26.12.11

Prédio Geral das Coisas

imagem: google

Não sei porquê, mas consigo criar uma espécie de representação visual das relações que tenho com as pessoas na minha vida. Há quem ocupe o equivalente à “Penthouse” e depois há quem, no oposto, ocupe um cantinho escuro e sombrio da cave.
Tudo isto se materializa na minha mente como se fosse um desenho – lá está um prédio enorme, com varandas e chaminés, cheio de andares, todos eles prontos a receberem inquilinos. E depois, no centro, como se fosse tapete de distribuição, há as escadas. Sobem-se ou descem-se consoante o andar que se ocupa no Prédio Geral das Coisas. Há quem entre logo para um dos andares de topo e por lá fique; há quem comece no rés-do-chão e vá caminhando para cima. E depois há quem entre a meio e, assim logo de seguida como se as escadas tivessem sido deixadas molhadas e cheias de detergente pela senhora das limpezas, mande valente trambolhão até ao fundo, sendo cuspido porta fora sem direito sequer a visitinha à cave.
Há uma hierarquia que, se quiserem, simboliza aquela máxima do “não se chegar aos calcanhares” de alguém. Há uma espécie de localização espacial que coloca algumas pessoas acima de outras, outras abaixo e outras ainda, mesmo ao lado, partilhando o mesmo patamar.
De vez em quando, há as festas em que todos convivem alegremente e, de vez em quando também, há as acções de despejo em que todos vêm à janela ou à porta ver quem é arrancado do andar onde mora para ir ocupar novo lar acima ou abaixo do anterior. Vira na volta, também há as brigas entre inquilinos porque um sacudiu o tapete para cima da roupa lavada e estendida ou porque outro deu jantarada até às tantas e não deixou ninguém dormir. Mesmo assim, gosto de pensar que o Prédio Geral das Coisas é lugar onde se pode ir pedir um copo de açúcar emprestado à vizinha de cima e onde os vizinhos de baixo não se importam de pagar a parte deles para a manutenção das escadas, mesmo que não as usem frequentemente. É uma animação e, no geral, um sítio alegre e bem-disposto para se “viver”.
Depois, no meio disto tudo, há os que insistem em tocar às campainhas para ver se entram e os que de vez em quando vão passando cada vez mais despercebidos, como se tivessem emigrado para longe. Aos últimos, convoca-se reunião de condóminos para ver o que se passa; aos primeiros, avisa-se a populaça de que a porta do Prédio Geral das Coisas deverá estar sempre devidamente fechada e trancada para que não haja surpresas desagradáveis.
Cada vez mais vejo as coisas assim: um andar de topo com vistas maravilhosas com Penthouses fantásticas onde os inquilinos dão valor ao que têm e não andam a fazer furos nas paredes a torto e direito; os andares logo a seguir ocupados, mas não na totalidade, com gente boa e de confiança que paga as contas a tempo e não reclama do que não lhe diz respeito; os do meio cheios e contentes, onde há as maiores alegrias mas também de onde podem vir as maiores desilusões; e os de baixo, também com falhas de ocupação mas sempre de sorriso pronto; e a cave, cheia de caixas identificadas com nomes e datas, bem fechadas e arrumadinhas para não estorvar, deixadas para a fase de esquecimento ou limpezas gerais que há-de vir (vem sempre).
Dizem que tudo o que nasce tem de ter boas fundações, bom sustento, pilares fortes e robustos que sejam inquebráveis e que aguentem o que lhes é posto em cima. 
No caso do Grande Prédio das Coisas, é também assim que acontece. O entulho, forte e difícil de destruir, bem arrumadinho na cave e abaixo dela, permite que o resto da estrutura não desmorone, não caia, e que se aguente melhor o peso das festas e bailaricos que se vão fazendo pelos andares fora.
E é o processo de encher as fundações, as bases, o que fica abaixo da superfície e não se vê, escolhendo-se criteriosamente o que lá deve estar ou não, que vai permitindo a construção mais ágil e certeira de tudo quanto daí cresça rumo ao céu.
E é assim que vejo. É assim que sinto o meu mundinho.
E vocês? Onde moram a maior parte do tempo? Onde há sol e ar puro? Dentro de caixas fechadas e seladas? Ou aos trambolhões, entrando e saindo de outros Prédios Gerais das Coisas como se nada fosse e nunca conseguindo arranjar lugar certo?
Onde moram?

22.12.11

Grande Movimento “’Tou fodida com esta merda e vou dizer porquê!”


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A partir de agora e até me apetecer, este espaço está aberto para os vossos desabafos mais histéricos, parvos, idiotas e infundados (ou não…).
Há que libertar o espírito antes desta época natalícia. Até o bolo-rei desce mais facilmente até ao intestino…
Vamos a isso! Me first!

