A minha terra é terra de Touros.
Na minha terra, há largadas, entradas, saídas, marradas, picarias, cornadas, estucadas, touradas, forcados, toureiros, praça, tronqueiras, areia, cavalos e bois.
Na minha terra, também há conversas deste género:
- Atão, mas qual é o boi?
- Migo, queres mesmo que responda? Ahhh…. Com tanta gente aqui, é impossível saber.
- O quê?
- Touro. Queres dizer touro.
- Qual a diferença?
- Bem, o touro é aquele preto que anda ali às voltas.
- E por que é que há só um? Dois não seria melhor?
- Ahhh… Não. Mais do que um e já é uma manada. Manadas não prestam para uma largada. Há força nos grupos e eles em grupo, não fazem nada porque não se têm de defender individualmente. Por isso é que eles marram e correm e investem. Para se defenderem.
- Ahhh…. Atão e porque é que este não marra?
- Porque é manso.
- Atão deviam de lá meter mais um! Ajudava!
- Ahhh… não. Atrapalhava.
(mais tarde…)
- Vês! Estão a meter mais touros! É por aquele ser manso?
- Ahhh…. Não. Aqueles são cabrestos. Largam-nos para recolher o touro. A tal coisa da manada…
- Atão, mas aquele é preto e tem cornos! É touro! E corre mais do que o outro! Deve ser mais bravo!
- Ahhh… bem… pois… realmente. Poupava-se muito se apenas se largassem cabrestos. Mas não. Eles não fazem mal. Vês? O pessoal nem foge.
- Malucos! Malucos! Alguma vez eu ia para ali!
- Pois. Isso é que tu fazes bem.
- Qual é o touro outra vez?
(mudei de assunto e prontes.)
E destas:
- Olhe, menina. Vai ter que ter cuidado quando vier o touro. É que nós vamos daqui a correr para cima da tronqueira e você pode cair…
- Olhe você. Você é que tem de ter cuidado por onde vai.
(aqui, comecei eu a sorrir visto estar a ouvir a conversa e a mesma me estar a interessar pelas razões óbvias)
Vem de lá o touro. O homem lá corre para a tronqueira. A menina mal se mexe, obrigando o homem a um desvio de ultima hora que lhe podia ter custado uma cornada.
- Atão você não nos deixou subir?!?! Você sabe onde está??? Veio para aqui… sabe onde está?? Sabe o que é uma largada???!!!!
- Desculpe. Sei sim! Mas podia ao menos ter pedido licença antes. Ser mais simpático!!!
- O quê?!?!?
- E eu sou aqui da terra ao lado. Sei muito bem o que é uma largada!
- Desapareça-me é da frente antes que venha parar cá abaixo!!!! “$#%BVS! Merda da =(“#&”%%#”T#=”!!!!!
(ria-me eu, baixinho, enquanto rezava que viesse o touro para a menina aprender da forma mais rápida como se desce de uma tronqueira na minha terra…)
30.4.07
23.4.07
Baptismo
Adoro a sensação de enterrar os pés na areia.
Adoro quando, pela primeira vez em muito tempo, liberto os meus pezinhos da clausura imposta pelo Inverno para sentir aquele calor, aquela humidade, aquela quase agressão à pele ainda sensível e pálida, pálida, pálida por não ver a luz do sol há tanto.
Enterrar os pés, mexer os dedos, deixar-me afundar até ficar com os pés cobertos, arrastá-los pela areia fora, deixar as minhas pegadas em bocadinhos de areia lisos e macios, não tocados a não ser pela maré. Sentir os grãos entre os dedos e mexê-los, mexê-los, mexê-los.
Adoro.
Não sei bem o porquê deste gosto, mas consigo sempre lembrar-me por muito tempo da primeira vez em que o faço.
Este ano, a experiência veio mais cedo. Um bocadinho de areia à beira rio. Não resisti. E ainda bem. São estes pequenos prazeres que nos fazem sorrir e sentir felizes. E quando são partilhados, quando temos testemunha para esse pequeno momento de pureza absoluta de espírito, melhor ainda.
Adoro.
20.4.07
16.4.07
13.4.07
Pissed Off!
Isto foi ontem. Já não estou tão chateada. Estou de ressaca. Ressaca da chatice.
Há quem se chateei por menos, há quem o faça por mais, mas bolas… se há coisa que detesto é estar à espera. A única coisa que detesto com igual fervor é fazer os outros esperar. Por isso, tento não fazê-lo. Quando assim tem de ser, pego numa das mais maravilhosas invenções da humanidade, introduzo um número e falo com a pessoa em questão, avisando-a de tal facto e tento encontrar alguma forma de ou não fazer a pessoa esperar mais, ou combinar noutro sítio, etc. Não espero que me telefonem a mim a perguntar onde estou. Isso seria a cereja em cima do bolo.
Não levo nada a mal que as pessoas se atrasem. Há desculpas que não aceito, é claro, mas há explicações nas quais acredito.
