10.6.10

Tenho.

imagem: google

Fui passear à beira mar.

Poucos minutos depois de ter começado a andar, e tendo em conta o vento que se fazia sentir, pensei: Porra, devia ter posto creme protector. Vou ficar com a cara toda seca.

Sorri.

E pus-me a pensar.

O Tempo pouco ou nada esperou por mim. Apressou-se em tudo e agora, com esta suposta bela idade, preocupo-me com a pele seca e a falta que um bom creme me faz para tentar disfarçar a impaciência que o gajo teve durante sei lá quanto tempo.

Ironias. Gracejos. Brincadeiras de mau gosto daquele que se diz não se conseguir parar ou abrandar. Pelos vistos, o Tempo consegue apressar-se, acelerar e desatar numa correria desenfreada em direcção a um qualquer futuro que, quando chega, nos bate em cheio na cara, provocando rugas e flacidezes várias.

Cabrão.

O tempo apressou-se a conseguir para mim, demasiado cedo, tudo o que queria e achava que queria. Agora que sei bem melhor o que preciso, o parvo diz-me para ter calma, que o que é nosso, a nós virá, que ele tudo cura e que não me vale de nada tentar fazê-lo voltar para trás, ou para a frente, ou para os lados sequer porque é ele quem manda e pronto, mais nada.

Há uma espécie de justiça poética no meio disto tudo, por muito cruel que seja.

Quando queremos, não olhamos a meios, não olhamos a nada para conseguir. Mas quando precisamos, temos de pensar se podemos, se realmente devemos, se é realmente uma necessidade daquelas bem necessitadas ou não. E aí, demoramos o nosso tempo, passamos o tempo a pensar na coisa até sentirmos que tenha chegado o dia em que nos podemos levantar e reclamar para nós o que a nós pertence por necessidade, por precisar e não mais por querer. Um querer não se justifica. Um precisar? Justifica-se, explica-se e penitencia-se.

É como se o Tempo, qual Mãe a avisar o filho que ele vai cair dali se não tiver cuidado, nos quisesse ensinar e fazer ver o que realmente somos em cada momento que passa, em cada acto que cometemos, em cada decisão que tomamos. A justiça está em tudo nos ser devolvido, nem que seja com a escolha de um caminho diferente perante cenários repetidos ou parecidos com os anteriores. É justo que assim seja. Que baixemos a cabeça em vergonha, que erguemos os olhos ao céu incrédulos, que nos encolhamos de medo, que nos riamos de felicidade.

Acho que o Tempo teve pouca paciência comigo. Consigo identificar uma boa mão cheia de rugas, por muito pequenas que sejam, que chegaram até mim antes do tempo. Antes de as querer. Antes de poder precisar delas. Antes de as conseguir justificar e explicar.

A paciência, agora, será minha. Tenho paciência e precisar que cheguem para esperar que o Tempo venha e vá, que chegue até mim em brisas suaves ou em uivos latejantes. Ele não esperou por mim, mas eu espero por ele. Sem problemas e com boião de creme hidratante em mãos para o poder acolher de sorriso bem aberto, daqueles que mostram cada ruga e cada marca das suas anteriores passagens por mim.

Eu espero. Tenho tempo.

17 comentários:

O Tarado disse...

Eu confesso... não me chateio nada com as rugas das mulheres. Há homens que sim... mas eu gosto de vss mesmo com rugas.

O tempo tem destes coisas. E para mim uma mulher é sempre linda, com ou sem rugas.

Pexinho disse...

O medo do avançar da idade, o pensamento de que o tempo passou e muita coisa ficou por fazer. Enfim… só merda.

O que devemos fazer é pensar no que fazer com o tempo que nos resta, e pensar que as rugas são a beleza da idade e de “maturidade” de alguns seres humanos.

Eu cá não desgosto de mulheres mais velhas… antes pelo contrario.

Me disse...

Não tenho medo nenhum de avançar na idade. Penso que isso tenha ficado bem patente... ou talvez não, pronto.