Eu, Me portanto, ‘tou fodida com as seguintes merdas e vou dizer porquê!
- A cena do outro ter mandado o pessoal imigrar. Oh, pá. Get over it. Se o Governo agora viesse dizer que tinha acordo com os Governos de Angola, Moçambique e Cabo Verde para a colocação directa de professores no desemprego, até iam a correr. Mas assim, por sugestão, fica tudo ofendido. Cresçam e apareçam, pás! O que não dirão os habitantes de países que têm campanhas de recrutamento de gente qualificada… como a Austrália, por exemplo. Investiguem. Aí ninguém leva a mal. Barda shit!
- O facto de haver gente que não liga a merda dos médios quando chove ou quando faz nevoeiro que nem a ponta dos cornos deixa ver. Foda-se! Gente parva como a merda que deve achar que o resto do pessoal tem radar incorporado que lhes permite adivinhar quem lá vem. Irra!
- A minha vizinha da frente que alterou a data da reunião de condomínio após sugestão minha mas que se esqueceu de me dizer, foda-se, e que depois me veio com a conversa de eu não querer saber daquilo para nada. Oh, pá. Mais uma vez, a malta confia mesmo é nos dedinhos que adivinham dos outros. Barda shit!!
- A merda das obras na recta do cabo que obrigam a viagens de 1 hora para fazer 5kms.
- Um gajo que trabalha aqui num café e que faz piadinhas parvas como esconder o troco numa mão e estender a outra ou aquela muita gira do “queria? Já não quer?”. Não há paciência. Foda-se.
- O facto de não ter dinheiro para comprar presentes de natal para a minha família.
- Aquela coisa de haver cada vez mais homens a perguntar o signo (what the fuckin’ fuck?!?!?) e a falharem redondamente como se isso fosse giro e engraçado. Estúpidos.
- Mensagens de natal a desejar saúde e bons momentos em família e o caralho. Foda-se. O elemento mais novo da minha família tem 29 anos. O mais velho, quase 80. Há operação ao coração recente, caso de Alzheimer, joelhos operados (vai em três pessoas… o objectivo é meter toda a gente a mancar para o mesmo lado e escrever livro sobre a família que não se aguentava nas canetas por foderem os joelhos.). E não vai haver presentes!
- Mensagens de ano novo a desejar tudo quanto seja do bom e do melhor. Gente com saldo a mais no telemóvel “mazé” que quase nos obriga a responder no mesmo tom de falsete mal ensaiado. Vão desejar bom ano a quem vos fez as orelhas, pás! Irrrrrra!!!
- A Adele e respectivas produções musicais. Já não há cu para tanta Adele na rádio. Chega, foda-se! Chega! Ahhh… e já agora. Aquela do “someone like you” é uma canção estupidamente triste, cheia de dor de corno e ciumeira e auto-comiseração. Não é uma canção de amor bonita para dedicar a quem mais se gosta! Foda-se. Cambada de totós que não sabem pesquisar a  merda das letras na porra da net. Foda-se!
- Não ter emprego há dois anos.
- Ter casa há dois anos e meio.
- Foda-se.
- Caralho.
- E pronto.

Agora é a vossa vez! Venham daí comentar como deve se não deixo aqui posts com ursinhos e velinhas e estrelinhas e pais natais com sorrisos enormes e barbas brancas e outras coisas provocadoras de vómito afins. Torno-vos a vida num inferno. E vou para os vossos blogs ou FBs fazer choradeira e deixar comentários parvos só para vos chagar os cornos. Vá. Desabafem! Desabafem que eu depois faço post lindinho tipo “tesourinhos deprimentes” só para vocês!
Feliz porra de Natal, porra!!! 

11.12.11

Equilíbrios merecidos.


imagem: google 

merecer |ê| -
1. Ser digno de.
2. Ter jus a.
3. Incorrer em.
4. Fazer por.
5. Atrair sobre si.
6. Tornar-se merecedor.
(Priberam)

Não gosto da palavra.
Mesmo definindo-a, tem um significado demasiado ambíguo.
O “merecer”, na minha humilde perspectiva da coisa, significa exactamente o que acima diz: tem de se ser digno de, tem de se ter jus a, tem de se incorrer em, fazer por, tem de se atrair sobre nós – temos de nos tornar merecedores.
Merecer algo significa ter-se feito algo em prol de – seja para o bom ou para o mau.
O nosso pequeno grande problema é confundirmos a palavra com outra… Em vez de a conseguirmos aplicar condignamente a alguma situação, tomamos o caminho mais fácil, empregamos o “querer” e siga para bingo que isso do merecer é muito mais complicado e obriga a que se vejam as coisas de forma equilibrada, nua e crua. E essa dor por vezes é demasiado aguda para nos deixarmos seguir por esse caminho sem mais nem menos. É lixado.
De repente, há outra palavrita que nos entre na cabeça e que transforma o que inicialmente apenas doía num circo caótico em que os elefantes andam de trapézio, os espectadores têm de engolir as facas e o fogo nunca é cuspido a uma distância segura mas sim bem em cheio na tromba de quem por lá passa, incendiando ideias e fazendo com que todos corram de um lado para outro numa vã tentativa de se salvarem de outro ataque: Justiça.
O “merecer” implica uma dose santificante de Justiça. E é sob a ameaça de nos vermos como injustos no que fazemos ou deixamos de fazer que a palavra “merecer” é tão poucas vezes utilizada dentro daquele que é o seu real significado.
Se nos acontece algo do qual não gostamos, vamos a correr gritar “eu não mereço” até aos confins do mundo, sem nunca parar para ver se aquilo é algo do qual somos dignos, se é algo pelo qual fizemos por, se é algo que atraímos sobre nós. E se for? O que é que isso diz de nós? Que estamos mal porque fizemos algo e o Universo, na sua infinita sabedoria e com memória impecável para esta coisa do “amor com amor se paga”, pegou e devolveu-nos na moeda exacta o que fizemos por merecer, deu-nos o que somos dignos de? Como nos podemos admitir dignos do mau? Isso significa que fizemos mal… Então, mas… Mas… Onde?! A quem?!! Quando?! O que é que fizemos!?!?
E lá vem o circo de desculpas e explicações que nada explicam e de razões sem razão nenhuma e os elefantes riem e os trapezistas caem e a tenda desmorona e todos saem de lá a pedir o dinheiro de volta e a dizer que o espectáculo foi uma merda.
E é neste circo da vida que passamos os dias, num exercício de equilíbrio difícil de conseguir mas em que só o facto de se tentar já traz algum benefício. Serviria para termos mais e melhor consciência de nós, dos outros, do que fazemos e não fazemos, das razões que nos levam a agir, a falar… seria uma excelente forma de nos vermos dentro daquele espírito do justo, do merecedor.
Pode ser difícil de admitir, especialmente para o lado mau da questão, mas isto do merecer acaba sempre por reinar. Acaba sempre por se sobrepor ao resto. Haja honestidade, aceitação e limpidez de espírito para se conseguirem ver as coisas assim.
Mas eu continuo a não gostar da palavra e até me arrepio quando a ouço ser aplicada em situações que nada dizem respeito ao que verdadeiramente significa. E é aí que permito que o meu mau feitio saia da caverna para fazer a pergunta mais simples do mundo: Porquê?
E se há dor de alma que dói e lateja incessantemente, é descobrirmos que, afinal, existe um sentido de justiça nas coisas que faz com que se mereça o que se tem, quer se goste ou não.
Eu tento não usá-la. Se não por mim, pelos outros. Especialmente quando não sabem o que ela significa. Eu não mereço. 

