“Lugar”
Tinham-lhe dito que aquele lugar estava cheia de fantasmas. Não acreditava. Nunca tinha acreditado nessa possibilidade. Enquanto criança, achava engraçado conseguir provocar o terror nos amigos e amigas quando dizia que queria ir até lá ver os fantasmas. Nunca ninguém quis.
Anos mais tarde, numa visita rápida à família, lembrou-se do casarão. Fazia frio. Pegou num casaco e foi dar uma volta.Queria ir lá ver se continuava a não acreditar. Passeou pelo bosque à volta do casarão. Olhou. Viu. Apurou os sentidos. Olhou melhor. Não ouvia nada. Silêncio.Tinha esperança em descobrir que afinal acreditava. Não lhe parecia. Não sentia nada.
Mexeu os pés por entre as folhas. Parou junto a uma das muitas árvores em frente à entrada principal e respirou fundo. Lembrava-se daquele ar. Lembrava-se bem daquela frescura a entrar-lhe pelos pulmões. Lembrava-se.Viu as paredes escritas e riu-se. Afinal havia mais quem se atrevesse a ir até ali, sem medo. Aliás, sem medo ao ponto de provocar. Não precisava chegar a tanto. Respirou.
Foi-se embora. A esperança morrera. Sorriu perante essa noção. Não se importava. Sossegou. Apertou o casaco e foi-se embora.
Se nem mesmo quando o casarão possuía ainda toda a nobreza que janelas e paredes intactas conferem acreditava, não era agora, perante um fantasma do que aquele lugar já tinha representado, que iria dobrar-se. Não.
Foi.
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