20.10.06

Há dias

Há dias em que mais valia uma pessoa não sair da cama, deixar-se ficar no quentinho das mantas, na escuridão do quarto, no sossego dos sonhos. Agarrar a almofada, sorrir à manhã e dizer algo como “ Bom dia. Obrigada, mas não obrigada”, virarmo-nos para o lado, aconchegar-nos ainda mais no meio dos lençóis quentinhos, suspirar ao de leve pela sensação de conforto e paz e mandar-mos tudo o resto à merda. À merda. Mesmo. Há dias em que parece que, qual Calimeros da existência humana, tudo conspira para nos deixar naquele ponto de rebuçado (ou ebolição) em que a mínima coisa nos faz implodir ou explodir (depende do à vontade que se tiver com as pessoas à nossa volta). Há dias que parecem encomendados, concebidos, criados de propósito, inventados, magicados. Só assim se explica dias assim. Há dias li que o destino é apenas o acaso com a mania da grandeza. Eh, pá. Oh, acaso, e se tu te fosses cagar? (o blog é meu, escrevo o que quiser!) Preferia acreditar que fosse o destino a fazer das suas. Assim, pelo menos, podia ter a esperança de haver algum sentido naquilo. Do género: sim, vai-te correr mal o dia; vais ter gente a chatear; vais ter coisas a correr mal; vais andar chateada, fula e rabugenta. Mas depois vai-te acontecer algo de fantástico! Vais ficar rica (ai o euromilhões hoje outra vez!), vais arranjar aquele emprego com que sempre sonhaste, vais ficar sem celulite, com a regueifa mais pequena e as mamas maiores (transferência directa). Coisas úteis e válidas assim. (e nem pensem em pensar coisas como Mamas maiores? Atão mas ela não andou a dizer mal dessas cenas e sei lá o quê? Atão mas ela não andou para aqui a mandar vir com estas coisas? Nem pensem que vou responder a esse tipo de provocação. Sou gaja, pá. É genético: querer ter o rabo mais pequeno e as mamas maiores. É obrigatório. As nossas mães até nos ensinam isso desde pequenas: quando fores grande, vais arranjar um marido médico, rico e lindo e vais querer o rabo mais pequeno e as mamas maiores. Não temos culpa). Mas voltando ao assunto, por que raio é que eu tenho de aturar pessoas a chatearem-me os cornos (sou ribatejana, posso dizer estas coisas) sem pelo menos ter alguma compensação em troca? Há dias assim. Todos temos dias assim. Há dias que apenas se pode esperar que acabem para, no dia seguinte, começarmos de novo e esperarmos que as pessoas e as coisas ruins do dia anterior não se lembrem mais de nós. Com a minha sorte, hão-de ter memória de elefante. Se o destino é o acaso com a mania da grandeza, o azar é o quê? A sorte mal disposta? É o acaso armado em parvo? Só porque pode? Ehh. Também deve ter dias.

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