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Há coisas para as quais eu já não tenho pachorra. Aliás, nem lhe chamaria pachorra, não. Muito menos paciência. Nopes. Cinismo… é mais por aí. Há coisas em relação às quais já não consigo ser cínica.
A mais recente é aquela coisa que muitos defendem como sendo de nobreza e de hombridade maiores, que muitos mais defendem como podendo servir como medida do carácter ou personalidade de uma pessoa. Aquela coisa do “dar a outra face”, “não rebaixar ao nível de”, aquela coisa de sermos, supostamente, mais e maiores e melhores (!) por não reagirmos ou respondermos a quem, assim sendo e à partida, consideramos logo inferior a nós (daí darmos a tal outra face… viva o Cristianismo!).
Vejamos.
Alguém lembra-se de um dia dizer uma merda qualquer que, a bem ou a mal, nos afecta (nem que seja nos padrões de sono). Os moralmente elevados renegam a existência de tal coisa dita, ignorando-a porque, em certos casos, o melhor é o desprezo (concordo, mas só em certos casos), especialmente quando não se reconhece valor ao que foi dito ou a quem o disse. Justo. Se eu acho que alguém é estúpido, então, tudo o que disser também vai ser estúpido, e se eu não me considero estúpida, não vou responder na mesma moeda porque isso seria a mesma coisa que dizer que sou estúpida. Lógica simples. Tem funcionado há centenas e centenas de anos. Já dizia Sócrates, “Amem-me, odeiem-me, mas por favor não me ignorem”. Pois, mas é cinismo puro e eu não quero mais essa merda para mim.
Amor com amor se paga, certo? E ódio com ódio? E rancor com rancor? E raiva com raiva? Estes já não. No amor, porque sim, respondemos na mesma moeda porque quando alguém faz bonito, “temos” que responder fazendo bonito também. Então, se fazemos isso para o bem (e que até nos ajuda a dormir melhor), porque raio não fazemos o mesmo com o mal?
Por que carga de água hei-de eu virar a cara e não confrontar quem profere juízos de valor falsos, por exemplo? Por que granda merda de carga de água não posso eu confrontar alguém que faz merda, dizendo-lhe que fez merda e que se agradece que não volte a fazer merda? Se dou um beijo em retribuição a umas palavras bonitas, porque não hei-de eu de dar um tabefe como paga de palavras feias? Por exemplo!
Mas que raio de justiça é esta que só podemos pagar na mesma moeda o que for bom, ignorando o que é mau? Depois passamos horas e dias e anos a remoer e a remoer, a mastigar e a mastigar, a não engolir certas coisas, a carregar coisas más dentro de nós e os parvalhosos que suscitaram tais sentimentos andam por aí, a acrescentarem pérolas como “é um cobarde!” ao leque de impropérios que deferiram. Mas que raio de elevação moral é esta que nos impede de nos defendermos de quem nos quer mal? Então, mas eu, só por não responder qualquer coisa do tipo “anda cá, minha besta, para eu te mostrar para o que realmente serve um pé” sou melhor do que quem decidiu, a seu bel-prazer e apenas porque sim, dizer seja o que for contra mim ou contra os meus? Ok, não é preciso usar os pés… Mas serei eu melhor só porque não lhe faço ver os meus vastos conhecimentos da língua portuguesa em todo o seu esplendor? Melhor em quê?? Expliquem-me. E porque é que é logo considerado “rebaixar” quando se responde na mesma moeda? Há gente em relação ao qual eu me teria de elevar caso algum dia se lembrassem de me ofender! Teria que dar tudo de mim para bem responder! Não percebo mesmo nada disto. Porque não colocarmo-nos no mesmo nível que alguém de modo a garantir que nos entendem? Expliquem-me!
Não defendo a violência gratuita, muito menos que o pessoal ande para aí às mocadas só porque alguém olhou para alguém de forma diferente. Nada disso.
