Quando era pequena, aí com uns 4 anos, comecei a chuchar no dedo. Lembro-me do exacto momento em que o comecei a fazer. A minha mãe tinha acabado de me tirar a minha chucha para dar à minha irmã (na altura com um aninho e pouco). Eu não gostei. Nessa noite, decidi que os fiéis substitutos seriam os meus polegares. E foram. Durante aí uns 9 anos, eu chuchava no dedo para adormecer. Era o meu sonífero.
Depois de anos a ser gozada pela minha família, lá decidi que tinha de acabar com aquilo. Tinha aí uns 13 anos. Tentei tudo, mas não conseguia. Era um vício. Passei noites e noites a dormir mal, a combater a vontade de voltar ao mesmo e a ceder quando de tão cansada já não conseguia dormir. Depois, iluminada por uma ideia fantástica, comecei a usar meias nas mãos. Acordava a meio da noite a brigar com as meias. Acordava devido ao esforço que fazia para as tirar! Aumentei o grau de dificuldade… comecei a colocar elásticos nos pulsos, tornando quase impossível uma briga inconsciente em que a minha vontade ganhasse. Passei ainda mais noites mal dormidas, a acordar por me estar a esmurrar… a tentar meter o dedo na boca… Foram precisos uns bons meses até conseguir dormir como deve ser. Até conseguir adormecer sem problemas e até conseguir não ter vontade de voltar ao mesmo. Ainda recordo a sensação de conforto que associava àquele acto e às vezes tenho saudades. Não do acto, mas da capacidade de ser tão facilmente reconfortada. Lembro-me de ainda ter tentado, muito tempo depois, reproduzir o acto, mas não era a mesma coisa. Já não me sabia bem… já não tinha o mesmo gosto. Já não valia a pena ir por ali. Vício morto. Estava curada.
Recentemente tive de dizer adeus a uma parte muito importante da minha vida. Nada que tivesse qualificado como sendo um vício, mas algo que eu já tinha na minha vida há algum tempo e que agora decidi não mais ter. Se quiserem, estou naquela fase de meter meias nas mãos e elásticos nos punhos.
Argumentei e negociei comigo mesma. Cheguei a um montão de conclusões. Vacilei, mudei de ideias, vacilei mais, mudei de ideias ainda mais vezes e finalmente tomei uma decisão que, venha o que vier e der por onde der, só pode resultar na minha libertação definitiva do tal “vício”.
Um pouco melodramático, huh? Pois… mas de que outra forma podemos nós dizer adeus a uma parte da nossa vida, a uma parte de nós, se não for assim? Se não for a toque de técnicas e ferramentas que literalmente nos impedem de continuar? Se não, nunca chega a ser um adeus, mas sim uma espécie de até logo…
Acho que há por aí muita gente incapaz de dizer adeus ao que realmente precisa dizer adeus. Passam a vida numa espécie de “até logo”, deixando sempre uma porta entreaberta para o que for preciso. São os mal resolvidos e resolvidas da vida. Uma porta entreaberta deixa entrar frio. Faz corrente de ar. Deixa entrar ladrões, pó, bichos, lixo. E raramente se abre para o que esperávamos. Portas entreabertas não me servem. Estou farta de as ir espreitar. Nunca serviram. Nunca.
Que se fechem as portas mal fechadas. Que se acabe com a corrente de ar. Que possa eu finalmente passar os meus dias descansada sem as ir espreitar de 5 em 5 minutos.
Por causa de ter chuchado no dedo (e também por ter dado uma queda quando tinha nove anos e de ter literalmente partido a fronha toda…), tive de usar aparelho nos dentes durante uma data de anos. Tive de arrancar dentes e tudo, como se não tivesse bastado os que parti… Havia sempre qualquer coisa que me doía ou estava prestes a doer ou tinha acabado de doer.
Não quero usar aparelhos nunca mais na vida. Nunca mais. Não quero estar prestes a doer, ter acabado de doer ou estar a doer ainda.
Calcem-se as meias, apertem-se os elásticos, fechem-se as portas, tranquem-se as janelas.
É a minha forma de dizer adeus a um pedacinho de mim que não mais consigo, posso ou quero possuir. Nem sei mais como o fazer sequer.
Vou dormir. Até logo para vocês.
17 comentários:
Se devidamente requisitado, também damos choques eléctricos.
Funcionam????
(afinal não fui dormir... ainda é cedo e não me apetece...)
Claro que sim. Podem não resolver o resto mas passas a ficar concentrada no membro que fica dormente.
