8.2.07

Despenalização do Aborto

Bem, eu tenho andado a evitar falar sobre este assunto aqui. Mas, tenho de me render às evidências e deixar aqui a minha opinião, mesmo que ninguém ma tenha pedido, puro e simplesmente porque estou um bocado farta de certos fundamentalismos e erros e má-concepções e até puras ignorâncias. Não sou mais esperta nem mais bem informada do que ninguém, mas porra, também tenho a minha opinião e o blog é meu… Ok. Primeiro, uns dados para sabermos mais ou menos do que estamos a falar. Concepção: esta só ocorre cerca de duas semanas após a última menstruação. Em termos contabilísticos, uma gravidez dura 38 semanas desde a data de concepção e 40 semanas desde a data da última menstruação (por facilidade de controlo, fala-se sempre em 40 semanas). Embrião: considerado até às 10 semanas de gestação. Feto: Considerado a partir das 10 semanas de gestação. Batimentos Cardíacos: São detectáveis a partir dos 22 dias de gestação (5 semanas se falarmos no total das 40). Tendo tudo isto em consideração, a questão à qual vamos responder no próximo dia 11 é se concordamos com a despenalização do aborto até à 10 semanas de gestação. A pergunta não é: - se concordamos ou não com o aborto - se concordamos ou não que as dez semanas são uma data razoável - se concordamos ou não com o aborto clandestino - se concordamos ou não com o financiamento do governo, através do sistema de saúde, para as pessoas (e não apenas mulheres, mas já lá vou) que queiram abortar - se concordamos ou não que existe vida a partir de ou antes (sequer) das 10 semanas A pergunta é: - se concordamos ou não que nenhuma mulher possa ser criminalmente responsabilizada por fazer um aborto antes das 10 semanas de gestação. Simples. É sobre mandar ou não alguém para a prisão. SIMPLES, PORRA! Agora, permitam-me divagar um cadito sobre certas coisas, mesmo que não tenham rigorosamente nada a ver com o que se vai votar no próximo dia 11. Bolas, se os defensores do “Não” podem acusar os defensores do “Sim” de serem assassinos, então acho que todos quanto queiram também podem sair do caminho da decência e apresentar argumentos, razões, explicações, pontos de vista, etc. que em nada (ou quase nada) ajudam ao debate ou à tomada de decisão. Incluindo eu, claro (o blog é meu…). Religião: A Igreja Católica, até há uns anos atrás, apenas considerava que um ser humano se tornava “pessoa” aos 7 anos. Era esta a idade da razão. Só a partir daqui é que se tornava em algo válido e merecedor de ser considerado (sequer). Engraçado, huh? Os homens não deviam votar: Os homens, como é óbvio, constituem os restantes 50% de parceria necessária para que haja concepção (e não estou a falar apenas de sexo). Se os homens podem e devem estar presentes nos enjoos, nos maus feitios, nas apetências, nas dores, no parto, na mudança de fraldas, no alimentar, no cuidar, no amar, no educar, porque raio não devem ser achados nem procurados quando se fala da questão do aborto? Será que, nesta questão, os homens são vistos como (e desculpem-me o termo) bois cobridores que apenas servem para fecundar um óvulo ponto final parágrafo? Aborto = Assassínio: Nem me vou meter por caminhos de falar sobre o que é o assassínio (tentado, não tentado, frustrado, não frustrado…). Considerem o seguinte: uma pessoa que, por uma razão ou outra, fica em coma (daquelas graves). Apenas possui batimento cardíaco. Respiração assistida. Cérebro? Morto. O que é que se faz? Desliga-se a máquina. Assassínio? Vejam a correlação e respondam à pergunta por vocês mesmos. Nem vou falar de assassínios daqueles que envolvem tiros e acidentes e facadas, etc. E nem vou falar da questão da eutanásia… nem vou por aí. Vida: Há vida em tudo. Numa árvore. Num gato. Numa gota de água. Num espermatozóide. É mais do que óbvio que um embrião possui vida. É uma vida assistida. Não existiria não fosse pelo corpo da progenitora. Não existiria de forma independente caso fosse retirado do útero e colocado em cima