3.7.08

Marra, marra que eu gosto, disse a Sardinha

imagem: google
No passado fim-de-semana, decorreu a festa da Amizade (Sardinha Assada) em Benavente (mesmo ao lado de Samora Correia…). O que é a festa da Amizade? Hmmm… É uma festa que começou há aí uns 40 anos com uns Srs. lá da terra. Juntavam-se para conviver… almoçar e tal… depois, começaram a fazê-lo todos os anos … depois começaram a levar mais gente… e mais comida… depois começou a aparecer mais gente… e depois a coisa ficou oficial. Todos os anos, no final de Junho, Benavente é invadida por milhares de pessoas, milhares de sardinhas e uma dúzia de touros bravos. A noite da Sardinha Assada (sempre no Sábado) é fantástica. A organização da festa (os chamados Sardinheiros) distribui assadores, pão, vinho e sardinhas pela vila e todos quanto queiram assam a sua sardinha, bebem o seu copito, comem o seu papo-seco e divertem-se nos bailaricos espalhados por vários palcos em toda a vila. Vem gente de todo o país. É algo mesmo grandioso. Depois, temos os touros. Há largadas todos os dias (à tarde e à noite), incluindo uma em que o touro corre “livre” pelas ruas da vila (acompanhado de campinos…). Às vezes o touro foge do percurso “delineado”. Outras vezes não. De qualquer das formas, é um espectáculo. Esta coisa das festas da Sardinha Assada é típica da zona das Lezírias. Tudo começou em Benavente é certo, mas hoje em dia há muitas terras que fazem este tipo de festa onde comida e bebida são colocadas à disposição de quem quiser. Samora também tem (em Agosto, sempre na altura do feriado), o Porto Alto tem (a meados de Julho), Salvaterra de Magos também, Santo Estêvão idem-idem. O conceito de touros e sardinha assada é algo muito particular àquela zona e é sempre difícil explicar a quem não seja das terras o que aquilo realmente “quer dizer”. Independentemente de entenderem a coisa ou não, há que respeitar. Mas nem sempre isso acontece. Ele é brigas junto dos assadores por causa de uma qualquer sardinha já assada e que já tinha dono; ele é gente com garrafas de litro e meio a “roubar” vinho para levar para casa; gente com sacos de plástico a “roubar” sardinhas e pão… Deturpam o conceito e ideia da coisa. É claro que quem é da terra está atento e “não deixa” que o pessoal abuse da coisa, mas acaba sempre por haver confusão. Apesar disso tudo, onde realmente se vê a falta de respeito é nas largadas. E não digo falta de respeito pelas pessoas… não. A falta de respeito é pelo princípio da largada. Pelo bicho que lá anda. Uma rua com areia, protegida por tronqueiras de madeira. Larga-se para lá um touro em pontas que, pela lógica, vai tentar apanhar quem o provocar (defender-se). E há quem provoque sabendo o que está a fazer e depois há quem provoque não sabendo. Os touros, minha gente, são animais bravos que não reconhecem muito bem o conceito de “não farei mal ao ser humano tadinho tão giro e bêbado que ele está”. Eles farão. Logo, a não ser que se esteja preparado para levar com um corno bem afiado pela barriga adentro, não se deve fazer determinadas coisas… Correr à frente dele, tentar fazer festinhas na cabeça, tentar dar pontapés pelas tronqueiras, atirar com copos cheios de areia, garrafas com areia… etc. Para além de as largadas serem um evento em que, acima de tudo, se quer “brincar” com o animal, há também um enorme clima de respeito pelo animal. É difícil de explicar esta coisa do respeito que se tem. Não é medo (isso também existe, claro), é respeito. Custa-me ver gente a atirar coisas ao touro quando ele passa. Custa-me ver gente em cima das tronqueiras a dar pontapés na cabeça do touro quando ele pára para marrar contra as mesmas. Aconteceu, no Sábado, estarem a provocar o touro e ele, farto da coisa, ter mandado duas marradas bem apontadas às tronqueiras, partindo-as de imediato. Vigas com aí uns 12cms de grossura partidas em menos de nada. Se tivesse conseguido fugir, teríamos um touro em pontas à solta pela vila onde milhares de pessoas comiam a sua sardinha e pãozinho, descansadinhos da vida. Já aconteceu. Muitas pessoas já morreram por causa disto. As condições de segurança de quem lá está a ver são mais que muitas. E quem lá vai sabe que não se deve pegar numa mão cheia de areia para atirar aos olhos do touro porque o gajo não vai gostar, vai tentar marrar e, dado ele não querer saber muito de madeira e ferro e protecções, vai marrar até conseguir dar cabo do que lhe fez dói-dói na vista. Foda-se! Depois temos os homenzinhos que se acham uns machões e que se metem a gritar cenas ao touro. Aqui já nem é tanto pelo touro mas sim pela figura que homens crescidos fazem a gritar cenas tipo “Filha da Puta!” a um touro. Eh, pá. Só visto. Atrás de tronqueiras e com copito cheio de areia todos são uns grandes Machos. Tristeza. Por isso, e independentemente de concordarem, gostarem, whatever, estas coisas fazem parte das nossas tradições e devem ser respeitadas enquanto tal. Só vai quem quer. Mas, bolas pá, quem for, por favor comporte-se.