1.12.11

Oh.


imagem: google

Oh.
Porque é que a malta não comenta o OMQ?
E porque é que não querem ser amigos do OMQ no FB?
Oh.
Não gostam? Têm sugestões? Pedidos? Exigências? Fetiches esquisitos?
Partilhem!
Desabafem!
Oh. 

28.11.11

Cornos e Corninhos

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Num destes dias, e não tendo eu nada melhor para fazer, tentei fazer uma espécie de conta que me conseguisse indicar, com alguma certeza ou com relativa incerteza, quantas pessoas conheço que não tenham sido afectadas pelo bicho mau da infidelidade, fosse lá qual fosse a forma na qual o mesmo tenha decidido manifestar-se na vida de cada um. 
Se nada tinha para fazer antes, com pouco ou nada fiquei para fazer depois.
A conta deu resultado bonitinho e redondinho: Zero. Uma ou duas, vá… Nunca se sabe.
O meu cérebro começou a rever as histórias que conheço de gente que conheço e desconheço e, sob uma crescente nuvem de desilusão e incredulidade, lá cheguei àquele brilhante resultado.
E o que mais me assombrou foi ter começado a compartimentar as tais “traições” e ter chegado à conclusão que existem níveis hierárquicos quanto à gravidade dos cornos que se metem e se levam. Uns brilham mais que os outros. Uns são mais pesados que outros. Uns mais bonitos, outros mais feios. Uns são uma bênção; outros, um castigo. Uns, um alívio; outros, uma vingança. Uns, uma distracção; outros, um objectivo. Uns perdoam-se; outros esquecem-se. Uns destroem vidas; outros permitem que sejam reconstruídas. Consegui discernir uma data de critérios de classificação que, no fim, fazem com que cada caso seja um caso mas também com que andemos todos devidamente enfeitados ou prontos a enfeitar o próximo (sim, porque uma vez cornudo, para sempre cornudo. Mesmo que se termine a relação, permanece o peso do acto cometido mesmo que com o tempo se torne mais leve e menos sentido… ou ressentido…).
Nas histórias pessoais que conheço, há quem ande a tentar viver com o peso dos acessórios, equilibrando-se a cada passo como se fossem Misses a tentar balançar livros em cima da cabeça para aprenderem a andar de forma mais elegante. De vez em quando lá vão levando a mão à cabeça para os colocarem no sítio certo, para terem a certeza que ainda lá estão, ajeitando-os de modo a não provocarem ainda mais desequilíbrio nos tais passos dados a tanto custo. Há quem ainda não os tenha sentido em toda a sua glória sendo que de vez em quando apenas sentem um ligeiro comichão no alto da pinha que os deixa desconfortáveis mas que atribuem quase sempre a ataques de caspa aguda. Há quem nem sonhe que tal coisa seja possível acontecer no seu mundo belo e amarelo como se cabeçorra  tivesse sido equipada com pára-cornos à nascença. E depois há os que, ao sentir estranho peso sobre a testa e ao repararem que tais apetrechos bloqueiam a vista, os tentam devolver espetando valente marrada em quem ofereceu o que nunca tinha sido pedido, eliminando desde logo possibilidade de segunda volta à praça para ainda mais aplausos do público. Também há quem aceite tais enfeites e os vá tentando limar, em conjunto com quem os doou, até quase desaparecerem e deixarem de se fazer sentir.
É triste olhar à minha volta e ver pessoas de quem gosto a sofrer por terem a mesma falta de coragem que quem lhes traiu teve quando o fez, vivendo a situação como se fosse algo que a vida traz e não aceita de volta, ou então, e talvez pior, ver quem passa os dias de forma alegre e contente, sem nunca sonhar que de cada vez que abana a cabeça há malta que inconscientemente se desvia do caminho não vá alguma coisa vazar-lhes uma vista.
Isto tornou-se numa espécie de epidemia na qual se padece da doença voluntariamente. Vale tudo nesta guerra, até mesmo tirar olhos. Qualquer meio justifica o fim, qualquer mentira justifica continuar-se com a vida como se nada fosse, qualquer engano vale mais que o mais pequeno laivo de honestidade e sinceridade.
Basicamente, cada um vive com os cornos que tem ou põe da melhor forma que pode e consegue. Mas é triste que assim seja. Muito.
Não há fé no Amor que resista. Não há Amor que resista. Não há nada que resista àquele tipo de comportamento que nega o outro, que o mete ao mesmo nível de mosca que se esmaga contra uma parede porque nos incomoda o almoço.
Cornos para isto. Pronto. 

20.11.11

Favas pagas.

