22.3.12

Repros.

imagem: google

Repro – termo diminutivo para “reprogramação”, utilizado no mundo automóvel para designar qualquer reprogramação que se possa fazer à centralina de um bólide para lhe alterar comportamentos (qualquer coisa assim).

Recentemente, o meu Brutus foi submetido a uma repro.
O filtro de partículas pifou e a solução foi retirar o magano e reprogramar a centralina para não o reconhecer sequer, desligando-se os sensores que a alimentam com dados sobre o seu bom funcionamento ou não. Enquanto lá andavam a mexer no cérebro do Brutus, aproveitaram para lhe “dar” mais uns cavalos, tornando-o simultaneamente mais potente e mais poupado. Ele aguenta, asseguraram-me.
E eu passei uma semana a sorrir que nem uma maluca de cada vez que andava com ele nesta nova versão mais potente e forte. Sentir aquela força toda a transportar-me por curvas e rectas, ultrapassagens feitas sem o mínimo de esforço… Tive brinquedo novo durante uns tempos. E ainda por cima, com consumos muito mais poupadinhos. Ouro sobre azul (tirando ele agora deitar um cadito de fumo quando se reduzem as mudanças, mas nem com isso me importo. Dá um certo estilo “old school” que adoro…).
Tenho inveja do Brutus.
Com um cabo e umas linhas de script, mudaram-lhe o “pensamento”, fazendo-o crer que podia fazer mais com menos. E ele faz. Recebeu a ordem e faz. Já nem se lembra de como era antes, todo engasgado e frustrado por ter o físico em desalinho com o espírito. Já nem se lembra das conversas que tinha com ele, pedindo encarecidamente e fazendo festinhas no tabliê, para não me deixar a pé em sítios pouco adequados. Nunca o fez, é certo, mas eu tinha medo que pudesse chegar ao ponto em que o tivesse de fazer. Tratei logo de tratar dele para ele poder continuar a tratar de mim. E ele recebeu ferramentas extra para poder, daí em diante, fazer um trabalho ainda melhor.
Tenho inveja dele.
Não tenho inveja da parte da repro, mas sim da parte do antes e depois, da integração absoluta e imediata de uma nova realidade, sem mas, sem se’s, sem merdas, sem medos.
Quando somos confrontados com novas realidades que temos de integrar, por norma a primeira reacção e fugir, dizer que não, contestar e evitar que a mudança se dê. Mas aí, nesse ponto, já é demasiado tarde. Ou nos encavalitamos na onda, deixando que ela nos leve até à segurança da praia, ou nos negamos a ela, ficando em alto mar à espera que algo ou alguém nos apanhe e salve de nos podermos afogar.
Eu sei nadar. Até sei apanhar uma onda sem prancha (muito joelho e cotovelo esfolados…). E eu até sou do tipo que mandaria embora quem pudesse aparecer para me salvar. Mas preciso saber onde fica a praia. Nunca viro as costas ao mar. Respeito-o em demasia. Basta-me saber onde fica a praia, o porto seguro.
Mas nem tudo é o meu Brutus. Com ele, sei onde fica a praia. Sei até onde e como posso ir. Se dantes confiava nele, agora então, com estras mostras, mais confio ainda.
Tenho inveja dele.
E gostava de saber fazer repros. Tanto em mim, como nos outros. Nem que fosse apenas para desviar olhares perdidos no nada na direcção da praia. Nem que fosse apenas para mostrar que há sempre um porto seguro algures, apenas temos de saber procurar e ir até lá, sem medos e sem merdas, admitindo que temos mesmo de descansar e recuperar energias e que não há mal nenhum nisso.
Mas chega de projecções…
Haja bons mecânicos e mar pronto a nos acolher sem nos perdermos nele. E consciência de até onde podemos ir antes de precisarmos de mecânico ou salva-vidas para nos tirarem da embrulhada que criámos por e para nós.
O Brutus nunca me falhou. Mesmo incapacitado, nunca me falhou. Nunca tirou os olhos da praia. Nunca.
Só espero conseguir ser assim também. Por mim e para os outros. 

6 comentários:

Me disse...

Recordo, antes de se fazerem por aqui certos comentários (nomeadamente os que poderão sugerir que estou a ficar passada dos cornos), que o blog é meu, a linha editorial não existe e ponho aqui o que eu quiser! HUMPF!!!

Me disse...

Olha pronto... Agora ninguém comenta! Cambada de gente mais previsível, oh pá.

Lima disse...

Avaria-se o filtro de particulas, manda-se fora e reprograma-se o carro.

Boa filosofia...

Me disse...

Fica aí uns mil e qualquer coisa euros mais barato... Excelente filosofia!

Lima disse...

eu sei...eu sei... :(

Me disse...

Ahhh poizé! :)