9.5.11

Não estou cá.


imagem: google

Às vezes, olho à minha volta e não consigo muito bem perceber como fui parar àquele sítio, com aquelas pessoas, naquele momento. Parece-me tudo um pouco aleatório e estranho, quase como se não conhecesse ninguém, tivesse acabado de chegar de um planeta distante e, na falta de mapa ou de conhecimento do território, lá fui andando até chegar onde tinha que chegar, parando de vez em quando para ver as vistas e dizer olá aos nativos que me olham cheios de curiosidade por também eles não saberem bem o que faço ali.
Às vezes, tudo parece estranho e não meu. E posso estar com a minha gente, nos meus sítios, na minha pele, mas… É quase como se tudo fosse de empréstimo, não meu, não eu.
Às vezes, tenho aquela sensação de que estou à espera de ir para casa, tal como quando estamos de boleia com alguém que não se quer ir embora quando nós, obrigando-nos a encostar à box durante um cadito antes de finalmente podermos voltar à base, longe dali, de volta ao que sabemos e conhecemos.
Às vezes, tenho a estranha sensação de que estou à espera, mesmo que não saiba muito bem do quê. E eu até sou paciente… até sou. Ou melhor, consigo sê-lo quando sei pelo que espero. Quando não sei, para além de me ser difícil atribuir a palavra “espera” ao que faço nessas alturas, tudo parece tomar uma luz assim meio fosca em que temos de semi-cerrar os olhos para tentarmos ver além da ponta do nariz, numa de procurar se afinal sempre há pelo qual esperar ou não. Baralho-me a mim e aos outros. Queres ficar? Não. Queres ir? Não. Estás bem? Estou. Podias estar melhor? Sim. E pior? Também. Mas queres ir? Não. E ficar? Não sei. Então quem sabe? Não sei. Estás bem? Sim. Vamos? Sim. Mas, não querias ficar? Sim. E queres ir? Também…
De vez em quando, tudo me parece novo e esquisito, diferente, estranho, irreconhecível.
De vez em quando, parece que estou à espera, mesmo que não saiba bem do quê, fazendo com que negue tal espera e me refunda naquela coisa do viver um dia de cada vez (podemos mesmo dizer que estamos à espera se não temos nada pelo qual esperar? É uma espera na mesma?).
De vez em quando, olho à minha volta e vejo caras que me conhecem, bocas que me dirigem palavras e olhares que me fixam e fico com aquela sensação de que me estão a confundir com outra pessoa e que não é bem comigo que querem falar ou estar, mas sim com alguém parecido comigo que por acaso ainda não chegou, estando eu a fazer as vezes de até que tal aconteça.
Costumo dizer que não sou de cá, mas, de vez em quando, apercebo-me de que não sou mesmo. O pior é que quando me perguntam de onde sou, eu não tenha resposta concreta, fazendo com que nunca tenha bem, bem, bem sítio para o qual voltar, quase como se isso ajudasse a justificar o sítio onde estamos (estou aqui porque ainda não estou além que é, no fundo, para onde me dirijo… qualquer coisa assim…).
Não sou de cá, mas, de vez em quando gostava de ser, nem que fosse para ter aquela sensação de que não preciso estar noutro sítio, que estou bem onde estou, que estou onde tenho de estar e que o sítio para o qual volto, é este mesmo.
De vez em quando, tudo me parece meio surreal e esquisito. Como se não estivesse cá. Como se estivesse a ir e vir ao mesmo tempo.
Mas só de vez em quando.