Lista de desculpas que não aceito:
- Não vi as horas! (telefonava assim que tivesse visto)
- Apareceu qualquer coisa de última hora! (telefonava quando essa coisa de última hora apareceu)
- Tive coisas para fazer! (telefonava a dizer que não podia ir/chegar a horas)
- Estava ocupado/a! (ver acima)
- Nem dei conta do tempo passar e quando vi, vim logo a correr! (ver acima x 2)
E a que menos aceito:
- Desculpa, esqueci-me. (o “desculpa” fica sempre bem quando dizemos a outra pessoa que nos esquecemos completamente dela, não é? Mesmo assim, após o lapso de memória, pegava-se na porra de um telemóvel – dos quais há mais em Portugal do que pessoas – ligava-se e dizia-se “Desculpa, esqueci-me”, dando à outra pessoa a hipótese de se ir embora sem dar peva).
Penso que esta seja uma das maiores faltas de respeito que se possa ter para com outra pessoa. Ter alguém à nossa espera, ter alguém que pára tudo porque combinou alguma coisa connosco e depois nem nos preocuparmos em honrar isso, em reconhecer que existe alguém a despender tempo e energia e a fazer os possíveis e impossíveis para estar no sítio combinado, à hora combinada e depois não retribuirmos na mesma moeda é, de facto, algo realmente fantástico.
É uma das atitudes mais egoístas e egocêntricas que se pode ter.
Um telefonema. A porra de uma msg. É o que basta para quem está à espera não se sentir esquecido, abusado e parvo.
Mas pronto. Há-de sempre haver gente que pensa que tem o direito de fazer a vida dos outros parar e há-de haver sempre gente que não diz nada quando isso acontece.
Detesto, detesto, detesto.
Ontem passei muito tempo à espera. Aliás, às vezes parece que passo a vida à espera. À espera que cheguem, que liguem, que vejam, que digam, que sejam… Dasse! Quando é preciso esperarem por mim… ena… vira-se o bico ao prego e as mesmas pessoas que me dizem “desculpa, esqueci-me” são as primeiras a reclamar. E começam logo quando ligo a avisar que, mesmo sendo, por exemplo, 18:30 e termos combinado às 19:00, só vou poder chegar às 19:15. Impressionantes os duplos critérios que regem a vida de tanta gente.
Afinal, ainda estou chateada. Mas deviam de me ter visto ontem. Ui.
11.4.07
"Crónicas da Patareca"
Exmos. Srs. e Sras. Leitores e Leitoras,
Este espaço bloguista terá, em breve, um novo cantinho chamado “Crónicas da Patareca”.
Pretende-se, única e simplesmente devido à pura teimosia e obstinação da autora, desenvolver um pouco mais a certeza de que, de facto, a escrita erótico/soft-pornográfica da mesma é, realmente, um caminho a não seguir, mas, desta feita, com provas que substanciem esse facto.
As “Crónicas da Patareca” não terão data fixa de publicação, nem limite de caracteres, nem serão sujeitas a censura em termos de conteúdo e/ou forma.
Serão o que serão. Com direito a imagem personalizada e tudo (assim que o responsável gráfico/criativo se decidir em terminar o projecto encomendado…) para melhor identificação.
Usar-se-ão asneiras, termos bregas e populares, linguagem desadequada e ordinária e palavras inventadas conforme vontade e disponibilidade da autora.
As “Crónicas da Patareca” poderão ou não referir-se a conhecimentos/opiniões/experiências/desejos/fantasias/realidades/etc da autora. Poderão ser usados exemplos da vida real de outros/outras, sem autorização, conhecimento prévio ou identificação dos mesmos/mesmas.
Será um espaço de contemplação que trará luz e iluminação a algo que raramente a vê.
Será um espaço de partilha de ideias sem pudores, íntimo, sem medos e sem merdas.
Será um espaço que eventualmente possa receber contributos de outros/outras, mas, aqui, será aplicada forte censura e rigorosos padrões de verificação de qualidade e adequabilidade.
Será também um espaço muito pouco afoito a receber críticas do foro psicossomântico dos leitores/leitoras menos preparados para determinadas tomadas de posição.
O Blog é da autora e ela faz o que bem entender com o mesmo.
A primeira “Crónicas da Patareca” está em preparação.
Aguardam-se desenvolvimentos.
Com os melhores cumprimentos,
Dep. de Edições Totalmente Desnecessárias da Blogoesfera.
10.4.07
Vermelho Ferrari
Ter um carro vermelho Ferrari não é a mesma coisa que ter um Ferrari.
Pois não. Pois não.
E depois, há os Ferrari de que gostamos e os que não gostamos. Tudo Ferrari. Tudo vermelho Ferrari. Mas só aquele nos enche as medidas. Mais nenhum. Aquele. Só aquele. Explicar isso? Impossível. Aliás, enche-nos tanto as medidas que nem sequer queremos ir experimentar os outros porque nem sequer temos vontade ou curiosidade em saber se eventualmente mais algum nos poderia encher as medidas da mesma forma. É que nem sequer pensamos nisso. Por muito Ferrari que sejam, por muito vermelhos que sejam, não interessa. Nem sequer abrimos a porta. Nem olhamos duas vezes.