5 comentários:

Anónimo disse...

Pois, é isso!
É uma festa popular bem gira. Como são todas. É espectacular ver toda a gente na rua, o calor, a música, as pessoas de fora, as conversas, as gargalhadas, enfim... tudo! A parte dos touros não me convence. E não me convence porque o conceito de divertimento a provocar um touro parece-me uma coisa bem básica, bem primitiva, a lembrar as arenas de gladiadores. Ainda assim, respeito os costumes da terra. Mas o que mais me faz repugnar a tradição é precisamente a existência desses mulos solitários que procuram cativar a atenção dos touros porque não conseguem cativar a atenção de mais ninguém. Mas giro, giro, era largá-los na arena e depois soltar os touros, uns quantos... só para ver os verdadeiros machos!

eu aqui ao lado..

Me disse...

Olá!
Aqui ao lado adonde? Hmmm...
Oh, pá. Ok. A cena de largar um touro é um cadito primitiva. Mas ver o bicharoco e "brincar", "toureá-lo" é uma cena só mesmo de quem gosta destas coisas. De quem cresce com isto. Mas pronto.
Agora, há gente mesmo tótó.
Penso que tenha sido há dois anos, mas, nas festas de Stº Estêvão, também houve um espertinho que decidiu atirar com um caixote do lixo para cima de uma cava durante uma largada. Levou uma carrada de porrada tal do pessoal da terra que nunca mais lá mostrou a cara.
O princípio é simples: não se faz mal aos bichos. Outro exemplo, quando os campinos às vezes se metem a picar os cabrestos desnecessáriamente. Todos reclamam. Assobiam. Mandam-no parar...
No meio disto tudo, há um verdadeiro gosto e "carinho" pelo animal. Pode ser primitivo, mas...
Não dá para explicar, pronto. Ou se gosta ou não se gosta.
Obrigada pelo comentário. Ficas o ou a "Aqui ao lado"... por falta de melhor nome...
:)

Me disse...

ahhh... "cava" leia-se "vaca"...
sorry...

ariba disse...

Pois, a mim às vezes custa-me a crer que nasci e fui criada ribatejana. Na minha terra também se fazem largadas e belive it or not, a primeira vez que fui espreitar foi o ano passado e só porque o meu gaijo que é de outras bandas tinha muita curiosidade. Nunca achei piada e por isso não vou. Custa-me ver os tais comportamentos de adultos infantilizados pelos efeitos do álcool ou por súbitos ataques de macheza aguda a judiarem do animal que nem sabe como ali foi parar. Estas coisas têm raízes antropológicas, em tempos houve razão de ser para esta relação homem-touro, que hoje em dia não faz sentido e por isso o touro torna-se apenas mais uma atracção numa festa para a qual não foi convidado.
Quanto à festa da sardinha assada de Benavente, huumm, boas recordações:)

Me disse...

olá Ariba,
Pois... há toda uma história base destas coisas dos touros e tauromaquices afins... E há quem saiba lidar com isso e respeitar; e depois há quem não saiba.
E sim, a Sardinha Assada de Benavente deixa bas memórias por todo este país :) Tens de lá voltar um ano destes...
Obrigada pela visita (aqui ao blog, não a benavente que eu sou de samora.... ;)!)