16.11.10

Eu também não.

imagem: google

Nunca se sentiram como se andassem desenfreadamente a empreender acções de sabotagem contra vocês próprios?
Nunca tiveram daqueles dias em que quanto mais cuidado se tenta ter para não se ser descuidado são precisamente os dias em que dizemos as coisas ao contrário ou tudo quanto não devemos e em que quando ouvimos o que nos dizem de volta, compreendemos (pfff!) outra coisa qualquer que não tem nada a ver mas que, naquele instante, até que faz sentido e lá continuamos numa conversa meio surreal em que nada é o que é e em que começamos a desconfiar de tudo quanto vemos e fazemos e fazem, não vá a coisa ter sido sem querer, e nós não sabermos como retirar o delicado pezinho da poça?
Nunca passaram por alturas em que se sente uma espécie de ânsia e cansaço, exactamente ao mesmo tempo? Em que a cabeça não está nem aqui, nem ali, parecendo animal bravo prestes a ser apanhado e lutando até ao fim para não se deixar apanhar, mesmo que não haja nada nem ninguém contra o qual fugir ou escapar?
Nunca tiveram alturas em que, por muito pouco que se faça, qualquer palavra que nos seja dirigida é, inevitavelmente, recebida com rolar de olhos e expressão exasperada como se tivéssemos sido interrompidos da coisa mais importante do mundo e arredores pela pessoa mais chata do mundo e arredores?
Nunca passaram por momentos de tão absorta dispersão que tudo quanto resta é pensar em trezentas mil coisas ao mesmo tempo enquanto chegamos à conclusão que dessas trezentas mil, exactamente trezentas mil nos aborrecem e nos dão vontade de desatar a fazer perguntas a tudo e todos só para termos a certeza que, efectivamente, são trezentas mil coisas aborrecidas e que não valem um pensamento que seja?
Nunca tiveram aquela sensação de se sentirem presos e de se contorcerem como se realmente o estivessem apenas para logo a seguir desejarem estar mesmo presos e ter algo contra o qual se contorcerem, nem que seja para que se justifique tal sensação de se estar preso?
Nunca passaram por aqueles atrozes minutos em que nos ouvimos falar e o nosso cérebro, dormente e moribundo, ainda tem energia suficiente para despertar os alarmes que gritam “Cala-te! Cala-te! Cala-te!” a um ritmo tão estonteante que o único efeito é fazer com que falemos mais depressa ainda de modo a dizermos todos os disparates que temos para dizer antes que o sistema de segurança central nos provoque uma entorse na língua e uma dor dilacerante em precisamente 56,7% dos dentes?
Nunca, no meio disto tudo, tiveram momentos de absoluta lucidez em que se apercebem, estremecendo, que assim que fase passar, vos vai apetecer andar de cara tapada e longe dos olhos do mundo durante o tempo necessário a que todos se esqueçam do vosso nome quanto mais dos disparates que disseram e fizeram? Mesmo que, no fundo, saibam que até nem foi nada de grave, o que apenas ajuda a que a coisa soe ainda mais grave precisamente por poder ter sido tão fácil evitar, nunca vos apeteceu apagar umas horitas devidamente seleccionadas de memória, não vá haver mais alguém que se lembre e não permita que se esqueça aquilo que temos vergonha de lembrar?
Não?
Pois.
Eu também não. 

13 comentários:

Me disse...

Eh, pá.
Isto é que 'tá aqui uma camabada de comentadores da treta.
Posts com caralhadas e animais a engalfinharem-se uns nos outros é na maior.
Posts meio sérios sobre patas na poça e toda a minha gente foge.

INSATISFEITOS!!!

Anónimo disse...

Cada uma tem os comentadores que merece.

tiago disse...

Que parvoice de comentário, oh credível senhor anónimo...

Achei isto interessante. A maneira em que eu lido com tais problemas é fixar-me em que somos todos formiguinhas... Existe uma necessidade de nos validarmos, sem dúvida, mas apenas em boa medida. Nunca é demais relembrar-te que you should "take it as it comes" - repete. =)

Me disse...

