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No início de um namoro, como todos sabemos, qualquer coisinha meio engraçada que seja dita ou feita pela razão de ser dos nossos batimentos cardíacos faz com que nos apaixonemos ainda mais por aquele ser tão perfeitamente capaz de fazer o sol brilhar num dia de chuva ou de nos encher a alma de repastos absolutamente deliciosos e fartos (e sem que a mesma embuche ou precise de doses maciças de Eno…).
O início de um namoro, e deixando agora a ciência de parte, é como andar-se permanentemente naquele estado que se consegue atingir quando bebemos aquele copo que nos solta as amarras. Não o que nos embebeda, não. Mas aquele, aquele mesmo, que coloca um marco inequívoco entre a sobriedade pura e o caminho iniciado para o contrário dela (se lá se chegar).
No início de um namoro, parece que até o Universo conspira para que o ar fique mais leve e fresco, para que a comida fique mais saborosa, para que tudo seja lindo, fantástico e maravilhoso. E tudo, de facto, o é… durante uns tempos. O sexo enche-se de paixão e de fomes várias, os beijos deixam bocas a arder, os olhares perfuram estados de espírito e os toques, vosso deus, eriçam tudo quanto seja pilosidade num raio de três metros.
E depois, a coisa amaina. Acalma. Estabiliza. Um dia, sem aviso prévio, os abraços são mais de reconforto e de carinho e não desculpas para se ficar com o cheiro da outra pessoa embrenhado em nós. O sexo vira-se de lado, cheio de si próprio, e ainda que possa haver maior margem de progressão em termos de fazer o que antes não era feito (seja no bom ou mau sentido), lá sossega e muda de nome para fazer amor.
As brigas? Deliciosas. Cheias de tormento e divinalmente bem regadas com tudo quanto seja razão para mais tarde se fazerem as pazes.
A vida, depois do início do namoro, torna-se mais suave… Mais real…
E depois, se o namoro não tem lugar cativo no destino de ambos os elementos do mesmo, a vida começa a atravessar uns períodos menos propícios a manifestações de agrado e, in extremis, o que mais se deseja é não mais dar continuidade a algo que faz sofrer, que dói e que magoa. As lembranças, saudosas e tão agridoces que revoltam estômagos, são muitas vezes a única coisa que permite que haja uma morte lenta de algo que, em tempos, era a vida em si.
Fim. Acaba-se tudo. Aprendem-se lições, lambem-se feridas, incendeiam-se fotografias e perdem-se rumos. Inicia-se viagem para novo caminho, caminho esse feito com bagagem adicional, cheia dos sumários das aulas anteriores onde se aprendeu que o B vem depois do A e que é impossível tentar fazer com que assim não seja. Os sumários, vistos e revistos como quem estuda para um exame, guardam preciosas informações quanto ao que se deve, não deve, pode e não pode fazer de futuro de modo a que o mesmo destino não volte a revelar-se.
Aprende-se. Fazem-se curativos. Integram-se novos conhecimentos. Procuram-se novas informações. Corta-se o cabelo e muda-se de estilo e, com bênção das estrelinhas, tudo se prepara para novos inícios, comecem eles no início de algo ou não.
Quem de seguida vier receberá dádiva de poder testemunhar versão supostamente upgrade desse alguém tão cheio de lições e aprendizagens. Quem de seguida vier, sabendo do passado, terá de saber lidar com as malas extra, com os pesos adicionais e com um acréscimo perigosamente delicado de esperteza e finura aos actos e atitudes agora demonstrados.
Quem de seguida vier, terá de saber que tem responsabilidade adicional e acrescida porque, à segunda, as confianças quebradas e os corações partidos nem equacionam a hipótese de negociar melhorias – corta-se o problema pela raiz e siga. Não há segundas-hipóteses, não há cedências – há o “é como eu digo e se não quiseres, a porta é ali”.
Quem de seguida vier, poderá, sabendo fazê-lo, receber o melhor que alguma vez possa ter sido feito por e para alguém, desde que entenda que em nada o passado se poderá repetir sob pena de novamente tudo se transformar exactamente nisso – passado. O bom tem de ser melhor, o mau tem de ser bom, o maravilhoso tem de ser soberbo e o péssimo tem de ser absolutamente belo e com razão útil de ser.
Voltar ao que já se viveu só que, desta feita, com uma cara diferente ao lado? Mudar-se apenas o cenário? Reviver o que não se quis viver e que deixou cicatrizes difíceis de disfarçar ao olhar quanto mais no sentir? Só lições mal aprendidas e sumários mal escritos poderiam levar a que isso acontecesse.
Quem de seguida vier terá de trabalhar o dobro para conseguir metade do que dantes se dava por inteiro e sem pensar.
Mas é preciso que haja quem de seguida vier para que entre o agora e o dantes, haja um dos tais marcos inequívocos, tipo inspirar profundo, que assinalam o antes e o depois de algo (por norma, de nós próprios).
Não é nunca o nosso carrasco que nos vai fazer festinhas e meter bem tudo que de mal nos fez. Não é nem poderá ser.
Não é quem nos destrói que vai pegar nos pedaços para nos reconstruir como se tudo não passasse de um passatempo engraçado vindo do mundo dos puzzles.
Não é e nunca pode ser.
E pronto. Foi a primeira e última vez que se fala de política no OMQ.