27.10.06

Trauma

Ontem à noite disseram-me uma coisa que ainda me anda aqui às voltas na cabeça… vão já compreender, meus leitores incontáveis e assíduos, que tão bem me conhecem… (ou não…) Disseram assim: tu és menina. Mesmo menina. Tens essa cena de não queres parecer que és, mas tu és menina. É claro que não é uma citação directa, mas 96.74% está certo. Desvio padrão de 0,0098% É mais do que óbvio que quem disse deve saber alguma coisa que eu não sei. E, se sabe, como sabe? Mas, eu, afinal, não mando nada aqui? É que nem sequer disse gaja! Eu, que ando há tanto tempo a tentar ser promovida de miúda para rapariga para gaja para mulher (e nunca esposa! como diz um professor meu – ex, na realidade, mas… é daqueles que sempre o será – obrigada, professor. Acho eu…) e agora aparece-me aqui a cena da menina. Suponho que seja justo. Eu também andei para aqui a falar dos meninos… dos homens que são meninos. Dos meninos que são homens. E em como ambos podem existir ao mesmo tempo. Têm de existir ao mesmo tempo. Ok. Mas o problema não está aí. O que me apanhou desprevenida (a mim e à minha meninice)… mas completamente virada de costas a olhar para o ar, distraída e sem estar à espera, é o significado por detrás desta afirmação. Pressinto um momento tipo “confessionário”… agarrem-se. É como se me tivessem descoberto a careca. Foi a sensação que tive. Seguida de indignação, negação e depois, preocupação (necessária ou não). Como se tivessem visto algo em mim que estivesse guardado e sossegado. Quase que me senti espionada. Hmmm… Talvez eu, na minha avançada idade (!), esteja a perder qualidades. Talvez a manta esteja a encolher demasiado depressa. Ou talvez tenha sido eu que lhe cortei uns centímetros… porque me convinha, claro… Sabem uma coisa? Acho que gosto de saber que, quando estiver outra vez com aquela pessoa, ela vai ver coisas que eu não sabia poderem ser vistas. Estranha, perturbadora e nova sensação. No entanto, agradável. Muito agradável. Têm de experimentar. Depois digam qualquer coisa. Só para eu ter a certeza que a minha manta é boa.

1 comentário:

puku disse...

claro que és menina... e ai de ti que o deixes de ser...
quem te 'apanhou' esse ar de menina que parece que não é, mas é, tem toda a razão... és mesmo menina
e ainda bem, porque com o teu ar de menina, com essa cena de quereres parecer que não és mas és, vais mantendo a capacidade de deslumbrares, de te encantares... e como isso é pior que a peste, de tão contagiante que é, nós vamos 'atrás de ti', encantando-nos e deslumbrando-nos...
por isso... deixa lá cair a manta... assim como assim já é curta demais... e se tapas os pés, destapas a cabeça... se tapas a cabeça destapas os pés... esquece

Bjs