12.10.11

Se fosse eu…

imagem: google

Perguntaram o que diria se fosse eu a silenciosa.
Respondi que não saberia o que dizer.
Insistiram.
E eu também, até saber.
-
Ainda és tu. Antes de saber que eras tu, já eras tu. Até mesmo quando não eras tu, eras tu. E até mesmo quando não fores tu, és tu. Serás sempre tu.
Não te guardo no coração. Não te guardo na cabeça. Guardo-te aqui num sítio especial, que existe só para ti e que é muito mais fácil de sentir do que o coração ou a cabeça: na garganta. Bem atravessado e alojado, encalhado, até. Na garganta, que é por onde falo e calo, que é por onde passa cada golfada de ar que respiro e me mantém viva. É aí que estás. A testemunhar tudo o que por mim passa. A veres, na primeira fila, cada risada que dou, cada aperto que sofro. É aí. No único sítio que não consigo disfarçar ou mentir que existe. No único sítio que quando fecha, tudo pára; que, quando se abre, tudo flui.
No único sítio onde ficam por dizer as coisas que não se tem coragem ou força para dizer; no único sítio por onde se engolem lágrimas, quase como se recolhermo-las de novo ao corpo faça com que não sejam desperdiçadas. No único sítio que se apertava em ânsia por um beijo teu, no único sítio onde se formavam as palavras amo-te, quero-te, fazes-me falta, sou tua.
É aí que te trago comigo. Não é na cabeça. Essa é esperta e tem truques que arrumam e alteram pensamentos e sentimentos. Não é no coração. Esse também tem demasiados truques que deturpam a realidade das coisas, fazendo-as parecer mais perto do que realmente estão, ou mais longínquas do que alguma vez foram. Esse parte-se. Quebra-se. Aí, não.
É entre os dois que te guardo. É aí, onde também se guardam todas as amarguras e doçuras da vida, que te escondo, que te protejo dos truques vis do resto de mim que tanto tenta fazer com que desapareças, como tenta fazer com que te ressuscites e te tornes maior que eu. É aí, no sítio onde suspiro as memórias e as fantasias, os sonhos. Onde engulo e engasgo os arrependimentos, onde tusso os disparates e desculpas que me tentam acalmar os dias.
Sempre foste tu e sempre serás tu. Mesmo que nunca mais nenhum beijo tenha o teu sabor, mesmo que nunca mais nenhuma ânsia seja por saber que te vou ver daí a minutos. Mesmo que nunca mais por mim passe ar que te tenha acabado de tocar.
Mesmo que nunca mais volte a seres tu, sempre o foste, sempre o vais ser, sempre o serás.
Por isso, cuida de ti. Mantém-te bem e feliz. Contente e satisfeito com os dias, com as noites, com tudo o que a vida te dá a provar. Dá tudo de ti. Recebe tudo o que tiveres para receber. Sem medo, sem remorsos. Vive. Bem e muito. Cuida de ti por mim. Só assim te sei bem entregue. Só assim me sei bem entregue.  
És tu. Sempre foste e sempre serás. Tu.
-
Se fosse eu, talvez fosse isto que dissesse... nem que fosse para ninguém ouvir. 

7 comentários:

AR disse...

SPEECHLESS!!!!!!!!!!!!!!!!!

Me disse...

Me, too!!!! (acho que só há uma coisa que me deixa mais contente do que criar, é ter-te a dizer que criei bem. E, porra, se o orgulho e vaidade são pecados, então venha o inferno! Obrigada, "Meistre". Obrigada!!!)

Me disse...

Porra. Comentadores da tanga. Ehhh.

MM disse...

lol de tanga não sei...mas quem te manda escrever desta forma tão intensa que até nos sentimos atrasadinhos se dissermos alguma coisa??

ah eu sou a da zona centro que achava que a vaca era um touro :P

Me disse...

Olá, MêMê
Quais atrasadinhos, porra! Há que participar! Assim sinto-me muito sozinha!

E olha lá... isso da vaca e do touro já foi há muito tempo, certo? Se bem me lembro...
De qualquer das formas, welcome back!

O Tarado disse...

maria passeava pela casa semi-nua a arrumar a roupa que tinha acabado de lavar. A brasileira boazona já tinha ido para casa e ela tinha-se esquecido de tirar a roupa de inverno para baixo para lavar. Estava a ficar frio e precisava de alguma dela para segunda feira.

Mas passeava semi-nua pela casa.

Ao passar na sala para ir buscar as meias que eu gentilmente deixo sempre a cheirar chulé em cima das revistas na mesa de centro, roça a perna numa quina da mesa e aleija-se. Olha para mim como que a dizer "foi por tua culpa cabrão do caralho que eu me aleijei... vê lá se metes as meias no sitio certo.". Mas não disse.

Estranhando a passividade deixei-me estar. Puta da gaja. A tentar fazer chantagem psicológica. Que vá a merda.

Estava a dar um jogo qualquer de bola e eu fingi-me muito interessado e ocupado. O meu truque para ser as duas coisas é estar no portátil e ver qualquer coisa enquanto dou lanços de olhar interessado na TV que nem som tem.

Ela entra e sai da sala várias vezes e eu não lhe digo nada. Sim sou orgulhoso e a vaca estava-me a chatear à horas com meias palavras e silencios. Nem olhei para ela. Que sa foda.

Continuo na minha.
www.google.com
portuguesas na foda - 1600 resultados
portuguesas tuga no truca... mais umas centenas

Merda. Não consigo fazer uma pesquisa que retorne 1 resultado. Ou 0.

A maria estava a fazer barulho com fartura na cozinha e os meus nervos acumulavam-se. Estava frustrado, chateado e a começar a ter vontade de lhe mandar dois berros.

Entra na sala novamente, olha para mim com ar desinteressado e ar de reprovação. Ao mesmo tempo pega numa carrada de documentos que eu tinha deixado em cima da sala, e mete-os todos numa gaveta sem ordem nem cuidado. Estava-me a passar.

Fui tomar duche. Tentar acalmar os ânimos. Nao estava a conseguir. A dias que ela me chateava a cabeça, me contrariava e me picava. Tinha perdido a paciência. Desta vez não quero saber dos nossos anos juntos. A vaca estava-me a a foder o juízo e eu tinha de lhe meter na ordem.

Desço furibundo e vou direito a cozinha. Tarde demais. Ela estava na sala.

Chega-se ao pé de mim como que se viesse tirar satisfações de alguém, mas antes que eu pudesse abrir a boca, dá-me um beijo e diz-me com aqueles olhos que me fizeram apaixonar perdidamente: "amo-te tanto."

O silêncio por vezes é ensurdecedor.

Me disse...

O silêncio diz tudo.