1.11.11

Mirror, mirror, on the...


imagem: google

Às vezes, dou por mim a olhar-me ao espelho e a perguntar “Quem és tu que não te conheço? O que fazes na minha casa? O que vieste aqui fazer? Quando vais embora?”.
Olho-me, sem me reconhecer, e penso em todas as pessoas que também me olham sem me reconhecerem ou conhecerem. Penso no que pensarão elas quando me vêem. Será que se questionam sobre quem eu sou e o que aqui faço, tal como eu? Será que ficam curiosas para saber quem sou? Tal como eu?
Ganhei, por obra do Universo e do árido terreno que por vezes pode ser a minha mente, um novo medo, um novo pânico permanente: será que depois de tanta pergunta feita ao espelho e naqueles minutos em que fechamos os olhos antes de adormeceremos, será que depois de tanta pergunta sem resposta, será que perdi a capacidade de sentir as coisas, pura e simplesmente porque não senti-las torna as perguntas menos dolorosas e a falta de resposta menos penosa? Será que ainda sou capaz de sentir o que há para sentir? Será que a aridez da minha mente se espalhou para outros locais do meu corpo, tornando-os insensíveis e imunes a estímulos externos? Será que a minha recusa em pensar sobre certas coisas me imunizou contra senti-las?
Será que o coração e a mente, quando para a desistência, se unem e partilham forças, ajudando-se um ao outro em direcção à tão desejada derrota final? Será que para o mal, facilitam e, para o bem, complicam? Lutando um contra o outro para ver quem toma supremacia numa qualquer situação de dualidade em que não sabemos qual nos deverá guiar até à luz? Será que são tão esfomeados e sedentos da vitória e glória individuais que de cada vez que desconfiam não as conseguir alcançar, retiram-se da luta, de mãos dadas, abraçados, sem o mais pequeno pingo de remorso e sem nunca olhar para trás?
Às vezes dou por mim a olhar-me ao espelho e a tentar perceber com quem falo: se com o coração, se com a mente. E o coração grita-me que só ele vencerá. A mente grita-me que só ela me poderá encaminhar nos trilhos mais seguros. Perdida no meio de tal batalha campal, por vezes sinto-me oca e vazia, sozinha, incapaz de me confiar as mais importantes das decisões, dos pensamentos, dos sentimentos.
Responsável, vou usando umas tabuletas que avisam os que estão à minha volta: Cuidado! Veículo sem Condutor. Ou então, Não me sigam. Também ando perdida.
Aprendi que os avisos de pouco ou nada valem. Toda a gente tenta ajudar quem se sente perdido, mesmo que não saibam como. É irritante.
Aprendi que só nos deixamos ajudar se confiarmos e se nos conseguirmos rever na prometida salvação. Sem isso, não damos um passo sequer. De que vale? Nem a perspectiva de fazer a vontade ao outro, a de nos deixarmos ajudar, nos ajuda a discernir a questão. Sem sabermos para onde vamos, não vamos para lado nenhum e tudo nos passa ao lado.
A vida, por vezes, prega-nos partidas de muito mau gosto. Trai-nos. Manda-nos à merda. Fecha os olhos e os ouvidos, encolhe os braços e esconde as mãos. Recusa-se a participar.
E é aí, perante essa recusa, que nos temos de olhar ao espelho e perceber que se não formos nós, mais ninguém poderá algum dia fazer seja o que for por ou para nós – seja a mando do coração ou da mente.
Às vezes, olho-me ao espelho e não sei quem olho: se quem era suposto ser, se quem consegui ser, se quem pude ser, se quem posso ser, se quem quero ser. Não sei. Mas sei que há-de ser com aquela cara que vou ter que viver para o resto da vida. Terá que ser pelos seus sorrisos, tranquilidade e serenidade que vou ter que me esforçar. Por isso, o melhor é ir descobrir.  
Rápido. 

6 comentários:

AR disse...

"Mirror, mirror, is it me or you that's lying?"

http://youtu.be/WBSBr0NjHGA

Beijo.

Me disse...

Someone is... or isn't...!
Cool song :)

Anónimo disse...

Mudar não é facíl... constante. Insatisfação. A corda bamba... o embalo... balanço... velocidade... Podes controlar. Viver é um bom objectivo. Boa noite. Kiss da Florwer

Maria MM disse...

Quem não sente, não escreve assim...essa luta entre racional e emocional é desgastante...e mais, mesmo que aches resposta para essas perguntas, vais arranjar outras perguntas novas...o ideal seria "calar" o interrogatório :)

És bonita.

Maria que é MM aquela das vacas e dos toiros (nunca mais me esqueço desta ihihi)

Me disse...

"Viver é um bom objectivo".
Talvez não haja melhor objectivo na vida que ela própria.
Tankiú.
Kiss for Flower

Me disse...

Maria que é a MM, aquela das vacas e dos toiros,
Calar interrogatório?
E se lhe desse com o espelho no alto da pinha?
;)
Bom fim-de-semana, MM.