Defendo que nos devemos defender do que nos faz mal. Que devemos poder, sem censura ou críticas beatescas, responder a quem quer festa. Quem não tem coiso, não se mete a coiso e tal, né?
Não aguento mais o cinismo com que me vejo “obrigada” a viver certos momentos da minha vida. Seja para o bem ou para o mal.
É mais que certo que só vou arranjar problemas da próxima vez que decidir não ser cínica em relação a alguma coisa, mas porra, ao menos levanto a cara e sigo para diante olhando de frente quem me fere em vez de virar a cara e esbarrar contra o primeiro poste que encontrar enquanto, repleta de elevação moral, abandono o local para bem ignorar quem não me “amou”.
Barda shit.
16 comentários:
Isso tem tudo a ver com o estar atrás do Balcão? Conheço quem assim seja e ganha muito mais por ser assim, não virar a cara e depois de muita mágoa ainda "voltou" com um lindo sorriso nos lábios. A isso, quanto a mim, se chama, ensinamento (para quem faz sofrer), postura (para quem não virou nunca a cara), saber estar e fazer com que aprendão mais e melhor. Pena os sofrimentos que ficam... por muito que passem, deixam sempre as suas marcas.
Não tem a ver com ter estado atrás de um balcão. Tem a ver com o dia-a-dia. O tal dia-a-dia do "ouvi dizer que", dos "serás quês", etc. Das perguntas parvas, feitas à laia de boato...
Nunca gostei de virar as costas a nada e de cada vez que o fazia por razões que não me diziam respeito ("não arranjes confusões", "se disseres alguma coisa, vão saber quem te contou", blah, blah, blah), ficava tão frustrada que quase que me mordia.
Acho que já não preciso disso.
Por que carga de água terei eu de respeitar quem mal-diz? Porque não hei-de eu poder ir pedir satisfações e dar um desses tais ensinamentos? Pode até não servir de nada, mas talvez, da próxima vez que falarem mal, pensem duas vezes por saberem que há quem vá atrás e pergunte os porquês e comos de alguma coisa.
Em relação ao que disseste... essas marcas. Com o tempo, ficam bonitas, até. Provas em como algo existiu... algo se viveu. Não resultou? É melhor sentir alguma coisa do que não sentir mesmo nada. As marcas provam que sentimos e fizemos sentir.
Isto pode não fazer muito sentido, mas faz. Eu é que sei!
Obrigada pelo comentário, Be.
Tankiu.
Olha... há pessoas a quem eu teria todo o prazer em dar uns tabefes bem dados porque me fizeram mal e eu só as pude "ver passar". Também não gosto dessa de não descer ao nível e mais não sei o quê. Se me ofendem, eu ofendo de volta. Se me batem, eu bato de volta. O problema é quando as rasteiras nos são passadas assim pela surrelfa... aí, a put@ ou o cabr@o que pregou a rasteira fica-se a rir... até ao dia em que puder arrancar-lhe os dentes um por um ao murro e ao pontapé (e se possível, impune...)
PKB,
Tu, às vezes, preocupas-me.
:)
Eu acho que seria incapaz de bater em alguém. Quer dizer, nunca me vi bem numa situação em que essa vontade fosse maior que o meu discernimento e bom senso.
Consigo ser cruel com as palavras. Tenho uma memória filha da puta de boa. Tenho um sarcasmo tão refinado que às vezes até me surpreendo. Não gosto de chamar nomes. Não o faço, seja qual for o tamanho da briga ou o teor do assunto. Consigo ofender de outros modos.
Não sei se isto faz sentido... mas é como sou. Se tenho um cérebro, é para o usar.
Desmintam-me, se fizerem o favor, caso esteja a não dizer a verdade.
Mas, PKB, tu às vezes preocupas-me
:)
Claro que assim é, outra coisa não seria de esperar... Percebo o que queres dizer e o que disseste, muito bem mesmo.