Oh merda... dormente não, né???
Espevitar, não? Os choques não servem para isso? Ou os teus são do contra???
Ferro em brasa? Pode ser?
ai a porra... deixa marca... nopes.
tou a ver sleepless in seattle... (canal hollywood) e a pensar que tou sleepless in samora... tu não estás a ajudar... ferros em brasa?! caredo. nopes.
Vá. Sleep well in Samora.
Me, aperta bem bem bem esses elasticos, protege bem as mãozinhas, pois ao contrario de outros tempos em que tinhas o privilégio de lutares sozinha com os teus vicios, é bem possivel que agora (tudo a ajudar)tambem te queiram arrancar as luvas e lá ficam os dedos tão apeteciveis e a sensação de conforto, tudo isso ali á nossa disposição e depois é facil ceder ... só mais uma vez não vai fazer mal... pois...
Piston,
I did. Tankiu :)
Eduarda,
Pois... Sei exactamente o que estás a dizer. Mas, e não querendo estar a parecer mais forte do que sou, ceder não é opção. É-me muito mais fácil dizer Não. Custa muito menos. E quando se chega a este ponto, é muito mais fácil manter a decisão que tanto custou a tomar. Não tenho hipótese.
Segredo: uma vez, há muitos anos, e agora lembrei-me disto não sei bem porquê, conheci um rapaz que aí umas três horas depois de me ter conhecido me agarrou, encostou a uma parede, e disse "O que tem de ser tem muita força" e pimba. Nem tive tempo de perceber o que estava a acontecer... :)
E eu estou na mesma: O que tem de ser tem muita força... E eu tenho (percebi foi tarde...).
:)
Beijos para ti Eduarda e tankiu mesmo pelas palavras. Beijos
Assim que li o título do post e vi a imagem exclamei para mim mesmo (eu à terça feira gosto de exclamar para mim mesmo, já à quarta feira gosto de ironizar e à quinta feira como já não me consigo aturar, calo-me) mas ia eu dizendo; exclamei: "Eh lá tu queres ver que temos aqui um post cheio de força, em que a minha carissima ME vai chamar os bois pelos nomes?", depois li o post e cheguei à conclusão que não tens os dentes todos, que usaste aparelho em menina e moça, ou seja há muitos, muitos anos atrás e que pronto... hoje é dia 9 de Dezembro!
Foi bom!
V,
Lolol!!
Os bois podem esperar... estão-se a vestir. Eles e os nomes que lhes vou chamar. Estou-te a dever, afinal, resposta decente ao teu post mais recente...
Mas vá lá... deixa-me lá divagar um cadito às segundas... é o meu dia para divagações e para abrir o coração... Mas acho que vai deixar de ser... dasse.
E já agora, dito assim "não tens os dentes todos"... porra. quem não me conhecer agora é que vai ficar com uma bela imagem. Ehhh.
(foram os do ciso!!! foram os do ciso!!!!!!!)
Me,
É muito difícil deixar os vícios que aparentemente nos confortam.
Nunca chuchei no dedo, mas devo ter tido outras manias de que me fui livrando ao longo dos tempos. Mas depois crio outras e assim sucessivamente.
Espero que consigas ver-te livre desse teu vício sem teres de apertar muito os elásticos...
Um beijinho grande!
Passaroca,
Não é bem um vício... Mas acredito que custe tanto como se fosse...
Beijos recebidos
:)
Bem, tiro o chapéu à tua força de vontade... Meias e elásticos? Xi, credo...
Mas concordo quando dizes que há portas que quando têm de ser fechadas, é para ser fechadas de vez. Mesmo que demore, mesmo que se tenha de andar por portas e travessas, chega o dia em que fecha mesmo e aconteça o que acontecer não há volta atrás. Por muito que... tenha doído!
Meias e elásticos... hmm... tenho de pensar melhor sobre isso! :)
E sendo hoje um dia tão especial... Felicidades!
Como te compreendo, Me... As correntes dar causam muitos problemas. Fechar portas e janelas é realmente o melhor.
Beijinho!
Errata: dar = de ar (ai...)
Ostra Yan-San,
Acredita que quando tinha 13 anos tinha mais força de vontade do que agora... Hoje em dia, tenho de me entalar uma data de vezes na porta até ganhar a coragem necessária para a fechar ou abrir de vez... Mas pronto.
Meias e elásticos... funciona :)
Passaroca,
Podes crer. O que tem de ser...
beijos Aninhas
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