Anónimo,
Claro.
Nem mais.
Mas isso, penso eu de quê, disse eu no primeiro comentário deste lote...

Me disse...

Tiago,
Antes de mais, Olá e welcome!

Take it as it comes?
Isso fiz eu...

Mas, e como disse no post, ao que parece, só eu dei pela coisa... Menos mau. Se há alturas em que aquela do "... mas por favor, não me ignorem" é mentira, esta foi uma delas...

Obrigada pela visita e pelo comentário (credível).

O Tarado disse...

Recentemente envolvi-me numa discussão. Normalmente controlo bem as discussões. Consigo fazer passar o meu ponto de vista de forma... obtusa... e consigo dar a volta a argumentação do outro lado. Mas desta vez por alguma razão saltou-me a porca e disse o que não queria e conforme o ia dizendo, tal qual câmara lenta, o meu cérebro dizia-me "que merda estás a fazer? estás a fazer exactamente aquilo que não querias fazer."

Mas quando acabo de pensar acerca do que o cérebro freneticamente, aos saltos e a bater-me com uma marreta na parte de trás da cabeça me tentava fazer ver, já está feito e é tarde demais.

O pior é quando a pessoa com quem eu estava a discutir de repente vira-se para mim e diz-me: "embora não mereças vamos parar por aqui porque sei que não era isso que querias dizer. Só pensar."

Ha gente boa. Infelizmente nem todas o são e aproveitam-se muito bem destes momentos em que nos falta o travão. Eu sei. Eu sou dos que se aproveita disso nos outros as vezes.

Por vezes reagimos. Por vezes até nas coisas mais simples dizemos algo que só passado um micro-caganésimo de milésimo de segundo nos apercebemos que fomos uns filhos da puta a dizer aquilo. Ou a fazer.

Só há uma coisa a fazer. Assumir as nossas acções, aceitar as consequências, aprender, e tentar não fazer novamente. Mas só tentar, porque é tudo o que podemos fazer as vezes.

E ás vezes que tão bom era nos estarmos nesse estado para afincar um bem afincado em alguém que realmente merecesse tal tratamento? Ah isso é que era... poder ter estes momento esquecíveis nos momentos em que eles se poderiam tornar inesquecíveis.

Um dia vamos ter um xip para controlas estas coisas vais ver. E a vida perde a graça toda.

Maria disse...

É simples. Tudo o que nos obriga a auto-avaliações profundas, a malta cortaaaaaaaaaaa

Do post:

Não?
Pois.
Eu também não.

Resposta: eu também não, que ideia! ;)

Me disse...

Tarado,
Belo comentário :)

E sim, se assim não fosse, isto não teria nem metade da piada...
E depois, apesar de tudo, fazer as pazes é demasiado bom. Seja com quem for. Juro que às vezes penso que há quem brigue e discuta apenas para o poder fazer...
:)

Me disse...

Maria,
Pois...

Daí a falta de comentários...
Isto quando toca a certos níveis, o pessoal corta-se...
:)

E este de meter o pé na poça é algo que bate à porta de todos. E ainda bem. Como diz o Tarado, se assim não fosse, isto não teria nem metade da piada.

Anónimo disse...

Confesso que fiquei com dúvidas se:

* Andas a ser perseguida
* Não tens acertado uma
* Ou, tens um escudo protector contra tudo isso

De qualquer das formas, és humana...

O Tarado disse...

É super-humana sff. As pessoas se fazem por isso devem ser tratadas pelos títulos correspondentes.

Me disse...

Egoiste,
* Que eu saiba, não...
* Tenho, tenho. Mas também tenho os meus momentos de falta de pontaria...
* Gosto de pensar que sim, mesmo que venha para aqui desabafar a alma na esperança de encontrar quem me passe a mão pelo pêlo e me diga que, na verdade, o que disse não interessa porque ninguém me liga assim TANTO quanto eu acho...
(:P)

E sim, de qualquer das formas, pasmemo-nos, sou humana.
:)

Me disse...

Tarado,
Oh, pá... *smiley envergonhado e vermelho até à raiz dos cabelos*... oh, pá...

:D

Tonto.