Tenho um amigo que sofre de uma doença genética que,
apesar dos apesares, também lhe confere um quoficiente de inteligência superior.
A relação, existente, ainda não possui explicação científica suficiente que
permita determinar, sem dúvidas, a relação entre uma e outra. Mas que já foi
provado, já foi.
Dizia ele, num destes dia, que tem dificuldade em se
“inserir” no meio no qual está inserido. O meio não puxa por ele. O potencial
que possui é como um motor a trabalhar ao relantin para poder acompanhar os
outros que tanto se esforçam para se colocarem em marcha. Considerado, por nós,
como muito inteligente, e ainda que ele também o saiba, sente-se mal e
deslocado, sedento por algo que o desafie e o faça sentir-se “em casa”. Dizia
ele que o meio, no caso dele, não ajuda, tal como não ajuda seja quem for que
necessite de estímulo para atingir e usufruir de todo o potencial que possui.
Eu, sem doença que me aumente a inteligência e tendo que
me safar com a que me calhou, e como costumo dizer, pura e simplesmente não sou
de cá. É o meio, sempre o meio, que me deixa num extremo ou outro – deslocada
por excesso ou défice. Ou me sinto a mais, ou me sinto a menos. Ou fico pasmada
com a incompreensão alheia, ou espantada com a minha própria incompreensão para
com o que parece tão fácil e simples aos outros. Frustro-me comigo e com os
outros, ajusto posições, medeio opiniões, resguardo pensamentos e resfrio
acções. Não sou de cá e já me habituei tanto a ver-me como outsider que, temo,
mais tarde ou mais cedo, vou ter que fazer algo para que o meio seja mais
confortável. Ou me mudo a mim; ou mudo-me.
Não sou de cá. Não pertenço. Safo-me, mas não pertenço no
verdadeiro sentido da palavra.
O amigo de que falei pensa emigrar para sítio onde possa
finalmente sentir-se confortável. Ao que parece, Portugal não é para os
inteligentes. Eu, teimosa e burra, provavelmente, ainda não cheguei a esse
ponto, mas já estive mais longe. E é triste viver-se num sítio em que os
sucessivos nãos que se vão levando às tantas apenas nos ajudam a colocar-nos a
nós próprios em questão, especialmente depois de o cansaço das batalhas se
tornar tão pesado que mal se tem vontade de falar, quanto mais insurgir contra
ou a favor de seja o que for. As sucessivas más notícias que se vão recebendo,
os constantes cortes de pernas que se vão levando, as inúmeras lâmpadas que se
vão apagando ao fundo do metafórico túnel… Tudo cansa e destrói qualquer tipo
de esperança ou fé no intangível, numa coisa chamada futuro.
E acho que estamos todos assim. Mais ou menos resignados,
mais ou menos adormecidos, demasiado ou de menos inteligentes para fazer o que
é preciso, expectantes com algo que apareça e nos salve de nós próprios. Temos
vozes que fazem barulho. Mas as mãos e os pés arrastam-se pacificamente, mesmo
que em protesto, fugindo da eminente humilhação de se ter que admitir que não
há mais por onde construir e criar desculpas para nada. Nem para nós, quanto
mais para o eles.
Não somos de cá. Os portugueses que Portugal tem não são
de cá. Parece que fomos transplantados para vir cá destruir isto, aos poucos,
de dentro para fora. Não fazemos honra ao país e muito menos a nós próprios.
Portugal merecia melhor. O nosso filtro falhou. Deixamos passar para diante
quem nunca devia sequer ter entrado à porta. Falhamos ao nosso país. Falhamos o
nosso país.
Não somos de cá.
2 comentários:
...
I´m an alien
(I always know)
Somos todos... mas nem todos sabemos ;)
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