Bom fds menina dona Me.
Bom fim-de-semana, Sr. Be.
Vou para o "serviço".
:)
Um dia li num livro qq de que a nossa qualidade de vida pessoal é inversamente proporcional ao que fazemos reagindo sem pensar no resto da nossa interacção com outras pessoas.
Em suma... temos de engolir sapos para que possamos ir seguindo na nossa vida do dia a dia, e subindo até fazendo uso das mesmas armas, para que com o que conseguimos em retorno, ter a vida que queremos com quem queremos.
É parvo ter de engolir sapos, mas às vezes se não os engoles tens consequências que podem ser desde a simples chatisse, passando por consequências laborais e ou financeiras, se for no trabalho, ou até seres prejudicada no meio em que te inseres, no que respeita à tua integração e convivência com as pessoas desse meio.
Estamos constantemente a gerir conflitos, a negociar ideias, e a tomar decisões em conjunto ou sozinhos, para de uma forma mais ou menos equilibrada, conseguirmos ter o nosso espaço. Se todos reagisse-mos a quente havia muito mais gente à batatada e muito mais rotação nas empresas.
Todos gostávamos de poder dizer o que nos vai na alma sempre e não aturar situações como as que descreves. É talvez por isso que durante a nossa vida vamos ligando a quem nos diz mais e vamos afastando dos que nos causam alergias psicológicas e formigueiro nos nós dos dedos da mão.
Há mais uma consequência. Quando usamos e abusamos quer da reacção a quente dizendo o que pensamos, quer fazendo uso de armas como o sarcasmo ou outras, normalmente ficamos com o rótulo de que pensamos ser os donos da verdade, que temos nariz empinado ou por vezes até de inocente ou criançola.
É que mesmo quando pensamos que temos razão e que o nosso ponto de vista está correcto, há quem assim não pense. E a questão que se coloca aqui é... se ambos acham que têm a razão do seu lado, e se ambos não negoceiam... não se vai a lado nenhum. Mesmo que sejamos nos a ter a razão, com certeza :)
Me, porrada em quem não gostamos, em quem nos chateia, seja porrada com as mãos, seja com as palavras, seja com um simples olhar, com um cuspir para chão (blurghhh) com um virar de costas...
Mai'nada!
Me, já tive situações em que foi por um fio que não bati numa pessoa. Normalmente sou pacífica e até parva pois não digo nada. Mas há outras situações em que realmente pouco faltou para cometer um crime (sim... bater nas pessoas é crime... o que por vezes é uma pena!).
Não te preocupes... no fundo eu falo muito mas depois não faço nada. Ladro, mas não mordo. Pio, mas não bico! (esta última parte não me saiu muito bem... mas pronto...! eehe)
Tarado,
Eu engulo sapos. Sei que o tenho de fazer se não, vivia sozinha neste mundo.
Apenas digo que passarei a escolhê-los melhor. Há SAPOS e depois há sapos. Não os escolherei mais com base numa espécie de "preguiça", entendes?
Só isso!
G2,
Sim, meu Comandante!
;)
PKB,
Também sou assim... faço um chinfrim do caraças mas depois... nickles.
Ehhhh!!!
É bom e mau... Depende, claro.
Vamos ver como corre!!
Sim eu percebo Me.
Infelizmente eu também os tenho de engolir. Mas com o tempo aprendi a lidar melhor com isso e a dar mais importância aos caracóis do que aos sapos :)
Caracóis é muito mais melhor fixe
:)
Vou-te meter inveja. Este fim de semana, a malta :), decidiu comprar caracóis e fazê-los cá em casa.
Uma panelada enorme (estás a imaginar uma panela de pressão? Não tem nada a haver. maior!) para.... 5 pessoas... e com direito a cerveja à pressão. Ah pois é bebé.
Nham nham. :)
Isso não é nada.
Sabes quantas doses de caracóis servi eu este fim-de-semana?!?!!?
:D
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