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Domina ou cala.
Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias?
Goza bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido.
Fernando Pessoa / Ricardo Reis
É assim? Ou dominamos ou calamos? Sem meio-termo possível, tipo sesta a meio da tarde que remedeia noite mal dormida e permite que o resto do dia seja mais leve?
Lutamos pelo inalcançável, sabendo-o assim, na esperança de colhermos gloriosos tesouros caso a sorte e fortuna estejam de feição, fazendo de conta que nada é impossível, que tudo se consegue, que o que é nosso a nós há-de vir? Ou escolhemos bem as nossas batalhas de modo a não desperdiçarmos tempo e energia de forma vã? Escolhemos o que é seguro e controlável ou seguimos em frente, sem medos, prontos a aceitar o que nos tiver reservado?
Pegamos o metafórico touro pelos cornos sabendo que volta à praça no final poderá ser em glória, em ombros ou que, pelo contrário, pode até nem se conseguir sair da mesma sem ajuda? Pegamo-lo na mesma, aceitando ambos os casos, entregando-nos nas mãos de um destino em tudo maior e muito mais valente que nós? Confiamos que ele existirá para nós e que ninguém se esqueceu de nós no momento de escrever os destinos de cada um? Confiamos no sistema, entregando-nos de corpo e alma à causa de não sermos mais nada se não a causa em si?
Ou olhamos o bichano, e com ligeiro piscar de olho e aceno de cabeça, dirigimos-lhe um pensamento que diz que há batalhas que não é preciso serem lutadas para sabermos que a derrota nos aguarda, de sorriso na boca e machado na mão? Em pensamento, dizemos-lhe que não vale a pena cansar nenhuma das partes evitando-se assim que ambas digam “já sabia que assim iria ser” em relação aos seus resultados?
Dominamos, mesmo que solitários, banhando-nos na paz e sossego que apenas as certezas nos podem dar? Ou vamos dando e dando e dando na esperança de que alguém retribua dádivas permitindo-nos depois receber, receber, receber? O altruísmo, meus senhores e senhoras, é mito. É engano do espírito humano. Não existe. Temos sempre algo a ganhar em sermos altruístas. Sempre.
Passamos os dias a olhar a tal choupana sabendo-a nossa, ou divagamos pelo palácio vazio e ainda por pagar na totalidade? Dominar é acto contínuo; requer esforço e trabalho. O contrário, não. E o contrário não significa ser-se dominado…
Saudavelmente remediados e com avanços bem pensados e seguros, ou saltos de lebre sem nos preocupar o que esconde a moita?
Vou ou fico?
Tenho ou perco?
Sou ou deixo de ser?
Corro ou paro?
Falo ou calo?
Durmo descansada sabendo tudo arrumado e no lugar ou sonho pesadelos com tudo o que poderia ter sido mas nunca chegará bem a ser, nem nunca foi?
Olho e vejo ou olho e cego?
Admito ou nego?
Domino ou calo?
Domino ou calo.