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"O grande problema de ter de escolher entre duas hipóteses é a inevitabilidade de assumir a responsabilidade pelas consequências dessa escolha. Quem nunca escolhe nada, nunca corre o risco de errar, mas também nunca decide, nunca dirige, limita-se a ser dirigido." – Jorge Maia (Jornalista de O Jogo).
Vi isto em blog alheio, e vi também, escrito de forma elegante e cheia de graça, algo que há tempos penso e venho a apregoar a quem me quer ouvir: a inevitabilidade de assumir a responsabilidade pelas consequências de uma escolha.
Isto é algo de tão elementar e básico para mim que nem tenho palavras para descrever o que sinto quando vejo gente a fugir e a fugir como se fosse possível enganar o sistema e escapar, ilesos, às tais consequências dos próprios actos.
Em conversas sobre o assunto, costumo dar dois exemplos meio parvos mas que transmitem bem o que penso (espero eu).
O primeiro tem a ver com o assunto traição (seja de que forma for e entre quem for).
Sempre disse, em especial a namorados, claro, para me traírem à vontade. Para tomarem essa decisão sempre que achassem que era necessário ou que não podiam fugir da mesma. Explicava que uma traição era, apenas e só, um grandioso leque de decisões e opções que se tomam de milissegundo em milissegundo. Uma traição é um conjunto de decisões que se tomam à medida que a nossa boca se aproxima de outra, terminando as mesmas no momento de contacto. Uma traição é um conjunto de decisões que se tomam a cada milissegundo à medida que escolhemos as palavras que ferirão ou destruirão algo em alguém. Até as mesmas serem proferidas, há sempre escolha, decisão, opção.
Sempre disse para me traírem à vontade mas para terem cuidado para eu não saber… Sempre disse para o fazerem mas para o fazerem de forma que me honre, que me faça justiça ou então que me suplante. Para, quando estivessem a decidir, decidissem por algo maior e melhor que eu, que decidissem por algo que até a mim me deixaria a bater palmas pela opção tomada porque, obviamente, se me traíssem, perdiam-me nesse instante. Por isso, ao menos que fosse a favor de algo melhor, em prol de algo grandioso e absolutamente incombatível.
Eu pura e simplesmente não traio. Se tomo a decisão de estar com alguém, estou. Não procuro mais nada, logo, não deixaria de estar com essa pessoa devido a outra ter aparecido em cena. Honro e assumo a minha opção por aquela pessoa, tomo a responsabilidade de me assumir como namorada, amiga, seja o que for. É claro que há decisões que depois se revertem, mas, para tal acontecer, seria sempre com base em novo leque de decisões, com base em novo conjunto de informação sobre a pessoa em si (ou sobre mim), fazendo não com que a decisão inicial fosse revertida, aliás, mas sim tomada uma nova decisão quanto ao assunto em questão. Nunca desonraria uma decisão e opção minha traindo alguém por um beijo dado a toque de repentinas vontades e circunstâncias mais, digamos, férteis, por exemplo. Nem a mim me traio (mas tive que aprender a não o fazer…).
O segundo exemplo que dou tem a ver com a minha casa e forma como faço a minha vida.
Perguntam-me muitas vezes se é a minha Mãe que me trata da roupa e afins. Respondo sempre que não (e não é). Que não aceito que ela o faça porque se eu assumi isto na minha vida, se eu optei e decidi por ter a minha casa e as minhas contas e a minha independência, seria parvo fazer isso para depois permitir que outros suavizassem as minhas responsabilidades, deixando-os levar-me ao colo de modo, quase, a negarem as opções e decisões por mim tomadas. Quase como se tudo isto fosse um capricho, uma vontadezeca de ter chave de um espaço que apenas contém coisas minhas e de mais ninguém. Assumo, perante quem tenho de assumir, o que decidi e sigo em frente fazendo tudo quanto isso obrigue. Comprar casa, por exemplo, é fácil quando a única coisa que se tem de fazer é pagar a prestação ao banco… Posso estar a simplificar a questão, mas vocês percebem.
Eu penso assim e tal como não me tento escapar às consequências do que faço, também não permito que os outros o façam comigo ou que os outros o façam em relação a mim. Se tiver de dar os parabéns a alguém por algo bem feito, dou. Se tiver de dar na cabeça, dou. Não deixo que os actos dos outros não tenham efeito em mim. Se tiver de aceitar os parabéns de alguém por algo que tenha feito de bem, aceito. Se tiver de levar na cabeça, levo. Nesta questão, sou intolerante para com as tolerâncias dos outros – se faço merda, espero que mo digam e que não deixem a coisa passar só porque assim é mais fácil. Não quero gente ressentida comigo ao meu lado. Ou a coisa se resolve logo ou então… então nada. Consigo ser extremamente persistente com isto e chateio e chateio até me assumirem o que realmente pensam e acham de alguma coisa.
“Quem nunca escolhe nada, nunca corre o risco de errar, mas também nunca decide, nunca dirige, limita-se a ser dirigido”. E, como corolário: "Tenhamos coragem de viver. Morrer qualquer um consegue fazer" - Robert Cody.