imagem: google
Quando era miúda, ouvia constantemente aquela frase que, penso, todos ouvíamos: “Quando fores grande, já podes.”
Ora, eu, que apenas fui “pequena” durante poucos anos, rapidamente passei a ser grande demais para que me pudessem dizer isso sem eu responder algo de ridiculamente textual logo a seguir. Do alto dos meus poucos anos mas respeitável tamanho comecei a ouvir “Quando fores adulta, já podes”.
Revoltada com aquela capacidade de argumentação de quem era adulto mas não maior que eu, lá me reduzi à minha insignificância e, naturalmente, esperei que acontecesse o que seria suposto acontecer para eu, um dia, poder receber título de Adulta. A maneira como me diziam aquilo levou-me a crer que iria haver, algures no tempo, uma espécie de prova que eu teria de superar para finalmente poder ingressar no mundo dos Adultos.
E eu lá esperei. E os anos foram passando. E eu esperava.
Esperava com aquela impaciência típica de quem não sabe pelo que espera, mas sempre de olho na “oposição”. Aprendi a observar aquele mundinho, a ouvi-lo, atenta a qualquer sinal que me garantisse que viria aí A Prova.
É claro que tal nunca chegou a acontecer assim da forma como eu pensava.
É claro que esta coisa de sermos adultos comporta muito mais que idade e tamanho. E é claro que, quando acontece, nem damos por ela. Nem mesmo com as listas mentais que se fazem de modo a que nos orientemos nessa direcção conseguimos perceber se estamos perto ou longe da coisa. Podemos ir riscando os itens a toda a velocidade sem que aquela sensação que tanto esperamos sentir nos chegue (mesmo que não façamos a mais pálida ideia de qual seja) e também podemos nem sequer chegar a pensar nisso e já aquele peso, aquela sensação de não mais sermos crianças, de repente, se abater sobre nós sem aviso prévio.
Se me acho adulta por ter a minha independência financeira que, por sua vez, me permite uma data de outras independências incluindo as de espaço e tempo? De certa forma, sim. Saber que não dependo de mais ninguém para fazer a minha vida permite-me ser mais selectiva em relação a quem dou ou deixo de dar explicações sobre as minhas coisas, opções, decisões e atitudes, por exemplo. A escolha, em relação a tudo, é sempre minha. Sempre. Para além disso, posso chegar a casa, tirar as botas, adormecer no sofá e saber que, mesmo que lá as deixe durante dois dias e não chegue nunca a dobrar a manta que lá tenho para as noites mais frias (ou acorde às 6 da manhã, toda gelada e a lamentar as várias dores que tenho no corpo devido a tal acto irreflectido), ninguém me vai dizer nada (é só vantagens). A liberdade que acumulamos com o passar dos anos é uma coisa fantástica.
Apesar de tudo isto, acho que me comecei a sentir Adulta no sentido mais lato do termo quando, provida de anos de ensinamento e de calo e experiências que me foram indicando o que dói e o que é doce, ou seja, de costas quentes em relação a mim própria, dei por mim a poder ficar completamente calada e imóvel, sem necessidade de provar seja o que for a seja quem for, a poder, sem medos, assumir para mim a totalidade das consequências dos meus actos, e a poder sentir a verdadeira força das intemporais e sábias palavras “Estou-me a cagar para esta merda – faço o que quiser”.
Velha só me comecei a sentir quando numa noite destas eu e amiga, da mesma idade, vimos exemplar da espécie masculina absolutamente deslumbrante e decidimos começar a tentar adivinhar idade do espécimen. Ela dizia aí uns 28-29 mas eu, pessimista até à última casa e fiel crente na teoria de que já não existem homens solteiros (decentes) nascidos na década de setenta, atirei com uns relutantes 24.
Sendo eu a Adulta crente naquela coisa do “Estou-me a cagar para esta merda – faço o que quiser”, peguei e fui perguntar.
Eu devia ter desconfiado da idade do moçoilo quando ele me perguntou “Que idade me dás?” em resposta à minha pergunta, eu lhe disse “Isso é resposta à gaja…” e ele nem sequer sorriu! Ele não percebeu!
Vinte e um.
O gaiato tinha vinte e um anos.
E agora, com licença que tenho de ir pagar umas contas e ver se a roupa que estendi já está seca e pronta a passar a ferro.
