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merecer |ê| -
1. Ser digno de.
2. Ter jus a.
3. Incorrer em.
4. Fazer por.
5. Atrair sobre si.
6. Tornar-se merecedor.
(Priberam)
Não gosto da palavra.
Mesmo definindo-a, tem um
significado demasiado ambíguo.
O “merecer”, na minha humilde
perspectiva da coisa, significa exactamente o que acima diz: tem de se ser
digno de, tem de se ter jus a, tem de se incorrer em, fazer por, tem de se
atrair sobre nós – temos de nos tornar merecedores.
Merecer algo significa ter-se
feito algo em prol de – seja para o bom ou para o mau.
O nosso pequeno grande
problema é confundirmos a palavra com outra… Em vez de a conseguirmos aplicar
condignamente a alguma situação, tomamos o caminho mais fácil, empregamos o “querer”
e siga para bingo que isso do merecer é muito mais complicado e obriga a que se
vejam as coisas de forma equilibrada, nua e crua. E essa dor por vezes é
demasiado aguda para nos deixarmos seguir por esse caminho sem mais nem menos. É
lixado.
De repente, há outra palavrita
que nos entre na cabeça e que transforma o que inicialmente apenas doía num
circo caótico em que os elefantes andam de trapézio, os espectadores têm de
engolir as facas e o fogo nunca é cuspido a uma distância segura mas sim bem em
cheio na tromba de quem por lá passa, incendiando ideias e fazendo com que
todos corram de um lado para outro numa vã tentativa de se salvarem de outro
ataque: Justiça.
O “merecer” implica uma dose santificante
de Justiça. E é sob a ameaça de nos vermos como injustos no que fazemos ou
deixamos de fazer que a palavra “merecer” é tão poucas vezes utilizada dentro
daquele que é o seu real significado.
Se nos acontece algo do qual
não gostamos, vamos a correr gritar “eu não mereço” até aos confins do mundo,
sem nunca parar para ver se aquilo é algo do qual somos dignos, se é algo pelo
qual fizemos por, se é algo que atraímos sobre nós. E se for? O que é que isso
diz de nós? Que estamos mal porque fizemos algo e o Universo, na sua infinita
sabedoria e com memória impecável para esta coisa do “amor com amor se paga”,
pegou e devolveu-nos na moeda exacta o que fizemos por merecer, deu-nos o que
somos dignos de? Como nos podemos admitir dignos do mau? Isso significa que fizemos
mal… Então, mas… Mas… Onde?! A quem?!! Quando?! O que é que fizemos!?!?
E lá vem o circo de desculpas e
explicações que nada explicam e de razões sem razão nenhuma e os elefantes riem
e os trapezistas caem e a tenda desmorona e todos saem de lá a pedir o dinheiro
de volta e a dizer que o espectáculo foi uma merda.
E é neste circo da vida que
passamos os dias, num exercício de equilíbrio difícil de conseguir mas em que
só o facto de se tentar já traz algum benefício. Serviria para termos mais e
melhor consciência de nós, dos outros, do que fazemos e não fazemos, das razões
que nos levam a agir, a falar… seria uma excelente forma de nos vermos dentro
daquele espírito do justo, do merecedor.
Pode ser difícil de admitir,
especialmente para o lado mau da questão, mas isto do merecer acaba sempre por
reinar. Acaba sempre por se sobrepor ao resto. Haja honestidade, aceitação e
limpidez de espírito para se conseguirem ver as coisas assim.
Mas eu continuo a não gostar
da palavra e até me arrepio quando a ouço ser aplicada em situações que nada
dizem respeito ao que verdadeiramente significa. E é aí que permito que o meu
mau feitio saia da caverna para fazer a pergunta mais simples do mundo: Porquê?
E se há dor de alma que dói e
lateja incessantemente, é descobrirmos que, afinal, existe um sentido de
justiça nas coisas que faz com que se mereça o que se tem, quer se goste ou
não.
Eu tento não usá-la. Se não
por mim, pelos outros. Especialmente quando não sabem o que ela significa. Eu não mereço.
7 comentários:
Pronto. Desisto. 24 horas e nem um comentário. Porra.
Escolham vocês o próximo tema. Depois quero ver se não comentam!
(Ainda se pagassem...! Mas, não! Ehhh!!!)
Minha visão do merecer ou ir-me foder: Quando tu achas que mereces, os outros acham que não. Quando os outros acham que mereces, tu desconfias do que lá vem. Human nature. É fudidinho. E sabe bem.
Olha, eu tenho a dizer-te que tal palavra não merece um texto tão bem escrito!
Tarado,
Pois, por vezes é assim. Mas tu estás a ver pelo lado bom e, nesse, permitimos demasiadas nuances...
Pelo lado mau, nem olhamos. Livra!
Gata,
Merece, merece!! ;)
Cá p'ra mim, tu mereces dar um pouco de descanso à tua cabeça que anda muito preocupada com coisas que não merecem tanta atenção.
E, de facto, uma cabecinha tão dotada merece outro tratamento.
Já agora, mereces é um granda
beijo!
AR!
Esta cabecinha não pára!
Welcome back!
Beijo merecidamente devolvido no dobro!
(merda para os pontos de exclamação. Pareço uma gajinha, oh pá.)
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