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Até há uns tempos atrás, tinha uma espécie de medo terrível de fazer certas coisas sozinha. A única que gostava mesmo de fazer sozinha era ir às compras. Sempre preferi a liberdade de poder entrar e sair das lojas ou deambular por um supermercado e não ter que andar atrás de ninguém por oposição a ter que andar atrás de alguém ou, pior, ter alguém atrás de mim.
Ultimamente, no entanto, e por “culpa” de diversas circunstâncias, nomeadamente a minha firme vontade em não mais ter receio de certas coisas, passei a fazer uma data de coisas… sozinha.
Antes que comecem com merdas, há coisas que sempre faremos sozinhos ou sozinhas. Têm nome e não são para aqui chamadas… Devassos. Adiante.
Falo de coisas simples como ir jantar fora, ir para a praia… ir tomar café ou beber um copo. Ir visitar sei lá o quê ou sem lá quem… Fazer coisas. Sozinha. Sem mais ninguém. Sem conhecer ninguém. Sem se saber para onde se vai.
Comecei a fazer isto, de modo algo tímido, admito, e sempre com a impressão de que estaria tudo a olhar para mim. Depois de confirmar que, de facto, muita gente olhava para mim, comecei a olhar de volta. É giro esta coisa da interacção humana.
Nas caras e olhos das mulheres, vejo uma espécie de confusão, de pena até… de incompreensão. Medo? Talvez.
Nos homens, vejo algo menos forte que admiração mas que andará lá perto. Vejo sobrancelhas levantadas, curiosidade.
Andar sozinha faz com que se crie uma espécie de espaço à nossa volta, quase impenetrável, em que ninguém se mete. É curioso observar as diferentes reacções que obtenho quando me aventuro a ir, por exemplo, jantar sozinha a um restaurante. “Que fará ela sozinha?”, “Será que a deixaram pendurada?”, “Será que não é de cá e não conhece ninguém?”, “Será que tem algum problema, fazendo com que ninguém queira estar com ela?” e afins, são questões que quase que dá para ver formularem-se por cima das cabeças das pessoas, tipo nuvens prestes a explodir em chuva.
Sorrio sempre. Entro num sítio, peço lugar para uma, sorrio e faço a minha vidinha, na maior, como se nada fosse, tendo o cuidado de ir assegurando quem me olha, através de leves sorrisos ou inclinações de cabeça, de que está, efectivamente, tudo bem. As velhotas parecem gostar disto. Quase que respiram de alívio.
Há pouco tempo, confidenciaram-me que achavam que o facto de estar a jantar sozinha quereria dizer que tinha passado por algum desgosto de amor recente, que estaria numa de me fortalecer a toque de panachés e comidinha da boa. Achei a presunção tão redutora e rotuladora que a única reacção que tive foi a de me rir tão alto que parecia que os panachés tinham feito o devido efeito!
Não vou mentir dizendo que tudo quanto faço sozinha seja por opção. Não é. Mas a diferença, hoje, está em não deixar de fazer seja o que for, mesmo estando sozinha. Já passei pelas provas de fogo necessárias, já me aguentei a momentos esquisitos suficientes, já destruí tabus parvos em quantidade mais que suficiente para poder, sozinha, e sem a segurança de um livro ou de um telefonema para alguém, saber estar sozinha, num sítio qualquer, e transmitir a todos que estou bem com isso. Aprendi que, neste tema, quem mais precisa de ser reconfortado são os outros, os que se baralham perante tal visão, os que não sabem como reagir à coisa. Faço o que posso, sorrindo e falando alegremente com quem quer que meta conversa comigo.
Em inglês, diz-se que “being alone is not the same as being lonely”. E é verdade.
Não sei se alguns dos olhares que recebo são de inveja (por talvez não terem coragem de fazer o mesmo?), de respeito (por saberem que não seriam capazes de fazer o mesmo?) ou de solidariedade (por estarem sozinhos ou sozinhas, mesmo quando acompanhados – e isso vê-se tanto que até dói).
