3.3.08

Agarra que é ladrão!

imagem: google
Considero-me uma pessoa minimamente tolerante. “Ladro” muito mais do que “mordo”. Reclamo quando sei que tenho razão e que essa reclamação poderá trazer algum bem a alguém… aliás, se souber que poderá trazer algum mal a alguém, às vezes também reclamo… De qualquer das formas, onde vivo, existem bastantes lojas chinesas. O que existe mais, no entanto, são os armazéns chineses que servem de entreposto para muitas mais lojas a nível nacional (e não só). Pelo que tenho convivido com eles, são pessoas pacatas, falam um cadito alto, metem nomes portugueses aos filhos e fartam-se de trabalhar (lojas abertas 7 dias por semana, com horários de 12 horas… coisa que as nossas não podem ter, mas enfim). Também dá para ver que o trabalho compensa: Audis, Mercedes, BMWs, Volvos… Apartamentos pagos a pronto… jantaradas e almoçaradas nos melhores restaurantes… etc, etc, etc. Por mim, e muito sinceramente, tudo muito bem. Quem o tem, só tem é que o gastar conforme quer e bem lhe apetece. O problema não está aqui. Está no porquê de eles poderem fazer estas vidas. Ontem, fomos almoçar fora. Fomos a uma marisqueira lá da zona, baratinha para quem come bifes, minimamente acessível para o pessoal da lagosta, sapateira, etc. Tudo muito bem. Ontem, estando o local cheio de pessoal a comer os seus bifinhos, o seu cozido bravo e o ocasional prato de camarões cozidos ou sapateira para 6, entra um grupo de homens, de etnia asiática. Eram aí uns 5. Sentaram-se e pediram. 15 minutos depois, chegam dois empregados de mesa com a maior travessa que alguma vez vi na vida com lagosta, sapateira, camarões tigre, lagostins e outros bicharocos do género. Enterraram as caras nos pratos, arregaçaram as mangas e empreenderam a difícil tarefa de partir pernas, sugar carne e espalhar manteiga no pão torrado. Olhei para o meu singelo prato de bifinhos de peru com molho de natas e mostarda. Lembrei-me de as horas que tenho trabalhado nas últimas semanas. Lembrei-me de todos os fins-de-semana que tenho trabalhado em casa. Lembrei-me de pagamentos de IVA, pagamentos à Segurança Social, telefonemas a devedores, empréstimos ao banco, contagem de tostões, gasolina metida às pechinchas, revisões não feitas por falta de dinheiro, casas não compradas por falta de dinheiro e sapateiras não comidas também por falta de dinheiro. O meu ordenado, na grande escala das coisas, não é mau. Podia ser melhor… claro. Pode sempre ser melhor. Olhei para mim, cidadã deste país, contribuinte assídua. Olhei para mim e para quem estava comigo. Olhei para o resto da sala. De vez em quando lá apanhava alguém a olhar para a mesa dos senhores com um olhar de puro repúdio. Compreendia perfeitamente. O que eu não compreendo é que existam leis para a fixação de “empresas” estrangeiras neste país que cospem tantas regalias e descontos e subsídios disto e daquilo que permite a esses mesmos estrangeiros chegar cá, fazer vida de lorde e, ainda por cima, rir-se na cara de quem saboreia um pratinho de camarões do rio uma vez por mês porque não há “tempo” para mais. É que esse camarão é pago com o que sobra de um (ou mais) ordenados após serem pagos os impostos e é quando sobra. A tal travessa monstruosa foi paga com dinheiro de impostos não pagos porque os Srs. Mr. Bestas do Governo acham que assim é que ajudam a economia a andar para a frente. Até certo ponto, é verdade. Os restaurantes, concessionários e imobiliárias agradecem. A restante população… essa, essa não agradece nada porque sabe que se apanhar uma caganeira por ter comido um camarão estragado, bem que pode morrer antes de ser atendida num centro de saúde. Mas, mesmo assim, se for preciso ir comprar um penico para ter ao lado da cama durante a noite, lá vão a correr para os Chineses porque lá é mais barato. Que comprem. Depois não podem é ficar a salivar quando eles enterram os dentes em sapateiras de 2 kgs enquanto o resto do pessoal anda a molhar o pão no molho do bifinho. Não vou aos chineses. Não gosto, não vou. Não lhes vou dar o meu dinheiro, por muito pouco que seja, para depois saber que isso os vai possibilitar comprar um BMW a pronto. Não sou xenófoba, nem quero que ninguém seja prejudicado em relação a nada, muito menos por não ter “Portuguesa” escrita na nacionalidade do BI. Mas porra, pá. Há limites ao razoável. E nós, de tanta mania que temos de ser hospitaleiros, perdemos totalmente o fio à meada e agora até nos escancaramos, pernocas abertas e cus espetadas à espera que alguém goste do engodo. Ganhemos alguma hombridade e sentido de justiça. Por muito “má” que a vida esteja e seja, não nos enterremos mais. Uma vez ouvi um imigrante francês dizer o seguinte: Os portugueses são como as galinhas. Mesmo vivendo no meio da merda e estarem cobertos dela, ainda se riem. Não me estou a rir. Venha o tão desejado banho. E comecemos por quem pior cheira - os que nos roubam e ainda por cima dizem que é para nosso bem. Farta de ser assim tão bem tratada. Fartinha.

4 comentários:

Anónimo disse...

Concordo a 100%, enquanto nós nos fartamos de trabalhar 8 ou mais horas por dia e com todas as dificuldades que isso acarreta, muitos de nós nunca conseguirão comprar bm's, audis e afins a pronto pagamento.
É o nosso país...

Me disse...

Sr. Anónimo,
Pois é. É o país que temos. E eu já nem falo dos carros... É mais é a qualidade de vida que outras pessoas conseguem e nós não. Dou mais valor a passar um tarde a encher-me de marisco com um grupo de amigos do que ir ao modelo às compras de Audi... Por enquanto, só mesmo a parte das compras é realidade... de resto, nem o "prazer" de uma intoxicação alimentar por excesso de marisco posso ou podemos (muitos - demasiados - de nós) ter!
;)

Anónimo disse...

Porra! Ainda bem que não tenho nem BMW, Audi, Mercedes ou Ferrari... a vida desses gajos anda muito complicada.

Me disse...

Anda, anda. Depende dos gajos e do ano dos carros....
;)