de uma mesa até perfazer 9 meses. Assim, é algo que não é independente. É dependente. Totalmente dependente da vida e corpo de outrem. Faz parte integrante do corpo de outrem porque caso não fosse assim, não sobreviveria. É uma vida assistida. Tal como a pessoa em coma ligada à máquina: não tem a mínima hipótese de sobreviver sozinha. É dependente. Quem é dependente desta forma não possui direitos de independência. Não possui figura jurídica. Não possui persona. Não lhe é perguntado nada porque não pode, consegue (seja o que for) responder. Tem de se responder por ele. Educação sexual: Sim, vamos confiar no Estado Português para informar toda as criancinhas e todos os jovens e todos os adultos deste país sobre o que é sexo seguro, sobre o que é engravidar, sobre o que é ter um filho. Sim, vamos. Lamento informar, mas, nesta questão, ou se é curioso e se descobre tudo, ou se tem bons pais, preocupados e abertos, que explicam tudo. Tecnicamente, se estivéssemos nos EUA, por exemplo, penso que haveria hipótese de processar o estado pela falta de educação sexual nas escolas (e não só) se alguém engravidasse por não saber que aquilo daria aquele resultado… ou processar os pais… ou as revistas… ou os livros… ou as escolas… tudo. Por exemplo. Agora, falando mais a sério (ou não). Não posso conceber que uma mulher possa ir para a prisão por tomar a decisão consciente e racionalizada de não continuar com uma gravidez. Daí a questão ser sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez e não sobre o Assassínio Mal Informado de Embriões. Não posso conceber que não me seja reconhecido o direito de fazer o que quero com o meu corpo sem correr o risco de ser presa. Não posso conceber que seja dada maior importância a um aglomerado de células com potencial para a vida independente do que aquela que me é dada a mim, já com vida independente, criada, e perfeitamente capaz de subsistir, sobreviver e viver sozinha. Não posso conceber que seja obrigada a continuar com uma situação que não desejo de forma alguma (independentemente da forma como me meti nela. Ninguém tem nada a ver com isso). Não posso conceber que o Estado e uma minoria bem falante e com a extraordinária capacidade de redireccionar o foco da questão para outros assuntos que não os em discussão possam reger a minha vida, castigando-me e proibindo-me de tomar as minhas próprias decisões em relação ao meu corpo, em relação à minha vida e em relação às vidas que posso e quero trazer para o mundo juntamente com quem mas ajudou a conceber. Merda. Por esta ordem de ideias, passa a ser ilegal bater uma punheta (devido ao desperdício de potenciais vidas humanas) e passa a ser proibido comer ovos porque aquilo é uma quase-galinha. Só faz abortos quem quer. Não faz abortos quem não quer. Eles são, de facto, realizados na mesma. Só que, para algumas pessoas, a existência desta lei nem sequer as preocupa porque sabem fazer as coisas ou então pegam nas malas e vão à vizinha Espanha. Para outras pessoas, a lei existe como uma nuvem que as persegue até atingir a data de prescrição (sim, as pobres que aceitam qualquer coisa, incluindo o risco de serem delatadas). A penalização NÃO é igual para todas as mulheres, porra! A despenalização podia ser. Aí sim havia igualdade. Para quem tiver mais paciência e interesse, existe um artigo espectacularmente bem escrito no seguinte endereço http://mypage.direct.ca/w/writer/fetusperson.html Quem quiser consultar mais umas coisas: www.pregnancy.org www.drspock.com www.abortionisprolife.com

2 comentários:

puku disse...

já estou cansado do tema, como sabes
já estou farto de falsos moralismos
aborrece-me pensar que existem pessoas que se arrogam o direito de, sobre esta questão, decidirem o que se deve fazer, como se deve fazer, a quem se deve fazer
claro que concordo contigo
assim, desta forma, sem mais justificações

Me disse...

também eu já tou mais que farta. que chegue dia 11 para isto tudo acabar depressa.
Bolas!! Ovários!!!