12.10.06

Aos Meninos e ao Ping Pong

Ontem à noite aconteceu uma coisa gira. Estive com um grupo de amigos (só rapazes) meus. É um daqueles grupos de rapazes (homens, bolas. Já estamos a chegar àquela idade em que dizer “rapaz” nos faz torcer um cadito o nariz pela quase injustiça do termo) que já se conhecem há bastante tempo (não é preciso dizer mais nada, pois não?). Mas, ainda lá há aquela coisinha de menino, de rapazinho. Os risos, as piadas, os comportamentos, as ofensas que só os homens/rapazes sabem criar, dizer, ouvir e não ficar ofendidos. Acho sempre piada quando vivo situações destas (aliás, é para mim um privilégio). É que, sendo gaja (rapariga, mulher, menina – whatever!), há todo um mundo de coisas que simplesmente não posso (nem quero?) dizer/fazer/ser com outras gajas. Por exemplo: os meninos (ai!) estavam a jogar ping pong. Contentes e felizes. Riam-se. Suavam. Cansavam-se. Puros (quase…) Um deles disse qualquer coisa do género “isto só faz é bem. Chego a casa e digo logo à Maria, chega-te para lá que ‘tou cansado!”. Outro respondeu qualquer coisa como “Olha que chegares a casa cansado muitas vezes é logo desculpa para ela descobrir o perfume de outra mulher”. Todos se riram com aquele ar de compreensão, de entendimento, de experiência já vivida, como se as suas memórias os tivessem, naquele preciso momento, levado a outro tempo em que chegar a casa cansados por terem estado a “brincar com os amigos” tenha sido visto como desculpa para a existência de outra fulana (sim, as outras são sempre fulanas ou fulaninhas – nunca mulheres). Somos assim? Somos mesmo assim? Tão inseguras que não conseguimos lidar com o facto de os homens precisarem destes momentos para poderem viver todos os outros em pleno? Será que nós não precisamos destes momentos também? Digam lá se conhecem um único grupo de mulheres que se junte e que 2 minutos mais tarde não esteja a falar (fazer queixas) dos seus respectivos namorados/maridos (raramente homem, rapaz ou menino)? Desculpem-me lá o tom disto, mas as mulheres são más. Esquecemo-nos que o homem com quem estamos continua a ser um menino por dentro. Passamos tanto tempo a negar que somos meninas, a negar que temos prazeres simples (como jogar ping pong às 11 da noite ou equivalente). Para quê? Tanta pressa, pá! Tanto desespero! Para quê? Garanto que assim que tentamos moldar os nossos meninos (por quem nos apaixonamos, por quem cometemos loucuras, que amamos com cada bocadinho do nosso corpo até doer) em homens à nossa imagem - claro - segundo as nossas necessidades de quase ou falsa Mulher, é nesse momento que os perdemos para sempre. A eles e a nós. Depois, ainda temos o desplante de um dia olhar para o nosso renovado espécimen masculino e dizer “já não o conheço. Mudou tanto!”. Apesar dos apesares, independentemente de tudo quanto as Mulheres tenham, não tenham, queiram, não queiram, façam, não façam, andamos tão preocupadas em ser Mulheres, em provar aos homens que temos orgulho em ser Mulheres, em ter a porra de um par de mamas (nem vou falar no “penis envy” se não ainda alguma feminista me deita isto abaixo!), em provar que cada vez menos precisamos deles, que qualquer dia os gajos ainda se revoltam e ainda nos encostam à parede. E aí, sim, voltamos a ser as meninas de outros tempos, cheias de medo de ficarmos sozinhas, sem ninguém que nos compreenda e aceite por aquilo que somos. Gosto dos homens, dos amigos que tenho, dos amigos que vou tendo, porque sei que preciso deles para me ajudarem a ser menina, a ser gaja, a ser Mulher. Aos meninos de ontem: continuem com o ping pong, a chegar a casa cansados, suados e a más horas. E se alguém disser alguma coisa, digam que estiveram na rua a brincar com os outros meninos e que estão cansados. Mais nada.

2 comentários:

Anónimo disse...

obrigado…
porque ao ouvir o que sentes, me lembrei do jaime, com o qual troquei juras de amizade eterna e aventuras mil… piratas num sonho só nosso, desenhado nas carteiras de escola e nos intervalos para almoço

porque inspirando as palavras que desenhaste, senti o cheiro das mãos suadas que me felicitavam pelo golo marcado, dos abraços fortes pelos amores perdidos, do desejo de ser feliz

porque viajei na ‘tua’ bola de ping pong e vi todos as castelos que conquistei, todos os vilões que derrotei, todas as princesas que libertei… vi o meu irmão a fazer buracos na terra, o Nuno a jogar à bola, o Paulo apaixonado pela Xana… vi o meu primeiro beijo, a Teresa Coelho, o Jorge Carvalho, a Sara Duarte, a Ana Maria… a boneca de arame e serapilheira que estava no 2º piso do colégio… vi a minha avô a contar-me histórias, o meu tio a ralhar-me, a minha mãe a mimar-me… vi o meu pai chorar, o meu irmão a rir… vi como sonhei em ser policia, piloto, palhaço… vi-me revoltado, irado, magoado, desiludido, amado, julgado

porque já não me recordava de ter sido menino, de ter tido sonhos, de ter tido a capacidade de fazer de um lápis um avião, de uma borracha um Ferrari, de uma pedra o Monte Branco… de olhar para o céu e querer contar as estrelas, de querer morar na Lua, de querer abraçar o mar… já não me recordava que apenas chorava quando me doía o corpo
obrigado...
porque hoje ao deitar-me, quando a fada dos sonhos me perguntar o que desejo, vou dizer-lhe que quero o meu mundo coberto com bolas de ping pong cor de felicidade, sorrisos com sabor a amizade e olhares com cheiro a algodão doce…
e quando amanhã acordar com um sorriso do tamanho do mundo e me perguntarem o que se passa, digo que estive ali, num sonho, de mãos dadas com uns meninos e meninas, a saltar à corda e a cantar canções de aprender a ser feliz
…obrigado

bj

Me disse...

Não consigo dizer nada.
obrigada, eu. obrigada.