Já não tenho idade para isto.
26 comentários:
Que falta de "savoir faire"...!!!
:)
Caredo.
Podes crer.
Até já comprei cremes daqueles anti-rugas e tudo.
Se não os consegues vencer, junta-te a eles...
CREDO! Até me cairam mais 5 cabelos do alto da minha pinha... ai as minhas entradas... e logo eu que sou um lindo e belo exemplar da década de 70... foda-se tou quase nos 40 :S E logo agora que estou numa fase da vida em que as meninas e miudas entre os 17-20 anos olham para mim e me chamam S'TOR. Merda pra mim... Decadência a minha. Por outro lado, ainda sou eu que levo a minha comida à boca, ao menos isso.
Be,
E também gosto da minha idade e gosto, principalmente, do que tenho, sou e faço com a minha idade. Bem vistas as coisas, isto apenas vai melhorando e melhorando!
Vejo demasiados exemplos de quem tem os mesmos anos que eu mas que ou não os sabe aproveitar ou então, vive como se fosse 10 anos mais novo. Há que haver equilíbrio.
Uma coisa é idade; outra é velhice.
De certa forma, não me preocupa muito (ainda) nem uma nem outra. Mas também acho que há certas coisas das quais só nos apercebemos quando, de um dia para o outro, se começa a conviver com gente que é 10 anos mais nova que nós! Quando se tem 25 anos, não se convive com quem tem 15... Nem sabemos que existe gente no mundo com essa idade! Mas, a partir dos vinte e muitos, é mais provável e mais comum. E aí... muita coisa muda.
O gaiato dos 21 anos que parecia ter quase 30 apenas teve o efeito de me colocar a mim e à minha amiga em cheque... A juventude não é o que era!
Em relação aos Homens da década de setenta... nopes. Não há. Fugiram todos de ou para casamentos, de ou para filhos, de ou para divórcios... do país...
É normal.
Diz-se que os trinta compõem aquela idade em que realmente começamos a crescer enquanto gente, em que largamos as ilusões da juventude e começamos a perceber que, sim, a calvície existe e sim, as miúdas de hoje têm mamas maiores do que no nosso tempo. Não admira que os divórcios sejam, na sua maioria, nesta altura.
Mas isto já é conversa a mais...
As botas na sala... vantagens de quem vive sozinha porque acho que se lá estivessem outras que não as minhas durante dois dias, passava-me.
:)
Tenho duas coisas para te dizer:
- Os organismos unicelulares governaram sozinhos este planeta durante 250 milhões de anos;
- A calvicie é um mito - tenho provas disso.
Ah, se eu tivesse nascido na década de 70!... Isso é que era!
Sim, as miúdas de hoje em dia têm as mamas maiores do que as do meu tempo. Foda-se.
Ouve lá, não percebeste então que esse Adónis de vinte-e-um-anos tinha essa idade e aproximaste-o mais dos trinta, e começas depois a pensar em rugas próprias? Então um gajo com 21 alguma vez parece que tem 30? Isso é um velho, pá. Provavelmente é um gajo de 37 que parece que tem 30 e que é como as gajas e mente em relação à idade.
Para além de que o sotaque desse gajo é um bocado parolo, disseram-me.
Pronto, ainda bem que só tinha duas coisas para te dizer.
chOURIÇO
chOURIÇO
Viste, viste?...
Duas coisas, duas assinaturas.
Bah, isto deve ser o senhor alemão que anda a fazer das suas...
chOURIÇO (uma única vez)
chOURIÇO
Argh!... Aconteceu outra vez!
chOURIÇO
Eu, às vezes, mas só mesmo às vezes, fico preocupada contigo.
Mas não muito.
Um cadito, prontes.
Quase nada, na verdade.
Aliás, nem me lembro.
Mas vá.
Faz bem fazer de conta.
Quem és mesmo que já nem sei?
Eu gostava que uma gaja toda gira me viesse perguntar a idade tb. Só acontece aos outros. Sou um desgraçado.
:)
Me, explica-me lá uma coisa.
A enorme diferença de idades seria ultrapassável ou não?
Explicando - Não valia a pena?
Tarado,
És um desgraçado, és.
Tu ao menos terias aproveitado para meter conversa com gaja... Quer dizer, desde que ela não abalasse a fugir tão rapidamente que nem te desse tempo para isso, claro (tipo eu... até ganhei asas... fonix!)