Sabem quanto custa um Ferrari? Sabem o trabalho que dá ter e poder ter um Ferrari? Sabem o que é ter um Ferrari, tocar um Ferrari, cheirar um Ferrari, sentir um Ferrari?
Eu sei.
E não se explica. Sente-se.
Deu-me para isto hoje. Apeteceu-me. Ouviste?
5.4.07
Witness
Lembrei-me de uma cena de um filme que vi no passado fim-de-semana. Aliás, é algo que me tem estado no fundo da mente, que de vez em quando aparece, depois desaparece, mas está cá. Não tem nada a ver com nada, mas como achei bonito, deixo aqui.
O filme era o Dança Comigo?, com o Richard Gere, Jennifer Lopez e Susan Sarandon. Não é nada de especial o filme... mas...
O Ricky fica de beicinho pela Jen, mas está casado com a Susi. A Jen dá aulas de dança. O Ricky vê a Jen à janela da escola de dança todas as noites e fica encantado com ela. O Ricky vê a Susi todas as noites e começa a compreender que os dois merecem mais da vida. Começa por tentar preencher mais a sua vida e inscreve-se na escola de dança, aproximando-se da Jen. Ela, que não estava para aí virada, devido a um enorme desgosto amoroso e profissional, consegue fazê-lo ver que ele tem de estar lá por ele e não por causa dela. Ele começa a dançar, torna-se mais feliz, mais contente. A Susi desconfia e contrata um detective para vigiar o marido. Descobre tudo. Que o marido dança. Mais nada. Desiste do detective. O Ricky volta para a mulher, que nunca deixou, na realidade, e ambos se apercebem que estão exactamente onde devem estar: juntos. A Jen lá se recompõe na sua vida. Ficam todos amigos. Fim.
Pronto. É mais ou menos esta a história. Entre pequenos episódios em que ia adormecendo e acordando, lá consegui apanhar o fio à meada.
Mas o que é realmente bonito é a cena em que a Susi, toda linda e confiante por descobrir que afinal o marido não anda a fazer nada de mal, decide prescindir do detective e proteger a privacidade do marido, confiando nele, confiando no que têm juntos.
O detective, que é um descrente, obviamente, pergunta-lhe:
- Porque é que acha que as pessoas se casam?
Ela responde qualquer coisa assim:
http://www.youtube.com/watch?v=tdBATA_Ag5s
Porra. É que é isto mesmo. Não só em relação a casamentos, mas em relação ao porquê de duas pessoas estarem juntas. Bonito, não é?
Bom fim-de-semana.
2.4.07
Eu?
imagem: www.google.com
Desabrida: fem. sing. de desabrido. adj., áspero; rude; violento; insolente.
- Tu és desabrida. Sim, o termo é desabrida.
- Porquê?
- Porque respondes e porque fazes perguntas.
- E?
Hmmm…
É mais do que óbvio que eu não concordo nada com isto.
É mais do que óbvio que eu não faço ideia de onde vão buscar estas coisas.
Ok. Talvez consiga perceber um pouco de onde se possa ir buscar uma coisa destas, mas bolas, assim tanto?
Eu não sou áspera, nem rude, muito menos violenta e também não sou insolente.
Posso ter atitudes e comportamentos que eventualmente possam ser descritos com estes adjectivos, mas não sou isso. Não sou. É mais aquela coisa da acção-reacção. Há acções que me provocam determinadas reacções…
Hmmm…
Também há aquela “expressão” que diz que se temos de dizer o que algo é, é porque não o é, se não, não seria preciso dizê-lo.
Hmmmmmmm…
Dúvidas existenciais nesta idade. Oh pá.
Se fosse a um psicólogo, de certeza que me dizia que isto são mecanismos de defesa… que são coisas que as pessoas fazem para se protegerem a elas próprias. Que, de forma a se defenderem, dão uma imagem ou têm atitudes que correspondem ao oposto do que sentem ou pensam efectivamente… para não dar parte fraca… para não mostrar fragilidades. Ehhh.
Talvez seja isso. Talvez eu seja tão sensível a tudo quanto me acontece e a tudo quanto me rodeia que tenha de dar uma de forte e corajosa e inabalável para não andar sempre a pensar nas merdas. Talvez seja isso. Devo ter algum tipo de bloqueio esquisito proveniente de algum momento traumático qualquer nos primeiros meses de gestação. Deve ser isso.
Se eu fosse tão desabrida assim, o que me disseram não me teria afectado…
Apesar dos apesares, não é assim tão mau. Quem me conhece como deve ser, pode ter o melhor de dois mundos: a desabrida e a cordeirinha. 2 in 1. Tipo Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Só que mais gira. Muito mais gira.
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