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IV Desafio. Texto em que usasse as palavras fada, entranhas e nefelibata.
(Priberam, gente. Priberam.)
Ignorou-o e continuou nos seus voos picados, fazendo-lhe
razias junto às enormes orelhas que Regadega ia tapando e coçando a cada
passagem.
- Mas tu não vês?! Não sentes?!
- Não. Pára quieta. Come., respondeu-lhe apontando para a
tigela.
- Não tenho fome! Não sinto fome! Apenas sinto… sinto que
há mais do que isto! Há mais! Tem de haver! Eu sei que há!
Mais uma razia à orelha esquerda do elfo ancião.
Enxotou-a como quem enxota uma mosca chata e demasiado persistente nas suas
insistências.
- Às vezes tenho tanta certeza que tenho razão que quase
dá para a saborear na boca, sentir na pele, nas entranhas, até! Eu sei que há!,
exclamou enquanto voava até ao topo da árvore sob a qual almoçavam. Estavam a
meio da longa viagem até à aldeia vizinha para compra de pós e pozinhos para as
mezinhas do ancião.
Regadega enfiou um pedaço de pão na boca e mastigou-o sem
vontade.
- Nefelibata ingénua., suspirou.
- O que disseste?! Chamaste-me aquele nome outra vez?!,
exigiu saber ela enquanto se deixava cair lá de cima até pousar no ombro dele,
agarrando-lhe a orelha com as mãos minúsculas.
- Come. Descansa. Vais-te cansar. O caminho ainda é
longo., disse-lhe meigamente.
- Eu sou uma fada! Uma fada, ouviste?! Não sou elfo velho
e cansado que nem tu, Regadega! Eu consigo voar entre as nuvens! Ao lado das
andorinhas e libelinhas! E é quando estou lá em cima que vejo mais longe e sei
que há mais além do que aqui. Tu só vês árvores, ervas daninhas e terra suja!,
gritou-lhe ao ouvido enquanto levantava de novo voo para ir ver as vistas ou
atormentar mais uma borboleta incauta. Distraída, deixou-se surpreender por
sopro de vento que a atirou contra a árvore, fazendo-a aterrar no colo de
Regadega coçando a cabeça e com lágrimas nos pequenos olhos.
- Vês, Nonô? Vês, minha pequena nefelibata?, sussurrou
Regadega baixinho enquanto a levantava.
- Tu podes voar e ver mais além, mas nunca te esqueças
que tens um limite. Do chão não passas. E eu nem sempre vou estar cá para te
apanhar…
- Oh, Regadega. Mas há mais. Tem de haver. Sinto-o!,
queixou-se ela, trepando até ao seu pescoço e aninhando-se por baixo do queixo
dele.
- Claro que há, Nonô. Mas tens tempo. Vá... Descansa que
a viagem é longa., sussurrou.
E descansaram.