11.3.11

Garantias.

imagem: google

Ficámos ali deitados, olhámos o céu da noite e ela contou-me tudo sobre estrelas chamadas quadrados azuis e canudos vermelhos e eu disse-lhe que nunca tinha ouvido falar de tais coisas. Claro que não, disse ela, nunca nos dizem as coisas realmente importantes. Tens de as imaginar sozinho.” – Brian Andreas

Fosse tudo deixado apenas e só à imaginação e estaríamos todos bem tramados… Mas, sem ela, de certeza que haveria noites muito mais pesadas e dias muito mais longos. De certeza que, sem ela, a nossa natural curiosidade (que não é mais do que a nossa tentativa de ver se o que imaginamos é realmente verdade ou não…) nem sequer existiria.
Mas, neste campo da imaginação (e curiosidade), há coisas que se imaginam de uma forma mais acertada (que se adivinham?); outras que se imaginam pura e simplesmente porque podemos e conseguimos e outras ainda que imaginamos porque imaginar é a única coisa que se pode fazer.
“Hoje pensei que o amor (…) tem um selo de garantia”, disse ele noutro Tasco há uns tempos.
Disse também ele que as pessoas, sabendo da tal garantia, deveriam cuidar melhor do que lhes é garantido, não vá o selo quebrar-se e não dar para reparar o mal feito, não vá o selo quebrar-se e deixar de existir exactamente o que antes se achava mesmo garantido.
Li-o e, quase no imediato, lembrei-me de prazos de validade. As garantias são, de certa forma, prazos de validade. Tal como as garantias, têm inícios e fins e os entretantos, se não forem bem cuidados, apenas ajudam a que o fim se precipite e o início se esqueça.
Lembrei-me de como, por vezes, conseguimos olhar alguém e imaginar quase de imediato o prazo de validade que teria na nossa vida. Uma hora? Talvez duas. Uma semana? Talvez apenas o fim-de-semana. Uns meses? Se chegasse a tanto... Uns anos? Porque não uma vida?
Gostava que existisse um selo de garantia no ou para o amor. Que o amor fosse uma entidade real e quase física que descesse dos céus e, após libertar meio quilo confettis por cima de um feliz casal, lhes deixasse uma marca de garantia, de produto inspeccionado, de auditoria feita, de conformidade… sei lá. De qualquer coisa que garantisse, ao certo, que o que ali está é the real deal e que a não ser que se ande a tentar tudo por tudo para a quebrar, a tal garantia não tem fim, é ilimitada, não acaba nunca e viverá para sempre na maior das prosperidades e felicidades. Exigimos qualificações e habilitações aos médicos que nos tratam o coração, mas nada, a não ser uma promessa suspirada por entre laivos de paixão e palavras de enamoramento, a quem no-lo pode partir num ápice.
Não fossem os prazos de validade, os que inevitavelmente atribuímos e demasiado poucas vezes tentamos combater quando imaginamos (ou adivinhamos… ou sabemos) que poderão estar a chegar ao fim, e as garantias seriam algo de muito bonito a terem-se e a darem-se.
Seria muito bonito mesmo. Eu, pelo menos, imagino assim. 

9 comentários:

Me disse...

Texto original aqui:
http://naocompreendoasmulheres.blogspot.com/2011/02/o-selo-de-garantia-do-amor.html

Cumprimentos ao autor e ilustre frequentador aqui do Tasco!

Lima disse...

"Lembrei-me de como, por vezes, conseguimos olhar alguém e imaginar quase de imediato o prazo de validade que teria na nossa vida. Uma hora? Talvez duas. Uma semana? Talvez apenas o fim-de-semana. Uns meses? Se chegasse a tanto... Uns anos? Porque não uma vida?"

Isto é muito acertado!

AR disse...

"Imaginar é a única coisa que se pode fazer", às vezes.

Neste teu belíssimo texto, o que fica é mesmo a tua excelente imaginação, porque o que gostarias que acontecesse é simplesmente utópico...

Mas gostei!

Me disse...

Lima,
Yeah. Nós é que por vezes complicamos...

Me disse...

AR,
"...nunca nos dizem as coisas realmente importantes. Tens de as imaginar sozinho."
Neste caso, imaginar é mesmo a única coisa que se pode fazer...
Garantias? Só de que as coisas vão mesmo correr mal, vão mesmo doer, vão mesmo virar caos. Promessas? Só mesmo a de que se tentará passar por isso tudo da melhor forma possível, resolvendo os problemas e metendo bem o que estiver mal (se assim se desejar, claro).
Mas olha que é a imaginar que o pessoal se entende...
:)

Um gajo qualquer... disse...

"Lembrei-me de como, por vezes, conseguimos olhar alguém e imaginar quase de imediato o prazo de validade que teria na nossa vida. Uma hora? Talvez duas. Uma semana? Talvez apenas o fim-de-semana. Uns meses? Se chegasse a tanto... Uns anos? Porque não uma vida?"

Tens esta fantástica capacidade de escrever aquilo que tantas vezes se pensa. Continua!!

;)

Maria disse...

:) ponto.

Me disse...

Um Gajo Qualquer,
Assim farei!

Me disse...

Maria,
Reticências!