça feira. Emprego novo, vida nova. Vida nova em Lisboa. Hmmm… para quem sempre viveu e/ou trabalhou em Lisboa, não sei como é que conseguem. Não sei bem se tenho estofo para aguentar as viagens para e de Lisboa, mas vou ter que arranjar alguma forma de compensar a coisa… O meu carro transformou-se, muito rapidamente, no meu melhor amigo. Está comigo quando fico feliz ao ponto de dar uma gargalhada por o acesso à CRIL estar livre; está comigo quando fico “&%#$”)”!!!! por a estrada XPTO estar cheia de carros que não fazem intenções nenhumas de andar. Ouve os meus telefonemas todos. Vê-me a comer. Eu disse melhor amigo? Retiro o que disse. O meu carro é mais do que meu namorado! Já me ouviu proferir as piores coisas!! Cantar desalmadamente (com pequenos movimentos corporais e tudo!! Não se pode chamar bem dançar… né? E calem-se mas é porque todos fazemos isso! ai!), chamar nomes muito feios a outras pessoas, colocar questões existenciais do género: por que é que será que quando temos um traço contínuo e queremos ultrapassar (muito), nunca vêm carros de frente? Terminado o traço contínuo, vem uma enxurrada de carros que nunca mais acaba. Porquê?! Por que é que os homens não gostam de ser ultrapassados por gajas?? Por que é que quando vamos para um sítio em que sabemos ser difícil estacionar, aproveitamos sempre o primeiro lugar que encontrarmos, independentemente da distância, apenas para descobrir que tínhamos lugar mesmo à porta?? Hmmm… Também já ouviu as minhas preocupações… desabafadas em voz alta para ver se se consegue retirar alguma da carga negativa às mesmas… Já ouviu as minhas alegrias, também elas desabafadas em voz alta simplesmente porque não há a mínima hipótese de as conter. Tenho trabalho novo e gosto do sítio onde fui parar por obra do destino (ou seja o que for). O pessoal é impecável. A vista é fantástica, o sossego incrível. Há estacionamento (à borla!) mesmo em frente e cafezinho tipo “bica” a qualquer hora. Se o trânsito não der cabo de mim e se o meu carro/namorado não der com a correia de transmissão nas válvulas, acho que me vou dar muito bem. Finalmente!

18.12.06

Parabéns

Aniversários. Há quem goste. Há quem não goste. Eu gosto. Dos meus e dos dos outros. Aniversários são fixe. Recebemos telefonemas. Agradecemos àqueles que se lembram de nós. Passamos o dia a mandar beijos e abraços. A ficarmos surpreendidos por aquela pessoa se ter lembrado… a ficarmos surpreendidos por aquela pessoa em particular não se ter lembrado. É, por excelência, um dia de mimo. Celebramos a data em que, totalmente por acaso, viemos ao mundo. Celebramos a data em que, devido a uma conjugação de circunstâncias irrepetíveis somos atirados para o mundo frio e cruel. Nove meses antes, num momento que todos preferem não imaginar acontecer entre os pais, deu-se a concepção de um pequeno óvulo com um pequeno espermatozóide. Aquele pequeno ser não-pensante, mas bom nadador, cheio de bons argumentos para convencer o pequeno e inofensivo óvulo a deixá-lo entrar. Engraçado. É um ciclo que se repete pela vida toda. Gajos, seres não pensantes (alguns), mas cheios de bons argumentos (alguns), que tentam convencer as gajas a deixá-los entrar… hmmm… que ironia. Enfim. De qualquer das formas, durante nove meses crescemos e fazemo-nos humanos. Depois, quando já não podemos crescer mais, somos expulsos da forma mais horrível possível para nos tornarmos gente. Somos apertados e comprimidos e empurrados e esborrachados e sugados e puxados. É claro que saímos de lá a chorar. E, como se não bastasse, ainda levamos umas palmadas só para não sermos totós. A vingança, como é óbvio, vem nos meses depois. Cagamo-nos, vomitamos (ai, desculpem, quando são bebés a fazer isso, chama-se bolçar), gritamos, choramos, choramingamos, ficamos constipados e com febre (levando ao pânico dos papás) e depois, quando já temos mais uns meses em cima, começamos a partir e estragar tudo. Lindo! De qualquer maneira, os aniversários são para celebrar estas datas. Celebrar o facto de alguém que nos é querido ter vindo ao mundo. Para celebrar o facto de o acaso ter colocado aquela pessoa na terra e, ainda por cima, perto de nós. Oh tu que fazes anos hoje, parabéns. Espero que o teu dia de celebrações por teres vindo ao mundo seja muito feliz. O de quem te conhece e te quer bem é de certeza. Parabéns.

