Há uns tempos atrás, recebi visita de amiga. Ela estava triste, em baixo, com enorme maralhal de coisas más e ruins a encherem-lhe a mente e peito (apertadinho, apertadinho). Mal a podia olhar (quanto mais tocar) que começava logo a ficar de olhos cheios de lágrimas.
Eu, adepta do “tough love” e porque prefiro evitar cenas
de choro quando um bom grito pode resolver a questão de forma muito mais eficaz
(muito mais libertador se realmente tivermos o cuidado de gritar tudo o que nos
vai na alma como deve ser e de uma só vez, tipo golfada de ar quando se passa
demasiado tempo por baixo de água, só que ao contrário, para fora), empreguei o
meu melhor tom sarcástico e transformei a coisa numa competição para ver quem
teria, afinal, a “pior” vida. Ela dizia uma coisa, eu atirava-lhe com duas. Ela
mandava outra e eu nem a deixava acabar. Lembro-me de ter usado a palavra
“falhada” muitas vezes. Lembro-me de certas coisas me terem doído. Lembro-me de
ela se resignar, desistir da batalha, sorrir meio derrotada e ir dali com nova
luz. Não foi curada, mas agradeceu-me a dose de bom senso que a obriguei a
engolir. Não sejas totó, respondi-lhe.
E eu, a que ganhou a batalha por tecnicalidades, voltei
para dentro de casa e fechei a porta do sítio onde guardo certas ideias que só
solto quando sei que podem servir para alguém se sentir melhor. Ignoro-as até
onde e sempre que me é possível, mas só o facto de ter que andar sempre com a
chave por perto…
Tudo isto para dizer que, de vez em quando, temos de nos
mostrar para que os outros se vejam melhor.
Mais ou menos isso.
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