Não falo da idade... falo da pressa que todos temos em ter e ser numa altura (ou idade, vá) em que não fazemos a mais pálida ideia do que realmente precisamos. Mais tarde, umas rugas depois, se quiserem, percebemos essa diferença e as coisas mudam.
Só isso.

Não me preocupo com as rugas, nem com cabelos brancos... Nada disso.
Essas marcas do tempo (visíveis) não atrapalham em nada o resto.

Tenham lá calma que isto não é manifesto de crise de meia idade, pazinhos.
Oui? Oui.

CC disse...

Sabes porque gosto tanto de ler o que escreves?? Porque, tal como 1 dia te disse, me revejo em muito do que escreves!

O Tempo, esse bandido que é tão lento quando esperamos ansiosamente por uma coisa e tão rápido quando queremos prolongar esses momentos.

Depois, damos por nós carregadas com as suas marcas... Mas, faz como eu! Adoro cada ruga da minha cara. São marcas de muitos sorrisos, de muitas preocupações ultrapassadas e, como não poderia deixar de ser, de muitas horas de papo para o ar na praia a desfrutar do sol. Com ou sem boião de creme hidratante. Pelo menos na mão...

NG disse...

Bem realmente não tás bem, tu preocupada com as rugas, foda-se desculpa que te diga, mas tás uma beca fodida dessa cabeçinha lol!
E que tal se pensasses antes em viver a vida o mais descontraída possível!? Ah Ah Ah?
Só tens vantagens nisso, primeiro não ganhas tantas rugas com a descontracção, segundo não gastas dinheiro em cremes de merda que dizem fazem, mas na fazem lol e terceiro andas mt mais feliz, sempre a sorrir, o que também ajuda a esticar la piel e evita las rugas lol!

Quanto ao tempo sabes nada há a fazer, ele passa e nós nem controlamos a sua velocidade nem as suas marcas!

Além de que, na minha opinião, as marcas também revelam um sinal de maturidade, experiência e vivacitez!

Caga no tempo, já que tens tanto, aproveita-o e vive-o, sempre da melhor maneira como se ele fosse acabar...lol!

Ps: As rugas a ti se é que tens algumas, como dizes, olha que na se notam nada, cá pra mim deves ter é o espelho rachado e pensas que são rugas hihihihi!

Me disse...

Oláaaaa :)
Não me preocupo com asa rugas... nem nada que se pareça! São sinais de que andei por cá.
Falei mais foi do que tanto batalhamos pelo que queremos... e depois, mais tarde, chegamos a uma altura em que passamos a precisar, esquecendo os "quereres", por assim dizer. O tempo, para os quereres, apressa-se... Para os precisares, demora-se. E é óbvio que este tipo de coisa, a acontecer, só vem com a idade. Só vem depois de andarmos cá uns anitos para podermos chegar ao tal ponto em que temos cuidado com o que queremos exactamente porque pode não ser o que precisamos.
Chamemos-lhe "crescer"... Whatever.

Obrigada, CC, pelo comentário.
:)

Me disse...

Oh, NG, e quem disse que não vivo a vida de forma descontraída? Preocupo-me com aquilo com que acho que me devo preocupar... e mesmo assim, nem todos os dias me lembro de cumprir com as minhas preocupações...

E não, e aqui desculpas-me (ou não, mas não vou viver o tempo como se o mesmo fosse acabar hoje ou amanhã. Não consigo fazer isso. Porquê? Porque gosto de pensar que estarei por cá mais uns anitos e que o que faço hoje há-de contribuir para isso da melhor forma possível.
O texto fala sobre a paciência e calma que se ganha a partir de uma certa altura. Fala exactamente sobre o saber-se esperar pelo que é "nosso".
E não, não ando nem fodida desta cabeça nem com espelhos rachados. Ando até muito calminha... mal olho para os espelhos... :)

'Tá tudo ok, Mary. Juro-te.
Vai apanhar chuva, vai
:P

NG disse...

