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O medo é a mais universal e útil das emoções. Tudo fazemos para o evitar ou minimizar. Tudo. O medo reina, é Senhor e ganha sempre todas as batalhas de vontade nas quais se envolve. Ele é supremo, omnipresente e tão poderoso que é capaz de nos matar num ápice. É a mais homenageada das emoções: prestamos mais vassalagem ao Deus Medo do que a qualquer outro deus ou santo. É o medo que nos faz andar para a frente, que nos trava os passos, que nos faz recuar a uma velocidade estonteante. É ele que espalha um bocado de magia sobre o amor; é ele que deixa cair flocos de racionalidade sobre certas decisões. É ele que nos mete de pé e que, a seguir, nos atira ao chão, sem dó nem piedade, se por acaso decidirmos testar exactamente até que ponto somos servos da sua vontade.
O medo é a linha que demarca o voo dos sonhos, a intensidade da esperança e a força das convicções. É ele que nos rege a vida, qual pequeno ditador, que nos seca a boca e torce o estômago, que nos semeia dúvida e reticência na alma. É ele que nos fecha os olhos ao que não queremos ver e que os abre de vez apenas para mostrar quem realmente manda. É ele que cobre visões puras e bem-intencionadas com sombras escuras e assustadoras; é ele que nos arranca palavras impossíveis de serem ditas de livre vontade da garganta. É também ele que cala uma data de outras.
O medo tudo abarca e tudo rege. E nós, fiéis escravos de sua vontade, raramente lhe viramos costas. Ainda mais raramente o convidamos a sentar-se a nosso lado, a fazer certas viagens connosco. A sabedoria que traz raras vezes é acarinhada e nutrida por nós; não o sabemos ler ou entender. Não percebemos as suas intenções, logo, não o queremos por perto, qual animal selvagem e perigoso que nos ameaça a existência a cada segundo.
O medo é a mais forte das emoções. Talvez a mais forte. A que mais destrói e a que mais constrói. A que mais nos faz crescer e a que mais nos diminui.
Uma vida sem medos seria, para muitas pessoas, uma vida imaculada e ideal - sem apertos na garganta e revoltas no estômago, sem mãos suadas ou pernas vacilantes, sem impossibilidades, sem caminhos fechados, sem injustiças. Uma vidinha santa em que o certo é o certo e em que as consequências nunca seriam temidas ao ponto de impedirem actos.
O medo, tal qual a dor, é apenas um sistema de segurança concedido a cada um de nós à nascença. Também serve para ser desafiado. Para ser renegado à sua reles insignificância. Para ser olhado nos olhos e deitado abaixo, sem o mais pequeno respeito pela sua vil existência.
Também pode ser aliado à coragem. E aí, com esse bravo amigo, dar vida à vontade e à força, deixando-as sobressair a todas as dúvidas e questões que ensombram vidas e arrasam almas. O medo, na quantidade certa, no lugar certo, no momento certo, funciona. E aí, as pernas, mesmo vacilantes, podem e conseguem continuar a caminhar e as mãos, por muito suadas, podem e conseguem sempre agarrar aquilo que mais se quer ou afastar o que menos se deseja.
O medo. A mais útil das emoções. Não se devia ter medo do medo. Ele merece mais. E nós também.
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