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Diz o povo que é nesta vida que se pagam os erros cometidos; que é nesta vida que se colhem os louros do bem que tenha sido feito. E eu, elemento activo do povo, concordo, apoio e até perpetuo tal ensinamento tão cheio de sabedoria.
Eu pago as minhas favas, uma a uma ou em conjunto se assim tiver que ser, e, como tal, porque contribuo com a minha parte para o equilíbrio do Universo, possuo a firme convicção de que também posso cobrar que paguem favas quando para tal houver motivo e razão.
Basicamente, acho que a malta não deve passar impune pelo que faz ou, pior, não faz, e acho-me no direito, quando a coisa me toca, de levantar fava bem alto e reclamar pagamento da mesma. Em dinheiro.
A malta, no geral, considera a responsabilidade uma coisa pesada e feia, castradora e demasiado aborrecida para ser levada a sério. Eu, que até gosto de umas boas doses da mesma, nem que seja para me fazer sentir útil, penso exactamente o mesmo do seu contrário: a falta ou inexistência de responsabilidade, incluindo-se aqui aquela coisa toda da desresponsabilização. Aquela coisa das desculpas de mau pagador, as explicações atiradas ao ar que nem postas de pescada por quem não tem como realmente se explicar sem ser através de postas de pescada voadoras. E para quem nem sequer acredita que porcos voem, ver postas de pescadas aos alegres pinotes pelo ar é algo que nos remete para cantinhos muito escuros da nossa mente, nomeadamente aquele que tem ligação directa ao estômago e que o volta e revolta, numa de nos fazer lembrar que não, peixe não voa, quanto mais quando cortado aos bocados capazes de cozer. E isto acontece porque, às vezes, a tentação de acreditar é tão forte, tão forte, tão forte que quase acreditamos que o mar não é feito de água mas sim de bonitas nuvens azuis e que, na verdade, as escamas daqueles seres servem para voar suavemente pela brisa e não elegantemente pelas ondas.
A responsabilidade, venha ela de onde vier, é coisa para ser levada com responsabilidade. Se num emprego, as postas de pescada tendem a não flutuar muito tempo por entre os escritórios de quem manda. Se numa relação, as pequenas postas tendem a aterrar de caras e ajudar a abrir os olhos de quem possui os que gostávamos que estivessem fechados. Não dá para fugir à responsabilidade de se ter uma responsabilidade, seja ela qual for.
Ser-se responsável significa também, numa espécie de limite filosófico da coisa, ser-se honesto e verdadeiro para com a responsabilidade em si. Não se pode tentar suavizar o peso de uma responsabilidade, cortando-a aos bocadinhos para que seja mais manejável ou distribuindo-a um pouco por cada dia da semana para que tudo seja mais fácil. Não é um processo de soma das partes… Muito menos dá para mentir sobre ou a certa responsabilidade porque ela, soberana, vai sempre exigir a verdade, seja ela qual for, para se perceber a razão pela qual se deixou que morresse ou não ficasse inteiramente executada. A responsabilidade manda e até mesmo quando se tenta passar por cima da mesma com a desresponsabilização ou quando se tenta matá-la de vez, há que ter responsabilidade também.
Basicamente, não se pode fugir à responsabilidade. Ela tudo vê e tudo sabe. Mas se isso for algo que se quer mesmo fazer, então, há que pagar as favas. É uma responsabilidade que se deve assumir de imediato. Sem medos. E de preferência o mais rapidamente possível.
Por isso, e como tão bem diz o povo do qual faço parte, para terem sempre as contas dos pagamentos em dia, não se esqueçam de ir vendo como está o saldo de responsabilidade vs. favas nas vossas vidas. E também não se esqueçam de guardar mata-moscas gigante por perto para de vez em quando irem limpando o ar das tais postas de pescada, sejam elas lançadas por vós ou pelos outros. É que estas turvam a vista e dão azo a flagelo de conjuntivites.
Pescada, às postas ou não, não voa, gente.
Nem os porcos.
E a fava é alimento que faz bem e que deve fazer parte de uma dieta equilibrada.
Paguemo-las, de sorriso na cara e garfo na mão, não vá a responsabilidade fugir de vez e deixar-nos a sós com tudo aquilo que poderia ter sido se, ao menos, não gostássemos tanto da ideia de mar cheio de nuvens fofinhas e lindas onde tudo voa e nada se afoga.
Bom apetite.

11.11.11

Parabéns!

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Ao que parece, há homens que defendem que, hoje em dia, e devido à emancipação das mulheres, existe muito mais oferta, logo, escolha, por parte dos primeiros em relação às segundas.
Ainda que, nalguns casos, haja ligeiro choramingar por de vez em quando se sentirem tipo naco de carne amassado durante uma noite para bel-prazer de amassadora (tadinhos…), noutros, o caso é diferente. Eles gostam. Adoram. Amam o poder de escolha que, de repente, lhes foi concedido. Adoram a possibilidade de bem avaliar o que mais e melhor lhes enche as medidas, para depois, sem pressas, poderem esc-o-lher. Sim, escolher. Como quem vai às compras. Ou a um leilão. Até ficam doentes de prazer só de saber que nada têm que fazer a não ser aparecer com ar minimamente decente e mostrarem-se disponíveis – elas tomam conta do resto. Ele é olhares, beijinhos no ar, apalpões por baixo da mesa e cartões de contacto com indicação de hotel e hora enfiados directamente na mão de quem se quer lá nessa noite em particular. E tudo subentendidamente sem compromisso e sem o enfado que poderá ser saber o nome de tal conviva.  
E isto é tudo muito bem. Cada um escreve o nome de hotel e hora de chegada onde bem quiser. O problema, penso eu de que, é que as mulheres, mesmo que digam que não, têm este comportamento porque o acham justo em relação ao comportamento de que têm sido alvo desde sempre por parte dos homens. É uma espécie de vingança-demonstração-de-poder-toma-lá-do-teu-remédio-para-ver-se-gostas (e eles não só gostam como agradecem!). Fazem-no com a consciência de que terão de apagar a consciência e passar para outra actividade lúdico-pedagógica o mais rapidamente possível para fazer esquecer o que fizeram na semana anterior, ou na noite passada… A consciência tem limites e os recepcionistas dos hotéis têm boa memória…
E a parte gira é que os homens estão exactamente na mesma. Após tanta tentativa de lição bem dada através de seis ou sete posições diferentes em dez minutos, eles estão na mesma, com a mesma atitude de sempre. Mas talvez haja uma diferença. Pensando bem, até há. É que hoje em dia, ao que parece, poupam-se ao esforço de terem que fazer um esforço. Nós, emancipadas e donas do nosso nariz e com a mania que também somos donas das pilas deles, até os poupamos ao esforço de terem que fazer um esforço para nos terem. E a isso chama-se: cereja em cima do bolo. Nós passamos-lhes atestados de incompetência pensando que basta mostrar um cadito de peito e muita perna para os engatar e eles reagem em conformidade, deixando-nos pensar assim enquanto vão vendo muitos peitos e metem as pernas para o lado.
Parabéns ao mulherio por anos e anos de defesa de direitos, lenga-lengas de igualdade e horas de sofrimento por ele não ter ligado ou por ele não gostar de nós e só nos querer pelo sexo terem resultado em carteiras cheias de preservativos, telemóveis cheios de mensagens obscenas e noites repletas de encontros secretos com quem nem sequer se sabe o nome.
Tal como eles.
Viva a igualdade. Parabéns.

