E como o prometido é devido (leiam os comentários, sff…), eis que surge nova oportunidade para dissertar sobre este assunto tão provocador de schlicks e afins.
O amor.
Como sabem, eu amo o amor. Amo amar o amor. Amo o facto de amar amar o amor. Amo o amor e todos os seus derivados. Amo!
Amo a ideia de pessoas perfeitamente racionais de repente se transformarem em glândulas salivares andantes! Amo a ideia de se conseguir, de um minuto para o outro, deixar de se ter noção de que existe todo um mundo para além do umbigo da pessoa amada! Até o nosso umbigo passa rapidamente para segundo (último) plano! É um turbilhão de sentimentos e emoções e vontades e queres! O desespero! A angústia! O morrer aos bocadinhos! O sentir que não existe chão, apenas céu! E passarinhos! E sol! E corações vermelhos esvoaçantes! E pombas brancas! E sorrisinhos! E beijinhos! E pores-do-sol magníficos! E nasceres do sol ainda melhores! As estrelas que brilham no céu! O coração que palpita no peito! O estômago que se enrola! Os olhos que cegam! As mãos que suplicam! A lua que brilha! Os bilhetinhos deixados em todos os recantos dos cadernos! Os poemas que flúem! O nervosismo que se disfarça por se ter medo de ficar com alguma coisa nos dentes depois de ir ao McDonald’s! Os presentes que tanto trabalho dão a escolher! Os beijos looooongos que fazem esquecer que estão à porta do prédio com as vizinhas todas a ver o marmanjo a meter a mão por dentro da camisola! Mas ele é um querido! Os atrapalhanços provocados por soutiens ultra sexy e difíceis como caraças de tirar! A curiosidade em ver se afinal aquele enchumaço é mesmo dele ou apenas devido ao facto de meter a camisa para dentro das calças! Ai o amor. É lindo, não é?
E depois crescemos.
Ai, ai, ai o amor.
E complicamos.
E de repente aqueles olhos lindos já não chegam para nos fazer esquecer o facto de o termos visto abraçado a uma “amiga” lá na parte de trás da escola no intervalo para o almoço…
Um “amo-te” deixa de ter o significado que tinha.
Os poemas de morrer de amor passam a ser enjoativos.
As canções passam a ser só canções.
Os presentes passam a ser mais caros, mas não tão pessoais.
Os beijos passam a ser “preliminares”.
Os bilhetinhos passam a conter palavras como “bifes”, “cenouras” e “apanhar a roupa”.
A depilação deixa de ser acto essencial à sobrevivência da auto-estima, ego e bem-estar (especialmente o dele).
A resposta à pergunta “mas tu estás-te a passar?!” passa a ser “sim!”.
A resposta à pergunta “’tás chateada?” passa a ser “Sim, meu asno, porque tu Blah! Blah! Yap! Yap! Yap! Bek! Bek!”
Passamos a poder falar mal dos sogros de parte a parte com mais razão.
Podemos reclamar de uma má queca e esperar segunda volta.
Basicamente é isso.
Mas ganhamos uma coisa que dantes nem sequer sabíamos poder existir. A inexplicável vontade de ficar bem velhinha ao lado daquele marmanjo que até pode já não nos enfiar as mãos pela camisola acima, mas que nos abraça depois de um mau dia e nos empresta 50 euros para gasolina quando não sabemos da carteira, que sabe exactamente em que posição gostamos de adormecer e que nunca nos ofereceu flores por ter percebido, à primeira vista, que não éramos esse tipo de mulher.
O amor é lindo. Realmente e de facto. E tão fácil de traduzir. Das palavras passa-se para os actos. E esses, ainda que não possam ser dobrados ao meio e guardados num diário já cheio de tantas outras palavrinhas bem escolhidas, são os que nos marcam e ficam na memória, no coração.
Palavras? Para quê?
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