8.11.06
Deixem-se disso.
Para quem tem medo de dar aquele último passo, de esticar o pescoço, de estender a mão e tocar, de respirar fundo e sentir, de olhar para trás, de olhar para a frente, de abrir os olhos e ver, de se atirar ao ar, de cair sem tocar no chão, de caminhar sem rede, de ouvir o que não se quer, de ouvir o que se quer, de dizer o que se quer, de sentir o que se tem para sentir, de não sentir o que não é para ser sentido, de provar e não gostar, de ir e não gostar, de voltar e não gostar, de nunca ter ido e não gostar, de gostar de gostar, de gostar de não gostar, de querer, de não querer, de detestar, de ser indiferente, de fazer mal, de fazer bem, de fazer, de ser, deixem-se disso.
Espremido, não vale nada.
Deixem-se disso.
Sejam maiores do que isso.
Vão até ao fim.
Nem que seja para ver onde fica.
Nunca se sabe, a vista até pode ser linda.
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1 comentário:
esclarecedor carissima artista... esclarecedor
apesar de não concordar com a tua opinião de que, no fim, tudo espremido não vale nada (tudo vale sempre qualquer coisa), concordo com o facto de que devemos ser maiores... muito grandes... enormes...
o segredo está em saber gerir tudo isso... conjugar verbos com sentimentos, sentires com quereres
estás no bom caminho ;)
quando li o teu 'deixem-se disso' lembrei-me de um poema de que gosto muito
fala, também, de sentires, de sonhos, de quereres, de (des)encantos, de certezas
"Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue."
- António Gedeão -
é... deixemo-nos disso...
Bjs
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