8.11.11

Feliz Natal... blah, blah, blah...

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Primeiros!!!! 
E não se fala mais no assunto. 
'Tá?

1.11.11

Mirror, mirror, on the...


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Às vezes, dou por mim a olhar-me ao espelho e a perguntar “Quem és tu que não te conheço? O que fazes na minha casa? O que vieste aqui fazer? Quando vais embora?”.
Olho-me, sem me reconhecer, e penso em todas as pessoas que também me olham sem me reconhecerem ou conhecerem. Penso no que pensarão elas quando me vêem. Será que se questionam sobre quem eu sou e o que aqui faço, tal como eu? Será que ficam curiosas para saber quem sou? Tal como eu?
Ganhei, por obra do Universo e do árido terreno que por vezes pode ser a minha mente, um novo medo, um novo pânico permanente: será que depois de tanta pergunta feita ao espelho e naqueles minutos em que fechamos os olhos antes de adormeceremos, será que depois de tanta pergunta sem resposta, será que perdi a capacidade de sentir as coisas, pura e simplesmente porque não senti-las torna as perguntas menos dolorosas e a falta de resposta menos penosa? Será que ainda sou capaz de sentir o que há para sentir? Será que a aridez da minha mente se espalhou para outros locais do meu corpo, tornando-os insensíveis e imunes a estímulos externos? Será que a minha recusa em pensar sobre certas coisas me imunizou contra senti-las?
Será que o coração e a mente, quando para a desistência, se unem e partilham forças, ajudando-se um ao outro em direcção à tão desejada derrota final? Será que para o mal, facilitam e, para o bem, complicam? Lutando um contra o outro para ver quem toma supremacia numa qualquer situação de dualidade em que não sabemos qual nos deverá guiar até à luz? Será que são tão esfomeados e sedentos da vitória e glória individuais que de cada vez que desconfiam não as conseguir alcançar, retiram-se da luta, de mãos dadas, abraçados, sem o mais pequeno pingo de remorso e sem nunca olhar para trás?
Às vezes dou por mim a olhar-me ao espelho e a tentar perceber com quem falo: se com o coração, se com a mente. E o coração grita-me que só ele vencerá. A mente grita-me que só ela me poderá encaminhar nos trilhos mais seguros. Perdida no meio de tal batalha campal, por vezes sinto-me oca e vazia, sozinha, incapaz de me confiar as mais importantes das decisões, dos pensamentos, dos sentimentos.
Responsável, vou usando umas tabuletas que avisam os que estão à minha volta: Cuidado! Veículo sem Condutor. Ou então, Não me sigam. Também ando perdida.
Aprendi que os avisos de pouco ou nada valem. Toda a gente tenta ajudar quem se sente perdido, mesmo que não saibam como. É irritante.
Aprendi que só nos deixamos ajudar se confiarmos e se nos conseguirmos rever na prometida salvação. Sem isso, não damos um passo sequer. De que vale? Nem a perspectiva de fazer a vontade ao outro, a de nos deixarmos ajudar, nos ajuda a discernir a questão. Sem sabermos para onde vamos, não vamos para lado nenhum e tudo nos passa ao lado.
A vida, por vezes, prega-nos partidas de muito mau gosto. Trai-nos. Manda-nos à merda. Fecha os olhos e os ouvidos, encolhe os braços e esconde as mãos. Recusa-se a participar.
E é aí, perante essa recusa, que nos temos de olhar ao espelho e perceber que se não formos nós, mais ninguém poderá algum dia fazer seja o que for por ou para nós – seja a mando do coração ou da mente.
Às vezes, olho-me ao espelho e não sei quem olho: se quem era suposto ser, se quem consegui ser, se quem pude ser, se quem posso ser, se quem quero ser. Não sei. Mas sei que há-de ser com aquela cara que vou ter que viver para o resto da vida. Terá que ser pelos seus sorrisos, tranquilidade e serenidade que vou ter que me esforçar. Por isso, o melhor é ir descobrir.  
Rápido. 

28.10.11

Bom dia, Felicidade.

imagem: google (e, já agora... eu sei onde ela está!!)

Por motivos profissionais, todos os dias, bem cedo, visito uma empresa onde depois me armo em profissional e lá faço umas coisas engraçadas.
A Recepcionista chama-se Felicidade.
Chego lá e digo “Bom dia, Felicidade”.
E ela responde-me com outro “bom dia”.
E depois, de vez em quando, tomo café e lá está ela e lá converso um pouco com a Felicidade.
Quando me vou embora, digo “Até amanhã, Felicidade”. E ela responde-me com outro “até amanhã” e sorri-me.
E eu lá deixo a Felicidade a atender os telefones (“Bom dia. Fala a Felicidade. Em que posso ajudar?”) e penso em como é bom dar os bons dias à Felicidade e em como deve ser bom para quem para lá telefona tê-la a oferecer ajuda.
Muito bom. 

26.10.11

Obrigadinha!!


O meu enorme e sincero agradecimento a este senhor por o seu site, na versão inglesa, permitir o registo perfeito de Outra Merda Qualquer.
(Perceberam, certo?)