17.12.06

Detesto Domingos

Detesto domingos. Detesto. Já gostei mais, mas agora não gosto mesmo nadinha. Detesto este sentimento de limbo, de “não tenho nada para fazer mas também não me apetece fazer nada”. Detesto percorrer os canais de televisão vezes sem conta, sem encontrar nada de jeito para ver (não que fosse ver, porque, aos domingos, a capacidade de prestar atenção fica na cama). Detesto não haver nada para comer porque não nos apetece nada. Detesto não ter sono porque, assim, nem uma sesta pode ajudar a passar o tempo. Também não se pode sair para ir ter com o pessoal porque está tudo com a mesma cara que nós. Não se pode ir a sítio nenhum porque todas as pessoas que combatem e renegam os domingos andam na rua, felizes e contentes por ser domingo. AARGHGRAGH!!!! Detesto domingos porque não me deixam fazer o que me apetece. Porque não me deixam ir e estar com quem quero. Porque matam a vontade de fazer seja o que for, a não ser chatear-nos por estarmos chateados e por ser domingo. Parece que o tempo fica parado. Detesto domingos. Talvez um dia volte a gostar, mas neste momento, hoje, neste domingo, detesto. Mesmo.

15.12.06

Natal de Hoje

O natal de hoje não tem nada a ver. Poucas pessoas. Às vezes nem se pode dizer poucas mas boas porque o frete que alguns fazem parte-me ao meio. Dá-se demasiada importância aos presentes. Dá-se pouca importância à família. Dá-se demasiada importância a ter-se a porra duma posta de bacalhau cozido no prato. Dá-se demasiada importância ao que se vai receber. Demasiada importância ao que se vai oferecer. Quanto será que custou isto? Forretas. Dá-se demasiada importância a quem faz o quê e quem não faz o quê. E porque eu lavei pratos e ela não! E porque eu estive a cortar borrego e ele a jogar as cartas! E porque eu levei um vinho caro e os outros levaram coca-cola. Não há cu que aguente! Quando for grande, vai haver febras e salsichas com salada e, para a sobremesa, mousse de chocolate e gelado. E vai-se comer tudo em pratos de papel com talheres de plástico. Os presentes vão ser livres, com obrigatoriedade de um sentido “obrigado” no fim de o receber. Vai-se convidar um montão de gente, família E amigos, e vai-se fazer uma festa como deve ser. Vai-se rir. Vai-se sorrir. Todos se vão divertir como deve ser. Não vai haver peru ou bacalhau ou borrego ou polvo ou couves ou o raio que o parta! Não vai haver decorações de natal. A árvore enfeita-se na noite. Todos enfeitam a porra da árvore com algo diferente. Flocos de neve uma ova! Vai-se meter musiquinha de baile foleiro e o pessoal vai dançar. E vai gostar! Só se mantém a data porque dá jeito o feriado. Se não, fazia-se em Julho porque está mais quentinho. O natal não é quando e como se quer? E vai-se dar bagaço à porra do cão! Feliz Natal.