Tenho pensado muito no que os outros pensarão de mim quando me vêem sozinha. E inevitável. Mas sei que, seja para o bom ou para o mau, tudo quanto pensam nunca chegará aos pés do que eu penso em relação ao assunto: que, de todas as vezes que me senti mais só na minha vida, tinha alguém ao lado; que, de todas as vezes que me senti mais sozinha, estava sempre acompanhada.
Ao menos agora não ando com acessórios que dizem ao mundo aquilo que quer ouvir: que uma Mulher jovem não deve nem pode andar sozinha sob pena de assim ficar para sempre.
Temos pena, minha gente. Temos pena, mas tem sido exactamente por andar sozinha, sem ninguém e longe de tudo e de todos, longe de casa e da minha zona de conforto, que me tenho sentido mais, ironia, devidamente acompanhada por todas as pessoas fantásticas que tenho na minha vida e que, em vez de se meterem com merdas, interessam-se verdadeiramente por mim, pela minha pessoa, e não pelo que faço com outras pessoas e afins.
Quando apareço, sou só eu e mais nada nem ninguém. E por muito que tenha custado aprender a apresentar-me assim ao mundo, vejo agora que é possível que tenha custado um pouco mais ao mundo do que a mim.
A seu tempo lá nos entenderemos.
44 comentários:
Ah! Gosto tanto de ti! Orgulho-me tanto contigo! Fico tão feliz por ti my love!
Eu confesso que existem algumas coisas que [ainda] não consigo fazer sozinha, nomeadamente ir beber o dito copo -conquanto já tenha ficado em espaços de diversão nocturna sozinha, por opção, depois da companhia decidir ir embora; já conheci pessoas assim, inclusive; há sempre surpresa,sim. Para a praia até prefiro - costumo dizer que é o meu momento interior. Jantar e cinemas dependem muita da fase porque passo; normalmente prefiro ter companhia dado que sistematicamente o faço sozinha (embora em casa). Mas lá está, depende muito das fases porque passo. Porém acho que é sempre uma grande vitória pessoal! Boa Maria! Luv u****
Caredo! Orgulhas-te de mim?
:D
Tonta.
Faz todo o sentido.
Bem Mary, por vezes mais vale só que mal acompanhado...
Eu cá mtas vezes gosto e prefiro estar e sair sozinha!
Ficamos com tempo e espaço para pensarmos e fazermos o que bem queremos! há mtas coisas que nunca fiz sozinha, mas não terei medo nenhum de as fazer, quando tiver de fazer!
Todos precisamos de tempo para nós e não falo em estar em casa "alone" a ver um filme ou outra merda qualquer!
É bom percebermos que outras pessoas acham estranho ou um acto de coragem o facto de estarmos sozinhas, onde quer que seja. É giro admirar a cara das pessoas de estranheza quando alguém faz uma coisa tão natural, que é sair sozinha para qualquer merda!
A mim me gusta estar solita de vez em quando, faz bem a introspecção!
beijo-te Mary alone but not lonely
Egoiste,
Antes de mais, olá.
Faz todo o sentido o quê, exactamente?
Hmmm...
NG,
Mas tu és de outro tipo de estirpe humana...
Beijo-te a ti Mary alone and far away but not lonely :)
Uma das coisas que mais odeio fazer sozinha é comer fora. Em circunstâncias em que tenho de comer fora, vou a um sítio em que posso comprar a comida para levar e vou comer para o carro. Odeio mesmo comer sozinha. Também odeio passear na praia sozinha. Acho super deprimente. Honestamente, sozinha só gosto de ir às compras, ir ver uma peça de teatro, ir ao cinema ou um espectáculo em sítios tipo aula magna... de resto... se é para estar sozinha, prefiro estar em casa, onde estou confortável. Beijinhos!
PKB,
Mais facilmente janto ou almoço fora sozinha do que vou ao cinema sozinha... Vá-se lá perceber.
You're wierd.
:)
Olá Me,
Sem ter bem percebido onde acaba a realidade do texto, e começa a ironia, há uma ideia que é importante retermos, e que concordo a 100% contigo: Uma pessoa para conseguir andar sozinha e se sentir bem, precisa de ter um "arcaboiço" mental e uma confiança que poucas pessoas têm.