E era suposto...


imagem: google

E era suposto o emprego ser o mais fantástico e compensador do mundo. O mais perfeito dos palcos para a correcta e devidamente reconhecida execução e aplicação de tudo quanto fosse talento inato, génio mascarado e capacidade extraordinária.
E os patrões seriam sempre seres visionários frente dos quais nos ajoelharíamos, feitos parvos e encolhidos perante a grandeza daquela entidade que, certo abençoado dia, lá decidiu dar oportunidade e gordo e rechonchudo ordenado a quem assim o merecesse – nós, claro está.
E o dinheiro daria para tardes nas compras e noites nos restaurantes e fins-de-semana em estalagens e hotéis à beira mar plantados.
E as viagens seriam feitas no mais lindo dos carritos, daqueles que são simultaneamente lindos e bons e fashion e maneirinhos e que, ainda por cima, seriam a nossa cara, mesmo ao nosso estilo.
E o amor seria algo de estupidamente belo, magnificamente arrebatador, cheio de tudo quanto nos fizesse pular e sorrir e rir e dar graças aos santinhos e ver borboletas por todo o lado. Seria, de facto, algo de tão bom, tão bom, tão bom que todos os médicos o receitariam devido às suas capacidades de regenerar células cerebrais, fazer crescer músculo e reduzir tecido adiposo. Seria o melhor dos remédios, a melhor das drogas. Seria o centro do mundo, do universo, de tudo. Nada mais existiria na presença do amor. Seria senhor soberano, capaz de transformar dor em prazer, mágoa em satisfação, a noite no dia, sal em açúcar, água em vinho. Um dia de chuva seria sentido como se o sol mais radioso nos estivesse a banhar a pele; uma noite fria como se mil cobertores nos acarinhassem o corpo, aconchegando-o e protegendo-o do mundo.
E o objecto do nosso amor? Ia ser o mais lindo, esbelto, inteligente, engraçado, sério, honesto, justo, brincalhão, simpático, charmoso, belo, honrado, sincero, compreensivo, sensível, sensual, amoroso, doce, gentil e pensado dos seres. Apareceria do nada, num belo e radioso dia de sol precedido por noite clara e amena em que a lua sorriria e as estrelas voariam como se asas tivessem, concedendo desejos e alimentando os sonhos de todos quanto levantassem os olhos para o infinito que é um belo e iluminado céu nocturno. A noite, sabendo do dia que aí viria, faria uma estrondosa saída de cena porque sabia, sábia, que a partir do dia seguinte, nunca mais seria a mesma, nunca mais a sua influência escura e sombria teria o mesmo efeito sobre os corações que com ela sofriam as auguras da escuridão. Ida a noite, viria o tal dia, radioso e doce, em que o céu resplandeceria e brilharia com a quente e confortante luz de um sol tão intenso e cheio de cor que os olhos chorariam de emoção perante tal visão. Chorariam de novo quando tal ser, enviado pelo amor e encaminhado até nós pela paixão, nos apareceria à frente enquanto executávamos um qualquer acto mundando, tantas vezes repetido, tantas vezes realizado, sem nunca nos apercebermos que sim, poderia ser precisamente ali que toda a nossa vida poderia mudar, de um momento para o outro, havendo o antes e o depois de tal momento em que o coração se renderia a olhos que nos sorririam cheios de calor e afecto e em que mãos se estenderiam até nós, convidando-nos a partilhar o resto da vida, o resto dos dias, o resto de todas as horas quanto haveriam a viver neste de repente tão belo mundo.
E seria fabuloso. As compatibilidades, as cumplicidades, as conversas, os segredos – tudo se coordenaria numa dança elegante e graciosa, salpicada por risos e risotas várias, em que as frases de um seriam acabadas pelo outro e em que, com apenas um olhar, toda uma noite de conversa profunda e reveladora seria tida.
E era suposto o sexo ser do tipo que se descreveria com palavras tipo terramoto e tsunami. Os orgasmos seriam carinhosamente apelidados de El Niño e as faces andariam permanentemente ruborizadas pela espécie de vergonha que se sentiria em ser possível ter-se tanto prazer, de uma só vez, com uma só pessoa, durante tantas e longas horas. As velas não teriam tempo de vida para testemunhar os preliminares, quanto mais o resto. Não haveria óleo corporal que resistisse, mola de colchão que sobrevivesse ou gritos de prazer que não se ouvissem num raio de três quilómetros. O sexo seria o culminar bíblico de duas almas que teriam passado milénios aos tombos pelo universo, numa desesperada busca uma pela outra – o sexo seria o milagroso encontro físico de seres celestiais que teriam aproveitado os milénios gastos a caminharem um para o outro para se tornarem tão conhecedores das artes do amor que até a luxúria se envergonharia caso assistisse a tal espectáculo. Os corpos explodiriam, os sentidos ficariam tão afinados e tão sensíveis que o mais leve toque seria o equivalente a ser-se abalroado por camião carregado com toneladas e toneladas de chumbo… mas no bom sentido. O sexo seria a libertação de almas, o dar a volta à lua e ao sol ao mesmo tempo. Seria tão perfeito que todos os orgasmos pareceriam terem sido escritos por Mozart, qual peça de música, qual sinfonia, qual obra de arte em que todos os instrumentos se interpelam para que o céu pareça, por um instante que seja, quase possível de ser inspirado.
Mas, não.
O emprego é trabalho. Do que dói e faz doer.
O carro? Em segunda-mão e a cair aos bocados. As revisões? Na oficina de um tio que também tem uma bela horta que de vez em quando vai desbastando para nos dar umas couves, batatas e cenouras.
As viagens de fim-de-semana? Até ao centro comercial olhar para o que não se pode comprar visto o ordenado ter tão cruelmente miserável.
O patrão? Um filho da puta mal cheiroso que não paga a segurança social ou horas extra mas que sabe exigir fins-de-semana e que se acha no direito de comentar tamanhos de rabo.
O amor? Um sacana rancoroso. Um bêbado ressacado. Um piquínhas vingativo. Um puto ranhoso e cheio de birras. O filho bastardo do demónio. Um ser intolerante, arrogante, seco, bruto, frio… vil.
O tal? Com peso, pêlo e colesterol a mais; cabelo, maneiras e higiene a menos.
O sexo? Qual sexo? O que se fazia no banco de trás do carro quando se era jovem e até se gostava das nódoas negras e lesões musculares na zona lombar ou o que se faz pela madrugada, a toque do despertador, no escuro e com pressa antes que as crianças (que precisam de óculos e aparelhos nos dentes e que comem que nem uns alarves e não estudam nada) acordem e antes que não se tenha tempo para tomar banho antes de se ir para o trabalho que dói e paga pessimamente e onde os colegas não valem nada e o patrão vai começar a vender o sangue dos empregados para ter dinheiro para comprar papel para a impressora? Ahhh, sim. Sexo.
A realidade é uma cabra cega que não tem o mais pequeno pingo de respeito ou compaixão por nada ou ninguém. Nem pelo que seria suposto ela ser.
Vaca sarnosa.
Não era suposto ser assim. Não era?