Natal de Antigamente

Ai o Natal. Vou-vos, só porque sei que devem estar cheios de curiosidade, contar um pouco como eram os meus natais… Antes de mais, eu nem sempre vivi neste belo país. Nem sempre. Passei uns anitos noutro país. Longe comós cornos. Mesmo. De qualquer forma, não éramos os únicos portugueses lá. Havia-os aos montes (mais ou menos). No natal, dado o pessoal não ter lá família de sangue, juntava-se a família de amigos e todos os anos rodava-se de casa em casa. Um grupo de 20, 30, 40 pessoas que iam carregadas com presentes, comida, boa disposição e vontade de passar uma noite especial junto dos mais próximos (ok, iam para comer e beber. Mais para beber alguns, mas pronto… vá). A árvore de natal tinha de estar sempre em cima de alguma coisa mais alta devido à quantidade de presentes. A comida era tanta que no dia a seguir ainda se estavam a “estrear” pratos. Por norma, os que vinham de mais longe dormiam em casa do anfitrião. Isto quer dizer que tudo quanto fosse espaço disponível e minimamente limpo era transformado em “cama”. Havia os inevitáveis telefonemas para Portugal, com choros à mistura, com saudades, muitas saudades. Os natais eram sempre grandes festas. Eram grandiosos e divertidos. Eram gigantescos e cheios de risos, de brincadeiras, de palmadas por se tentar dar bagaço ao cão, de raspanetes por se ter trancado um bom grupo de gente mais pequena (e chata) dentro de um qualquer armário, de tentativas de roubar um cadito de cerveja ou uma outra bebida alcoólica qualquer para dar uma provadela (o bagaço sabíamos ser mau, logo, para o cão…) e milhões de outras coisas lindas e inocentes que se faziam porque os adultos andavam ocupados com outras coisas. Felizmente! Quando chegava a meia noite, bem, não estão bem a ver a cena. Primeiro, havia sempre algum desprevenido que se oferecia para fazer a distribuição dos presentes, normalmente, vestido de pai natal, com barba e barriga e tudo. Havia sempre algum presente que não tinha nome e que ia parar à pessoa errada. Havia sempre uma ânsia enorme em distribuir e receber todos os presentes o mais rapidamente possível. Entre guinchos de alegria, birras de decepção e o fantástico barulho de papel de embrulho a ser arrancado e atirado ao ar para ver o que estava por baixo, estavam os adultos, os grandes, a fazer a festa deles. Já não havia chão. Havia papel e fita cola e laços e cartões e caixas vazias e peças de bonecos e cabeças de bonecas e crianças escondidas. O Natal era a altura, por excelência, em que se dava verdadeiro sentido a amigos e família. Em que, de facto, se dava graças por tudo o que se tinha, em que se sonhava com tudo o que se queria e em que se acreditava em tudo o que se iria ter. Os presentes eram um extra. Simbólicos e cheios de sentido. Sentidos e escolhidos com o maior dos cuidados. Natal. Tenho saudades do natal assim. Tantas saudades.

13.12.06

12.12.06

Piu

Ele disse: Redbull dá-te asas… piu! piu! piu!
Ela riu-se (porque o contraste do Redbull todo pujante – cheio de taurina - com o “piu, piu, piu” foi demais).
Pensou ela: O que tu queres sei eu, oh piu, piu, piu.

9.12.06

Sorrir.

Sorrio. Muito. E com vontade. Às vezes até rio baixinho. Sorrir. Sentir aquele calorzinho no coração que se eleva directamente para os lábios, obrigando-os a formar um belo e sentido sorriso, daqueles que se vê mesmo ser de puro prazer e satisfação. Sorrir. Sorrir um daqueles sorrisos que nos enrugam os olhos, tornando-os pequenos. Muito pequenos. Sorrir porque nos lembrámos de algo que aconteceu. Porque nos lembramos de algo que ainda vai acontecer. Temos a certeza absoluta que sim. Sorrir. Ainda agora o fiz. Ai! Outra vez. Sorrir. Porque sabemos algo. Porque sentimos algo. Porque o espaço da mente e do corpo não chega para conter o sentimento. Porque torna-se preciso deixar o sentimento sair. Deixá-lo manifestar-se. Deixá-lo viver por ele próprio. Quase como se fossemos apenas os hospedeiros de algo fantástico e glorioso que nos deixa irrequietos e com vontade de fazer tudo. De rir. De rir até nos doer a boca, as bochechas, tudo. Deixar que essa coisa fantástica e gloriosa nos dê vida nova, nos dê olhos novos, nos traga novas e deliciosas golfadas de um ar até então nunca respirado. Nunca vivido. Nunca provado. Sorrir. Sorrir. Sorrir porque há coisas que nos fazem esquecer tudo. Que nos fazem sentir, mesmo, que antes delas não havia mais nada. Não pode ter havido mais nada. Como é possível que possa ter havido mais alguma coisa se o que temos agora é mais do que alguma vez sabíamos poder sonhar e imaginar sequer? Como é possível alguma vez termos conseguido sorrir se os sorrisos que agora temos são os verdadeiros? Os reais. Os autênticos. Sorrir. Sorrir. Sorrir. Porque sou demasiado pequena para conseguir guardar tudo o que tenho para ti. Tudo o que é teu. Porque não consigo parar de sentir aquele calorzinho no coração, de sentir os lábios a abrirem-se para mostrarem ao mundo que sou feliz. Sorrir.