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O ano de 2009 era, para mim, o ano da expectativa, da vingança contra o universo por me ter dado um 2008 tão merdoso, da esperança e da fé de que acontecem sempre coisas boas a quem é boa pessoa.
Peguei nas minhas fichas todas e, num salto de puro crer e acreditar, apostei o que tinha e não tinha em tudo quanto eu achava necessitar de mudança e melhoria na minha vida. Não perdi a aposta por completo (acho que nunca se perde nada por completo), mas sinto que saio prejudicada. E muito.
O ano termina em baixa, tal como 2008. Com uma sensação de tempo mal investido (mas não perdido). Com uma sensação de ter perdido mais do que ganhei, de a balança ter ficado desequilibrada (mas não vazia). Ao que parece, tenho uma vida um pouco cíclica e o último trimestre do ano é o que bórra a escrita toda.
O último dia de 2008 foi, como tive oportunidade de dizer na altura, um abrir de portas e janelas que permitia antever que o futuro seria, no mínimo, risonho. E foi. Durante uns bons tempos, lutei e esforcei-me para meter bem o que estava mal, fui atrás de uma data coisas, incansável e teimosa, cheia de fé. Eu brilhava de antecipação e adorei a sensação de acreditar estar a escolher um caminho que não poderia dar errado, de estar a construir hoje o meu amanhã a vários níveis… a todos os níveis. Eu cuspia na cara da adversidade, fazia grandes manguitos ao universo, respirava fundo e quando olhava à minha volta, acreditava merecer tudo quanto me rodeava, mesmo que nada fosse perfeito (nunca é…).
Meti os pés pelas mãos, troquei-me toda, andei perdida, fiz merda, enganei-me e possivelmente enganei outros, mas também acertei em muita coisa, fiz bem muita outra e tive alguns sucessos, tal como pertence ser a vida de uma pessoa normal. Foi um ano em que houve intervenção boa e má em todas as áreas da minha vida… sem excepção.
O ano que agora termina é, apesar de tudo, de todo o bom que houve, o ano das expectativas goradas. O ano em que se deram as maiores mudanças na minha vida e em que eu me empolguei e vivi muita coisa até ao limite. Entusiasmei-me com tudo. Construí castelos no ar, enfeitei-os e andei a mostrá-los a toda a gente. Acreditei em demasia que teria o poder, a vontade e a força para que tudo corresse bem. Fui ingénua e mostrei-me como sendo muito mais forte e resistente do que o que realmente era. Acreditei plena e piamente que seria capaz de tomar as rédeas da minha própria vida e que tudo acabaria em bem. Deixei de acreditar quando começaram a haver noites em que me assolava um terrível medo de estar a falhar. De as coisas não estarem a bater certo... O pânico de sentir que se calhar não deveria ter feito tantos manguitos ao Universo… que o cabrão tem boa memória e não perdoa.
O ano que agora termina é o ano em que descubro a menina que há em mim, a menina pequena e frágil que sempre cá esteve mas que era deixada a um canto enquanto se andavam a travar lutas e batalhas em prol daquilo que é ser Mulher bem orientada e resolvida. Não lhe dei atenção e ela, esperta, foi crescendo e crescendo até se conseguir levantar e dizer: Foda-se, agora quem manda aqui sou eu. Eu ainda tentei sossegá-la. Shhh, nina… Shhhh…. Agora não… vais estragar tudo, nina… shhhh… por favor… agora não…
Demasiado tarde. Foi-se a Mulher, ficou a Menina a reclamar por tudo quanto tinha direito. Furiosa por todos os não-momentos que viveu, por todas as coisas que não sentiu, por todas as coisas que não viu, que não disse, que não fez. Furiosa. Cansada. Farta.
Não deposito expectativa nenhuma em 2010, por assim dizer, mas pelo menos já não é 2009, o ano que veio depois de 2008 e que era suposto ser um marco daqueles enormes e bons que quando lembrados fazem sorrir e aquecem o coração. Posso até sorrir-lhe ao recordar-me, mas é de coração partido por tudo quanto não soube ter e fazer, por tudo quanto não soube ser, por tudo quanto achava que sabia e queria, por tudo quanto apostei e perdi, por tudo quanto pensava ser certeza e incerteza, por tudo quanto achava que era certo ou errado, por tudo quanto achava ser por direito, por tudo quanto achava que seria capaz de alcançar, por tudo quanto tive medo de falhar, por tudo quanto não agarrei por não me achar capaz ou digna.
Venha daí então o novo ano. É mais que bem-vindo. Não para que possa haver vida nova, nada disso, mas para que venha finalmente algum sossego do rebuliço que caracterizou 2009 e para que eu, Menina Mulher, possa respirar por conta própria com os pés bem assentes na terra, o coração bem protegido no peito, os olhos bem abertos e postos em quem me acrescenta e as mãos dadas com quem sei que nunca me deixará cair. E sem castelos a voarem pelo ar, tapando o sol e fazendo sombra onde não faz falta nenhuma.
Ficam aqui os meus votos para que todos pensem no ano que aí vem não como uma desculpa para deixar coisas para trás, mas sim como uma enorme oportunidade para levar tudo para a frente, por caminhos que normalmente não fariam, os menos óbvios, os mais compensadores.
Bom ano, minha gente. Bom ano.