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Testemunho da Ana O meu nome é Ana e tenho hoje 43 anos de idade. Tenho um marido que amo e duas filhas lindas que justificam a minha existência. Trabalho muito para que não falte nada em casa e talvez por isso tenha abdicado um pouco da minha vida pessoal. Mas hoje, hoje lamentei o facto de me ter afastado dos amigos da minha adolescência, daqueles que fizeram de mim a pessoa que sou hoje, daqueles que partilharam comigo as aventuras e as angústias da idade em que nos formamos enquanto pessoas. Estava a arrumar o meu porta-moedas, sempre cheio de papéis e papelinhos, recados, recibos, documentos, cartões, vales de desconto, calendários e mais uma papelada inútil que vamos armazenando todos os dias. No meio de tudo aquilo, encontro uma folha A5 bem dobradinha em 4 que guardo desde os meus tempos de Liceu. Foi na aula de português que a professora nos pediu um dia que colocássemos umas folhas em branco nas costas e que escrevêssemos nas folhas dos nossos colegas as coisas bonitas que pensávamos acerca deles mas que nunca lhe tínhamos dito. No fim, lemos em voz alta aquilo que estava registado na nossa folha pessoal e lembro-me de como todos nos sentimos tão bem ao percebermos que éramos de facto pessoas muito queridas pelos nossos colegas. A professora convidou-nos a guardar aquela folha e a trazê-la sempre connosco e foi o que fiz. Toda a vida nunca deixei que este papel deixasse de me acompanhar, mas raramente, muito raramente, volto a pegar nele e a lê-lo. Sempre que arrumo a carteira volto a reparar que ele está lá. Basta-me abri-lo a meio para saber o que é e volto a dobrá-lo e a deixá-lo no mesmo lugar. Mas hoje resolvi abri-lo por completo e ler o que dizia e tive tantas saudades… saudades daquele tempo em que tudo era vivido a sério, em que estávamos sempre ou muito tristes ou muito felizes, em que não havia cinzentos, daquele tempo em que tudo se partilhava com os amigos: o meu primeiro beijo, uma discussão lá em casa, as saídas à noite, sonhos, projectos, desejos… Que saudades! E que bom é voltar a ler as coisas maravilhosas que aquela gente tinha para me dizer, os Obrigados por todos os dias mudarmos a vida uns dos outros para melhor, os elogios, as declarações de amizade, todos aqueles “Gosto muito de ti!” de que hoje sinto tanta falta. No meio de todos aqueles pequenos recados, houve um que me emocionou particularmente. Chamava-se Pedro e éramos realmente amigos. Tive tantas saudades que ganhei coragem, telefonei à minha mãe e perguntei-lhe se ela sabia alguma coisa do filho da Graça que morava lá na rua e que tinha sido meu colega de escola… e foi quando soube que já não ia a tempo de lhe dizer Obrigada pelo amigo excepcional que tinha sido, a tempo de lhe retribuir aquele “Gosto muito de ti!”.
8 comentários:
Hoje quase ninguém é capaz de parar nem que seja por apenas dois segundos para dizer "Gosto muito de ti"
Gosto muito de ti, Finúrias.
Lizard King, Gosto muito de ti, miuda.
Simples.
:)
Não "paramos" porque nos consideramos "imortais".
Pois, é. Tens razão.
O pior é que nem mesmo quando percebemos que não somos o fazemos... parece que paga imposto.
tótótice.
Prenunciando-me acerca deste escrito, digo-vos que é real, que aconteceu não há muito tempo e que ainda hoje deixa marca...também digo que a "Ana" nunca mais se esqueceu de dizer àqueles que ama...que os ama.
Segui o seu conselho, com tanta coisa a chatear-me a cabeça não preciso de culpabilizações por algo que posso resolver com três palavras: Gosto de ti.
Na sociedade Ocidental cairam em desuso as expressões verbais de sentimentos de afecto, ganhando em intensidade e vulgaridade as depreciativas e a presunção que vimos equipados com telepatia: não preciso de dizer porque ele/a sabe...pois não sabe...o que sabe mesmo bem é ouvir um sincero Gsoto de ti ;)
Também gosto de ti, Me ;)
:)
Linda!
Fosgace... oh aí as lágrimas, vá... bolas.
:)
beijos para ti
Talvez um pequeno nó...
PKB,
Menos mau... traduz lá o pequeno nó em lágrimas e vota!!!!
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