29.1.07

Não me apetece.

foto: www.olhares.com
‘Tão a ver aquelas alturas em que não nos apetece? Não nos apetece. Simplesmente. Nada em especial. Nada em particular. Apenas não nos apetece. Mas, ao mesmo tempo, apetece-nos algo. Qualquer coisa. Nada em especial. Nada em particular. Apenas nos apetece. (Não nos apetece fazer cara boa. Mas também não queremos fazer cara má porque não é caso para tanto. Não nos apetece falar porque não há nada para dizer. Não nos apetece sermos fortes e valentes. Mas também não nos apetece ser pequenos e fraquinhos porque não é caso para tanto. Não nos apetece estar onde estamos. Alturas em que nos apetece que os outros nos adivinhem os pensamentos só para não nos termos de dar ao trabalho de os explicar. Alturas em que não queremos que ninguém nos diga nada.) Há alturas em que nada faz sentido, mas só assim faz sentido. Há alturas em que nada tem explicação, mas a explicação é essa mesmo. Há alturas em que as perguntas se respondem a elas próprias. Há alturas em que todas as perguntas, bem juntinhas e apertadinhas e esmagadas e sugadas não dariam uma resposta digna de o ser. ‘Tão a ver aquelas alturas em que não nos apetece? Não me apetece. Amanhã, talvez. Hoje, não.

2 comentários:

puku disse...

"Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua)

No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."

- Cecília Meireles -

Me disse...

pois... mais ou menos. mais ou menos isso.
Obrigada.
:)