23.10.11

Medo. Muito medo.

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O medo é a mais universal e útil das emoções. Tudo fazemos para o evitar ou minimizar. Tudo. O medo reina, é Senhor e ganha sempre todas as batalhas de vontade nas quais se envolve. Ele é supremo, omnipresente e tão poderoso que é capaz de nos matar num ápice. É a mais homenageada das emoções: prestamos mais vassalagem ao Deus Medo do que a qualquer outro deus ou santo. É o medo que nos faz andar para a frente, que nos trava os passos, que nos faz recuar a uma velocidade estonteante. É ele que espalha um bocado de magia sobre o amor; é ele que deixa cair flocos de racionalidade sobre certas decisões. É ele que nos mete de pé e que, a seguir, nos atira ao chão, sem dó nem piedade, se por acaso decidirmos testar exactamente até que ponto somos servos da sua vontade.
O medo é a linha que demarca o voo dos sonhos, a intensidade da esperança e a força das convicções. É ele que nos rege a vida, qual pequeno ditador, que nos seca a boca e torce o estômago, que nos semeia dúvida e reticência na alma. É ele que nos fecha os olhos ao que não queremos ver e que os abre de vez apenas para mostrar quem realmente manda. É ele que cobre visões puras e bem-intencionadas com sombras escuras e assustadoras; é ele que nos arranca palavras impossíveis de serem ditas de livre vontade da garganta. É também ele que cala uma data de outras.
O medo tudo abarca e tudo rege. E nós, fiéis escravos de sua vontade, raramente lhe viramos costas. Ainda mais raramente o convidamos a sentar-se a nosso lado, a fazer certas viagens connosco. A sabedoria que traz raras vezes é acarinhada e nutrida por nós; não o sabemos ler ou entender. Não percebemos as suas intenções, logo, não o queremos por perto, qual animal selvagem e perigoso que nos ameaça a existência a cada segundo.
O medo é a mais forte das emoções. Talvez a mais forte. A que mais destrói e a que mais constrói. A que mais nos faz crescer e a que mais nos diminui.
Uma vida sem medos seria, para muitas pessoas, uma vida imaculada e ideal - sem apertos na garganta e revoltas no estômago, sem mãos suadas ou pernas vacilantes, sem impossibilidades, sem caminhos fechados, sem injustiças. Uma vidinha santa em que o certo é o certo e em que as consequências nunca seriam temidas ao ponto de impedirem actos.
O medo, tal qual a dor, é apenas um sistema de segurança concedido a cada um de nós à nascença. Também serve para ser desafiado. Para ser renegado à sua reles insignificância. Para ser olhado nos olhos e deitado abaixo, sem o mais pequeno respeito pela sua vil existência.
Também pode ser aliado à coragem. E aí, com esse bravo amigo, dar vida à vontade e à força, deixando-as sobressair a todas as dúvidas e questões que ensombram vidas e arrasam almas. O medo, na quantidade certa, no lugar certo, no momento certo, funciona. E aí, as pernas, mesmo vacilantes, podem e conseguem continuar a caminhar e as mãos, por muito suadas, podem e conseguem sempre agarrar aquilo que mais se quer ou afastar o que menos se deseja.
O medo. A mais útil das emoções. Não se devia ter medo do medo. Ele merece mais. E nós também. 

12.10.11

Se fosse eu…

imagem: google

Perguntaram o que diria se fosse eu a silenciosa.
Respondi que não saberia o que dizer.
Insistiram.
E eu também, até saber.
-
Ainda és tu. Antes de saber que eras tu, já eras tu. Até mesmo quando não eras tu, eras tu. E até mesmo quando não fores tu, és tu. Serás sempre tu.
Não te guardo no coração. Não te guardo na cabeça. Guardo-te aqui num sítio especial, que existe só para ti e que é muito mais fácil de sentir do que o coração ou a cabeça: na garganta. Bem atravessado e alojado, encalhado, até. Na garganta, que é por onde falo e calo, que é por onde passa cada golfada de ar que respiro e me mantém viva. É aí que estás. A testemunhar tudo o que por mim passa. A veres, na primeira fila, cada risada que dou, cada aperto que sofro. É aí. No único sítio que não consigo disfarçar ou mentir que existe. No único sítio que quando fecha, tudo pára; que, quando se abre, tudo flui.
No único sítio onde ficam por dizer as coisas que não se tem coragem ou força para dizer; no único sítio por onde se engolem lágrimas, quase como se recolhermo-las de novo ao corpo faça com que não sejam desperdiçadas. No único sítio que se apertava em ânsia por um beijo teu, no único sítio onde se formavam as palavras amo-te, quero-te, fazes-me falta, sou tua.
É aí que te trago comigo. Não é na cabeça. Essa é esperta e tem truques que arrumam e alteram pensamentos e sentimentos. Não é no coração. Esse também tem demasiados truques que deturpam a realidade das coisas, fazendo-as parecer mais perto do que realmente estão, ou mais longínquas do que alguma vez foram. Esse parte-se. Quebra-se. Aí, não.
É entre os dois que te guardo. É aí, onde também se guardam todas as amarguras e doçuras da vida, que te escondo, que te protejo dos truques vis do resto de mim que tanto tenta fazer com que desapareças, como tenta fazer com que te ressuscites e te tornes maior que eu. É aí, no sítio onde suspiro as memórias e as fantasias, os sonhos. Onde engulo e engasgo os arrependimentos, onde tusso os disparates e desculpas que me tentam acalmar os dias.
Sempre foste tu e sempre serás tu. Mesmo que nunca mais nenhum beijo tenha o teu sabor, mesmo que nunca mais nenhuma ânsia seja por saber que te vou ver daí a minutos. Mesmo que nunca mais por mim passe ar que te tenha acabado de tocar.
Mesmo que nunca mais volte a seres tu, sempre o foste, sempre o vais ser, sempre o serás.
Por isso, cuida de ti. Mantém-te bem e feliz. Contente e satisfeito com os dias, com as noites, com tudo o que a vida te dá a provar. Dá tudo de ti. Recebe tudo o que tiveres para receber. Sem medo, sem remorsos. Vive. Bem e muito. Cuida de ti por mim. Só assim te sei bem entregue. Só assim me sei bem entregue.  
És tu. Sempre foste e sempre serás. Tu.
-
Se fosse eu, talvez fosse isto que dissesse... nem que fosse para ninguém ouvir. 

