O meu estômago, o sacana, é instrumento GPS que até hoje nunca me falhou.
Eu já falhei múltiplas e variadas vezes em relação a ele (não lhe dando ouvidos, por exemplo), mas o sacana até hoje nunca me falhou nem nunca me deixou sossegada quando acha que tem razão. E convenhamos que por vezes o cabrão faz um chinfrim tão grande que quase tenho de lhe dar umas belas mocadas para o calar… ou fingir que não o ouço, pedindo-lhe para falar baixinho e fazendo-lhe festinhas para se acalmar. Eu sei o que estou a fazer, digo-lhe...
Mas, e lá está, o GPS não engana e estômago que é estômago, sabe o que diz (especialmente naquela parte do “Eu não te disse, rapariga? Eu não te avisei?”).
Penso que todos, vira na volta, passamos por crises de fé que nos obrigam a acreditar em algo. A crise pode ser tão grande que, um certo e belo dia, decidimos que vamos acreditar e confiar em algo e pimba! Já ‘tá! Quase por magia, obrigamo-nos a seguir por um caminho que, no fundo, sabemos não ser o melhor para nós, mas, e tal como acontece em todas as boas crises de fé, continuamos em frente, pensando que aquele mau estar se deve ao nosso desconforto por termos saído da zona de conforto e do que sabemos e conhecemos como sendo certo e bom para nós. Não é. É o cabrão do estômago armado em alarme a dar voltas e voltas e voltas, a fazer-se sentir, a avisar que não é mesmo por ali.
Mas nós, seres racionais por vezes capacitados de razão e não apenas emoção, olhamos para diante, elevamos a cabeça, semi-cerramos os olhos, miramos o que lá está longe e pensamos que é mesmo para ali que queremos ir. Damos um passo em frente e pimba, fino e delicado pezinho enfiado numa bosta que nos suja o dito até ao pescoço.
Eu, pessoalmente, detesto ter razão. Há alturas e situações em que tudo quanto queria era não ter razão. E também detesto que o meu estômago, cabrão insensível e castrador, a tenha. Detesto.
Talvez, em vez de olharmos tanto para a frente que não vimos onde estamos, devêssemos parar e deixar falar aquilo que em nós nos grita e nos diz que sim ou que não a seja o que for.
Isto de teimarmos contra nós próprios tem muito que se lhe diga. A merda é que quem perde somos sempre nós. Sempre. Ou nos desiludimos ou apanhamos valente dor de barriga à conta dos ouvidos surdos que vamos espalhando pelos nossos dias como se nada fosse.
Vive-se e aprende-se.
Mas eu bem me disse.
Foda-se.
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