imagem: google
Repro – termo diminutivo para “reprogramação”, utilizado
no mundo automóvel para designar qualquer reprogramação que se possa fazer à
centralina de um bólide para lhe alterar comportamentos (qualquer coisa assim).
Recentemente, o meu Brutus foi submetido a uma repro.
O filtro de partículas pifou e a solução foi retirar o
magano e reprogramar a centralina para não o reconhecer sequer, desligando-se
os sensores que a alimentam com dados sobre o seu bom funcionamento ou não.
Enquanto lá andavam a mexer no cérebro do Brutus, aproveitaram para lhe “dar”
mais uns cavalos, tornando-o simultaneamente mais potente e mais poupado. Ele
aguenta, asseguraram-me.
E eu passei uma semana a sorrir que nem uma maluca de
cada vez que andava com ele nesta nova versão mais potente e forte. Sentir
aquela força toda a transportar-me por curvas e rectas, ultrapassagens feitas
sem o mínimo de esforço… Tive brinquedo novo durante uns tempos. E ainda por
cima, com consumos muito mais poupadinhos. Ouro sobre azul (tirando ele agora
deitar um cadito de fumo quando se reduzem as mudanças, mas nem com isso me
importo. Dá um certo estilo “old school” que adoro…).
Tenho inveja do Brutus.
Com um cabo e umas linhas de script, mudaram-lhe o
“pensamento”, fazendo-o crer que podia fazer mais com menos. E ele faz. Recebeu
a ordem e faz. Já nem se lembra de como era antes, todo engasgado e frustrado
por ter o físico em desalinho com o espírito. Já nem se lembra das conversas
que tinha com ele, pedindo encarecidamente e fazendo festinhas no tabliê, para
não me deixar a pé em sítios pouco adequados. Nunca o fez, é certo, mas eu
tinha medo que pudesse chegar ao ponto em que o tivesse de fazer. Tratei logo
de tratar dele para ele poder continuar a tratar de mim. E ele recebeu
ferramentas extra para poder, daí em diante, fazer um trabalho ainda melhor.
Tenho inveja dele.
Não tenho inveja da parte da repro, mas sim da parte do
antes e depois, da integração absoluta e imediata de uma nova realidade, sem
mas, sem se’s, sem merdas, sem medos.
Quando somos confrontados com novas realidades que temos
de integrar, por norma a primeira reacção e fugir, dizer que não, contestar e
evitar que a mudança se dê. Mas aí, nesse ponto, já é demasiado tarde. Ou nos
encavalitamos na onda, deixando que ela nos leve até à segurança da praia, ou
nos negamos a ela, ficando em alto mar à espera que algo ou alguém nos apanhe e
salve de nos podermos afogar.
Eu sei nadar. Até sei apanhar uma onda sem prancha (muito
joelho e cotovelo esfolados…). E eu até sou do tipo que mandaria embora quem
pudesse aparecer para me salvar. Mas preciso saber onde fica a praia. Nunca
viro as costas ao mar. Respeito-o em demasia. Basta-me saber onde fica a praia,
o porto seguro.
Mas nem tudo é o meu Brutus. Com ele, sei onde fica a
praia. Sei até onde e como posso ir. Se dantes confiava nele, agora então, com
estras mostras, mais confio ainda.
Tenho inveja dele.
E gostava de saber fazer repros. Tanto em mim, como nos
outros. Nem que fosse apenas para desviar olhares perdidos no nada na direcção
da praia. Nem que fosse apenas para mostrar que há sempre um porto seguro
algures, apenas temos de saber procurar e ir até lá, sem medos e sem merdas,
admitindo que temos mesmo de descansar e recuperar energias e que não há mal
nenhum nisso.
Mas chega de projecções…
Haja bons mecânicos e mar pronto a nos acolher sem nos
perdermos nele. E consciência de até onde podemos ir antes de precisarmos de
mecânico ou salva-vidas para nos tirarem da embrulhada que criámos por e para
nós.
O Brutus nunca me falhou. Mesmo incapacitado, nunca me
falhou. Nunca tirou os olhos da praia. Nunca.
Só espero conseguir ser assim também. Por mim e para os
outros.
6 comentários:
Recordo, antes de se fazerem por aqui certos comentários (nomeadamente os que poderão sugerir que estou a ficar passada dos cornos), que o blog é meu, a linha editorial não existe e ponho aqui o que eu quiser! HUMPF!!!
Olha pronto... Agora ninguém comenta! Cambada de gente mais previsível, oh pá.
Avaria-se o filtro de particulas, manda-se fora e reprograma-se o carro.
Boa filosofia...
Fica aí uns mil e qualquer coisa euros mais barato... Excelente filosofia!
eu sei...eu sei... :(
Ahhh poizé! :)
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