Lol uma coisa tens razão e concordo plenamente contigo, a idade uma das coisas que traz é a paciência, sem dúvida, mas eu continuo a achar que se vivermos algumas coisas como se o tempo fosse acabar, não nos faz mal nenhum, apenas nos dá mais entusiasmo para viver essas mesmas coisas!
Não temos de viver tudo na vida assim, não nada disso, e não é assim que penso, mas algumas é bom vive-las com pressa de serem vividas, apesar de que depois temos um contra, que é o facto de o tempo nessas situações parecer que passa depressa demais lol...isto é uma merda!

Se temos é porque temos, se não temos é porque não temos, porra pa isto que nunca tamos contentes hihihihihihih!!!!

Eu sei que andas aí numa fase Zen, e fazes bem, porque ás vezes é necessário e além disso descansa agora que depois daqui a uns meses vai haver muita coisa pa viver...lol e mais não digo hahehahehaheahehahe!

Me disse...

Oh-oh... chiba-te!!!
Daqui a uns meses quando cá vieres? É isso????
:)

Chiba-te, porra!

NG disse...

Sim daqui a uns meses Mary...não sei é quantos lol!

Sabes que digo sempre que falta pouco...na sei é quanto tempo! lol

Be disse...

Com tempo, temos:

Tempo para nascer,
Tempo para crescer,
Tempo para errar,
Tempo para aprender,
Tempo para viver o bom,
Tempo para viver o mau,
Tempo para perdermos,
Tempo para ganhar,
Tempo para crescermos ainda mais,
Tempo para recordar,
Tempo para percebermos o que fazemos,
Tempo para pensar no que queremos,
Tempo para querer chegar sempre mais longe...

Tudo isso e muito mais... demora Tempo.

E esse tempo todo, traduz-se na nossa Vida, nesta bela passagem atribulada por cá e é disso que se trata, só duma passagem... Agora somos lembrados, daqui a uns tempos somos pó ou cinza, conforme a vontade do freguês.

Há que aproveitar o que a vida nos dá e tirar partido disso.
Até eu levei tempo a perceber isso, mas aprendi e confesso que gostei, gostei porque fiquei a perceber o que é a idade adulta, sei dar valor ao que me rodeia e se faz rodear de mim e continuo a ter a plena noção de que tenho muito para aprender... e tenho tempo para isso.

Me disse...

Olha...
.I.

:P

Me disse...

Yeah.
Há uma certa calma que se apodera de nós quando deixamos de dizer "Quero! Quero! Quero! Porque sim! Porque sim! Porque sim!" tipo puto com birra.
É quase inevitável crescermos... pelo menos para alguns é.
Fico contente por teres esse pensamento, essa forma de ver a tua vida e a dos que se fazem rodear por ti (bonito o que disseste).
Agora é que se aproveita bem a vida, tendo noção dela... Antes? Andávamos todos só a fazer tempo para aqui chegar e termos no que pensar quando chegássemos.
:)

PKB disse...

O Tempo é traiçoeiro... diz-nos que o temos, quando na verdade a certa altura damos por nós sem tempo ou fora de tempo. De repente somos novos demais para morrer mas velhos demais para viver... e não dá para começar tudo de novo. E então, passamos a existir.

Me disse...

Oh, PKB, alivia lá aí essa coisa semi-depressiva, oh faxavôr.
Mau!

O Tarado disse...

O tempo disse ao tempo que o tempo tem bastante tempo, mas quando o tempo perguntou ao tempo afinal, quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem quanto tempo o tempo tem, e que o tempo devia era ter tento e não fazer perguntas de merda.

Como o tempo é relativo, depende do que se faz e se se gosta do tempo que se passa a fazê-lo. O melhor para fazer o tempo passar menos tempo, é fazer muita coisa ao mesmo tempo que gostamos de fazer e passar o tempo com.

Já agora e=mc2 ... Ou seja... estupidez = merda com cabeça ao quadrado.

Me disse...

Oh-Oh.

Isto anda tudo maluco.

Só pode.