28.9.11

Mais Pesquisinhas Deprimentes. Medo. Muito medo.

imagem: google
Pronto. Tomem lá mais um cadito. Ressacados!!
- Secção: Google é Deus – tudo sabe e nada esconde
sou veterinaria presiso de imagem de cachorro fudendo mulheris
Pois, claro. Se se disser ao Google que se é Veterinária, ele acredita que é tudo por questões profissionais e liberta tudo quanto seja imagem de cachorro fudendo com mulheris! Espertinha!
previsao na outra semana de Agosto
Ora, pois. Toda a gente sabe que as previsões são feitas com base no “esta semana”, “para a semana” e “outra semana”.
a gaja estuda na c s da caranguejeira
Vieste ao sítio certo! O Google possui base de dados para perseguidores e violadores em treino! Refina lá a procura inserindo mais dados e vais ver se não encontras a moçoila!
aquela gaja dos dentes bué afastados
Não estuda na c+s da carangueijeira, pois não?
números de telemóvel de mulheres que fodem
Muito ou pouco? De costas ou de pé? Com ou sem efeitos sonoros? Tens de ser mais específico se não o Deus Google não pode ajudar!
não consigo encontrar gajas para foder.
A sério? Nem por aqui?
quando um gajo tem uma vida de merda o que faz
Vai e pergunta ao Google, claro está! E ele? O que te disse? Para te mandar para aqui, olha que a coisa não vai ser de fácil resolução… Mas, vá. Tem fé!
o'que quer dizer tcp=(bar-e)\(back)no Google
O que eu acho giro é que o cabrão do Google te mandou para cá. Deves querer secretária assistente, oh Deus Google! Deves, deves!!

- Secção: Tenho dúvidas gravíssimas em relação à vida e preciso de ajuda.
porque coloco as mãos nas ancas?
Porque ainda não aprendeste a meter os dedos no nariz?
merda incha?
Depende da quantidade de fermento que tenha levado. Mas toma cuidado e vai picando com um palito para que não arrebente.
o que é fazer uma ideia
Bem. Fazer uma ideia é um processo de construção cognitivo que leva a que se formem juízos… Ahhh… Espera. Vou-te dar um exemplo do que é não se fazer uma ideia. Talvez entendas melhor a coisa assim.
minha namorada ficou ate mais tarde no trab e nao me avisou
Vês? Este gajo não faz ideia de onde andou a namorada! Mas gostava de fazer! Aí tens!
o que quer dizer quando um homem pede desculpa para a namorada
Que fez merda. Simples.

- Secção: Tenho fome.
receita grude lambe lambe
Hmmm!! Yummy!! E conheces aquela do grude cospe cospe?
imagens de merda com çhouriço
Mas que gourmand deves ser! Até agora só conhecia favas com çhouriço! Ai José Cid… se soubesses o que te andam a fazer com o dito!

- Secção: Mi nô spika ingalisch e nids yelp.
em que lingua fock you tem outro signiicado
Nenhuma.
significado dessa palavra em inglês ‘fack you
Qual palavra? Não percebi.
O que significa funk you em português
O que significa o quê em Português?! Assim não vais lá.
traduzir o verbo to fuck
Ahhh! É foda-se.
outra palavra para foda-se
É já a seguir…
Hoder coño
Aí tens! Serve?
Fuck it.
Fuck you!
como se pronuncia fuck you
Fu-ck iú.
Fuck you too
Mau.
O que significa a expressão: fuck you too!?
Huh? Não sabes?!
significado fuck you too em português
‘Tás a gozar. Só pode.
o que significa em portugues fuck you too
Continua a insistir que só te faz é bem.
O que significa .f.u.c.k you too
Fode-te também, porra!
significado de fuck you bitch
O que é que queres dizer com isso, pá?!
Fuck you bitch o’que significa?
Mau!
Fuckin barda shit
Fuck you, too asshole! Fuck off!

- Secção: Sou uma perfeccionista do caralho mas não percebo nada disto.
Teoria do falo
Atão… simples. Eu falo, tu falas, ele fala… nós falamos… Não é lá grande teoria mas…
fazer um broche oral
Mas há outros tipos de broche?! Há?!?!
não aleijar a fazer um broche
Umas joelheiras por vezes podem ajudar…
depois de um broche beijase na boca?
Ahhh… Alguém quer responder? A minha religião não permite.
gajas afazer xexo oral
Não se fala de boca cheia…!
Vidios grátis pppppppppunhetas
Ser gago é uma merda.

- Secção: Sou um palhacinho e gosto.
booooooooooooooooo oh
Aiiiiii!!!!!!
hehahehaheha
Deves ter a mania…. Deves, deves. Pisga-te.
faz favor
Faz favor, os cornos! Oh, oh! Ala!

- Secção: A Educação anda bem e recomenda-se.
50 coisas para irriatar o preofessor
Já só te faltam 48…

- Secção de Emprego
Trabalhar noutra merda qualquer
Agradecemos o envio dos seus dados pessoas e profissionais. Caso haja oportunidade que se coadune com os mesmos num futuro próximo, entraremos em contacto consigo. Até lá, os seus dados serão mantidos na nossa base de dados para futura referência.
Com os melhores cumprimentos e se por acaso achas que podias fazer melhor, cria mas é tu um blog só para ti, oh palhaço,
A Administração.

- Secção: O que é esta merda, pá?!
Assistir filmes eróticos como mulheres albinas
Filmes eróticos?! Huh?!?!?!

E assim vai o mundo. Fuck!