Vai-te lá desgraçar mais um cadito que tu gostas é disso :P
Egoíste,
Não tens andado atento aqui ao Tasco.
Claro que seria um problema!
Já estás como a minha amiga quando lhe disse a idade de o Gaiato: Por uma noite, servia!
Ahhh, balelas.
Não tenho caderneta de cromos que vou preenchendo com exemplares de vários tamanhos, idades ou raças.
E, já agora, pensa lá bem.
Por que carga de água haveria eu de me deixar envolver com um Gaiato de 21 anos quando, para isso dos one night stands, podia escolher alguém que melhor me garantisse a good time?
Ok, o rapazinho até que podia ser muito bem versado em certas linguagens, mas porra... o nosso tempo é precioso e há coisas que não vale a pena arriscar.
Por isso, na minha humilde opinião, não, não valeria a pena!
Idoso de 40 e tais anos, pouco charmoso mas sem barriga de cerveja, alguns pelos, usa óculos para ler e escrever, gosta de andar de boxers e de ver mini-saias, procura catraia boa comomilho, dos 18 aos 20 anos e meio, sem filhos, sem vícios a não ser sexo, que goste de mamadas e peidadas... e que não arrote muito alto. Preferencialmente com boa conversa ou que saiba encher a boca com algo que a cale caso tal não seja possível.
Só relacionamentos sérios de longa duração.
T.
PS: E agora vou ali ver uns filmes nojentos. Ah o martírio.
Com esta deves receber mais umas pesquisar deprimentes Me :) Não me agradeças que eu faço por gosto :D
Tarado,
Nem sei como exprimir a minha gratidão.
Filmes nojentos? Do quê? De gente a limpar merda, por exemplo???
:P
Não agradeças :) Faço de boa vontade. E devo confessar que depois do que aprendi este fim de semana, posso-te garantir que as tuas pesquisas deprimentes são como um conto de fadas num inferno de nojeira que por essa net fora se encontra.
Ufff... estou cansado. E mais não digo.
E mais eu não quero saber!!!
Mas olha que as pesquisas que aqui deixo são as decentes... qualquer dia faço compilação das mesmo nojentas... vais ver o que é bom para a tosse!
Tens de aumentar o tamanho da letra do teu blogue. Vejo-me grega para te ler, pá! É a chamada PDI...(depois da idade adulta vem a PDI...)
Oh minha lindinha...
Carregas no ctrl e, com a bolinha do rato (o scroll), podes aumentar ou diminuir o tamanho de qualquer "ecrã", página, portantes.
Experimenta. Vais ver que desaparece logo essa coisa da PDI...
Agora, já não te podem assolar mais dúvidas: és adulta! Pagas contas, lavas a roupa, pões a secar, passas a ferro.
E, a prova mais reveladora, escreves coisas com sentido.
Portanto, estragaste tudo. Emancipaste-te, logo perdeste a graça toda... Ora que porra!
AR
Olá AR,
Welcome!
Pago as contas, sim. A máquina lava a roupa que eu depois transporto para o estendal onde, consoante a inspiração, ou descarrego tudo para cima do dito ou estendo conforme necessário recorrendo ao uso de molas. Passar a ferro passo a roupa que preciso (ai se a minha Mãe soubesse do montão de roupa que tenho para passar a ferro - a minha teoria é que sendo muita dela roupa de verão, não há necessidade de me cansar a passá-la quando, nesta altura, não me faz falta).
Em relação a escrever coisas com sentido... Só posso concluir que conheces O Tasco há pouco tempo...
Se me emancipei? Pelos vistos. Prefiro o termo "adiantada" e não "emancipada", mas vá.
Quanto à graça, não a perco. Guardo-a todinha para quando me der mais jeito (também sou muito poupadinha e agarrada às minhas coisas...)
Isto dava pano para mangas...
Obrigada pela visita e comentário.
Hum.... estás a dar-me muito trabalho!
Caredo, mulher!
A idade adulta é uma maravilha desde que sentida de forma jovial. A consciência é uma bastarda. Mas a idade manda-a dar uma curva. ;)
Consciência, Patife? Sabes que há gente que nasce sem isso... ou pior... imune...
Viva a idade! :S
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