6.9.11

Direitos e Garantias (de Deveres…)

imagem: google

Por muitas e diversas razões, penso ter chegado àquela idade em que quando dizemos “Não quero saber”, não queremos mesmo saber, seja do que for, quem for, quando for, onde for… seja como for. Penso ter chegado àquela idade em que desatar num regateio infindável por questões de princípio e de razão sejam causas tão exasperantes e cansativas que o que mais me ouço dizer é “pronto… fica lá com a bicicleta”. Já me cansei de tentar fazer ver, abrir a pestana, sugerir, indagar, dar dicas… Cansei e estou-me pouco a cagar por me ter cansado e muito mais me estou a cagar para quem me provoca tais cansaços de alma.
Estou-me a cagar e não quero saber de uma data de coisas… menos uma (assim das mais fortes e que agora me inspira para singelo post): aquela coisa de as pessoas dizerem “Eu sou assim!”. E não é só o facto de sequer proferirem tal facto como se proclamassem a mais fundamental e irreprimível verdade das mais verdadeiras, não. Dizem-no como se isso fosse uma espécie de sentença final, inequívoca e escrita a sangue que prevalece sobre tudo quanto mais possa existir no mundo, seja neste ou no próximo (ou anterior, já agora). Dizem-no como forma de justificar opções, atitudes e comportamentos que, de outra forma, não saberiam justificar ou explicar. Dizem-no como se fosse um direito adquirido logo à nascença e que tal coisa do “serem assim” nunca, mas nunca, poderá ser posta em causa, questionada ou sequer olhada de lado como se houvesse espaço para melhoria ou adaptação. Dizem-no, e é isso que me irrita ao ponto de se me ferver o sangue nas veias e de se me saltar o coração para a boca, como se tivessem mais, melhor e maior direito a “serem assim” do que eu a “ser assim” (seja lá o que o “assim” seja). Ninguém tem mais direito de ser ele ou ela própria do que ninguém – é direito (se quiserem meter as coisas nesses termos) igual para todos, venha quem vier, façam o que quiserem, digam o que disserem: eu tenho tanto direito a ser eu (parte de bestinha quadrada incluída) do que o vizinho de sei lá quem tem a ser um putanheiro de primeira. É assim que a coisa funciona e pronto. Simples.
Mas é claro que não é assim tão simples. É claro que nesta coisa toda dos direitos e deveres, há sempre alguns que são tomados por garantias e outros que são magicamente esquecidos pelo caminho, como se uns não tivessem de obrigatoriamente trabalhar em função dos outros.
“Eu sou assim”, dito enquanto argumento final de uma qualquer disputa ou troca de ideias, é isco para resposta exactamente igual. E, perante duas (ou mais pessoas) que “são assim”, não há mais nada a fazer. É uma espécie de trunfo, de manilha que se guarda para o final do jogo numa de glória final parva que de pouco ou nada vale. É, e já me estou a repetir, argumento parvo de quem não sabe que mais argumentar - é o argumento de quem admite derrota ou iminente vergonha em admitir exactamente o que o ou a leva a determinada postura, atitude ou comportamento. Mas é exactamente por ter consciência que cada um é “assim”, que sei que se tem sempre de ir fazendo uma espécie de jogo de cintura (constituído maioritariamente por fechares de olhos e de ouvidos) para todos podermos conviver harmoniosamente neste planeta, sem andarmos constantemente às turras uns com os outros. Se fosse argumento tão válido assim, duvido que não vivêssemos todos numa caverna T0 de modo a não termos que levar com os “assins” dos outros.
É daquelas questões simples de entender mas difíceis de colocar em prática. Reivindicamos que os outros nos aceitem como somos, sem tirar nem pôr, mas depois esquecemo-nos de fazer exactamente o mesmo em relação aos outros.
Não admito a ninguém o direito de ser mais ele ou ela do que eu tenho direito de ser eu. E também não admito a ninguém que me atire isso à cara como forma de me encostar à parede em relação a seja o que for. Temos pena. Não há bordas de prato suficientes para certas coisas, por isso, ou aprendemos todos a conviver de forma saudável ou então, pirem-se para as montanhas e reservem já a tal caverna.  
Eu cá sou assim.
Não quero saber.

2 comentários:

Maria disse...

em resposta ao "eu sou assim" dá-me sempre vontade de responder:

e eu nem assim sou, nem o gostava de ser!

não me estou nada a cagar para o eu sou assim, revela pouca vontade...seja no que for.

Me disse...

Exactamente! É desculpa ou argumento da tanga, da treta, da preguiça.
Também não aceito e é exactamente para isso tudo do "mas eu sou assim" que me estou a cagar. Eu também sou assim! (seja lá o que for que seja "assim", mas pronto).
Gentinha!!! Bleeerg!!