
Eh, pá, foda-se.
Tenho um problema. Há algo que não entendo.
Vocês Homens são do caraças. Como se não bastasse o facto de uma Gaja ser Gaja, ainda tem de levar com as vossas cenas do que é ser-se (ou é suposto ser) Gaja.
Expliquem-me porque é que todos reclamam o direito a fêmea independente e compreensiva quanto às vossas necessidades masculinas (em todos os campos) mas depois o que querem mesmo, mesmo, mesmo não é uma Gaja que seja independente, e vos “entenda” e que vos dê espaço, e que vos deixe andar, e que vos ouça e faça companhia e que goste dos amigos e que não vos peça merdas como se se tivesse direito a elas e que saiba qual o lugar e que não vos chateie a cabeça com cenas de gaja (‘Tás a pensar no quê? Gostas de mim? Porque é que me olhaste assim de lado se eu estou à tua frente? Achas que fico gorda com este vestido? Nunca me levas a sair… De quem era o telefonema? ‘Tás a mandar mensagens para quem? Blah, blah, blah!!!) e que se ria das vossas piadas e que entenda que estão cansados e que saiba quando e onde falar de certas coisas e que perceba à primeira que aquele assunto não é para tocar e que, basicamente, assim sendo, vos sirva tudo como deve ser como se tivesse feito encomenda especial, mas depois, quando deixados no vosso paraíso de “Gajo que tem Gaja Idealizada”, o que querem mesmo, mesmo, mesmo é uma menina de amuo em riste, de birra pronta a executar, de carências prontas a manifestar e de lamentações e queixas prontinhas a ferver??? Porquê!?!?!?
Foda-se!
E a culpa não é vossa, ainda por cima! Não! A culpa é nossa!!!
Depois de anos e anos e anos a ouvirmos a vossas queixas sobre gajas-gajas, lá nos vamos transformando naquilo que vocês dão a entender ser o vosso “ideal”. Deixamos de fazer certas coisas porque isso são comportamentos de “namoradinha típica”… Deixamos de dizer certas coisas porque isso são coisas de “gaja”… Aprendemos a ser auto-suficientes em termos das tais ditas “manifestações de carinho” porque macho que é macho não precisa de andar constantemente a mostrar as emoções… Aprendemos que dizer “fofinho” e “queriduxo” e outras coisas afins é mal visto e poderá representar atentado contra a vossa masculinidade… Aprendemos a dizer asneiras e a mandar o pessoal para o caralho porque gaja que é gaja tem-nos no sítio e não precisa de gajo para a defender… aprendemos a não contar convosco para mudar a merda de uma lâmpada porque isso é sexista e apenas prova que afinal sempre precisamos de vocês (o regalo que é para vocês dizerem isso em relação à merda de uma lâmpada)… aprendemos a não contar convosco para coisas que, afinal de contas, podem e devem ser resolvidas entre amigas… aprendemos a separar coisas e a dividir tudo porque isto do contribuir tem de ser igual para todos… aprendemos a ser frias e distantes para que vocês não se sintam incomodados com a proximidade e intimidade… aprendemos uma data de merdas para vos fazer o obséquio para depois, pasmemo-nos, descobrir que vocês gostam das queixas! Vocês gostam que se faça assunto da cor da merda do vestido contra o tom de pele! Vocês gostam de ter que passar três horas a explicar a teoria do “meus amigos, teus amigos, nossos amigos”… vocês gostam que reclamem mais atenção! Vocês gostam que sejamos meninas-meninas porque só assim vocês se sentem Homens-Homens! Admitam-no! Sejam honestos!
Vocês não querem a gaja independente que “apenas” precisa de vocês para coisas não materiais!!! Vocês gostam de ser necessários nesse campo! Vocês só se sentem realizados quando gaja lamenta que não sabe o que fazer para o jantar porque “tu nunca me dizes o que queres e eu já ando a ficar sem ideias… sniff… sniff!”, vocês gostam que vos chateiem a cabeça por deixarem a roupa no chão da casa de banho, vocês gostam que vos chateiem a cabeça por todas aquelas merdas sem jeito nenhum que nós estamos programadas para referir e que vos dão oportunidade de manifestar o vosso temperamento masculino de macho que é macho e não admite merdas da sua fêmea.
Ahhhh barda shit para a merda dos papeis de género e o raio que o parta que andam todos engalfinhados e torcidos sem ninguém saber a qual pertence, de onde veio, para onde vai e o que fazer com o tempo que sobrar.
Se gaja faz coisas de gaja, é porque quer alguma coisa em troca. Se gaja não as faz, é porque não precisa de Homem. Foda-se.
Há uma diferença entre precisar de alguém e entre querer alguém por a pessoa ser quem é, e de se passar a precisar exactamente porque se quer. Não perceberam? Leiam outra vez.
Assumamos, meus caros e caras, que nem há homens como antigamente e muito menos há mulheres como antigamente. Mas foda-se, as que ainda se vão safando melhor são as meninas-meninas que desatam num berreiro desenfreado se não recebem o beijo de bons dias e não as que entendem que não se vai acordar o Macho-Macho só por isso.
Foda-se para esta merda!!! Vá-se lá perceber.
(Não posso voltar a passar uma semana a dar formação na área da igualdade de género… não posso… se o efeito é este, foda-se, vou ali calçar um par de saltos altos, saia bem curtinha e passar os próximos 45 minutos a queixar-me ao Sr. Mr. Gajo que havia uma migalha no balcão da cozinha hoje de manhã e que por isso ele é insensível e pouco atento às minhas necessidades femininas para depois me queixar que faço tudo por ele sem pedir nada em troca e aproveitar ainda para perguntar se a merda da saia me faz um cu gordo ou não e já venho…).