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Dizia o último desafio do Desafio que tínhamos de defender, ao júri, porque deveríamos ser nós a ganhar o Concurso. Desafiada, desafiei. Birra. Não quero ganhar. E disse porquê.
Obrigada a todos pela companhia ao longo destas seis semanas. Obrigada!
"Escrever é algo que me acontece. Não penso no assunto
sequer. Não uso a escrita para me libertar ou sossegar. Não a deixo apoderar-se
de mim como se eu fosse apenas mecanismo condutor de sua vontade. E não me
minto através dos pensamentos e emoções que transformo em algo de minimamente
coerente para transmitir ao mundo (talvez escrever seja a forma mais fácil que
tenho de o fazer. Talvez o que realmente queira é transmitir-me, expor-me,
validar-me e atestar a minha coerência ou puro bom senso – talvez seja a minha
forma de me manter sã em relação aos assuntos sobre os quais dedico tempo de
teclado).
Para mim, ter aceitado desafio de me colocar em concurso
de escrita não foi decisão fácil. Conheço bem a minha incapacidade de
corresponder adequadamente a textos encomendados. Se não o sentir ou tiver
vivido, não sou capaz de simular ou criar semelhante coisa em mim. Cronista,
chamam-me. Entendo bem a diferença. Escrevo porque vivo, sinto, penso, fervo. E
isso, para mim, não se cria. Escrevo mas não crio. Exponho. Transmito.
Leio muito. Os livros que leio vejo-os que nem filmes.
Choro-os, rio-os, deixo-me embalar pela arte de quem consegue levar os outros a
outros tempos, a outras formas, a outros estados que de outra forma não seriam
atingidos. As livrarias… ahhh! Essas, sim. O meu sossego. É para elas que vou
quando preciso pensar em tudo menos no que tenho de pensar. Vasculho-as. De
ponta a ponta. O cheiro dos livros. As páginas lisas e por ler. Virgens. As
lombadas intactas e a suplicar por serem abertas e quebradas para que o
conteúdo que protegem possa ser libertado. É para as livrarias que vou quando
preciso de outros mundos para fazer sentido deste.
Nunca seria capaz de me colocar em pé de igualdade com
quem em mim faz nascer estas palavras, este sentimento. Como o poderia fazer se
sei que não é o mesmo que faço aos outros? A gratidão e respeito são
intermináveis. A alma de escriba é intocável – apenas a podemos venerar e
desejar longa vida. Es-cri-tores. Vénia.
E há, por aqui, por ali, quem possua esta alma e vontade
de lhe dar vida escrevendo. Não me coloco a concurso com essa capacidade. Seria
uma falta de respeito, um acto de ilusão total sobre o que faço e sou.
Durante uma meia dúzia de semanas, disse “vou escrever”.
Escrevi.
Ganhei."