13.3.12

Não, porque sim.

imagem: google

Acho que à medida que vou passando pelo tempo e o tempo vai passando por mim, ganho cada vez mais certezas em relação a quem não sou, o que não faço, o que não quero, o que não digo… Ganho cada vez mais certezas dos meus nãos.
O caminho vai-se estreitando, facilitando. Os passos dados são-no com outro tipo de confiança. Não se cede tão facilmente a dúvidas, a questões existenciais, a tormentos fantasmagóricos provocados pelos se’s. Caminha-se com o olhar ligeiramente mais adiante, sem necessidade de se ir olhando constantemente para o chão à procura das ratoeiras que nos obrigam a descobrir mais aquele bocado de nós. Perdemos esse medo. Venha. Eu aguento-me a mim.
Às tantas, não temos outra hipótese se não a de admitir que nos conhecemos, que nos sabemos e que, por muito que se resista ao mau e se eleve o bom, não há nada a fazer a não ser sermos quem sabemos ser, por muito que nos custe aceitar tal destino, ou não.
Os meus nãos, sinto-o, são cada vez mais fortes, mais convictos, menos tolerantes a tentativas de desencaminhamento por parte dos se's que vão aparecendo.
A única tentação que de vez em quando me vai tentando o juízo é a de argumentar certos nãos com um enorme, redondo e incontornável “porque sim”. Mas não posso. Não devo. Puxar dos galões que se conseguem por via de se ter aprendido alguma coisa enquanto o tempo passa por nós e nós por ele seria de certa forma injusto. O tempo ainda não acabou o trabalho dele junto de mim e eu, junto dele, muito menos. Tenho demasiada fé nele, nos seus ajudantes e em mim para me ir condecorando com estrelinhas de bom comportamento sem mais nem menos. O amanhã traz demasiadas hipóteses. Há sempre mais um não a ponderar.
Apesar dos apesares, gosto desta sensação de ir criando calo. Consigo sentir-lhe os contornos. Sei onde fica e onde vai crescer. Não me vai incomodar. Se irá ou não incomodar os outros, só dependerá de mim. A condescendência e paternalismo causam-me espécie.
Houve tempos em que achava que dizer não a algo era o mais difícil que se podia fazer. Mas não, não é assim. O sim é que é difícil, daí ter que ser tão bem escolhido. Hoje, sei que sim, que assim é. E será. Cada vez mais. Não, é?

10 comentários:

Ana disse...

Mas é que é mesmo. Com o tempo, idade, experiência (whatever) cada vez mais o "não" se torna fácil e, mais que isso, convicto. Se hoje em dia tenho certezas são em relação aos meus "nãos" e pouca coisa ou nada os abala.

Me disse...

É esquisito, né?
Dantes tinha-se medo de dizer que não a alguém ou alguma coisa, não fosse acontecer perdermos uma bela (suposta) oportunidade qualquer. Agora? Não é assim.
Mas se os nãos são mais convictos e inabaláveis, os sim também o são. Mesmo que em menor quantidade...

AR disse...

"...ganho cada vez mais certezas em relação a quem não sou, o que não faço, o que não quero, o que não digo..."

Muitas das nossas escolhas fazem-se por exclusão de partes...

Beijo.

O Tarado disse...

Aqui a uns tempos li algures uma coisa que no básico... era mais ou menos isto: Nascemos sem medo, criativos, extremamente abertos a poder errar e a poder acertar. Experimentar. E de lutar pelo que queremos. Quando passamos para a fase adulta, passamos a ter medo de errar, e a dar demasiada importância ao que os outros possam pensar daquilo que... pensamos. Andamos todos com uma mascara que não será exatamente aquilo que queríamos que fosse e tudo parece uma luta constante. Depois conforme começamos a perceber que o tempo passa por nós e deixa algo, essa tal de experiência, perdemos o medo de defender os nossos pontos de vista e já lidamos muito melhor com a possibilidade de poder errar.

E quando passamos a poder lidar muito melhor com a possibilidade de errar, e assumimos que não somos donos da verdade universal, mas que somos donos da nossa verdade... seja ela certa ou não... passamos a saber dizer não e a aceitar que temos mesmo de dizer não. E sim também. Por vezes dizer sim é realmente mais difícil, principalmente quando esse sim vem com responsabilidade. A partir de um certo momento na nossa vida, pelo qual quase todos passamos, assumir a responsabilidade deixa de ser um bicho de 7 cabeças e passa a ser parte da nossa forma de ser natural.

Passamos como por alguma necessidade de sobrevivência a ter costas largas, a saber engolir sapos de forma muito menos dolorosa (nunca o deixamos de fazer), e a saber lidar muito melhor com isso. Mas mais importante que isso é que passamos a ser mais respeitados. E não passamos a ser mais respeitados apenas e só porque nos nascem uns pelos no nariz brancos. Passamos a se-lo porque fazemos por ser respeitados. Até porque esse respeito não se cria, ganha-se e conquista-se com o tempo.

Me disse...

AR,
E há cada vez mais exclusões. O que até nem é mau se pensarmos bem na coisa...

Me disse...

Tarado,
Mas é que é mesmo isso. Mesmo isso.
E disseste-o de uma maneira muito bonita. Boa Mike. Boa.
:)

AR disse...

Me, espero não ter sido um dos felizes contemplados com uma exclusão... Vê lá isso!

Beijo grande e saudades (muitas)!!!

Amanda disse...

e eu a pensar que a única tentação era mesmo um torricado!!

que crescida estás!
:)

Me disse...

AR,
Para eu excluir, é preciso muito. Mas mesmo muito.
O contrário já não é tão verdade... Mas, de certa, forma, ainda bem. Poupa-me o sofrimento de chegar ao "muito"!

Me disse...

Olá, Amanda!!
Que diferente estás! New name!
:)
E não... não 'tou crescida... Vou crescendo.
Beijo enorme! E welcome back!