20.11.11

Favas pagas.

imagem: google

Diz o povo que é nesta vida que se pagam os erros cometidos; que é nesta vida que se colhem os louros do bem que tenha sido feito. E eu, elemento activo do povo, concordo, apoio e até perpetuo tal ensinamento tão cheio de sabedoria.
Eu pago as minhas favas, uma a uma ou em conjunto se assim tiver que ser, e, como tal, porque contribuo com a minha parte para o equilíbrio do Universo, possuo a firme convicção de que também posso cobrar que paguem favas quando para tal houver motivo e razão.
Basicamente, acho que a malta não deve passar impune pelo que faz ou, pior, não faz, e acho-me no direito, quando a coisa me toca, de levantar fava bem alto e reclamar pagamento da mesma. Em dinheiro.
A malta, no geral, considera a responsabilidade uma coisa pesada e feia, castradora e demasiado aborrecida para ser levada a sério. Eu, que até gosto de umas boas doses da mesma, nem que seja para me fazer sentir útil, penso exactamente o mesmo do seu contrário: a falta ou inexistência de responsabilidade, incluindo-se aqui aquela coisa toda da desresponsabilização. Aquela coisa das desculpas de mau pagador, as explicações atiradas ao ar que nem postas de pescada por quem não tem como realmente se explicar sem ser através de postas de pescada voadoras. E para quem nem sequer acredita que porcos voem, ver postas de pescadas aos alegres pinotes pelo ar é algo que nos remete para cantinhos muito escuros da nossa mente, nomeadamente aquele que tem ligação directa ao estômago e que o volta e revolta, numa de nos fazer lembrar que não, peixe não voa, quanto mais quando cortado aos bocados capazes de cozer. E isto acontece porque, às vezes, a tentação de acreditar é tão forte, tão forte, tão forte que quase acreditamos que o mar não é feito de água mas sim de bonitas nuvens azuis e que, na verdade, as escamas daqueles seres servem para voar suavemente pela brisa e não elegantemente pelas ondas.
A responsabilidade, venha ela de onde vier, é coisa para ser levada com responsabilidade. Se num emprego, as postas de pescada tendem a não flutuar muito tempo por entre os escritórios de quem manda. Se numa relação, as pequenas postas tendem a aterrar de caras e ajudar a abrir os olhos de quem possui os que gostávamos que estivessem fechados. Não dá para fugir à responsabilidade de se ter uma responsabilidade, seja ela qual for.
Ser-se responsável significa também, numa espécie de limite filosófico da coisa, ser-se honesto e verdadeiro para com a responsabilidade em si. Não se pode tentar suavizar o peso de uma responsabilidade, cortando-a aos bocadinhos para que seja mais manejável ou distribuindo-a um pouco por cada dia da semana para que tudo seja mais fácil. Não é um processo de soma das partes… Muito menos dá para mentir sobre ou a certa responsabilidade porque ela, soberana, vai sempre exigir a verdade, seja ela qual for, para se perceber a razão pela qual se deixou que morresse ou não ficasse inteiramente executada. A responsabilidade manda e até mesmo quando se tenta passar por cima da mesma com a desresponsabilização ou quando se tenta matá-la de vez, há que ter responsabilidade também.
Basicamente, não se pode fugir à responsabilidade. Ela tudo vê e tudo sabe. Mas se isso for algo que se quer mesmo fazer, então, há que pagar as favas. É uma responsabilidade que se deve assumir de imediato. Sem medos. E de preferência o mais rapidamente possível.
Por isso, e como tão bem diz o povo do qual faço parte, para terem sempre as contas dos pagamentos em dia, não se esqueçam de ir vendo como está o saldo de responsabilidade vs. favas nas vossas vidas. E também não se esqueçam de guardar mata-moscas gigante por perto para de vez em quando irem limpando o ar das tais postas de pescada, sejam elas lançadas por vós ou pelos outros. É que estas turvam a vista e dão azo a flagelo de conjuntivites.
Pescada, às postas ou não, não voa, gente.
Nem os porcos.
E a fava é alimento que faz bem e que deve fazer parte de uma dieta equilibrada.
Paguemo-las, de sorriso na cara e garfo na mão, não vá a responsabilidade fugir de vez e deixar-nos a sós com tudo aquilo que poderia ter sido se, ao menos, não gostássemos tanto da ideia de mar cheio de nuvens fofinhas e lindas onde tudo voa e nada se afoga.
Bom apetite.

7 comentários:

Maria MM a dos touros e vacas etc e tal disse...

Isto é um roteiro gastronómico da consciência popular ou já não comias há muitas horas?
hum
Favas
Pescada
Porco
louro)s
e a foto: Flying Fish Wonderland é a pista para o nome do restaurante?
Estavas danada mas este não acompanhei :(

Me disse...

Não acompanhaste?! Oh!
Atão... isto foi qualquer coisa do tipo parecido com... ahhh... pagar as favas pelo que fazemos, sem nos pormos a atirar postas de pescada para diminuir a responsabilidade que temos que no que fazemos ou não fazemos (ou seja, a parte do desresponsabilizar...).
Qualquer coisa assim... Tázaver??? 'Tás, pois!

Maria MM desta feita com uma fome do caraças e ainda a trabalhar disse...

Tou a beri tou...olha vamos comer cogumelos emporcalhados? Já provaste? Esquece! Todos tentamos minimizar culpas no cartório ou num dia muito negro, somos os nossos carrascos, com um espírito muito cristão de mea culpa!!!!!!

Me disse...

Verdade. O equilíbrio é uma merda.
Mas também há outra coisa... a de termos a responsabilidade de, de vez em quando, irmos responsabilizando os outros pelo que fazem ou não. E também aí é preciso muito equilíbrio - nem cristão ou carrasco a mais... ou a menos...

(Cogumelos emporcalhados????? Explain!)

Me disse...

Agora já percebi!!! :)

Maria MM a dos touros e vacas etc e tal disse...

Olha tinha fome e achei que podias gostar dos cogumelos (não são alucinogénos)

http://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/01/ed/f1/c9/cogumelos-emporcalhados.jpg

não sei se dá para ver :*

Me disse...

Têm um bom aspecto do caraças!!!
Ahhh pois deu para ver!!!
:D