31.10.08

Depois da Saudade

Já andava com vontade de deixar aqui qualquer coisa dentro do tema “Depois da Saudade” há algum tempo, mas como não queria transformar este blog num daqueles tipicamente lamechas e cheio de dúvidas existenciais (de gaja-gaja, portanto), tenho andado à espera… à espera… Até hoje. Por causa disto, pus dedos ao teclado, respirei fundo e… As saudades são coisas giras… Ou se renovam ou não (como já aqui disseram e bem). Sentimos Saudade e de imediato, em reacção, queremos arranjar motivos ou razões para que a mesma não seja de facto renovada. As saudades podem ser doces… podem ser amargas… podem ser reconfortantes… podem ser dolorosas. Podem ser a única coisa que resta depois de decidirmos viver o futuro que nos aguarda. Podem ser a única coisa que acaba. As saudades turvam-nos a vista. Tolham-nos o pensamento. Afligem-nos o coração. São más e feias e lindas e imaculadas e puras e horríveis e desprezíveis e tranquilas… são tudo, de uma só vez. Quando as vivemos, nada mais interessa. Quando não as temos, nada mais interessa na mesma. Todos nós temos saudades de uma qualquer altura em que tínhamos saudades… Significa que dávamos valor a alguma coisa. Significa que aquela coisa, pessoa, fosse o que fosse, era-nos importante. Quando deixamos de sentir isso… é porque o assunto está arrumado, não temos mais saudades… acabou. É meio triste, não é? Acredito que só depois da saudade, só depois de sabermos conviver com ela de forma saudável, quer esteja renovada ou não, é que podemos ver as coisas pelo que são, e não pelo que poderiam ter sido ou pelo que gostávamos que fossem ou pelo que achávamos que eram. Só depois da saudade podemos ver o que sobrou, ver o que ainda há. Só aí podemos dizer os nossos adeus e os nossos olás. É tal e qual como sofrermos uma grande dor e esperarmos que a mesma assente, encontre o seu lugar na nossa vida, no nosso coração, na nossa cabeça, para podermos fazer as coisas como deve ser. Aceitação. Podemos não gostar. Podemos não querer. Mas aceitar algo é meio caminho andado para podermos fazer alguma coisa. Seja o que for. Mas temos de aceitar. Depois da saudade, tudo fica mais claro. Mais transparente. Depois da saudade podemos ver o que resta, o que sobrou. Podemos ver melhor para onde vamos, para onde queremos ir sem que nada nos atormente o espírito, nos corroa o coração, nos prenda os passos, nos confunda o sentido de orientação. Hoje, porque alguém viu que estava para lá da saudade, ganhei eu uma saudade nova. As outras que tenho… ando a ver se as organizo melhor. Fica para outra altura. Boa viagem.

10 comentários:

Anónimo disse...

A saudades... essa cabra!

Agarra-se-nos à pele como uma carraça e suga-nos os sorrisos.

Odeio essas saudades.

Anónimo disse...

Errata: essas cabras!

VF disse...

Por pouco fizeste-me lembrar aquela música do Toni Carreira que diz algo como;
"depois de ti mais nada
nem sol nem madrugada"

Bem, poeticamente é uma nulidade, mas do ponto de vista exclusivamente romântico é capaz de ser a coisa mais pirosa que ouvi, ou seja com significativa possibilidade de se tornar um sucesso!

Me disse...

Ana,
As saudades são tramadas mesmo... Especialmente as que nunca param de ser renovadas... Cabras. Autênticas cabras. Manadas de cabras :(

Vítaro,
Acho que sim... acho que esse senhor Toni Carreira é capaz de ter futuro... Quer se queira quer não, ele lá vai dizendo o que o "pessoal" vai pensando e sentindo. É piroso? Claro. Daí haver coisas que "nem às paredes confessamos"...
Obrigada pela visita... Gostava de corresponder... mas pronto...................................................................................................

Anónimo disse...

Saudade é uma palavra excusivamente portuguesa...pelo menos foi o que me foi dito quando falei deste post....e nas línguas que conheço realmente não existe uma só palavra que significa saudade, mas sim expressões...

Beijo
Tixa

Me disse...

Olá Tixa,
Tens toda a razão. Saudade é Português e só Português. Não existe palavra equivalente noutra língua.
Desculpem-me a presunção, mas acho que isto nos dá uma espécie de vantagem no campeonato das Saudades. Nós temos uma palavra para descrever todo aquele sentimento. Nós sentimo-lo com uma palavra só que abarca todo o nosso mundo naquele momento. Mais ninguem sente isto assim desta forma... Mais ninguem tem poder para verbalizar, se forma tão simples, algo de tão grandioso e complicado.
As Saudades deste mundo são nossas.
:)

Anónimo disse...

daí o nosso fado usar muito a palavra...por ser só nosso, tal como o fado =)
Ter saudades...eu não gosto...sinto-me um pouco nostalgica...e um bocado(bastante) triste...

Abreijo
Tixa

Me disse...

Oh, Tixa... pois. Também há o tipo de saudade que nos mata... essas, de facto, são as que não se gostam de ter...
Quando te vires a braços com essas, recorda-te de outra coisa qualquer que te faça sentir saudades das boas... Faz a troca.
Não fiques triste. A tristeza renova as saudades.
Beijos para ti

Anónimo disse...

"Eu matar não gosto muito, mas saudades é diferente, é como matar pulgas, alivia a gente" - Sérgio Godinho (O Porto aqui tão perto).
Que tal, hein? De repente lembrei-me desta canção já muito velhinha.
Beijinhos!

Me disse...

Olá Ana,
E ainda bem que te lembraste. Não conhecia... É bonito sim senhora.
Também não gosto de pulgas... e de saudades muito menos. Ambas deixam as suas marcas... *sigh*

Beijos para ti
:)