Olá, Egoiste (com esse nickname, fazes-me lembrar um vinho Alentejano chamado Egoísta e que é muita bom!! Adiante!),
Sei que és novo por aqui, por isso, vou-te só explicar uma coisa sobre este Tasco: eu não minto. Não tenho necessidade de o fazer. Não há ironias no texto - relata a minha realidade e aquilo que penso (ainda que a situação em si possa conter certas ironias).
Não deixo aqui ficção... Posso não dar pormenores, mas não invento.
Pronto. Resolvida essa questão, concordo contigo. É, de facto, preciso uma certa coragem e vontade para fazermos certas coisas sozinhos. E isto nada tem a ver com aquele "sozinho" de ficarmos em casa, quais prisioneiros, tipo reclusos da nossa própria vida, com medo de a viver porque pode não haver alguém para nos fazer companhia em certos momentos. Isso qualquer um consegue fazer - é a saída cobarde, aquela que nos faz andar escondidos do mundo.
E não, não é fácil. Mas é como tudo... à primeira, custa sempre, mas depois... vai custando menos e menos e, às tantas, até que sabe bem.
Mas, pronto. É o meu ponto de vista e vale o que vale.
Obrigada pelo teu comentário. Também já te visitei. Parabéns pelo teu blog :)
Às vezes é preciso perder para dar Valor...
É preciso chorar para aprender a Amar...
É preciso confiar para Te entregares...
Todos irão sofrer um dia para saber o verdadeiro sentido da felicidade...
Se sentires saudade: Procura...
Se sentires vontade: Faz...
Se tiveres medo: Luta...
Se perderes: Esquece...
Se gostares: Vive!
Vitória não é para quem quer, é para quem insiste e não Desiste.
Be,
Muito bonito!
É teu?
Por acaso não conheço esse vinho. Quando criei o perfil, olhem à minha volta e peguei no nome do perfume...
Como não conhecia o teu blog, e esse foi o primeiro texto que li, fiquei na dúvido. Mas tenho de ler tudo o resto, para conseguir apanhar o panorama global.
Para mim esse é o ponto de vista correcto, mas realmente é difícil convencer quem está à nossa volta que temos necessidade e prazer em, certos momentos, fazer coisas sozinhos.
O meu blogue está desaparecido... Não conseguia acompanhar aquilo diariamente, por isso abandonei. É que ou estamos sempre em cima, ou então não vale a pena.
:)
Bem, ao menos tens bom gosto em perfumes!
E não, não leias tudo... não vale a pena. Só te irias aborrecer (e, de qualquer das formas, devido a ter alterado a porra do template, há muitos posts que ficaram meio desformatados...). Tens mais que fazer, certamente. E, sim, também reparei que o teu está mortinho, mas gamei-te de lá uma coisa na mesma... Está no novo post.
Experimenta o vinho!! Só ou acompanhado... mas experimenta!
Epa na me fales do egoísta que me dá uma saudade MAry!
Isso sim é uma coisa que se pdoe fazer sozinho, mas que eu de facto não gosto! Beber um bom vinho tem de ser na companhia de alguém muito especial e que esteja sintonizado connosco e com o vinho lol!
Tu sabes do que falo! Tu sabes!
Não, mas acompanha-me à ano e meio. E achei que de alguma forma ilustra o que aqui foi escrito neste post.
Já reparei, já reparei...
Vou experimentar para ver se é mesmo porreiro.
NG,
Pois sei. Vinhaça da boa tem de ser partilhada... nem que seja para haver aquela discussão filosófica sobre os taninos e lembranças forais e raios partam os enólogos. :)
Vou arranjar umas garrafitas e guardá-las... :)
Be,
Mas olha que bem que podia ser teu. Tens aí uma veia poética quase a arrebentar. Tu é que não sabes!
E sim, também acho que tem a ver com o texto. Foi bem escolhido - tanto há ano e meio atrás, como agora.
Egoiste,
És de Espinho, certo?
Atão... fazemos assim. Tu mandas uns camarões daí eu envio umas vinhaças daqui ou daqui perto. Que tal??
;)
:)
Era bem pensado. Mas os camarões chegariam estragados.
