10.9.12

Calem-se.

imagem: google

Mais valia estarem calados. Calados, caladinhos e de bico fechado. 
Mais valia não andarem com certas conversas e certas insinuações e certas perguntas e frases que começam com insultos e remédios para todos os males, incluindo os que hão-de vir e que fazem sofrer por antecipação. 
Mais valia não proferirem palavra, não mostrarem emoção, não despejarem sentimento para cima do próximo. Mais valia. 
Todos sabemos que ninguém vai fazer seja o que for, ninguém vai mexer palha, ninguém se vai levantar do lugar (quanto mais a voz) para insurgir contra tudo o que se acha mau e injusto e cruel e ruim. Todos sabemos que vamos fazer os possíveis para passar o mais despercebido possível, para não levantar ondas, para não falar mais do que o que se deve. Todos sabemos que faremos exactamente o que é esperado que se faça – nada. 
Mais valia estarem calados. Não encherem os cafés com conversas de ocasião que se atrapalham entre a mais recente subida de impostos e a última vitória da selecção. Não cansarem os colegas de trabalho com contas feitas ao ordenado que, afinal de contas, vai ficar ainda mais pequeno. Mais valia ficarmos todos caladinhos, de bico bem apertadinho, para depois não sofrermos com a certeza de que se as coisas estão assim, foi porque deixámos e se vão ficar pior, é porque vamos deixar que fiquem. 
Mais valia estarem calados. Todos. 
As conversas que deprimem e assustam, que enervam e enraivecem, todas elas misturadas com relatos de férias mal passadas a jantar em casa ou a levar sandoca para a praia, os queixumes do preço dos combustíveis, do IVA, da Segurança Social, dos cabrões que têm motorista, das finanças que roubam tudo e não deixam nada, dos filhos da puta que recebem o rendimento mínimo e não fazem nenhum… Calem-se. Parem com isso. Calem-se. Calem-se! 
Mais vale assim. Se não há intento de acção por detrás das palavras que se cospem e tossem e se arrancam da garganta, mais vale o silêncio. Se os pés e mãos não estão preparados para seguir o que a boca proclama, calemo-nos. 
Caladinhos é que estamos bem. 
Calem-se.  

7 comentários:

Me disse...

Eu quando disse "calem-se", não me referia aos comentários, obviamente...

Amanda disse...

piu...

Me disse...

Amanda,
Pois... Mas "piu" vale!
;)

g disse...

Cala-te, porra.

Me disse...

g,
Ê tô calada... que nem uma ratinha!!

A. disse...

O pior é que há sempre qualquer coisa a apontar. Se alguém fala muito, é porque fala muito, porque é um boca de trapo que fala, fala, fala, mas no fim ninguém o vê a fazer nada.

Se está calado, é um cepo, que não tem opinião, que tem medo de falar, de mostrar o que pensa e portanto o que possa dizer não tem muito valor.

uma pessoa está sempre tramada é o que é.

Me disse...

E eu é que tenho mau feitio! OH!
Fale-se à vontade, mas com jeitinho e, acima de tudo, conhecimento. Mas mais importante que isso ainda, tem de se saber agir com base no que se diz. Caso contrário, mais vale não dizer nada.
Acho que a malta que saiu à rua no passado dia 15 são excelente exemplo. Falar e agir. Só assim faz sentido.