Ai o Natal. Vou-vos, só porque sei que devem estar cheios de curiosidade, contar um pouco como eram os meus natais…
Antes de mais, eu nem sempre vivi neste belo país. Nem sempre. Passei uns anitos noutro país. Longe comós cornos. Mesmo. De qualquer forma, não éramos os únicos portugueses lá. Havia-os aos montes (mais ou menos). No natal, dado o pessoal não ter lá família de sangue, juntava-se a família de amigos e todos os anos rodava-se de casa em casa. Um grupo de 20, 30, 40 pessoas que iam carregadas com presentes, comida, boa disposição e vontade de passar uma noite especial junto dos mais próximos (ok, iam para comer e beber. Mais para beber alguns, mas pronto… vá). A árvore de natal tinha de estar sempre em cima de alguma coisa mais alta devido à quantidade de presentes. A comida era tanta que no dia a seguir ainda se estavam a “estrear” pratos. Por norma, os que vinham de mais longe dormiam em casa do anfitrião. Isto quer dizer que tudo quanto fosse espaço disponível e minimamente limpo era transformado em “cama”. Havia os inevitáveis telefonemas para Portugal, com choros à mistura, com saudades, muitas saudades.
Os natais eram sempre grandes festas. Eram grandiosos e divertidos. Eram gigantescos e cheios de risos, de brincadeiras, de palmadas por se tentar dar bagaço ao cão, de raspanetes por se ter trancado um bom grupo de gente mais pequena (e chata) dentro de um qualquer armário, de tentativas de roubar um cadito de cerveja ou uma outra bebida alcoólica qualquer para dar uma provadela (o bagaço sabíamos ser mau, logo, para o cão…) e milhões de outras coisas lindas e inocentes que se faziam porque os adultos andavam ocupados com outras coisas. Felizmente!
Quando chegava a meia noite, bem, não estão bem a ver a cena. Primeiro, havia sempre algum desprevenido que se oferecia para fazer a distribuição dos presentes, normalmente, vestido de pai natal, com barba e barriga e tudo. Havia sempre algum presente que não tinha nome e que ia parar à pessoa errada. Havia sempre uma ânsia enorme em distribuir e receber todos os presentes o mais rapidamente possível. Entre guinchos de alegria, birras de decepção e o fantástico barulho de papel de embrulho a ser arrancado e atirado ao ar para ver o que estava por baixo, estavam os adultos, os grandes, a fazer a festa deles. Já não havia chão. Havia papel e fita cola e laços e cartões e caixas vazias e peças de bonecos e cabeças de bonecas e crianças escondidas.
O Natal era a altura, por excelência, em que se dava verdadeiro sentido a amigos e família. Em que, de facto, se dava graças por tudo o que se tinha, em que se sonhava com tudo o que se queria e em que se acreditava em tudo o que se iria ter. Os presentes eram um extra. Simbólicos e cheios de sentido. Sentidos e escolhidos com o maior dos cuidados.
Natal. Tenho saudades do natal assim. Tantas saudades.
1 comentário:
eu tb tenho saudades do natal de antigamente
gostava de abrir as portas e ver entrar em casa todos quanto eram importantes para mim, sem excepção
gostava de pedir ajuda ao a. para acender a lareira... o ritual da lenha, as acendalhas dentro do pote, os fósforos de 'palmo', o fole
adorava o cheiro a bacalhau cozido e a couves e a ovos, vindo da cozinha
o natal tinha som, sabor, cheiro
gostava de subir ao sotão e vestir-me de pai natal
descer com o saco cheio de presentes para o a. e representar... apsar dele saber que era eu, apesar disso, notava-se nos seus olhos a dúvida... será ? é o meu pai ? huummm...
os papéis de embrulho, os laços, a alegria, os olhos que sorriem, os risos que só se ouvem no natal
tb tenho saudades do natal de antigamente
bj
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