Mas quando eu for a Lisboa ou a Santarém (vou quase todos os meses), posso levar-te um "kilinho".
Mas o vinho aguenta bem por correio... ;););)
Bem... eu estou mais ou menos a meio caminho entre Santarém e Lisboa... Chegariam estragados? Nahhh... bem embalados em gelo e chegariam cá um espanto.
O vinho aguenta bem por correio?!?!?
Olha-me este...
:)
A ideia foi dos correios foi tua...
Eu sei onde é Samora Correia, mas já não vou aí há uns anos valentes.
Mas é engraçado que para além de Espinho, estou muito no triângulo: "Santarém, Lisboa, Vendas Novas".
E quem disse que tenho sempre boas ideias? Hmmm? :)
Oh, Egoiste... se não vens cá há uns anos valentes, tens agora uma desculpa quase perfeita - Festa da Sardinha Assada entre 12 e 16 de Agosto. Nós providenciamos os touros e sardinhas, tu trazias os camarões... Esqueçamos então a ideia dos correios!
(a não ser que também sejas alérgico a sardinhas, claro...)
Não, só mesmo ao camarão e às gambas. Gosto de sarnhas, então se elas estiverem sem espinhas...
Realmente é uma boa ideia. Nesse fim de semana começam as minhas férias, e vou para aí perto.
Sardinhas sem Espinhas???
Oh, caredo!
Se vens para aqui perto, traz mas é os camarões na mesma. Talvez arranje alguma alma caridosa que te tire as espinhas das sardinhas (duvido, mas vá, que esta gente aqui do Ribatejo não é nada dada a esse tipo de mariquices...)
Acho que todos gostamos de sardinhas sem espinhas...
Olha que não era nada mal pensado!!!
Para se gostar de sardinhas, tem de se gostar das espinhas. Fazem parte. Não se pode ter apenas o bom... É como os camarões: também se tem de gostar da casca... É como as minis, também se tem de gostar da garrafa!
Será assim tão mau querermos só o melhor...?
Não é mau... é impossível!
E, mais, se não soubermos do mau, como podemos dar valor ao bom? Como sabemos sequer que existe?? Hmmm?
A sardinha não será melhor exactamente porque ultrapassamos as espinhas?
O que é "lutado" e brigado não sabe melhor do que aquilo que nos é entregue de bandeja?? Hmmmm?
:)
Menina, o que eu disse é que queremos o bom. Obviamente que ter sempre o bom é impossível.
A diferença entre as pessoas é que algumas preferem o mau ao não ter nada.
Não há dúvidas que o lutado e combatido sabe sempre melhor.
Mas...
Menino,
Preferir o mau ao nada? Pois. Há, de facto, muita gente assim.
Gosto de pensar que não faço parte desse grupo. Quero, sim, o melhor... e se tiver de lutar por isso, sabe-me tão bem que... eh, pá, que torna o melhor ainda melhor.
Mas???
Eu tenho a certeza que não faço.
Tudo o que tenho é por prazer, e não por desleixo ou por facilitismos.
É o k dizias outro dia. Ter prazer em fazer coisas sozinha...
Mas, sabes quando hás-de parar? Ou seja, quando a luta começa a ser desigual e injusta, e até improdutiva.
Ena! Isso é que é segurança!
Qual luta? A de irmos atrás? Sabermos quando parar?
Hmmm... ou quando já estamos numa fase em que nos estamos a envergonhar ou então quando nos dão um "não". Ou isso ou quando já se investiu mais do que o ROI nos vais devolver.
Mas, como sempre, também entra na equação a tal coisa do estômago...
Acredito que seja assim. A sério, sem peito inchado.
É muito complicado...
Já estamos a fugir ao ponto central .
Sabes que isto das conversas... são tipo camarões de Espinho...
;)
(e ela a dar-lhe!)
Não se consegue parar. É verdade.
Ok, eu levo os bichinhos!!!
YEAH!!!
Isto é que foram negociações!!!
Fonix! Até me sinto cansada!
:)
Vou deixar-te repousar...
Descanso e repouso só mesmo com camarões... ;)
Está mais do que prometido!!!
=)) I never said I was normal...
PKB,
Graças aos Santinhos!
:)
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